sexta-feira, 23 de novembro de 2018

TENSÕES NO ESTÚDIO DURANTE O ÁLBUM BRANCO – Geoff Emerick

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O livro “Minha vida gravando os Beatles” (2013 – Novo Século Editora) de Geoff Emerick, é realmente instigante e curioso sobre vários aspectos. Desde pequenos segredos de técnicas e recursos utilizados no estúdio, como os bastidores de muitas das principais gravações da banda. Ainda aproveitando a oportunidade pelo aniversário de 50 anos de “The BEATLES”, o álbum de 1968, aqui no Baú do Edu, a gente confere um pequeno trecho do capítulo 11 “O dia que eu pedi demissão – o making of do Álbum Branco”.Eu tinha passado seis anos de altos e baixos com os Beatles, comparti­lhando do incrível sucesso deles com o Revolver e o Sgt. Pepper’s lonely hearts club band, me solidarizando com eles quando enterraram seu jovem empresá­rio, Brian Epstein, e havia sofrido com as pedradas e flechadas dos críticos após o imprudente projeto do Magical Mystery Tour. Mas, agora, todos os maus sentimentos, a disputa, a mesquinhez estavam realmente começando a me afetar. Eu estava à beira de um colapso nervoso e pronto para dizer a eles que eu queria sair.Muita coisa havia mudado desde que eu tinha visto os Beatles pela últi­ma vez, apenas alguns meses antes. Eles tinham voltado da viagem à Índia completamente diferentes. Eles eram exigentes e elegantes; agora eles estavam desalinhados e despenteados. Eles eram espirituosos e cheios de humor; ago­ra eles estavam solenes e irritadiços. Eles já tinham sido unidos como amigos de longa data; agora eles se ressentiam da companhia uns dos outros. Eles já tinham sido pessoas alegres e divertidas de se conviver. Agora eles estavam raivosos.Eu não tinha ideia do que eles tinham raiva, mas agora eles certamente mostraram um ressentimento em relação a todos quando retornaram ao estúdio, na primavera de 1968, para começar a trabalhar em um novo álbum. As sessões já estavam próximas de acabar, naquele outono, e eles nem sequer conseguiam achar um título adequado — eles estavam discutindo tanto naquela época que nem mesmo nisso conseguiam concordar. No final, o álbum foi chamado sim­plesmente de The Beatles, mas a maioria das pessoas o conhece pela sua capa simples e sem adornos. As sessões do Álbum Branco foram, de longe, as mais difíceis e controversas em que eu já havia trabalhado. Anos depois, Paul se refe­riria a ele como o Álbum Tensão, e eu não poderia concordar mais.Eu me informava sobre as notícias da viagem dos Beatles à índia com grande interesse, embora não tenha havido muita publicidade sobre aquilo, à época. Eu sabia que eles tinham ido em busca de paz interior e fiquei sur­preso quando tudo desmoronou, apenas dois meses depois. Acho que os si­nais de alerta já se mostraram quando eles começaram a voltar para a Ingla­terra separadamente: Ringo primeiro, Paul em seguida. Foi a primeira vez, até onde sei, que eles iniciaram uma atividade em grupo e, em seguida, se separaram, como indivíduos.Além de seus problemas pessoais, havia várias pressões de negócios sobre os quatro Beatles. No vácuo criado pela morte de Brian, eles tinham decidido não apenas se empresariar, mas iniciar uma nova empresa ambiciosa chamada Apple Corps, que tinha interesses filantrópicos e comerciais. Pessoalmente, eu achava que a ideia de dar uma chance a artistas desconhecidos era louvável, ao menos em teoria. Era uma visão utópica, mas provavelmente estava con­denada ao fracasso desde o início, tendo em vista os interesses muito diferen­tes e as habilidades para os negócios extremamente limitadas dos quatro prin­cipais proprietários. Mesmo com todos os seus objetivos elevados, tudo era realizado de forma aleatória, sem uma pessoa responsável, sem ninguém su­pervisionando. Neil Aspinall, que tinha formação em contabilidade, ganhou um escritório e a tarefa de fazer o balanço dos livros (o que significava que o veriamos muito pouco nas sessões dos Beatles a partir daquele ponto), mas ele realmente não tinha posição de autoridade alguma àquela altura. A Apple acabaria por engolir os Beatles como um todo, não apenas os distraindo de sua música, mas causando uma série de cisões e pequenos desentendimentos que cresceriam vertiginosamente até que a banda, de uma forma muito feia e pública, se quebrasse em quatro partes.Nenhum de nós na EMI realmente sabia muito sobre a vida privada deles, mas parecia que, desde o início das sessões do Álbum Branco, os Beatles estavam trazendo seus problemas para o estúdio pela primeira vez. Se tivesse havido um rancoroso encontro de negócios na sala de reuniões da Apple, naquela manhã, ele resvalaria para as gravações daquela noite. Se John tivesse feito uma piada desagradável sobre o Maharishi com a qual George tivesse ficado ressentido, eles se alfinetariam quando se reunissem em torno de um microfone para fazer backing vocais. Se Paul criticasse Ringo na bateria, Ringo ficaria mal-humorado; se George ousasse questionar qualquer uma das suges­tões de Paul, Paul ficaria irritado. E, se algum dos membros da banda tivesse feito qualquer coisa que um John excessivamente defensivo visse como uma potencial grosseria à sua nova namorada — que ficava sentada ao lado dele, impassível, durante todo o tempo em que eles estavam fazendo o álbum —, ele atacaria a todos com sua língua ferina. Em suma, toda a atmosfera estava contaminada.
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Isso foi só para se ter um gostinho. O mais legal é que esse capítulo vai bem mais longe daí de onde parou, a chegada de 
Yoko Ono, o ‘Magic’ Alex, até o dia em que houve o primeiro bate-boca de George Martin e um dos Beatles e depois disso Emerick pediu para sair. Mas essa, deixa pra outro dia. Valeu!

5 comentários:

Joelma disse...

Tenso

Willians disse...

Esse livro me irritou muito nas partes que é comentado a participação do George Harrison. Acho que houve um tendencionismo muito grande, um verdadeiro puxa-saquismo ao Paul Mccartney e desrespeito a Harrison. Pra beatlemaniaco isso não soou muito legal por parte do técnico de som. Mas o livro é muito bom para sabermos muitos detalhes das gravações mágicas dos Beatles.

Edu disse...

Assino embaixo. Concordo em gênero, número e grau. Valeu!

Marcio disse...

Também concordo. Ele diz que não se dava bem com o George enquanto que com o Paul, eram "amigos".

Edu disse...

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