No dia 27 de agosto de 1965, depois de muitos telefonemas entre Brian Epstein e o Coronel Tom Parker, foi arranjado o encontro de Elvis com os Beatles. A visita dos Beatles ao rei do rock aconteceu em sua casa, em Bel Air. Não existem muitas evidências, até hoje, de qualquer produto áudio/visual relevante. A única imagem alusiva ao encontro de Elvis com os Beatles é uma foto em que John Lennon aparece saindo da casa de Elvis. Anos mais tarde apareceu uma outra onde Elvis aparece segurando um baixo e John sua rickenbaker. No documentário The Beatles Anthology, de 1996, os ex-beatles Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr,dizem que jamais tocaram com Elvis, e que somente John o fizera. No mesmo documentário, Ringo, para os biógrafos confiáveis, a grande estrela da noite em simpatia e camaradagem geral, disse ter jogado futebol com Elvis.
Esse ano, para lembrar o famoso encontro entre as maiores estrelas da
música pop de todos os tempos, a gente confere um trecho do excelente livro “The
Beatles – A Biografia” de Bob Spitz.
"Coisas estranhas abundavam em Los Angeles. Primeiro, a polícia se recusou a cooperar com os Beades, dizendo que "não poderia se responsabilizar pela segurança deles". Depois, Phil Spector os convidou a ir à sua mansão e fez uma apresentação de drogas e armas. Ambas as circunstâncias proporcionaram alguns momentos incômodos para os rapazes, mas nada que pudesse competir com a visita a Elvis.
Havia mais de um ano que Brian e o Coronel Parker estavam tentando agendar um encontro entre seus megaastros, tendo apenas os egos — gigantescos egos — deles como empecilho. "Ávido para proteger o prestígio de seus artistas", nenhum dos empresários queria piscar primeiro quanto à decisão de quem aceitaria o convite do outro. Afinal, os Beatles cederam, concordando em fazer uma visita ao rei.Elvis tinha acabado de voltar de Honolulu, onde havia filmado Feitiço havaiano (Blue Hawaii), e estava encafuado com a máfia de Memphis numa casa alugada em Bel-Air. Quando os Beatles chegaram, um pouco depois das 10 horas da noite, em 27 de agosto, eles estavam "rindo [...] histéricos", parte pelo nervosismo, do qual todos sofriam, parte pelos baseados que tinham compartilhado no carro. A casa era muito, muito grande e extravagante — "como uma boate", pensou John. Lá dentro, Elvis estava acomodado soberanamente em um enorme sofá em formato de ferradura — o rei, maior que o mundo, com uma blusa vermelha por baixo de uma jaqueta preta justa e calças pretas. Com um braço, ele enlaçava sua rainha, Priscilla Beaulieu, e em volta estavam seus fiéis escudeiros: Joe Esposito, Marty Lacker, Billy Smith, Jerry Schilling, Alan Fortas e Sonny West.
Talvez mais do que todos, John ficou abalado pela visão de seu ídolo de infância. Antes que ele comprasse um violão, antes do skiffle, antes de Paul, George e Stu, antes de sua própria odisseia pop, John tinha escutado "Heartbreak Hotel" e descobrira que "aquilo era o máximo para mim". Agora, John recorria a brincadeiras, encenações, e a falar sem parar como se fosse o inspetor Closeau.
"Ah, entom esse é você!", ele brincou, tentando fazer um sotaque e olhando distraidamente para o anfitrião por sobre os óculos.
Os outros Beates estavam atônitos, olhando em volta para o cenário ao estilo de Las Vegas, com mesas de bilhar e carteado, além de roletas que entulhavam o lugar. Uma.jukebox bem-abastecida ronronava num canto. A sala era banhada por uma luz vermelha e azul, o que criava a aparência de uma boate barata. Ninguém sabia o que fazer ou dizer. Após um breve e embaraçoso silêncio, Elvis os chamou para se sentar ao lado dele, mas se cansou dos olhares vazios dos Beatles — "Era a adoração de um herói de alto nível", admitiu Paul - e começou a zapear nervosamente pelos canais do aparelho de televisão, que tinha o tamanho de uma parede. "Se vocês vão ficar aí parados só olhando pra mim, eu vou pra cama", bufou Elvis, jogando o controle remoto na mesa de café. Virando-se para a namorada, ele disse: "Por hoje é só, certo, Cilla? Não queria que isto aqui acabasse como um bando de súditos visitando o rei. Achei que íamos relaxar, conversar sobre música e tocar um pouco".
"Isso seria ótimo", disse Paul, sugerindo que tentassem tocar uma música da "outra Cilla" — Cilla Black —, e nesse momento surgiram guitarras e um piano branco, além de bebidas. "Nós plugamos os instrumentos, tocamos e cantamos... "You’re My World'", lembra-se John. Soltando-se aos poucos, eles emendaram alguns dos sucessos de Presley - "That's All Right (Mama)" e "Blue Suede Shoes", com Elvis levando a melodia e Paul improvisando ao piano -, e encerraram com "I Feel Fine".
A essa altura, John havia passado para um tom mais espinhento. "Ê assim que isso deverria ser", ele arremedou não se sabe quem, "uma pequena rreuniom caseirra com al¬guns amigos e um poco de musique." Chris Hutchins, que relembrou a visita em sua crônica de 1994, Elvis Meets The Beatles, escreveu que além do falso sotaque francês, John cutucou Elvis grosseiramente — e nada menos que na frente de seus amigos —, mencionando sua falta de pegada, os compactos melosos que lançara depois de servir o exército, e sua série de filmes-pipoca. "Pode ser que eu grave algumas coisas e derrube vocês", disse Elvis, dando de ombros, sentindo-se pressionado a responder. Ninguém conseguia dissipar as "sutilezas incómodas [...] e a alegria superficial" que pontuaram a noite até um pouco depois das 2 da madrugada, quando os Beades finalmente partiram.
"Agrradeço pela música", disse John, indo embora, e então gritou: "Longa vida ao Rei!" No dia seguinte, a multidão de jornalistas famintos que cobria a turnê atacou o assunto do encontro histórico, que foi exposto à imprensa — e organizado, em grande parte, para agradar aos dois empresários — por Tony Barrow. Os jornalistas foram abas-tecidos com volumes generosos de citações de cada um dos Beates, que tropeçaram uns nos outros na pressa de cumprimentar o ídolo. Apenas em particular, John viria a admitir como realmente se sentiu. "Foi um monte de baboseira", ele concluiu. "Foi como visitar Englebert Humperdinck."
Não percam, amanhã, a sensacional postagem "O ENCONTRO DE BOB DYLAN COM OS
BEATLES", exclusiva do Baú do Edu. Abração!
5 comentários:
Tenho prá mim que nesse encontro faltou uma boa dose de expontaneidade.Beatles chapados e ansiosos com um Elvis cercado pela muralha mafiosa de Menphis.Tanto que fora o encontro,em si, ninguém nunca contou nada memorável sobre ele.Ao menos é o que entendi dos livros e do Anthology.Já com Dylan...
Concordo com o que o colega João Carlos disse acima: faltou espontaneidade. Até hoje esse encontro é envolto em mistério, acredito que tenha ocorrido mas é tão estranho não existirem fotos,digo fotos particulares dos próprios Beatles, que tinham Elvis como ídolo.
Concordo também com os colegas !!!
Foi um grande e constrangedor encontro , infelizmente !!!
O Elvis não compunha e não tinha total controle sobre sua musica , diante de um novo paradigma que os anos 60 apresentavam ( e os Beatles era a figura principal ), com certeza o Elvis se sentia ameaçado por eles e por isso essa resignação dele, que associado a "loucura" na cabeça dos Fab Four só ajudou a azedar o encontro.
Interessante notar que com o Dylan foi totalmente o contrario.
É mesmo Valdir, com o Dylan o encontro foi bem mais produtivo e aparentemente natural,não forçado etc...fico pensando comigo mesmo:
Todos sabemos (como você bem falou) que o Elvis não era compositor e sentia-se ameaçado pelos Beatles,já o Dylan era da mesma linhagem dos Fab,a linhagem dos bons compositores.Acho que o Dylan recebeu os caras de peito e coração abertos,pois tinha segurança de si próprio como artista e houve então a assimilação dos trabalhos de ambos por ambos. Mas são apenas divagações,claro.
ELVIS é o REI DO ROCK AND ROLL. OS Beatles . em particular John começo sua carreira imitando ,cantando musicas de Elvis. Elvis é muito melhor. mais autentico. mais original que os Beatles.
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