Fonte: cultura.estadao.com.br - Por Carlos de Oliveira
Marcus Rampazzo, o George Harrison da banda Beatles Forever, morreu. Um AVC levou um músico virtuoso.Era um obcecado pela música bem executada. Perfeitamente executada. Era também um compositor e um colecionador obstinado. Tinha pelo menos 60 guitarras e todos os instrumentos usados por George Harrison. Da Gretsch Duo Jet 1956 à cítara indiana. Da Country Gentleman à Epiphone Casino. Uma coleção imensa e sem preço. Com o Marcão vai-se um professor dedicado e um músico raro. Certamente vai encontrar-se e trocar ideias com seu ídolo.
Marcus Rampazzo, o George Harrison da banda Beatles Forever, morreu. Um AVC levou um músico virtuoso.Era um obcecado pela música bem executada. Perfeitamente executada. Era também um compositor e um colecionador obstinado. Tinha pelo menos 60 guitarras e todos os instrumentos usados por George Harrison. Da Gretsch Duo Jet 1956 à cítara indiana. Da Country Gentleman à Epiphone Casino. Uma coleção imensa e sem preço. Com o Marcão vai-se um professor dedicado e um músico raro. Certamente vai encontrar-se e trocar ideias com seu ídolo.
“Meu, cê é loco“. Marcus Rampazzo usava essa expressão para tudo, no melhor dialeto do bairro paulistano da Mooca, onde vive gente de origem italiana, operários imigrantes, dramáticos, musicais. Marcão não era exceção. Divertidamente dramático e virtuosamente musical, Marcão, como era conhecido pelos amigos e alunos, era professor. Ensinava a garotada a tocar guitarra. Era exigente. Formava virtuosos.
Um detalhista – Apaixonado pela Inglaterra, era fanático pelos Beatles. Entre os quatro rapazes de Liverpool, idolatrava George Harrison. Fundou a Beatles Forever, a primeira banda cover do Beatles no Brasil. Era detalhista ao extremo. Tinham de tocar as músicas dos Beatles exatamente como eles as haviam gravado. Nota por nota, acorde por acorde, palavra por palavra, com instrumentos idênticos e roupas absolutamente iguais, com o mesmo corte de cabelo, respeitando cada fase da banda. Dos terninhos de gola redonda aos uniformes militares dos tempos de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Na Beatles Forever, Marcão era George Harrison. Ele não imitava o beatle. Marcão o encarnava nos mínimos detalhes. Fazia aquela mesma dancinha desajeitada. Tocava tanto quanto ele. Se tivesse nascido na Inglaterra ou nos Estados Unidos, certamente teria tido um reconhecimento maior. Quem sabe teria status de ídolo. Seja como for, ele é ídolo para seus alunos. Sua escola/estúdio era ponto de encontro não apenas de aprendizes, mas também de guitarristas famosos como André Christovam entre outros.
As manhãs de sábado eram dias de falar sobre música no estúdio do Marcão. Lá, em meio a quase seis dezenas de guitarras, além de violões, bateria, amplificadores, órgãos Hammond , bandolins, ukuleles, violinos, estranhos instrumentos indianos, microfones, gravadores, contrabaixos, posters, muita literatura e metros e metros de cabos, Marcão contava histórias. Sabia exatamente como cada música dos Beatles foi gravada, com quais instrumentos, com quais afinações. Era fanático por instrumentos antigos, os chamados vintage. Uma vez, numa dessa manhãs de sábado, ele começou a desmontar a parte elétrica de uma Fender Stratocaster bastante antiga. Uma relíquia. De repente, assustando a todos, ele gritou: “Ninguém respira!” O que teria teria acontecido? Porque ninguém mais poderia respirar? E o Marcão explicou. “Tem um pozinho da época aqui’. Todos riram, menos o Marcão. Para quem não curtia o binômio rock/guitarra, as conversas do Marcão poderiam não fazer sentido. Mas ele sabia o que falava. Podia discorrer longamente sobre o formato dos parafusos utilizados pelas guitarras Fender antes de sua compra pela CBS. Podia também opinar sobre o cheiro que emanava de uma Gibson ES-335 fabricada em 1964. Se ela fosse pintada na cor cherry red, seu odor seria bem mais doce do que uma do mesmo modelo na cor sunburst.
Rocky – Aquele 29 de novembro de 2001 talvez tenha sido o dia mais triste na vida do Marcão. George Harrison morria em Los Angeles, vítima de câncer. Marcão dizia que não conseguia acreditar na notícia. Não se conformava com a morte do ídolo de tantos anos. Para homenageá-lo, pegou sua Stratocaster pintada exatamente igual à Rocky (a Strato decorada com motivos psicodélicos, usada por George no filme Magical Mistery Tour) e foi tocar. Quem sabe agora alunos e amigos peguem suas guitarras e façam uma bela homenagem ao mestre que se foi. Uma homenagem ao sexto beatle.
Conheça mais da banda BEATLES4EVER
4 comentários:
Conheci a banda Beatle4ever quando fizeram um show aqui em Brasília em 1983 na Sala Villa Lobos. Depois disso, vi todos que a banda original fez aqui na cidade, inclusive um inesquecível no Minas Brasília, quando conversamos por uns 15 minutos antes do show. O Marcão, o Celso e o Ronaldo... todos foram muito simpáticos comigo, especialmente o Marcus Rampazzo e nos tornamos meio que amigos e trocávamos correspondências e livrinhos Hare Krishna. Sinto muito pela sua passagem. Fez um bom trabalho, amigo. Obrigado. Hare Krishna!
Fiquei muito triste com a noticia, o Marcus era um musico inigualável e uma pessoa muito bacana e gentil. Só encontrei com ele uma unica vez numa feira de instrumentos aqui em São Paulo, ele foi muito atencioso comigo, conversamos um pouco sobre guitarras e Beatles. Ele até me deixou pegar e tocar um pouco a sua Rickenbacker 325 igual ao do John. A Musica brasileira perdeu um dos seus maiores instrumentistas, Que ele descanse em paz.
Não o conheci pessoalmente dada as minhas circunstâncias. Mas não me conformo com a perda de tanta gente nova, talentosa e dedicada. Talvez pela idade, isso me toca muito.
Uma notícia como essa sempre dá uma tristeza no coração
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