terça-feira, 27 de julho de 2021

THE ROLLING STONES - WE LOVE YOU✽✽✽✽✽


Houve uma vez em que Beatles e os Rolling Stones dividiram o mesmo estúdio e gravaram uma canção em 1967. Na verdade, apenas John Lennon e Paul McCartney participaram. Gravaram suas vozes como backing para Mick Jagger e Keith Richards, no single dos Stones "We Love You".

Não foi a primeira vez em que os dois grupos trabalharam juntos, mas foi a única em que as duas duplas de compositores se reuniram no mesmo estúdio. Os Beatles e os Stones sempre foram camaradas desde o início, quando chegaram a Londres. Os Beatles surgiram primeiro, lançando seu primeiro compacto em outubro de 1962, enquanto os Rolling Stones fizeram sua estreia em junho de 1963, época em que os Beatles já consolidavam sua liderança em toda a Europa. Os Beatles eram frequentadores ativos do Crawdaddy Club, em Richmond, onde os Rolling Stones ganharam fama. Andrew Loog Oldham era o empresário dos Stones. Um rapaz de 19 anos que havia sido assistente de Brian Epstein, empresário dos Beatles. Depois, quando Jagger, Richards e cia. precisavam de uma canção para emplacar um sucesso nas paradas, Oldham solicitou uma ajuda a Lennon & McCartney, que fizeram "I Wanna Be Your Man" para os Stones, que chegaram ao Top10 pela primeira vez com ela. Jagger e Richards começaram a compor depois desse evento, pressionados por Oldham, que dizia que eles podiam. E podiam mesmo.
A “rivalidade” surgiu como uma estratégia de mercado. Um golpe publicitário de Oldham. Ele pensou que se divulgasse os Rolling Stones como o oposto dos Beatles, chamaria a atenção do enorme público do quarteto de Liverpool (pois vinculavam sua imagem a eles) e ganhariam a simpatia de eventuais detratores daquela outra banda. Deu muito certo. Em sua famosa entrevista à revista Rolling Stone de 1970, em que abre o verbo contra tudo e contra todos, Lennon relata que o melhor período da fama foi justamente no início, entre 1963 e 1964, quando Beatles, Stones e The Animals promoviam festas loucas Londres à fora e frequentavam boates e clubes. Em sua biografia "Vida", Keith Richards lembra como as duas bandas combinavam as datas de lançamento dos discos para não coincidirem. Em termos de gravação houve algumas trocas. Em 1966, o guitarrista dos Stones, Brian Jones, e a cantora Marianne Faithfull (empresariada pela banda) participaram do coro da canção Yellow submarine.
Em 1967, a capa do antológico álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, traz uma boneca de Shrrley Temple usando um suéter com a inscrição “Welcome The Rolling Stones”, em agradecimento às visitas no estúdio de gravação. Logo, depois, quando os Beatles apresentaram a bela "All you need is love" ao vivo na TV, Mick Jagger está lá, reforçando o coro, junto com Eric Clapton e Keith Moon. Em agradecimento, os rostos dos Beatles podem ser vistos escondidos na capa do álbum Their Satanic Majestic Request dos Stones.
Também em 1967, Brian Jones tocou um solo de saxofone na brincadeira anárquica chamada "You know my name (look up the number)", que só seria lançada em 1969, como lado B do single "Let It Be" dos Beatles.
Apesar do ápice de "We Love You", gravada no verão de 1967, houve ainda outros encontros. Mick Jagger canta no refrão de "Baby You're a Rich Man" dos Beatles. Em 1968, John Lennon e Yoko Ono apareceram como convidados do programa de TV "Rock and Roll Circus" dos Rolling Stones. Para a ocasião, Lennon criou a banda "The Dirty Mac" e tocou a faixa "Yer Blues" dos Beatles com Eric Clapton na guitarra, Keith Richards no baixo e Mitch Mitchell (Jimi Hendrix Experience) na bateria.
Com o fim dos Beatles, em 1970, houve uma diminuição na troca de “gentilezas” – até porque os Stones deixaram a Inglaterra para não pagar impostos e passaram a morar em locais como França, Suíça, Jamaica, Barbados ou Estados Unidos. Mas sabe-se que John Lennon continuou bastante próximo de Mick Jagger e de Keith Richards, sendo um frequentador assíduo da lendária mansão na Riviera Francesa onde os Stones gravaram Exile on Main Street, em 1972.
"We Love You", é uma canção da fase psicodélica dos Stones, que serve como um agradecimento aos fãs da banda pelo apoio conferido quando foram presos por porte de drogas no início de 1967. O clipe da canção mostra o grupo em um julgamento, parodiando o caso do escritor Oscar Wilde. Na canção em si, o grande condutor é justamente os vocais de Jagger e os backings de Richards, Lennon e McCartney. Mas há alguns destaques instrumentais, como o piano do músico de apoio Nicky Hopkins, que faz a abertura da canção, a bateria de Charlie Watts e um sintetizador tocado por Brian Jones no final. Não é um dos grandes clássicos dos Rolling Stones, portanto, está ausente da maioria das coletâneas e nunca esteve no repertório dos shows, mas é um momento curioso do rápido flerte da banda de Jagger & Richards com o psicoldelismo e, obviamente, um momento histórico de quando Mick Jagger, Keith Richards, John Lennon e Paul McCartney cantaram juntos numa mesma canção.

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