quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

THE BEATLES - O FANTÁSTICO RUBBER SOUL


Beep, beep, beep, beep, yeahhh! 
O natal de 1965, seria ainda mais brilhante e iluminado! No dia 3 de dezembro, o fantástico Rubber Soul, dos Beatles, embelezava as vitrines de todo o Reino Unido. No dia 6, seria a vez dos Estados Unidos e em seguida, do resto do mundo.
Unânimidade entre fãs e críticos, o primeiro dos registros dos Beatles da chamada fase da "pós inocência" é Rubber Soul. Embora já se percebesse a sugestão de novos caminhos nos álbuns anteriores, Rubber Soul representa o momento da transição. John Lennon o consideraria o início do período “autoconsciente” dos Beatles, ou o fim da fase inocente.
A capa, com uma fotografia deliberadamente distorcida dos quatro, já insinuava as mudanças de percepção causadas pelo LSD e pela maconha. A imagem (foto de Robert Freeman) foi acidentalmente esticada, alongando seus rostos como se fossem de borracha, em vez de cabeludos bonitinhos. Para alguns, a visão das faces distorcidas e dos olhos vidrados apoiava a tese de que as drogas estavam começando a atuar. Mas Rubber Soul não é um álbum sobre drogas, nem é psicodélico; isso veio depois. Eles não gravaram sob a influência delas; tocar no estúdio era um trabalho árduo, devido às restrições de tempo a que estavam submetidos, e eles sabiam que nunca conseguiriam terminar nada se se permitissem fumar maconha ou tomar LSD. As drogas eram consumidas em casa. Às vezes, imagens surgidas num estado induzido por drogas inspiraram músicas, mas a maioria dessas composições se revelou um lixo e nunca viu a luz do dia. John Lennon disse: “As drogas eram para aliviar a pressão do resto do mundo. Elas não fazem você escrever melhor. Nunca escrevi nada melhor porque tinha tomado ou não ácido”.
A música explorava novos sons, novos ritmos, novos temas. Paul McCartney tocava baixo distorcido e George Harrison aparecia com  a citara. O produtor George Martin reproduzia um solo de piano em velocidade acelerada para criar um som barroco; aquela seria a primeira vez que o grupo adulterava fitas para criar efeitos. Em 1965, John Lennon disse: “Descobrimos muitas coisas técnicas. Agora o foco está mais claro. Finalmente nos sentimos donos do estúdio. Nos primeiros tempos, tínhamos de aceitar o que nos davam, fazer tudo em duas horas, uma ou duas tomadas eram suficientes, e não sabíamos como aumentar o baixo. Então nos tornamos contemporâneos”. Em 1962 eles eram respeitosos, tiravam o chapéu para os profissionais, baixavam a cabeça para os homens de terno. Agora eram eles que davam o tom. Eram como um grupo de trabalhadores que tivesse tomado o controle da fábrica.
Havia em Rubber Soul um aspecto lúdico exemplificado pelo jogo de palavras do título (Paul McCartney lera uma resenha que se referia a um single de sonoridade pouco autêntica como “alma de plástico”) e pelos “beep beeps” e “tit tits” dos vocais de apoio. McCartney chegou a declarar que eles agora gostavam de canções mais animadas, como “Drive My Car”, com sua inversão de papéis, e “Norwegian Wood”, com sua cena de sedução desajeitada. Para uma banda que só tinha cantado sobre amor até então, “Nowhere Man”, que fala sobre descrença, era uma ruptura.
As canções de amor de Rubber Soul evidenciavam a chegada da maturidade. “We Can Work It Out”, de McCartney, que emergia do seu relacionamento cada vez mais problemático com Jane Asher, estava muito distante do simples desejo expresso em “She Loves You” ou “I Saw Her Standing There”. Na música, o narrador reconhece que os relacionamentos envolvem joguinhos, que o papel das mulheres estava mudando e que o amor verdadeiro é difícil de manter. “The Word”, de Lennon, apontava na direção do amor universal que mais tarde seria a base de canções como “Within You without You” e “All You Need Is Love".
Eles ainda experimentavam novas formas de narrativa — diálogos em “Drive My Car”, sermão em “The Word”, dois idiomas em “Michelle”. Quanto às letras, embora ainda gostassem das canções de amor, a grande mudança era experimentar criar histórias, narrativas e cenas com começo e fim - o que não faziam antes. Também começaram a apreciar brincadeiras, sátiras, paródias. Ganhavam confiança como letristas e, pela primeira vez, admitiam seu talento no campo cultural. Lennon viria a reconhecer “The Word” como a primeira música dos Beatles a tentar ensinar algo ao público.
George Harrison tem duas faixas no novo álbum, como no anterior, o que indica como estava evoluindo: “Até então, compor era um pouco assustador para mim. John e Paul compunham desde os 3 anos de idade... Tinham muita prática. Haviam feito a maioria de suas canções ruins antes até de entrarmos no estúdio de gravação... Eu tinha que surgir do nada e começar a escrever”. George Harrison considerava Rubber Soul o melhor álbum deles: “É o meu favorito, e já era na época. Sabíamos com certeza que estávamos fazendo um grande álbum. De repente estávamos escutando sons que não ouvíamos antes, tudo estava florescendo na época, inclusive nós, porque ainda estávamos crescendo”.
Em entrevista a Norman Jopling, do Record Mirror, Paul McCartney revelou: “Acho que John e eu estamos escrevendo canções diferentes das que fazíamos alguns anos atrás. Não sei se são melhores ou piores, mas com certeza são diferentes. E está bom assim, porque não queremos ficar parados, estagnar musicalmente. É assim que nos sentimos em relação às músicas do início e as de Rubber Soul. É isso que nós somos agora. As pessoas sempre quiseram que continuássemos os mesmos, mas não dá para ser sempre igual. Ninguém espera chegar ao auge aos 23 anos e não evoluir. Rubber Soul é o início da minha vida adulta". Lennon resumiria muito bem os avanços: “A música dos Beatles progrediu e está mais parecida com música dos Beatles. Antes, parecia mais com a música dos outros”.
Rubber Soul começou a ser gravado em outubro, para estar nas lojas em dezembro, e mais uma vez os Beatles lutavam contra o tempo, no meio de turnês e tudo mais, mesmo assim, o álbum é brilhante do início ao fim, como uma coletânea de singles. Além das 14 músicas gravadas para o disco, eles ainda se deram tempo de escolher duas para o próximo compacto single "Day Tripper / We Can Work it Out", não incluídas no álbum. o single com "We Can Work It Out" e "Day Tripper" foi lançado no mesmo dia do álbum, dia 3 de dezembro na Inglaterra e no dia 15 de dezembro nos Estados Unidos. "We Can Work It Out" tornou-se na época a que mais tempo levou para ser gravada (12 horas). Este single se tornou o que mais rapidamente vendeu, superando “Can't Buy Me Love" que tinha o recorde anteriormente.
Com Rubber Soul, foi a primeira vez que um álbum dos Beatles teve capa e nome semelhantes na Inglaterra e nos EUA. Porém o Rubber Soul americano continha uma seleção de músicas um pouco diferente da versão britânica. Trazia duas músicas do álbum anterior (Help!) e não trazia quatro músicas do Rubber Soul britânico. As músicas que não foram incluídas no Rubber Soul americano foram mais tarde (1966) lançadas no álbum Yesterday... And Today. Somente nos Estados Unidos, Rubber Soul vendeu 1,2 milhões de cópias em nove dias após seu lançamento.
Rubber Soul foi altamente influente entre os contemporâneos dos Beatles, levando a um foco difundido nos singles e na criação de álbuns de músicas consistentemente de alta qualidade. Foi reconhecido pelos críticos como o álbum que abriu as possibilidades da música pop em termos de escopo lírico e musical e como um trabalho fundamental na criação de estilos como psicodelia e rock progressivo. Entre suas muitas participações nas listas de melhores álbuns, a Rolling Stone o classificou em #5 na lista "Os 500 melhores álbuns de todos os tempos". Em 2000, Rubber Soul foi eleito o número 34 na terceira edição do livro de Colin Larkin, All Time Top 1000 Albums. Também foi certificado 6 vezes com platina pela RIAA, indicando remessas de pelo menos seis milhões de cópias nos EUA. Em 2013, Rubber Soul foi certificado como platina pela Indústria fonográfica britânica pelas vendas no Reino Unido. 

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