terça-feira, 9 de junho de 2020

THE BEATLES - “NÃO” AO RACISMO EM JACKSONVILLE EM 1964


Há 56 anos, durante sua primeira turnê de verdade pela América do Norte, em setembro de 1964, Os Beatles se recusaram a fazer um show caso a plateia fosse segregada entre brancos e negros, obrigando o contratante a mudar seus planos racistas, tão comuns naquele período.
O show em questão aconteceu no estádio Gator Bowl, em Jacksonville, Flórida, Estados Unidos, no dia 11 de setembro de 1964. Os Beatles já haviam tocado no país em fevereiro, mas apenas em algumas poucas cidades durante sua primeira viagem à América. Antes de 1964, as turnês ficavam restritas à Europa. Nesta segunda passagem pelos Estados Unidos, que também contemplou o Canadá, foram dezenas de shows. O rock and roll de Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard já havia quebrado a regra racista de plateias segregadas em diversos locais, mas em Jacksonville, os shows ainda aconteciam com separação de público. Aquela escrita se quebrou com os Beatles. Eles se recusaram a subir no palco até que o promotor do show garantisse que não haveria segregação racial na plateia. A exigência foi atendida. Na época, John Lennon disse: "Nunca tocamos para públicos segregados e não vamos começar a fazer isso agora. Prefiro perder o dinheiro do show a fazer isso".
A situação foi relembrada por Paul McCartney, em uma publicação também recente nas redes sociais, onde se manifesta sobre o assassinato de George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos. A morte de Floyd motivou uma série de protestos, não só no país, como em todo o mundo.
"Em 1964, os Beatles tocariam em Jacksonville, nos Estados Unidos, e descobrimos que o show seria feito para uma plateia segregada. Parecia errado. Falamos: 'não vamos fazer isso!'. E o show que fizemos foi o primeiro de Jacksonville sem plateia segregada. Então, passamos a garantir que essa exigência estivesse em todos os contratos de shows. Para nós, parecia bom senso", afirmou.
Fazia sentido, mesmo em um período onde o racismo era "normal". A influência da música negra no trabalho dos Beatles é imensurável e reconhecida por eles próprios. Não à toa, canções de artistas negros, como “Long Tall Sally” (Little Richard), “Twist and Shout” (The Top Notes), “Roll Over Beethoven” (Chuck Berry) e “Boys” (The Shirelles) eram tocadas pela banda na época e naquele show. Além das quatro covers, os Beatles tocaram várias músicas do álbum A Hard Day's Night“Can't Buy Me Love”, “If I Fell” e a faixa-título, bem como materiais de outros períodos, como “I Want to Hold Your Hand” e “All My Loving”. Não existem filmagens desse show, já que a banda (Brian Epstein) também exigiu que equipamentos de rádio e TV, como gravadoras e câmeras, não fossem utilizados durante o show. O motivo, segundo eles, é que esses veículos acabariam captando o material para venda posterior sem pagar os devidos direitos autorais.
O show também foi notável porque foi realizado no dia seguinte a passagem do furacão Dora, atingido St. Augustine e Jacksonville. A maior parte de Jacksonville ficou sem eletricidade e a energia não foi restaurada por vários dias.

Apesar do furacão, 23.000 fãs compareceram, pagando US $ 4 e US $ 5 pelos ingressos. Durante o show, a bateria de Ringo Starr teve de ser atarrachada no palco por causa dos ventos de 80 km/h.

O que disse Paul McCartney: "Enquanto assistimos os protestos e manifestações em todo o mundo, sei que muitos de nós queremos saber exatamente o que podemos fazer para ajudar. Ninguém tem todas as respostas e não há solução rápida, mas precisamos mudar. Todos nós precisamos trabalhar juntos para de alguma forma superar o racismo. Precisamos aprender mais, ouvir mais, conversar mais, nos educar e, acima de tudo, agir. Em 1964, os Beatles iam tocar em Jacksonville nos EUA e descobrimos que seria para um público segregado. Parecia errado. Dissemos: 'Não vamos fazer isso!' E o show que fizemos foi para o primeiro público não segregado. Nos asseguramos que estaria em nosso contrato. Para nós, parecia senso comum. Sinto-me enjoado e com raiva por estarmos aqui quase 60 anos depois, e o mundo está chocado com as cenas horríveis do assassinato sem sentido de George Floyd pelas mãos do racismo policial, junto com os inúmeros outros que vieram antes. Todos nós aqui apoiamos e apoiamos todos aqueles que estão protestando e levantando suas vozes neste momento. Quero justiça para a família de George Floyd, quero justiça para todos aqueles que morreram e sofreram. Não dizer nada não é uma opção".

Um comentário:

Dani disse...

Nunca duvidei que eles só poderiam estar do lado certo da história :)