quarta-feira, 16 de outubro de 2019

AS VIDAS DE JOHN LENNON - ALBERT GOLDMAN X YOKO ONO

Publicada originalmente em  7 de outubro de 2015 e  reeditada agora a pedido da amiga Ana Cristina. Valeu!

Em dezembro de 1980, a morte de John Lennon foi chorada pelo mundo inteiro, desencadeando um processo de beatificação e idolatria de dimensões absurdas, comparável apenas ao que cercava a imagem de Elvis Presley. Só que a beatificação de Lennon, era ainda maior que a de Presley pela forma como o ex-Beatle foi assassinado.
Oito anos depois, um escritor da Pennsylvania, Albert Goldman, resolveu assassinar também o mito que havia sido criado em torno do ídolo, disparando uma metralhadora giratória nas páginas de “The Lives Of John Lennon” (As Vidas de John Lennon), um livro ultra-sensacionalista que despertou a fúria dos fãs e a ira dos amigos mais próximos de Lennon.


Quando Goldman publicou a biografia de 600 páginas, em agosto de 1988, Paul McCartney ficou indignado. "Boicotem esse livro", ele disse aos fãs de Lennon e dos Beatles. "É revoltante que alguém como Goldman possa inventar uma penca de mentiras convenientes apenas para ele, e possa publicá-las sem receio de punição". "Ele devia se envergonhar de si mesmo", respondeu Goldman. "A geração dos anos sessenta sempre foi contundente em criticar tudo e todos. Agora, de repente, eles ficaram tão certinhos e moralistas que reagem quando alguém diz algo a seu respeito que não querem ouvir. Eles sabiam transmitir seus recados, mas agora é certo que não conseguem escutá-los".

Goldman carregou nas tintas ao retratar Lennon: fixado pela mãe, movido a drogas, instintivamente violento, psicologicamente problemático - a atitude de valentão teria sido a causa da morte do amigo Stuart Sutcliffe - e além do mais, masturbador compulsivo, homossexual reprimido e agressor do próprio filho, enquanto este ainda era um bebê. Mesmo nos momentos em que demonstra alguma afeição pelo personagem - e Goldman declarou-se acima de tudo um admirador do trabalho de Lennon - o autor usa termos como "dano cerebral genético", "violência de um caráter epilético", "extrema passividade", "ingênuo a ponto de ser facilmente enganado", "muito prepotente" e "perigoso". “The Lives Of John Lennon” pipocava de erros factuais e de interpretação, era especulativo ao extremo, cheio de má-fé e encharcado de esnobismo. Contudo, Goldman forneceu muitas evidências sobre: a necessidade quase patológica de Lennon pela dominação de uma mulher forte; a sinistra ambiguidade de um pregador da paz ter sido movido pela violência, explícita ou reprimida; o declínio de seus trabalhos após deixar a Inglaterra em 1971; e a necessidade instintiva de acreditar em algum poder maior que o dele mesmo, o que o levou de guru em guru, cada uma das obsessões esparramando-se em desilusões e desespero criativo. Ironicamente, o livro, que era para ser um best-seller mundial, da mesma forma que veio, logo caiu no esquecimento e desapareceu da história após a morte de Albert Goldman, em 1994.
Embora tenha criado estardalhaço na imprensa, o livro de Goldman não foi o maior evento relacionado ao ex-Beatle lançado em 1988. O que Goldman não imaginava, era que para combater seu livro “maldito”, Yoko Ono usaria de todas as armas que dispunha fazendo com que o livro de Goldman quase não fosse percebido. Naquele mesmo ano, chegava aos cinemas e lojas do mundo inteiro o documentário "Imagine: John Lennon", uma biografia preparada por Yoko Ono com recursos multimídia semelhantes aos adotados pelos Beatles no projeto “Anthology” anos depois. A história oficial da vida de John, ganhou um excelente longa-metragem, um álbum duplo com a trilha sonora e um livro sensacional.
Narrado pelo próprio John Lennon, a partir de extratos selecionados em mais de 100 horas de depoimentos gravados, o documentário aborda todos os principais, ou mais conhecidos, momentos da vida do genial músico, desde seu nascimento em Liverpool até o trágico fim em Nova York. Essa biografia, feita a base de aproximadamente 240 horas de filmes e vídeotapes caseiros de Lennon e sua vida, é transformada em uma fascinante história de um dos mais complexos e extraordinários homens da era moderna. Inclui algumas cenas polêmicas, perspicazes e algumas até então nunca antes vistas pelo publico.
Com o mesmo nome, “Imagine: John Lennon” é a trilha sonora do fime, lançada em 4 de outubro de 1988 nos EUA e 12 de outubro de 1988 no Reino Unido. Totalmente composta por Lennon e algumas de “Lennon & McCartney”. O álbum é dividido em duas fases distintas. Uma como um membro dos Beatles e a outra como artista solo (semelhante ao de George Harrison “The Best of George Harrison”). “Imagine: John Lennon Soundtrack” é uma coleção de sucessos desde o início da Beatlemania ao “Double Fantasy”. Além disso, o álbum apresenta duas gravações inéditas até então: uma demo acústica de "Real Love" gravada em 1979 (uma gravação alternativa que só seria concluída em 1996 pelos outros Beatles para o álbum “Anthology II” ) e um ensaio de "Imagine" em meados de 1971 antes do take final ser capturado. O álbum “Imagine: John Lennon” foi otimamente recebido por público e imprensa, chegando ao posto 31 nos EUA, e 64 no Reino Unido. Tsc, tsc... pobre Albert Goldman.

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