domingo, 18 de abril de 2021

PETER FRAMPTON NA REVISTA VEJA


A última revista Veja com data de 21 de abril de 2021, edição n° 2734, e que mostra o Lula na capa, traz uma pequena matéria com Peter Frampton. Por Felipe Branco Cruz - em 16 de abril 2021.
Peter Frampton precisa solar mais rápido do que nunca. Portador de uma doença degenerativa muscular que atinge principalmente as pernas, os braços e as mãos — a miosite por corpos de inclusão —, ele em breve não será mais capaz de tocar guitarra. Aos 70 anos, o artista inglês quer gravar e lançar a maior quantidade possível de musicas antes que seja tarde. No fim de 2019, ele anunciou a aposentadoria dos palcos e disse que dedicaria o ano seguinte a esse objetivo. Mas a dramática corrida contra o tempo ganhou um inesperado complicador: o coronavírus, que atrasou seus planos de trabalho em estúdio. "Sou realista. Se tiver alguma chance de continuar tocando, eu vou continuar. Mas, quando a pandemia acabar, posso estar em um estágio em que já não conseguirei mais”.
O formato de seu novo álbum, com lançamento na sexta-feira 23, reflete a pressa do artista, que hoje ostenta uma calva no lugar da cascata de cachos dourados dos tempos de glória. Era um visual híbrido de surfista e guitar hero. Ao concentrar-se atualmente em covers instrumentais de canções de velhos amigos, ele não perdeu tempo compondo novas letras ou arranjos. O álbum Frampton Forgets the Words comprova o subestimado virtuosismo do guitarrista em releituras de George Harrison, Stevie Wonder, David Bowie e até Radiohead. Resiliente, Frampton teve uma vida repleta de altos e baixos. Ora foi celebrado como um dos maiores guitarristas do rock, ora ignorado por todos. Não por acaso, diz que o novo disco homenageia quem o ajudou a se reerguer. Um desses anjos foí Bowie. Frampton o conheceu na escola, quando o futuro Camaleão do Rock ainda se chamava David Jones e era aluno de artes de seu pai. Surgiu daí uma amizade para toda a vida. Na música, enquanto Bowie seguiu seu caminho peculiar, Frampton formou o grupo Humble Pie, no fim dos anos 70. Mas foi em carreira-solo que ele estourou, com o álbum Frampton Comes Alive! de 1976, até hoje considerado o disco ao vivo mais vendido da história, na esteira de hits como Baby, 1 Love Your Way e Show Me the Way. Ao lado das baladas matadoras, sua marca registrada eram os solos feitos com talkbox, um dispositivo conectado na guitarra e em um cano de borracha que faz o instrumento soar como se estivesse cantando. “Quando o usei pela primeira vez, ninguém sabia o que era aquilo” relembra Frampton. A partir daí, a vida dele se transformaria em uma gangorra. No auge da carreira, ele quase morreu em um acidente de carro nas Bahamas. Para piorar, sua guitarra favorita, uma Gibson Les Paul 1954, desapareceria num acidente de avião em 1980, após a queda do cargueiro que a transportava em tour na Venezuela. Viciado em álcool e remédios, além de falido, Frampton ficou longe dos palcos por anos. A volta por cima se deu graças a Bowie, que o resgatou em 1987 para participar de um álbum e turnê mundial. E, como num milagre, sua guitarra reapareceu: ela sobreviveu ao acidente e, 32 anos depois, voltou para o dono após alguém achá-la e vendê-la a terceiros. Nas últimas décadas, Frampton viveu basicamente dos louros do sucesso do passado, sem arriscar muito em coisas novas. O diagnóstico da miosite, revelado em 2019, tiraria o musico da zona de conforto. Ciente de que o tempo como guitarrista é finito, Frampton já tem na manga um novo álbum de covers de blues, sequência de outro belo trabalho lançado há dois anos. “Tudo o que quero agora é compor e gravar”, diz. Que os deuses do rock inspirem o herói da guitarra em seus últimos acordes.
Em mais de cinquenta anos de estrada, Peter Frampton viveu altos e baixos, e acumulou boas histórias que relembra em entrevista a VEJA.
Como está sua saúde?
Psicologicamente, estou bem... Fisicamente, nem tanto, porque a doença está progredindo constante mente. Agora, minhas pernas estão mais afetadas. Descer escadas é a pior coisa para mim. Também já está paralisando minhas mãos. No mais, tomei as duas doses da vacina contra o coronavírus e estou me precavendo bastante. Tudo o que eu quero é compor e gravar o máximo que eu puder.
Sua vida é repleta de percalços e voltas por cima. Que balanço o senhor faz dela?
Eu me tornei uma das maiores estrelas do mundo da noite para o dia. Alguns anos depois, fui para o fundo do poço. Por isso, sei como é estar por cima e depois cair, passar a ser ignorado e não ter um tostão no bolso. Essa gangorra construiu meu caráter e instinto de sobrevivência. Davi d Bowie foi essencial para eu me reerguer.
Por falar em Bowie, seu pai foi professor dele. Que recordação guarda do período?
Meu pai conheceu o Bowie antes de mim, quando ele ainda se chamava David Jones. Temos três anos de diferença. Minha primeira lembrança de David é de um show que ele fez nas escadarias da escola com sua banda, The Konrads. Ele estava lá no fundo, tocando músicas de Little Richard e Elvis Preslev em um saxofone. Fiquei perplexo com sua presença, e disse para o meu pai: “Ele é muito criativo. Quero ser assim quando crescer’. Eu tinha 12 anos. Tempos depois, quando minha carreira estava falhando miseravelmente, David me chamou para tocar com ele na turné Glass Spider. Sabia do meu talento como guitarrista e estava me reintroduzindo nos palcos. Agradeço a ele todos os dias.
O senhor também gravou com George Harrison em All Things Must Pass, mas seu nome não apareceu nos créditos. O que houve?
O espólio do Harrison me procurou e pediu para eu contar detalhes daquela gravação para um documentário. Contei tudo e pedi que creditassem meu nome dessa vez (risos). Mas isso é um detalhe, o que importa é que eu estava lá. Foi uma experiência empolgante chegar ao estúdio e ver ídolos como George, Ringo, Jim Gordon e Stephen Stills. A foto daquele dia foi feita trinta minutos depois de eu ter conhecido o Harrison, e logo em seguida ele me pediu para tocar guitarra com ele.
É verdade que Pete Townshend, do The Who, ligou para o senhor pedindo que o substituísse na banda?
Sim. Eu estava muito em baixa e, do nada, ele me ligou e disse: “Estou pensando em não fazer mais turnês com o The Who. Ele perguntou se eu queria substituí-lo nos shows ao vivo. Respondi que não era uma boa ideia porque eu não sabia tocar guitarra girando os braços como ele, nem pular tâo alto no palco. Eu seria odiado pelos fãs. Quando perguntei se ele tinha consultado os outros integrantes, ele disse que falaria com eles no dia seguinte e desligou o telefone.
O que ocorreu depois?
Fiquei ansioso esperando ele me ligar por umas três semanas. Então, encontrei-o em Londres e não poupei palavras. Disse que ele deveria ter me ligado, nem que fosse para dizer que tinha mudado de ideia. Ele se desculpou. Hoje somos amigos e conversamos por e-mail. Pete é uma pessoa adorável. Espero que possamos tocar juntos um dia.

6 comentários:

Celso Ferreira - BA disse...

Valeu, Edu!

Edu disse...

Valeu!

Dani disse...

Lindo ontem, lindo hoje ainda, esse grande artista ❤️❤️❤️❤️❤️
Uma bela história de vida.
Tomara que ele consiga produzir tantas músicas maravilhosas quanto possível.

Edu disse...

Realmente uma pena o que está acontecendo com ele...

roque22 disse...

"Breaking All the Rules", "Show Me the Way", "Baby, I Love Your Way" 3 grandes classicos. Adorei a postagem.

Edu disse...

"Breaking" e "Show me" já apareceram aqui. "Baby I Love Your Love Away", never. Quem sabe? Valeu.