quinta-feira, 4 de junho de 2009

KUNG FU - A MINHA SÉRIE PREFERIDA

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Um jovem Mestre Shaolin perambula por uma terra inóspita em busca de seu irmão,mas também de si próprio. Dentre os maiores perigos por ele enfrentados, nãoe stão os pistoleiros e nem mesmo os caçadores de recompensa, mas a intemperança, o racismo e o preconceito Humanos. Aventure-se ao lado de Kwai Chang Caine, o Gafanhoto, nessa formidável busca ao Infinito que nos habita.

Kung Fu é, numa análise superficial, o conto do órfão que virou mestre das artes marciais; e, numa visão minimalista, é a história do homem que virou mestre de si próprio, senhor de sua consciência. Kwai Chang Caine é um mestiço nascido na China, filho de pai americano e de mãe chinesa. O menino, por não ter aonde ir ou onde se estabelecer, acabou por bater aos portões do Templo Shaolin. Embora mestiço, foi aceito pelo grande mentor daquele templo, Mestre Kan (interpretado pelo falecido Philip Ahn), o qual ignorou a premissa Shaolin - de que apenas chineses legítimos são admitidos - por ter sentido algo "especial" pelo pobre garoto solitário.

Como parte da abertura da série, a nós é mostrada uma cena em flashback, representante de um dos primeiros momentos do jovem Caine no referido templo. Mestre Kan, suportando uma pequena pedra sobre a palma da mão aberta, diz ao garoto: "- Tão rápido quanto puder, arrebata a pedra de minha mão". Obviamente, Caine efetuou tentativa frustrada, pois o velho Chinês encerrou a mão tão rapidamente quanto um piscar de olhos. O mestre, então, explicou ao garoto a forma através da qual deixaria o templo: se Caine conseguisse arrebatar a pedra, estaria apto a partir.

Caine, de fato, lá permaneceu por anos, até ter se tornado um adulto. Durante o tempo decorrido no templo, aprendeu todos os segredos e técnicas do kung fu, como por exemplo, os estilos "animais" representantes das respectivas disciplinas: autocontrole, suavidade, velocidade, paciência, graça, dentre outras. Aprendeu a cuidadosamente caminhar sobre folhas feitas de arroz, dotado de tamanha suavidade capaz de não amassa-las e de não produzir ruídos. A lição essencial dentre todas, entretanto, foi a de controlar a "força interior"; algo batizado pelos chineses de Chi. 

Caine cresceu ao lado de outro grande professor, Mestre Pô (interpretado pelo falecido Keye Luke), de quem se admirou muito e por quem nutriu amor e carinho. Esse mestre, aliás, foi o responsável pelo apelido dado ao menino: Gafanhoto. Mestre Pô era cego. O fato aguçou a curiosidade do infante, que, por ter sentido pena de seu tutor (na constatação da cegueira) disparou um dos diálogos mais bonitos da série:

A partir desse momento, Caine passou a ser chamado por "Gafanhoto". Finalmente, e Caine foi capaz de arrebatar a pedra da mão de Mestre Kan. Antes de partir, contudo, devia receber a "graça" por ter atingido o status de Mestre Shaolin. A isso visando, Caine precisaria - num ritual de passagem - caminhar por um longo corredor repleto de perigos ao final do qual jazia um caldeirão cheio de carvões em brasa. Às laterais do artefato havia as figuras de um tigre e de um dragão. Aos olhos de todos os mestres com os quais Caine estudou, precisaria erguer o referido caldeirão, segurando-o com os braços e punhos. Passados alguns segundos, precisaria coloca-lo de volta. A cerimônia foi favoravelmente realizada. Ao executar o procedimento acima descrito, Caine recebeu em seus braços, involuntariamente, as marcas do dragão e do tigre; "impressas" pelo calor do caldeirão à pele do Shaolin. Caine deixara de ser o aprendiz que fora durante anos. A partir daquele momento já era mestre
Alguns anos após a saída do templo, Caine encontrou-se, por acaso, com seu antigo mestre Pô num lugar próximo ao "Templo do Paraíso", na Cidade Proibida. Na época em que Caine aprendia, Mestre Pô confessou a ele a ambição de comparecer num determinado festival a ser realizado naquela cidade. A confissão se deu em caráter privativo, mesmo porque um mestre não poderia ter ambições daquele tipo; era algo proibido aos Shaolins. Pô, nesse encontro casual, confirmou a ida ao tal festival. Tencionando rever novamente seu querido mestre, Caine foi ao local da festividade. De fato, se encontraram e muito conversaram durante um passeio. No mesmo encontro, porém, se depararam com a "comitiva" na qual se integrava o arrogante sobrinho do Imperador da China. Após provocações oriundas desse e uma séria altercação, o membro da família real sacou de uma pistola e disparou em Mestre Pô, o deixando à beira da morte. Caine, instintivamente, jogou uma lança no jovem imperador, matando-o instantaneamente.
O Shaolin, desesperado com a morte iminente de seu grande mentor (e, por que não, pai?), o pegou no colo e a ele suplicou perdão pelo assassinato cometido. Caine fora contra todos os ensinamentos prestados a ele, a partir do momento em que matou o sobrinho do Imperador. Mestre Pô, prestes a falecer, deu perdão ao favorito aprendiz e amigo, mas a ele também deu um aviso: precisaria deixar a China, pois o matariam - certamente - devido ao assassinato recém-cometido. A cabeça do Shaolin estaria "a prêmio". Ele faleceu, entretanto, antes entregou a Caine uma "mochila" que continha os únicos pertences dos quais dispôs em vida.Cheio de ódio no coração, envergonhado e aterrorizado, o jovem Shaolin decidiu-se a seguir o último conselho do mestre. Partiu para o país de origem do falecido pai: os Estados Unidos. Lá chegou no comumente conhecido "Velho Oeste". Ele se esconderia na imensidão daquele país, no qual dificilmente seria encontrado ou reconhecido.As bases da série estavam prontas. Caine, o "estranho no ninho", seria "mais um chinês" na América. Precisaria lidar com o fato de, eventualmente, ser caçado por causa da acusação de assassinato na China, uma vez que sua cabeça estava "a prêmio": 10 mil dólares seriam pagos pela captura do Shaolin, se vivo. Tanto caçadores de recompensas chineses quanto americanos o perseguiriam; afinal, o prêmio era alto. Precisaria, também, se deparar com o racismo desmedido dos americanos (devido às diferenças sócio-culturais e à ignorância), pois lá os chineses eram explorados como mão-de-obra "quase" escrava.
Nos primeiros episódios da série, os criadores de Kung Fu adicionaram um fator novo à história: Caine - supostamente - teria um meio-irmão mais jovem, Danny, que também estaria nos Estados Unidos. Além do plot básico citado, o Shaolin desejava encontrar-se com esse irmão, mesmo não tendo quase informações acerca dele. Danny, por conseguinte, seria o único parente dele, vivo e "de sangue"; Caine não tinha mais ninguém na vida.Os flashbacks são outra parte importante da série. Eles serviam para ilustrar as situações enfrentadas por Caine no dia-a-dia de sua vida nos Estados Unidos. Nos flashbacks são mostradas ao público as cenas de Caine no Templo Shaolin, ainda aprendiz, junto aos seus mestres. A lembrança de um ensinamento é diretamente proporcional à situação enfrentada por ele "na vida real", em determinado episódio. Na minha sincera opinião, os flashbacks são uma das coisas mais bonitas de Kung Fu, pois através deles os criadores da série pretenderam atingir os corações e as mentes dos telespectadores com a beleza da Sabedoria Oriental. São os momentos mágicos da real "ação" de Caine sobre as pessoas localizadas do "outro lado da tela". O enredo de Kung Fu, embora a nós soe como um contra-senso - devido ao próprio título da série - incita a não-violência. Ao invés disso, mostra aos telespectadores o quão bela pode ser a vida se formos compreensivos, se dermos amor ao próximo ao invés de molesta-lo ou de inveja-lo, se pararmos de julgar as pessoas pelas aparências, se aceitarmos as diferenças e se aceitarmos as pessoas das formas como elas são e agem.
As histórias dos episódios revelam o amor triunfando sobre o ódio, o "bem vencendo o mal". É como foi dito por mim: embora o nome da série nos remeta à arte marcial, durante os episódios constatamos apenas alguns "segundos" de luta; a violência é evitada ao máximo, ao passo que a percepção de mundo - moldada pelos ensinamentos Shaolins - do personagem principal é exaltada.Caine, na realidade, não busca ao seu irmão e nem foge de seus caçadores, mas se encontra na busca a si próprio. Ele busca a si mesmo. Todos nós buscamos a nós mesmos desde o momento em que nascemos.
A cena de abertura da série é perfeita se tomada como ilustração: Caine anda sobre as dunas de areia, sem rumo; apenas caminha... Aonde chegará? Ele não sabe! Nem nós sabemos, com certeza, aonde iremos... É a eterna busca do ser humano ao autoconhecimento, ao domínio das próprias faculdades e das próprias idéias. A busca à capacidade de "ser um com o mundo". Na vida fazemos isso. Caminhamos ao lado de nossos problemas, de nossos medos, de nossas decepções, ou seja, andamos sobre nossas próprias dunas de areia. E, como Kwai Chang Caine, deixamos os rastros de nossas pegadas. Se esses rastros perdurarão ou não, só depende de nós.

FIM

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu gostava muito da série. E, embora tenha passado tanto tempo,acredito que ela seria sucesso mesmo nos dias de hoje.
Ah! Em relação à morte do David Carradine, veja o que disse o pessoal da polícia: "Não foi um suicídio ou um assassinato. Ele morreu após uma masturbação", declarou à AFP Porntip.
Abraços
Velho Johnny

Vânia Junqueira disse...

Uma tristeza, uma depressão numa hora errada, isto é, numa hora em que a pessoa não tem como refletir devido a uma pressão interna muito grande, construída em cima de suas crenças, que acabam, neste caso, sendo objetos limitantes de uma possível reviravolta, nos deixam órfãos de pessoas muito belas e significativas...

Edu disse...

Parece que foi ontém. Meu Deus, eu era menino! Todas as quartas-feiras, estávamos todos lá, "unidos", acompanhando as aventuras de Kwai Chang Caine. Eu era impressionado com a facilidade e a habilidade que Caine (David)conduzia o personagem. Fanzão. Muito massa! Obrigado, David, pelo importante papel que representou para mim. Fique com Deus.
China. Valeu!

Marco disse...

É incrível como certas coisas nos marcam um dia e acabam nos acompanhando pela vida toda. Quando criança me achava meio parecido com o Kwai Chang Caine. Eu era silencioso e tinha muito mais inclinação para observar as coisas do que para falar a respeito delas. Bateu uma identificação com o personagem e obviamente uma grande admiração. Muito do que ele aprendia no seriado eu aplicava na minha vida e acho que até hoje carrego comigo alguns daqueles ensinamentos. Ainda hoje me vejo como o Gafanhoto caminhando pelo deserto que criei em mim, absorto em meus pensamentos. Meu deserto sobrevive até hoje e sempre caminho por ele acompanhado do Kwai Chan. Agora, mais do que nunca sei que ele estará ao meu lado.
Valeu, David. Obrigado pelas alegrias de todas as quartas.
Hoje não caminho mais sobre o papel de arroz, mas ele continua sendo o meu preferido.

Marco

Vagner disse...

Este seriado foi ESPETACULAR,hoje o tempo passou e a saudade é muito grande,apesar das dificuldades de minha família na epoca,NÃO TINHA TELEVISOR EM CASA,gostaria muito de assistir todos os capítulos novamente.

jamilson disse...

Certa vez, procurando fugir dos problemas, procurei saindo de são paulo e viajando pelo Brasil por 7 meses. Inútil, os problemas estão sempre conosco. Parentes e amigos riram muito. Mas. eu, a propósito me consolei, muitas vezes diante de situações muito difíceis, as quais procuro não elencar, as lições de paciência , resignação e corragem que estavam em minha mente vindas do gafanhoto.Por fim enfrentei os problemas. Obrigado David Carradine.