terça-feira, 29 de novembro de 2022

GARY TILLERY - A BIOGRAFIA ESPIRITUAL DE GEORGE HARRISON ⭐⭐⭐⭐⭐

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Hoje completa-se 21 anos da passagem de George Harrison para o mundo espiritual. Ele se foi em Los Angeles em 29 de novembro de 2001 com apenas 58 anos. Quando o livro de Gary Tillery "A Biografia Espiritual de George Harrison" foi publicado aqui no Brasil, havia se passado dez anos de sua morte. Tillery separou o livro em quatro capítulos: "Vivendo no mundo material", "A formação de um místico", "Levando a palavra para o mundo" e "A luz interior". O autor começa fazendo um passeio por Liverpool e a infância de Harrison, a entrada para os futuros Beatles, as turnês para Hamburgo, o sucesso, a Beatlemania, as experiências com as drogas - especialmente o LSD, que teve papel fundamental na descoberta espiritual de George, a importância do Maharishi e a viagem à Índia, a amizade de Ravi Shankar, a separação dos Beatles, o sucesso do álbum All Things Must Pass, o concerto por Bangladesh, a separação (traumática) de Patty Boyd, o uso indiscriminado de álcool e cocaína, a fracassada turnê de 1974, o processo de plágio, o fracasso dos álbuns em meados dos 70, a criação da Dark Horse, o aparecimento de Olivia Arias, a morte de John Lennon, a redenção com o sucesso de Cloud Nine e os Traveling Wilburys, a excursão ao Japão com Eric Clapton, a vida como jardineiro e finalmente, a terrível batalha contra o câncer. Todos esses assuntos sempre entrelaçados com a relação espiritual de Harrison com o Hinduísmo. Especialmente em homenagem a George Harrison, a gente confere aqui novamente thechos do "epílogo" do livro "A Biografia Espiritual de George Harrison", lançado no Brasil pela editora Madras e publicado parcialmente aqui 25 de fevereiro de 2014. Valeu, abração a todos. Hare Krishna!

George Harrison uma vez escreveu: "Um por um, somos despertados pelo som da flauta de Krishna. Sua flauta funciona de diversas formas". Apesar de seu próprio despertar ter acontecido por intermédio de químicos psicoativos, ele era bem ciente de que a maioria das pessoas ia por caminhos mais tradicionais. O modo como a pessoa atinge o objetivo - yoga, meditação, cânticos, um guru inspirador - é imaterial. O objetivo é despertar, e o gentil estímulo de George aos que ainda dormiam corre por suas músicas como uma corrente submarina desde o momento em que despertou, no meio dos anos 1960, até seu último e póstumo álbum, em 2002. "Você é um deles?", ele pergunta ao final de "Within You Without You", significando os que se escondem atrás de uma parede de ilusões até que seja tarde demais. Um ano depois, ao som de uma guitarra pesarosa, ele tristemente observa: "Eu olho para todos vocês, vejo o amor que está aí e está dormindo". Em "Beware of Darkness", ele alerta o ouvinte sobre a maya sem esperança e triste: "Não é para isso que você está aqui". Em "Awaiting on You All", diz sem hesitar: "O Senhor está esperando que todos despertem e vejam". Referindo-se a si mesmo e ao que ele espera alcançar em "Living in the Material World", canta: "Tenho muito trabalho a fazer / Tentando passar uma mensagem adiante". Em "Unconsciousness Rules", Harrison compara a vida sem iluminação à indiferença de uma pista de dança, e comenta: "Seus sentidos descontentes levam-no junto na viagem, você está vivendo dia após dia onde o inconsciente comanda". Semanas antes de morrer, gravou "Horse to the Water". Sua letra fala de três indivíduos conturbados que ele tenta iluminar. O primeiro prefere se voltar às drogas (ou talvez suicídio - "ele desligou seu sistema nervoso"). O segundo sofredor opta pelo esquecimento no uísque. O terceiro, um pregador, interessa-se mais por condenar "os maus da fornicação" do que despertar para encontrar Deus em si mesmo. Entristecia Harrison o fato de poucas pessoas entenderem a verdade que ele havia visto tão claramente - que estamos aqui para queimar nosso carma passado, tornarmo-nos cientes de nossa divindade e nos libertarmos do eterno retorno. Poucos percebiam como estavam desperdiçando sua preciosa oportunidade. Como um bebê em um berço, encantado pelos brinquedos brilhantes e giratórios ao alcance de sua mão, as pessoas continuam muito distraídas pelo que percebem por meio de seus cinco sentidos; não dirigem o olhar para dentro, não exploram o que é interno; continuam sucumbindo aos atrativos do mundo material, hipnotizados pelas alegrias, tragédias, prazeres e medos.

George ainda tentava dizer isso em seu último álbum, Brainwashed, lançado um ano após sua morte por meio dos esforços conjuntos de Dhani e Jeff Lynne. A confiante primeira faixa, "Any Road", fala de "viajar aqui, viajar ali". Sim, ele está dizendo que a maioria de nós passa a vida vagando sem rumo e "se você não sabe para onde está indo qualquer caminho o levará até lá. Mas, quando você decide que já teve o bastante e sabe para onde está indo, precisa entrar no caminho certo". Então tome nota, ele dá a dica: "o caminho para sair está dentro". A faixa título do álbum, "Brainwashed", relembra Dylan, cita diversos modos pelos quais as pessoas passam por uma lavagem cerebral nos dias de hoje, em um estilo similar a "Everybody Must Get Stoned" e "Gotta Serve Somebody". Nos tempos de juventude, "sofremos a lavagem por nossos líderes", "nossos professores" e "nossa escola". Sofremos a lavagem constantemente, diz George, por computadores, celulares, militares e enquanto você está preso no trânsito, a mídia. Por frustração, e, na esperança de despertar o ouvinte, ele interrompe várias vezes a lista com "Deus Deus Deus, guie-nos por essa confusão". Dhani, que teve um papel indispensável no término do álbum, possui um apego especial a essa música: "Eu simplesmente amo muito 'Brainwashed' porque é a música mais realista de todas. É verdade - todos estão sofrendo lavagens cerebrais por essas mensagens, por acatar muito do que nos é dito, e vivemos conformados". Até o final da vida, George estava dizendo: "Acorde!". É irônico que, uma década após sua morte, o impacto de George Harrison no mundo seja fácil de reconhecer - irônico porque a evidência está ao redor. Praticamente toda cidade e município no mundo ocidental tem escolas de yoga disponíveis. O mesmo pode ser dito sobre a meditação. E espalhados pela América cristã estão mais de 250 templos hindus, muitos nas áreas centrais - Idaho, Nebraska, Alabama, Texas —, e não apenas em lugares previsíveis como Califórnia e Nova York. Sem querer minimizar a contribuição de Vivekananda, Yogananda, Maharishi, Prabhupada e outros como eles, sejamos honestos: o sucesso que obtiveram seria tão global sem o tremendo empurrão dado aos seus esforços pela influência dos Beatles? Yogananda, por exemplo, passou mais de 30 anos no Ocidente, e o Maharishi uma década, antes que os Beatles abruptamente trouxessem a espiritualidade indiana para a percepção cotidiana. E, dos quatro, Harrison liderava o caminho espiritualmente. Foi o primeiro Beatle a abraçar a entoação de cantos e meditação, o primeiro a ler "Autobiography of a Yogi" e insistir que os outros a lessem, o primeiro a ficar intrigado pelo Maharishi, e o primeiro a se comprometer com a ida a Rishikesh com o guru - inspirando John e os outros. ("George está alguns centímetros à frente de nós", John admitiu durante a visita ao retiro do Maharishi.) Como resultado da busca espiritual de George, elementos da cultura oriental, que provavelmente continuariam sendo distrações exóticas nas grandes cidades, tornaram-se, com o bem noticiado envolvimento dos Beatles, primeiro "alternativos" e depois aceitáveis para as grandes massas. Ainda mais: quando Harrison estava alcançando a fama, as únicas músicas "estrangeiras" ouvidas em rádios inglesas e americanas consistiam em hits inovadores, como "Sukiyaki" e "Nel blu dipinto di blu". Atualmente, a categoria world music está presente em qualquer lugar em que música seja vendida. Sem dúvida, muito desse sucesso foi consequência do aumento de satélites de comunicação e a internet, mas é indiscutível que o processo tenha sido acelerado pela influência cultural dos Beatles. E George era o Beatle que mais uma vez liderou o caminho para os outros três. Foi ele quem ficou cativado pela música da Índia, quem fez Ravi Shankar ficar famoso, além de ser o responsável por levar o mantra Hare Krishna ao top 20 na Inglaterra, tornando-o popular ao redor do Ocidente

Harrison abriu a porta que levou à descoberta e apreciação, por milhões de pessoas, do reggae, o som de "distrito" sul-africano, salsa, e outras músicas ao redor do mundo. Por que é tão fácil não enxergar o legado de Harrison? A razão mais óbvia é que ele chegou à fama sob a sombra de duas personalidades incrivelmente talentosas e muito mais extrovertidas. John Lennon, com seus demônios da infância, sua criatividade prodigiosa e sua esperteza em explorar sua fama sem precedentes para avançar as causas em que acreditava, demarcou um espaço na história de sua era. Paul McCartney quase se igualava a ele. Um gênio da música e showman natural, Paul havia se tornado o compositor mais bem-sucedido da história e uma força de muitas facetas na música moderna - criando tudo, desde músicas de rock 'n' roll, baladas e trilhas sonoras a trabalhos sinfônicos, música de câmara, dois oratórios e um balé. Comparado a John e Paul, George foi sempre o "Beatle Quieto". De tempos em tempos ele se tornava o centro das atenções — por exemplo, com a chegada relâmpago nas listas de All Things Must Pass e "My Sweet Lord", ou quando produziu o Concerto para Bangladesh, ou retornou à atenção do público com Cloud Nine ou os Traveling Wilburys. Mas ele, como o gato de Alice no País das Maravilhas, inevitavelmente iria desaparecer. Suas motivações para fazer o que fazia eram sempre um enigma para qualquer fã. Ele lembrava um criptograma. As pessoas achavam difícil conciliar que alguém tão "normal" pudesse ser associado a assuntos tão estranhos. John era facilmente categorizado como o artista louco; talvez as pessoas não entendessem por que ele era tão dedicado a destruir a imagem benéfica criada enquanto era um Beatle, mas eles conseguiam categorizá-lo. Paul era o extrovertido e afável, sempre o centro das atenções e perfeitamente confortável com isso. Mas George ficou com a imagem de homem modesto e despretensioso, alguém da classe trabalhadora, alguém que aparecia de vez em quando nos eventos de Fórmula 1, mas passava a impressão de que preferia estar em casa cuidando do jardim. George era como Ringo, um bom camarada. E mesmo assim ele não se encaixava nessa imagem. Um artigo ou entrevista ocasional revelaria alguma nova informação estranha - a doação de uma propriedade para um templo hindu no Reino Unido, uma peregrinação a uma obscura cidade chamada Vrindavan, uma reunião com o Maharishi e o apoio aos seus esforços políticos. George era como uma nuvem misteriosa, vagando em direções inesperadas. Apesar de ser um criptograma, George sempre será lembrado pelas duas vertentes do legado - sua música notável e sua profunda espiritualidade. Suas músicas são tão evocativas para nós agora quanto o eram na época em que as escreveu e as gravou. Uma vez que o fluxo e refluxo sedutor do ritmo da guitarra que abre "My Sweet Lord" prende sua atenção, focar em qualquer outra coisa exige um esforço gigantesco. Quem consegue ouvir "While My Guitar Gently Weeps" e não se afundar em um estado melancólico de consciência? Quem consegue ouvir a delicada "Here Comes the Sun" ou a vibrante "Heading for the Light" e não ter seus espíritos elevados? "Something" é a música romântica mais sensível já gravada, considerada um clássico instantâneo por ninguém menos do que Frank Sinatra. E a magistral "All Things Must Pass" deixa até o ouvinte mais superficial contemplativo. Além de suas conquistas como artista, George é lembrado como um homem espiritual. Diferentemente de John Lennon, que compartilhou de sua primeira viagem abridora de mente com LSD, em 1965, Harrison acreditava inequivocadamente em um Deus pessoal. Lennon usava livremente a palavra "Deus" em conversas, mas para ele era apenas uma expressão para uma força de fundo natural e universal. Lennon pensava em Deus como uma reserva infinita de energia, como uma estação de energia que poderia ser usada para o bem ou para o mal. Harrison, ao contrário, gostava de contemplar Deus em sua forma humana como Krishna. Às vezes ele o imaginava adulto, como um guru ou mestre, mas na maior parte do tempo ele gostava de imaginá-lo como o descrevem na Índia - um bebê ou Govinda, o pastorzinho. George gostava de ter a opção de se relacionar com Deus em diferentes situações, como professor, um amigo ou uma criança que evocava seus instintos protetores. O que parecia ser pouco conhecido fora do círculo de amigos religiosos de Harrison era sua veneração tanto por Jesus como por Krishna. De acordo com Deepak Chopra, amigo de George por 15 anos, ele não só era um leitor ávido da literatura hindu como também gostava de mergulhar em livros que apresentavam uma visão alternativa do Cristianismo. Segundo Chopra, Harrison era fascinado por textos como os evangelhos gnósticos e o Evangelho de Tomé, e tinha o costume de fechar cartas para seus amigos com um símbolo hindu e uma cruz cristã.
Provavelmente inspirado por Yogananda, que repetidamente discute "consciência de Cristo" em sua autobiografia, Harrison via Jesus como uma encarnação de Deus que merecia reverência. O pobre carpinteiro da Galileia havia compreendido o grande segredo, queimou seu carma e manifestou a divindade dentro de si. E ele não foi o único a fazê-lo ao longo dos tempos. Rama e Buda, por exemplo, também atingiram esse objetivo. Como poderia fazer, presumidamente, qualquer um de nós. Em uma carta para sua mãe em 1967, Harrison escreveu: "Eu quero ser autorrealizado. Eu quero encontrar Deus. Não estou interessado em coisas materiais, esse mundo, a fama. Estou partindo para o objetivo real". Quatro anos depois, no começo de 1971, com All Things Must Pass e "My Sweet Lord" no topo das listas, George foi questionado sobre suas futuras ambições. "Eu quero ser consciente de Deus", ele respondeu. "Essa é realmente minha única ambição e todo o resto na vida é incidental". Quantos de seus companheiros do rock teriam falado tal objetivo de vida publicamente? Em busca desse objetivo, Harrison considerou vantajoso seguir um caminho não comumente seguido no Ocidente - o caminho do misticismo. Enquanto estava em sua turnê de 1974 pelos Estados Unidos, ele disse a um entrevistador: "A mim parece que a filosofia ocidental é bem preconceituosa, pois olha para o misticismo como 'qualquer coisa' mágica, sabe? Mas depois de tudo que os maiores filósofos ocidentais falaram, para mim tudo se resume ao fato de que ainda não alcançaram o que o povo oriental conseguiu". Para Harrison, os pensadores do Ocidente, com seus argumentos cuidadosamente racionalizados, não conseguiam achar o que era relevante. Seus cérebros de mamífero altamente desenvolvidos os guiavam cada vez mais longe por um caminho enganoso da mesma forma que o dele guiava, até o dia em que uma dose de LSD o impulsionou para fora da camisa de força sensorial. Daquele ponto em diante, ele compreendeu a natureza ilusória do mundo cotidiano ao seu redor e passou a entender que tudo está interrelacionado. Assim que começou a meditar regularmente e entoar cantos, chegou à conclusão de que ele não era a presença física que via no espelho — aquele que o mundo conhecia como George Harrison. Ele era o "eu" que habitava aquele homem, o "eu" que poderia dar um passo para trás e observar os problemas, esperanças, forças, fragilidades, doenças, desejos e até pensamentos. Depois que conheceu Ravi Shankar e seguiu seu conselho, Harrison começou a estudar o que os sábios da antiga Índia tinham a dizer sobre o assunto. Aqueles homens sagrados afirmavam que, permeando esse abundante oceano de energia que chamamos de Universo - e acessível para a mente treinada -, estava a Deidade Suprema, fonte de todo o conhecimento. Deus permeia o grande oceano de energia, e a alma individual é como uma gota desse oceano. Então, o "eu" que para e observa é, mais precisamente, uma pequenina parte do "nós". Assim como uma gota do oceano contém as mesmas qualidades do oceano todo, cada pessoa possui as mesmas qualidades de Deus. Todo mundo, portanto, tem a potencialidade para manifestar a divindade. De fato, fazer isso é o objetivo de cada um. Pode levar muitas encarnações para uma pessoa se tornar ciente desse objetivo, e muitas mais para atingi-lo. Harrison acreditava que as verdades antigas e esotéricas deveriam ser espalhadas pelo planeta. Tal convicção ficava por trás de sua música, assim como seu apoio à Sociedade da Autorrealização, de Yogananda, e à Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna - como também ocorrera com seu apoio ao Movimento Regeneração Espiritual, do Maharishi. Ele acreditava que uma onda crescente de pessoas ao redor do mundo iria descobrir e se beneficiar do misticismo oriental. Imaginava milhões de pessoas despertando do encanto de maya e agarrando a realidade que estava logo abaixo da superfície. Resumindo, ele queria ajudar as pessoas a alcançarem o objetivo que ele tinha estabelecido para si mesmo aos 20 anos - tornar-se autorrealizado e consciente de Deus. E ele sabia onde poderiam encontrar o começo do caminho que levava ao objetivo, assim como ele encontrou. "Todos possuem dentro de si uma gota desse oceano", ele disse uma vez, "e nós temos as mesmas qualidades de Deus, assim como uma gota do oceano tem as mesmas qualidades que o mar inteiro. Todos estão procurando por algo lá fora, mas está tudo bem dentro de nós mesmos".

TOM PETTY AND THE HEARTBREAKERS - I NEED YOU - SENSACIONAL!!!

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THE BEATLES - EVERYBODY'S TRYING TO BE MY BABY

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GEORGE HARRISON - LET IT BE ME - SENSACIONAL!

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"Let It Be Me" foi originalmente gravada em francês em 1955 como "Je t'appartiens" interpretada por Gilbert Bécaud. Tornou-se popular mundialmente com uma versão em inglês dos Everly Brothers de 1959, que alcançou o número 7 na Billboard Hot 100. O arranjo de harmonia desta versão foi muitas vezes emulado em remakes subsequentes. Este foi o primeiro single dos Everly Brothers a ser gravado em Nova York, e não em Nashville. "Let It Be Me" foi regravada ao longo dos anos por dezenas de artistas dos mais variados estilos, de Bob Dylan a Elvis Presley.

A versão gravada por George Harrison aparece como a quinta faixa do álbum Early Takes: Volume 1 - um álbum de compilação de outtakes e gravações demo lançado em 1º de maio de 2012. As gravações apareceram no documentário de Martin Scorsese de 2011 George Harrison: Living in the Material World e foram originalmente lançadas como parte da versão deluxe do lançamento do DVD. O produtor Giles Martin compilou o álbum, trabalhando com o engenheiro Paul Hicks. A maioria das gravações data das sessões do álbum triplo de Harrison de 1970, All Things Must Pass.

ROLLING STONE ENTREVISTA GEORGE HARRISON - 1979

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Essa entrevista que a gente confere agora foi feita por Mick Brown e publicada na revista Rolling Stone de 19 de abril de 1979 - George estava lançando seu mais novo álbum, George Harrison. Prepare-se, é bem longa! E para uma pessoa conhecida como 'Beatle quieto', George fala um bocado.

A cerca de trinta milhas de Londres, George Harrison passou a manhã no estúdio de gravação com Paul McCartney. Não foi, ele se apressou em explicar, um encontro que pressagiava qualquer tipo de reunião dos Beatles. ('Fab Four' é o termo preferido de Harrison, usado com uma ironia afetuosa, como se para reduzir as implicações do nome a um nível administrável). Os velhos antagonismos que acompanharam a separação dos Beatles em 1970, e as prolongadas disputas legais que duraram anos, há pouco foram consertadas, mas um realinhamento musical é tão improvável quanto Richard Nixon recuperar a presidência. De todos os ex-Beatles, é Harrison cujos interesses provaram ser os mais abrangentes nos últimos dez anos, desde a organização do Concerto para Bangladesh até a cumplicidade no Flying Circus do Monty Python. Sua própria carreira musical abrangeu oito álbuns solo e apenas uma turnê - pela América em 1974. Desde o lançamento de seu último álbum, 33 & 1/3, há mais de dois anos, Harrison tem se esforçado para manter o público o mais longe possível. Ele se casou com Olivia Arias, sua namorada por cerca de quatro anos, em setembro de 1978, e eles têm um filho, Dhani. Quando ele não está em sua casa de campo inglesa (o autor de “Taxman” descaradamente exagera na taxa punitiva de impostos da Inglaterra em prol do “campo e das estações”), Harrison está frequentemente viajando no circuito internacional de Grandes Prêmios de Fórmula 1. Harrison há muito reluta em dar entrevistas, concordando nesta ocasião apenas pelo interesse de discutir seu novo álbum, George Harrison. Mas, apesar de seu declarado desinteresse em dialogar com a mídia, ele se mostrou um sujeito genial e bem-humorado – feliz em falar sobre sua música, suas tribulações pessoais e profissionais dos últimos anos, os Beatles e muito mais. A entrevista ocorreu em uma tarde no final de fevereiro, com cigarros franceses e xícaras de chá, no escritório londrino da Warner/Elektra/Asylum Records. Interrompemos nossa conversa em um ponto para assistir ao noticiário da TV no início da noite sobre uma entrevista que Harrison havia gravado naquele dia. No clipe, Harrison foi mostrado parando do lado de fora do estúdio de TV em seu Porsche preto e saindo para uma discussão abreviada sobre o novo álbum e suas reações ao filme 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band', que estreou em Londres naquela semana. A notícia terminava não com um trecho musical do 'Álbum de George Harrison, mas com filmagens antigas dos Beatles recebendo seus prêmios de Membro da Ordem do Império Britânico em 1965, com o acompanhamento de "Help!". Harrison soltou um profundo suspiro de resignação. Todas as coisas devem passar, talvez, mas depois de quase dez anos, George Harrison aprendeu que algumas coisas demoram mais para passar do que outras.

Quando você realmente começou a trabalhar em 'George Harrison'?
Comecei a trabalhar nele em meados de abril de 1978 e terminei no início de outubro. Demorou um pouco para sair porque a arte não estava pronta; então era um pouco tarde para recebê-lo no Natal. E então decidimos levar nosso tempo preparando tudo.
Demorou muito na fase de gestação?
Bem, durante todo o ano de 1977 eu não escrevi uma música, não fiz nada; Eu realmente não estava trabalhando, então decidi que era melhor começar a fazer alguma coisa. Eu tinha acabado de me desligar completamente do mundo da música. Estou um pouco fora de contato com a outra música. Tem certos artistas que eu sempre gosto de ouvir, mas não ouço muito rádio. Acabei de sair – estava “esquiando”, como dizem os ingleses. Todo mundo não percebe, porque se seus discos anteriores ainda tocam no rádio, as pessoas não percebem que você não está realmente lá. Mas eu simplesmente cansei de tudo isso...
De quê?
Cansado da coisa toda. Se você olhar para os papéis comerciais, todo mundo está mudando de empresa, e este artista foi para aquela gravadora e aquele artista para esta, e todo mundo está fazendo isso e aquilo. [Suspirando] Tendo estado neste negócio por tanto tempo – foi em 1961 quando fizemos um disco pela primeira vez, eu acho, então já faz dezoito anos – a novidade se esgotou. Realmente, tudo se resume ao ego. Você tem que ter um grande ego para continuar se esforçando para estar aos olhos do público. Se você quer ser popular e famoso, pode fazê-lo; é muito fácil se você tem esse desejo do ego. Mas a maioria dos desejos do meu ego quanto a ser famoso e bem-sucedido foram realizados há muito tempo. Ainda gosto de escrever uma música e, de certa forma, gosto de fazer um disco. Mas eu odeio essa coisa toda de quando você lança, você se torna parte da estrutura geral do negócio. E eu estava um pouco entediado com isso. Se eu escrever uma música e as pessoas acharem que é legal, tudo bem para mim; mas eu odeio ter que competir e promover a coisa. Eu realmente não gosto de promoção. Nos anos 60, tivemos uma overdose disso, e então eu conscientemente saí do meu caminho no final dos anos 60, início dos anos 70, para tentar ser um pouco mais obscuro. O que você descobre é que deu um golpe e, de repente, todo mundo está batendo na sua porta e incomodando você de novo. Eu gosto de ser discreto e ter uma vida pacífica. De qualquer forma, para responder à sua pergunta original, era o final de 1977 e eu pensei: “Deus, é melhor eu fazer alguma coisa”.
Você estava ficando entediado consigo mesmo, entediado com sua inatividade?
Eu estava ficando envergonhado porque estava indo para todas essas corridas de automóveis, e todo mundo estava falando comigo como George, o ex-Beatle, o músico, me perguntando se eu estava fazendo um disco e se eu iria escrever algumas músicas sobre corridas e ainda assim os pensamentos musicais estavam a apenas um milhão de milhas de distância da minha mente. E então o que realmente me tocou foi conhecer Niki Lauda.

Eu tenho um grande respeito por ele. Depois daquele acidente que ele sofreu em 1976, fiquei muito mal por ele e fiquei muito feliz quando ele não morreu. Você tem que ler sobre a vida dele, seus livros e coisas, para perceber o que ele passou - pessoas tentando fotografá-lo com o rosto todo marcado, tentando invadir seu quarto de hospital, todas aquelas reportagens muito desagradáveis. Eu poderia realmente me identificar com isso. De qualquer forma, eu conversei com ele uma vez depois que ele ganhou o campeonato mundial novamente, em 1977 em Watkins Glen, e ele estava falando sobre todas as besteiras em seu negócio - a política e os aborrecimentos - e ele estava dizendo como ele simplesmente gosta de ir para casa e relaxar e tocar uma boa música. E eu pensei: “vou escrever algumas músicas, porque todas essas pessoas estão se relacionando comigo como músico, e ainda estou aqui apenas esquivando; talvez eu possa escrever uma música que Niki possa gostar em seu dia de folga". Então foi isso. O outro lado também é que meus amigos da Warner Bros, com quem tenho um acordo, nunca perguntam: “Por que você não está fazendo nada?” Eles sempre me tratam com muita civilidade, mas ao mesmo tempo eu pensava: “Bem, já faz um tempo... Eles podem começar a pensar: O que estamos fazendo com esse cara?".
Então o álbum foi inspirado mais pelas expectativas de outras pessoas sobre você, um senso de obrigação de sua parte, ao invés de um desejo inerente de fazer música novamente?
Bem, em parte talvez. Mas uma vez que você escreve uma música, não sei por que, há aquele desejo de transformá-la em um disco adequado. Se eu morresse, preferiria que as pessoas encontrassem um master bem acabado de minhas canções do que uma velha demo em uma fita cassete. Talvez originalmente fossem as expectativas de outras pessoas que me motivaram, mas assim que comecei a escrever músicas, meu motor voltou a funcionar e é divertido - você entra no estúdio, segue em frente e pode aproveitar tudo de novo. A outra coisa é que decidi conseguir alguém para me ajudar a produzir este disco. Então fui à Warner em Burbank e conversei com os três produtores da equipe de lá - Ted Templeman, Lenny Waronker e Russ Titelman. E eu toquei para eles algumas demos das músicas que eu havia escrito e disse: “Vamos, pessoal, me dêem uma pista. Diga-me quais músicas você gostou no passado, quais músicas você não gostou; me dê algumas ideias do que você pensa. E eles não sabiam o que dizer. Templeman disse que gostou de “Deep Blue”, o lado B do single “Bangla Desh”, que é um pouco obscuro – então fui para casa e escrevi uma música com um tipo de estrutura de acordes semelhante a essa, “Soft-Hearted Hana”. Mas no final decidi que trabalharia com Russ Titelman. Ele fez o primeiro álbum do Little Feat e, com Lenny Waronker, coproduziu Randy Newman, James Taylor e Ry Cooder - ele é cunhado de Ry Cooder, na verdade. E ele é uma pessoa legal, fácil de se conviver, o que é mais importante do que o gosto musical da pessoa, porque vocês ficam cinco meses juntos – tem que gostar um pouco do outro. Ele me ajudou a decidir que tipo de música usar, me encorajou a terminar certas músicas e ajudou a definir as faixas. É difícil para um artista estar na cabine e no estúdio.
Você sentiu que, naquele período em que não estava compondo e gravando, pode ter perdido o ouvido do público?
Sim, eu tive essa sensação porque eles me contaram histórias sobre Randy Newman, sobre como ele não consegue escrever músicas e se sente como se estivesse seco, então de repente ele escreveu um álbum que é um sucesso e agora ele está escrevendo dez músicas por dia. Portanto, é apenas o seu próprio problema. Quando eles mencionaram isso para mim, pensei: “Ei, talvez eu possa secar”.
Quanto sua inatividade e seu desencanto com o mundo da música tem a ver com os vários processos que você teve que lutar nos últimos anos? Por exemplo, o processo de plágio sobre "My Sweet Lord" e "He's So Fine".
Bem, isso vem acontecendo há anos. É como uma piada corrente agora. O cara que escreveu “He's So Fine” havia morrido anos antes, Ronnie Mack. A Bright Tunes Music, sua editora, estava me processando. Então, passamos pelo processo judicial e, no final, o juiz disse, sim, é semelhante, mas você não é culpado de roubar a música. Achamos que houve uma violação de direitos autorais, portanto, reúna seus advogados e elabore algum tipo de compensação. Mas a Bright Tunes não se contentaria com isso; eles continuaram tentando trazer o caso de volta ao tribunal. Eles até tentaram trazê-lo de volta ao tribunal quando eu fiz “This Song”. É difícil começar a escrever novamente depois de passar por isso. Mesmo agora, quando ligo o rádio, cada música que ouço soa como outra coisa. Mas a maioria dos processos sumiram. Agora estamos nos preparando para o próximo lote.
Há mais por vir?
Não há muito mais pelo que nós [Beatles] possamos ser processados, mas podemos processar muitas outras pessoas. Ser dividido e diversificado ao longo dos anos dificultou a consolidação de certos interesses dos Beatles. Por exemplo, todos aqueles shows impertinentes da Broadway e filmes estúpidos que foram feitos sobre os Beatles, usando nomes e ideias dos Beatles, são todos ilegais. Mas porque temos discutido entre nós todos esses anos, as pessoas têm uma briga. Agora chegamos ao ponto em que todos concordaram e alocamos uma empresa para processá-los. É terrível, realmente. As pessoas pensam que estamos dando permissão a todos esses produtores e pessoas para fazer isso e que estamos ganhando dinheiro com isso, mas não ganhamos um centavo. Então é hora de parar. Talvez devêssemos ir e fazer The Robert Stigwood Story ou algo assim [rindo], embora eu suponha que o filme Sgt. Pepper's está certo porque eles pagaram os direitos autorais das músicas e criaram sua própria história.
Você viu o filme?
Não. Os relatórios sobre isso eram tão ruins que eu não queria vê-lo. Mas talvez seja bom. Não sei.
Você vê isso como um insulto à memória dos Beatles?
Não. Eu só sinto muito por Robert Stigwood, os Bee Gees e Pete Frampton por fazerem isso, porque eles se estabeleceram por direito próprio como artistas decentes e de repente... é como a coisa clássica da ganância. Quanto mais você ganha, mais quer ganhar, até ficar tão ganancioso que, no final das contas, dá um passo em falso. E mesmo que Sgt. Pepper's seja sem dúvida um sucesso financeiro, acho que prejudicou suas imagens, suas carreiras, e eles não precisavam fazer isso. É como os Beatles tentando fazer os Rolling Stones. Os Rolling Stones podem fazer melhor.
Como é a sensação de já ser um objeto de nostalgia?
Somos nostalgia desde 1967. Tudo bem. Houve um tempo em que acho que nenhum de nós gostava – aquele período de 1968 a 1969. Mas agora é engraçado. [Sorrindo] É como ser Charlie Chaplin ou Laurel e Hardy. Mas a música ainda se destaca, ainda soa muito bem.
Além dos filmes e produções teatrais feitos sem a permissão dos Beatles, você está feliz com a maneira como as gravações reais dos Beatles foram reembaladas e promovidas ao longo dos anos
Isso não me incomoda mais. No começo era bem ruim. Sempre tivemos total controle artístico desde o início, e tivemos muito cuidado com os pedidos, tendo as músicas certas nos lugares certos e boas capas – tudo foi feito com um pouco de bom gosto. Mas imediatamente eles começaram a estragar tudo nos Estados Unidos, retendo as faixas dos álbuns para que, para cada dois álbuns lançados na Grã-Bretanha, eles pudessem lançar três lá. Mas ainda assim, tudo o que fizemos continuou de muito bom gosto até o contrato expirar, e então eles começaram a enviar todos essas reembalagens com capas ruins e tudo mais. Não me incomoda, desde que continuem pagando os royalties.
Outra subindústria que cresceu na esteira dos Beatles é toda aquela reminiscência pessoal sobre a banda. Parece haver um número extraordinário de pessoas que eram seus gerentes, seus gerentes de estrada, entregavam o leite...
[Risos] Sim, e o quinto Beatle... há cerca de 10 milhões de quintos Beatles. Não, realmente, isso é doentio. Todos aquelas Beatlefests e coisas assim são uma fraude terrível. Essas pessoas – “o homem que criou os Beatles” – nenhum deles sabe do que está falando. É como se a Grã-Bretanha sempre tivesse falado sobre a Segunda Guerra Mundial – mesmo agora que você liga a TV e eles adoram falar sobre a guerra. É assim. Os Beatles entraram e saíram da vida dessas pessoas em um piscar de olhos, e ainda assim, quinze anos depois, eles ainda estão lá falando sobre os dez minutos que passamos em suas vidas e roubando o dinheiro de crianças inocentes enquanto fazem isso. É patético. É imoral; não deveria ser permitido.
Mas o fato de que essas pessoas podem prosperar sugere que as pessoas ainda não querem que a memória dos Beatles morra. Há uma necessidade incrível que as pessoas ainda sentem de ter os Beatles.
Bem, eles os pegaram. Eles têm os filmes – Help!, A Hard Day's Night, Let It Rot, Tragical History Tour. Eles têm muitas e muitas músicas que podem tocar para sempre. Mas o que eles querem? Sangue? Eles querem que todos nós morramos como Elvis Presley? Elvis ficou preso em uma rotina onde a única coisa que podia fazer era continuar fazendo a mesma coisa, e no final sua saúde piorou e foi isso. Felizmente, os Beatles fizeram aquele atropelamento. Mas todos os anos em que éramos Beatling eram como vinte anos; então, embora possam ter sido apenas cinco ou seis anos, parecia uma eternidade. Isso foi o suficiente para mim, não tenho vontade de fazer tudo isso. Pode ter sido divertido para todo mundo, mas nunca vimos os Beatles. Somos as únicas quatro pessoas que nunca chegaram a nos ver. [Risos] Todo mundo fez uma viagem, sabe, era isso. Éramos apenas quatro pessoas relativamente sãs no meio da loucura. As pessoas nos usavam como desculpa para viajar, e nós éramos as vítimas disso. É por isso que eles querem que os Beatles continuem, para que todos possam ficar bobos de novo. Mas eles não levam em consideração nosso bem-estar quando dizem: “Vamos ter o Fab Four novamente”.
Você não gostaria de passar por isso de novo?
Nunca. Não nesta vida ou em qualquer outra vida. Quer dizer, na maioria das vezes era fantástico, mas quando realmente chegava à mania era uma questão de parar ou acabar morto. Quase morremos em várias situações – aviões pegando fogo, pessoas tentando derrubar o avião e tumultos por onde passamos. Isso estava me envelhecendo. Mas tivemos um bom momento. Penso em tudo com carinho, especialmente porque passamos por todas as consequências da Apple
. Todo mundo está processando uns aos outros para o conteúdo de seus corações, e agora somos todos bons amigos.
Você vê os outros com frequência?
Paul e Ringo eu vejo de vez em quando. Não vejo John há alguns anos. Recebo cartões postais dele – soa como os Rutles [sorrindo], mas ele mantém contato tocando na mesa e nos cartões postais.
Por que ele é tão inativo?
Ele provavelmente não é. Só porque ele não é um Beatling não significa que ele seja inativo. É tipo, para eu fazer essa entrevista agora as pessoas podem ver que estou aqui falando. Mas se não estou fazendo a entrevista, fico inativo. Mas não estou realmente – estou em casa fazendo outras coisas, ou indo a lugares fazendo várias coisas...
Mas John está publicamente inativo, não fazendo registros.
Bem, eu não o culpo. Descobri que se tiro duas semanas de férias, ao final dessas duas semanas, estou quase pronto para aproveitar as férias e preciso voltar ao trabalho. Se você se aposentar ou interromper o trabalho, então há um momento de sentimento: “Uau, eu deveria estar fazendo alguma coisa”, até que você lentamente relaxa e pensa: “Uau, isso é bom. Não preciso ficar com raiva a vida toda, não preciso viver sob os olhos do público”. E tenho certeza que é só isso que ele está fazendo, aproveitando a vida.
Os fãs quase se sentem enganados quando o artista para de se apresentar...
Eu sei, mas esse é o conceito deles. É um conceito egoísta pensar: “Saia e mate-se por mim...” Mas eu mesmo estaria interessado em saber se John ainda escreve músicas e as coloca em uma fita cassete, ou ele simplesmente esquece tudo sobre música e não toca no violão. Porque foi isso que eu fiz, durante todo o ano de 1977 eu nunca peguei uma guitarra, nem pensei nisso. E eu não senti falta disso.
Você gosta da música que Paul está fazendo agora?
Acho inofensiva. Eu sempre preferi as boas melodias de Paul ao seu rock & roll gritante. A música que eu achei sensacional no álbum London Town foi "I'm Carrying", mas todas as coisas barulhentas e beatas, eu não gosto nada. Mas isso não é apenas com a música de Paul, isso vai além. Não sou fã desse tipo de coisa punk, pesada e metálica. Eu gosto de uma boa melodia.
Mas os Beatles podiam produzir uma boa música de rock & roll em sua época.
Sim, costumávamos fazer tudo isso, mas quanto a ouvir, prefiro ouvir alguém como Little Richard ou Larry Williams. Eu nunca gostei de todas essas coisas no final dos anos 60, depois que o Cream se separou - todas aquelas guitarras Les Paul gritando e distorcendo. Eu gosto de mais sutileza – como Ry Cooder e Eric Clapton. Eric é fantástico. Ele poderia explodir todas aquelas pessoas do palco se quisesse, mas ele é mais sutil do que isso. Às vezes não é o que você faz, é o que você não faz que conta. E, pessoalmente, prefiro ouvir três notas bem suaves do que ouvir um monte de notas de algum guitarrista cujos ouvidos estão tão inchados que não consegue ouvir a diferença entre um bemol e um sustenido.
Parece que Paul era o Beatle com quem você era menos compatível musicalmente - você disse oficialmente que não tocaria com ele novamente.
Sim, bem, agora não temos nenhum problema no que diz respeito a sermos pessoas, e é muito bom vê-lo. Mas eu não sei sobre estar em uma banda com ele, como isso funcionaria. É tipo, todos nós temos nossas próprias músicas para fazer. E meu problema era que sempre seria muito difícil entrar em ação, porque Paul era muito insistente nesse aspecto. Quando ele sucumbia a tocar uma de suas músicas, ele sempre fazia o bem. Mas você teria que tocar cinquenta e nove das canções de Paul antes que ele ouvisse uma das suas. Então, nesse aspecto, seria muito difícil tocar com ele. Mas, você sabe, nós somos legais no que diz respeito a ser amigos.
Você sente falta de não tocar com uma banda regular e ir para a estrada?
Não. Eu não gosto de ir para a estrada. Às vezes me sinto fisicamente muito frágil. Posso me sentir exausto, muito cansado, só por ter que levantar cedo para pegar um avião – posso me sentir mal por ter que viajar. Na estrada, há todos esses remédios para ajudá-lo a pegar o avião a tempo, todo esse tipo de coisa. Eu poderia me matar. Esse era o problema em 1974, quando viajei pela América. Eu tinha feito três álbuns antes de ir para a estrada, e ainda estava tentando terminar meu próprio álbum enquanto estávamos ensaiando, e também fizemos outra turnê na Europa com esses músicos clássicos indianos. Na hora de pegar a estrada eu já estava exausto. Com os Beatles costumávamos fazer trinta minutos no palco, e podíamos reduzir para vinte e cinco minutos se fôssemos rápido. Entramos e saímos e “obrigado” e voltamos para o hotel. De repente, ter que tocar duas horas e meia para quarenta e sete shows, voando por aí, eu estava perdido. Mas eu tinha a escolha de cancelar a turnê e deixar todo mundo nervoso, ou seguir em frente. Então eu decidi: “Dane-se, provavelmente é melhor fazer isso". Mas não, eu não sinto falta disso – ficar em hotéis miseráveis, comer comida ruim, sempre ter que estar em outro lugar.
Houve muitas críticas sobre essa turnê. Você achou que as críticas eram justificadas?
A crítica sobre a turnê foi terrível. [Exasperado] Sempre tem gente que não gosta de alguma coisa, mas na média não foi um desastre. Eu queria deixar claro que era uma turnê com Ravi Shankar, mas Bill Graham não faria isso. Eles tentaram fazer parecer que era só eu vindo, esse tipo de viagem. Mas mesmo na seção de música indiana havia uma parte disso, em todos os lugares em que tocávamos, onde o público ficava de pé gritando e berrando sua aprovação. Mas os recortes de imprensa eram inacreditáveis. Quando voltei para a Inglaterra, as pessoas diziam: “É isso aí, você está acabado, cara”. Foi a pior coisa que já fiz na minha vida de acordo com os jornais. Mas, realmente, houve momentos desses shows que foram fantásticos. Então, toda a negatividade sobre isso foi um pouco deprimente, mas [sorrindo triunfantemente] eu lutei para me recuperar!
Essa turnê coincidiu com a formação de sua própria gravadora, Dark Horse. Você estava contratando e produzindo outros artistas, como Ravi Shankar e Splinter, e parecia muito ativo na promoção das carreiras de outros artistas.
Sim, certo, e essa foi outra razão pela qual 1975 não foi tão bom... por que eu estava tão esgotado, e isso resultou em mim dizendo: "Dane-se, não quero uma gravadora". Não me importo de estar na gravadora porque, tudo bem, posso lançar um álbum e dar algum lucro, e não me telefono no meio da noite para reclamar de coisas diferentes. Mas os artistas nunca estão satisfeitos. Eles gastam talvez $ 50.000 a mais do que eu gastar fazendo um álbum, então eles não vão dar nenhuma entrevista ou ir para a estrada – o que quer que você organize para eles, eles estragam tudo. Era muita besteira. Eles acham que uma gravadora é como um banco do qual eles podem ir e sacar dinheiro sempre que quiserem. Mas, mesmo assim, algumas coisas boas saíram disso: o álbum do Attitudes, Good News, é muito bom. E estou feliz com a música indiana que fizemos – o Ravi Shankar's Music Festival from India e os álbuns Shankar Family and Friends. Mas geralmente a gravadora era um problema a mais.
Houve muita resistência dos outros Beatles quando você introduziu a cítara nos álbuns do grupo?
Não muito, porque naquela época eram só experimentos e tal. Na verdade, acho que foi John quem realmente me incentivou a tocar cítara em “Norwegian Wood”, que foi a primeira vez que a usamos. Agora, Paul acabou de me perguntar recentemente se eu escrevi mais alguma daquelas “músicas do tipo indiano”. De repente, ele gosta delas agora. Mas na época ele não tocava nelas. “Within You, without You” era só eu e alguns músicos indianos no estúdio sozinhos. Parece um pouco idiota agora em retrospecto, exceto que o solo de cítara é bom.
Seu interesse pela música indiana e, particularmente, pelo misticismo e pelas disciplinas do desenvolvimento espiritual sempre foi a faceta mais incompreendida e ridicularizada de sua vida. Você tem alguma teoria sobre por que isso pode ter acontecido?
É ignorância. Eles dizem que ignorância é bem-aventurança, mas bem-aventurança não é ignorância – é o oposto disso, que é conhecimento. E tem muita gente que tem medo. É como eu estava dizendo antes sobre todos aqueles caras em Liverpool que nos conheceram no começo e agora estão comandando as Beatlefests. Todos esses caras tiveram uma boa oportunidade quando os Beatles deixaram Liverpool de sair também; eles poderiam estar executando seus próprios programas de TV e fazendo todos os tipos de coisas agora. Mas eles eram como peixes grandes em um pequeno lago. E o medo do fracasso é uma coisa ruim na vida; impede que as pessoas adquiram mais conhecimento ou apenas compreendam coisas mais profundas. Então, quando alguém lhes apresenta todo um conjunto de ideias que eles não entendem, o medo toma conta. Eles querem destruí-lo, cortá-lo. Assim como aquele cara maluco na América que afirma sair por aí desprogramando as pessoas de Krishna e da Missão da Luz Divina e tudo mais. Esse é o medo dele saindo, porque se você entender alguma coisa, não precisa temê-la – não há pânico, não há problema. Basicamente, sinto-me feliz por ter percebido qual é o objetivo da vida. Não adianta morrer tendo passado pela vida sem saber quem você é, o que você é ou qual é o propósito da vida. E isso é tudo. As pessoas começaram a ficar tensas quando comecei a falar mal e a dizer que o objetivo é manifestar o amor de Deus – a auto-realização. Devo admitir que houve um período em que tentei contar a todos sobre isso; agora, não me incomodo, a menos que alguém pergunte especificamente. Ainda escrevo sobre isso em minhas canções, mas agora é menos flagrante, mais escondido. Sou um péssimo exemplo de pessoa espiritual. Eu realmente não quero nada na minha vida exceto conhecimento, mas não sou um bom praticante disso.
Casar novamente e ter um filho mudou significativamente sua vida?
Sim, isso tem sido uma coisa maravilhosa para mim. Todo mundo que tem um bebê acha que seu filho é maravilhoso, e é. Estou gostando muito e, novamente, provavelmente é por isso que John não está trabalhando. Depois de muito tempo de espera, ele e Yoko finalmente tiveram um filho e acho que ele quer dedicar a maior parte do tempo para ver a criança crescer.
Você conheceu sua esposa, Olivia, no final do que parece ter sido um período muito ruim para você pessoalmente - 1974.
Sim, bem depois que me separei de Patti [Boyd, a primeira esposa de Harrison], fiquei um pouco livre para compensar todos os anos em que estive casado. Se você ouvir “Simply Shady” do Dark Horse, está tudo lá – toda a minha vida naquela época era um pouco como [rindo] Mrs. Dale's Diary [uma agora extinta novela de rádio britânica].
Você estava descendo rápido?
Bem, eu não estava pronto para ingressar nos Alcoólicos Anônimos nem nada – acho que não estava tão longe assim –, mas podia beber uma garrafa de conhaque de vez em quando, além de todas as outras coisas perversas que voam por aí. Eu só fui em uma farra, fui para a estrada... todo esse tipo de coisa, até chegar ao ponto em que eu não tinha voz e quase nenhum corpo às vezes. Então eu conheci Olivia e tudo funcionou bem. Há uma música no novo álbum, “Dark Sweet Lady”: “You came and helped me through/When I'd let go/You came from out the blue/Never have know what I'd done without you”. Isso resume tudo.
Há várias canções de amor no álbum – na verdade, é um álbum muito positivo. Existe alguma música com a qual você está mais feliz ou significa mais para você do que as outras?
Eu realmente gosto de todas, mas as duas que eu menos gosto são “If You Believe” – eu gosto do sentimento disso, mas é um pouco óbvio como uma melodia – e “Soft Touch”, que é simplesmente agradável, mas não há nada de especial nela. Todos as outras eu gosto por várias razões. “Blow Away” eu gosto porque é muito cativante; na verdade, fiquei um pouco envergonhado com isso no começo, mas ficou bom e as pessoas parecem gostar. Essa foi a primeira música nova que escrevi. Eu estava no jardim e chovia torrencialmente, e de repente percebi que estava me sentindo deprimido, sendo afetado pelo clima. E é importante lembrar que enquanto tudo ao seu redor muda, a alma interior permanece a mesma; você tem que se lembrar disso constantemente e lutar pelo direito de ser feliz. E eu gosto de “Faster” porque cumpri o que o pessoal do automobilismo da Fórmula 1 sempre me pediu – escrever uma música sobre corrida – e fiz isso de uma maneira que me deixou feliz porque não era apenas brega. É fácil escrever sobre motores V-8 e vroom vroom – isso seria besteira. Mas estou feliz com a letra porque pode ser vista como sendo sobre um piloto especificamente ou qualquer um deles, e se não tivesse os barulhos de corridas de carros, poderia ser sobre o Fab Four realmente - os ciúmes e outras coisas.
“Not Guilty” é uma música interessante, uma rejeição aos seus críticos.
Na verdade, escrevi isso em 1968. Foi depois que voltamos de Rishikesh, e foi para o Álbum Branco. Nós gravamos, mas não gravamos direito ou algo assim. Então eu esqueci tudo sobre isso até um ano atrás, quando encontrei esta velha demo que fiz nos anos sessenta. A letra é um pouco ultrapassada – tudo sobre perturbar “carrinhos da Apple” e outras coisas – mas é um pouco sobre o que estava acontecendo na época. “Sem culpa por ficar no seu caminho/Enquanto você está tentando roubar o dia” – que era eu tentando conseguir um espaço. “Inocente/ Por parecer uma aberração/Fazer amizade com todos os sikhs/Por desviar você/Na estrada para Mandalay” – que é o Maharishi e ir para o Himalaia e tudo o que foi dito sobre isso. Eu gosto muito da música; daria uma ótima música para Peggy Lee ou alguém.
A reação crítica ao álbum na Inglaterra foi excepcionalmente boa. As pessoas dizem que é o melhor desde 'All Things Must Pass'. É esse o seu sentimento?
Bem, espero que funcione tão bem quanto All Things Must Pass. Eu acho esse álbum muito agradável. É como eu estava dizendo antes, quando perguntei aos caras da Warner Bros. “Vocês são tão espertos, me digam o que está acontecendo”, porque eu realmente não sigo mais os gráficos e tudo mais. No final das contas, eles não sabem mais do que eu. Mas acho que mesmo sem seguir as tendências, sem prestar muita atenção ao que está acontecendo e apenas escrever suas próprias músicas, você ainda tem tanta chance quanto se seguisse as coisas de perto. Na verdade, você provavelmente tem mais chances, porque é menos afetado por mudanças superficiais. É mais provável que seja original.
Você ouve alguma música atual?
Eu ouço Clapton, Elton John, Bob Dylan, esse tipo de gente. Eu não suporto punk rock; nunca fez nada por mim.
Você se sente muito distante do que está acontecendo musicalmente e socialmente no nível da cultura jovem?
Bem, musicalmente os punks foram e foram, não é mesmo, e tudo parece ser muito musical de novo. Elvis Costello é muito bom – melodias muito boas, boas mudanças de acordes. Estou satisfeito com seu sucesso, mas nunca gostei desses discos monótonos de gritos.
Eles não disseram a mesma coisa sobre Larry Williams e Little Richard?
Sim, mas aqueles caras estavam inventando algo na época e não acho que o punk estava inventando nada além de negatividade. Os antigos cantores de rock & roll cantavam fantasticamente, tinham ótimos bateristas, ótimos saxofonistas. No que diz respeito à musicalidade, as bandas punk eram apenas lixo - sem sutileza na bateria, apenas muito barulho e nada.
As preocupações líricas do punk britânico – a maneira como ele abordava as questões sociais contemporâneas – isso o excitava ou deprimia?
Bem, eu senti muito quando os Sex Pistols estavam na televisão e um deles dizia: “Fomos educados para ir para as fábricas e trabalhar em linhas de montagem...” e esse é o futuro deles. É horrível, e é especialmente terrível que tenha saído da Inglaterra, porque a Inglaterra está continuamente passando por uma depressão; é um país muito negativo. Todo mundo quer tudo e ninguém quer fazer nada por isso. Mas é uma coisa muito simples; como você dá dinheiro às pessoas se não há nenhum? A única maneira de ganhar mais dinheiro é trabalhar mais. Bem, pode ser bom eu dizer isso porque não tenho que trabalhar em uma fábrica, mas é verdade. Mas disso tudo nasce a coisa punk, então é compreensível. Mas você não luta contra a negatividade com negatividade. Você tem que dominar o ódio com amor, não mais ódio.
Você poderia se dar ao luxo de não trabalhar novamente?
Sim. Não é pelo dinheiro que faço o que faço; nunca foi pelo dinheiro realmente. Esperávamos ganhar a vida com isso quando nós [os Beatles] éramos adolescentes, esperávamos sobreviver [sorrindo], mas não estávamos fazendo isso pelo dinheiro. Na verdade, o momento em que percebemos que estávamos fazendo isso pelo dinheiro foi pouco antes de pararmos as turnês, porque não estávamos obtendo nenhum prazer com isso. Então descobrimos que não estávamos nem recebendo o dinheiro. Os americanos ficaram com tudo, e nós pagamos tantos impostos – noventa e cinco por cento ou mais. Portanto, nunca foi pelo dinheiro, embora possa ser bom ter algum dinheiro. Quero dizer, não há nada pior do que ficar parado em um ponto de ônibus sob uma chuva torrencial, desejando ter um carro.
Você investiu no novo filme do Monty Python, The Life of Brian.
Bem, eu sou o que eles chamam de produtor executivo. O que aconteceu foi que ajudei a arrecadar dinheiro para eles fazerem o filme quando o patrocinador anterior desistiu. Como sou fã do Monty Python, queria ver o filme – também gosto de ir e rir – e um amigo sugeriu que eu tentasse levantar o dinheiro. Então, acabamos de obter um empréstimo de um banco. É um risco, suponho. Eu conheci Michael Palin e Terry Jones em 1972, eu acho. Conheci Eric Idle em 1975, na estreia do filme O Santo Graal na Califórnia. E embora fosse a primeira vez que o encontrava, sentia como se os conhecesse há anos, porque tinha assistido a todos os programas e os tinha gravados em vídeo. Então levou apenas dez minutos antes de sermos melhores amigos. Acho que depois dos Beatles, Monty Python era minha coisa favorita. Isso superou os anos em que não havia nada realmente fazendo, e eles eram os únicos que podiam ver que tudo era uma grande piada.
Você também esteve envolvido na produção de TV de All You Need Is Cash, dos Rutles. Eric consultou você sobre alguns fatos?
Sim. Eu dei a ele um filme estranho aqui e ali que ninguém tinha visto, para que ele pudesse ter mais para tirar. Eu amei os Rutles porque no final os Beatles para os Beatles é simplesmente cansativo; precisa ser esvaziado um pouco, e adorei a ideia dos Rutles tirando esse fardo de nós de certa forma. Tudo pode ser visto como comédia, e os Fab Four não são exceção a isso. E havia tantas piadas boas nele. Belushi como Ron Decline: “Você me pergunta onde está o dinheiro. Não sei onde está o dinheiro, mas se você quiser dinheiro eu dou a você” e “Você me pergunta onde está o dinheiro. Você sabe que eu nunca fui bom em matemática...” [Risos] Era como Klein. Até o próprio Allen Klein achava que era exatamente como ele. Eu acho que ele gostou. Uma coisa que você pode dizer sobre Klein é que ele também tem seu lado bom.
Como você gasta seu tempo quando não está gravando?
Eu fico em casa e cavo – não tanto com uma pá – mas eu cavo o jardim, colocando árvores. Eu gosto de jardins; Eu gosto do prazer que eles te dão. De certa forma, é como uma meditação - você pode tirar tudo da sua mente rastejando no solo! Passo muito tempo com Olivia e o bebê. No último ano, passei muito tempo trabalhando neste livro de manuscritos de canções. A ideia veio de um cara que faz esses livros de edição limitada que são encadernados em couro, impressos em papel pergaminho grosso e bonito – as obras inteiras. Ele abordou Eric Manchester, assessor de imprensa dos Rutles [também conhecido como Derek Taylor, assessor de imprensa dos Beatles], e perguntou se eu estaria inclinado a fazer um livro com minhas próprias canções. Eu pretendia reunir o máximo de músicas que escrevi que pudesse encontrar, apenas para meus próprios arquivos, de qualquer maneira. Passei um ano reunindo todas as músicas antigas. Eric Manchester está escrevendo uma introdução. O problema era pensar em um título, mas o chamamos de I Me Mine, porque é o velho problema do ego de “Este é o meu livro”. [Sorrindo] Então, isso é como um pequeno desvio de ego meu, na verdade.
É bastante caro, não é?
Bem, o preço é de cerca de US $ 250, eu acho. Mas a ideia original era apenas fazer um para mim, para meu próprio interesse, e cresceu um pouco a partir disso. Agora está limitado a 1000 cópias, mas não acho que ninguém vai ganhar dinheiro com isso. Cada um é feito à mão e é um tipo de coisa muito cara de se fazer. Mas provavelmente faremos uma versão em brochura mais barata também, se alguém estiver interessado.
Você não teve um grande sucesso nas paradas por um tempo; é importante para você que o novo álbum seja um sucesso?
Na verdade, não. Seria bom, mas não gosto mais desse tipo de coisa competitiva com a indústria fonográfica. Seria bom só porque há muitos discos que vendem muito que não são melhores – coloque dessa forma. Também seria bom ter um hit porque me faria sentir mais vontade de fazer outro. Mas se não for, não vou chorar nem ficar chateado.
Então não é importante para sua autoestima?
Não. Mas o fato é que o público em geral pensa que se você faz sucesso e está na TV e nos jornais, então você é mais bem-sucedido do que se nada disso estivesse acontecendo. De todos os ex-Beatles, isso é mais evidente com Paul, porque Paul está continuamente fazendo discos, filmes de si mesmo no palco e mais discos – mantendo-se sob os olhos do público. E ao público que constitui sucesso. Na indústria fonográfica isso é sucesso. Considerando que eu escolho não aparecer tanto na TV ou tanto aos olhos do público, portanto, minhas vendas de discos devem sofrer porque há menos exposição.
Mas você planeja continuar fazendo discos?
Ah sim, mais uns dois antes de encerrar o expediente.