terça-feira, 10 de junho de 2014

THE BEATLES - STRAWBERRY FIELDS FOREVER - 2014


Viver é fácil, se você fechar os olhos. No outono de 1966, John Lennon foi para a Espanha filmar o papel do soldado Grippweed no filme “How I Won The War”, de Richard Lester, no Brasil – “Como Ganhei a Guerra”. Foi o primeiro Beatle a realizar um trabalho sem os três companheiros. Entre as cenas na praia de Almeria, ele começou a compor “Strawberry Fields Forever”, uma música concebida para ser um blues arrastado. A canção começou com o que viria a ser o segundo verso da versão gravada. Era uma reflexão sobre a convicção de que desde a infância ele sempre fora, de alguma forma, diferente dos demais, de que via e sentia coisas que os outros não viam ou sentiam. Na versão mais antiga de suas fitas na Espanha, ele começa com: “ No one is on my wavelenght”, para depois mudar a frase para “No one i think is in my tree”, aparentemente para disfarçar o que poderia ser visto como arrogância. Ele estava dizendo que acreditava que ninguém conseguia se sintonizar com sua forma de pensar e que, então, devia ser ou um gênio (“high”) ou louco (“low”). “Eu pareço ver coisas de uma maneira diferente das pessoas”. Foi apenas no take 4 da fita de composição que ele fala dos Strawberry (sem o “forever”) e, no take 5, acrescentou a frase “nothing to get mad about”, que depois foi alterada para “nothing to get hung about”. Ele já estava usando um modo deliberadamente hesitante – “er”, “that is”, “I mean”, “I think” – para reforçar que essa era uma tentativa de articular conceitos que não podem ser colocados em palavras. Ao retornar à Inglaterra, John trabalhou na música em Kenwood, onde o verso final foi incluído. Foi só no estúdio que ele a terminou, acrescentendo o verso de abertura, o que ajuda a explicar por que a introdução dá a sensação de não fazer parte do resto da canção.

Na versão completa, um lugar é criado para representar um estado da mente. Strawberry Field (John acrescentou o “s”) era um orfanato do Exército da Salvação na Beaconsfield Road, Woolton, a cinco minutos de caminhada de sua casa em Menlove Avenue. Era uma enorme construção vitoriana em um terreno arborizado aonde o jovem Lennon ia com sua tia Mimi para os festivais de verão, mas também um lugar onde ele entrava sorrateiramente a noite e nos fins de semana com amigos como Pete Shotton e Ivan Vaughan para fumarem e beberem escondidos. Strawberry Field era o playground de John Lennon. Essas visitas ilícitas eram para John como as fugas de Alice pela toca do coelho e através do espelho. Ele sentia estar entrando em outro mundo, um universo que era mais próximo do seu mundo interior, e na vida adulta ele associaria esses momentos de alegria com sua infância perdida e também com uma sensação de psicodelismo, neste caso sem drogas. Na entrevista de 1980 para a Playboy , John declarou que “entrava em alfa” quando criança e via “imagens alucinatórias” de seu rosto quando se olhava no espelho. Ele disse que foi só quandio descobriu o trabalho dos surrealistas que percebeu que não era louco, que não era o “único”, e sim membro de “um clube exclusivo que vê o mundo desse jeito”. “Strawberry Fields Forever” foi a primeira gravação do que viria logo em seguida: o magnífico SGT. PEPPER’S. Estranhamente, o compacto “Strawberry Fields Forever” / “Penny Lane” não foi imediatamente para o primeiro lugar, como era costume há vários anos. Mas esta, é outra história. Fica para outra vez. Abração!

5 comentários:

Fábio Simão disse...

Uma das obras primas. Sem comentário!

Matheus Felizari disse...

Essa música é indescritível! E a versão do Love... Nossa, incrível!

Murilo Pedreira disse...

Sensacional! o que há de melhor...
Conheci Strawberry Fields no anthology, e fico fascinado com todas as suas versões.

Valdir Junior disse...

Assino em baixo , Fabio !!!

João Carlos disse...

Clássico dos clássicos!