No dia 24 de agosto de 1967, John e Cynthia, Paul e Jane, George
e Patti comparecem a uma palestra do iogue Maharishi Mahesh Yogi no London
Hilton, em Park Lane. Logo após, tiveram uma conversa reservada com o Maharishi
e decidiram participar de um de seus seminários, que seria realizado no final
de semana seguinte em Bangor, no País de Gales. Quando chegou a hora da viagem,
Cynthia Lennon perdeu o trem. Aqui no nosso blog preferido, a gente confere,
nas próprias palavras dela, o que aconteceu naquele dia.
O Maharishi condenava as drogas e explicara que
através da meditação nós poderiamos encontrar uma euforia natural tão poderosa
quanto a que qualquer droga induzia. John adorou a ideia e já havia começado a
falar sobre iluminação, consciência cósmica e superação das drogas. Dessa
forma, eu me tomei uma defensora da mensagem do Maharishi. Talvez aquela fosse
a mudança de direção pela qual John vinha procurando, e talvez dessa vez eu
pudesse compartilhá-la com ele.
A palestra foi realizada numa noite de terça. Na
sexta, tomei as providências para que Julian passasse o fim de semana com Dot e
fiz as nossas malas. No sábado, partimos para pegar o trem para Bangor na
Estação Euston, de Londres. Além do grupo dos Beatles, Mick Jagger e Marianne
Faithfull iriam também. Nós todos deveriamos viajar no mesmo trem que o grupo
do Maharishi, com o inevitável bando de fotógrafos e repórteres que haviam
partido em busca do mais novo interesse excêntrico dos Beatles.
Era a primeira vez que os Beatles viajavam para
algum lugar sem Brian e seus assistentes Neil e Mal em vários anos. Brian sabia disso e disse que talvez se juntasse a nós depois do fim de
semana. John sentia-se como um garotinho excitado, mas também estava nervoso.
Ele disse que ir a algum lugar sem Brian, Neil ou Mal era "como andar por
aí sem calças". Mesmo quando fora filmar na Espanha, ele tinha levado Neil
para atender a todas as suas necessidades.
Estava uma manhã clara e ensolarada quando
partimos. Eu já estava pronta logo cedo, mas Patti, George e Ringo iriam no
nosso carro e estavam atrasados. Quando Anthony chegou à estação, nós tínhamos
cinco minutos para pegar o trem. John pulou do carro juntamente com os outros
e correu para a plataforma — deixando-me para trás com as malas. Aquele era o
resultado de ter passado anos sabendo que outros cuidariam dos detalhes. Eu o
segui o mais rapidamente que pude. A estação estava um caos, com fãs,
repórteres, policiais e passageiros se espremendo. Eu tentava abrir caminho,
mas quando cheguei à plataforma fui barrada por um policial que, não sabendo
que eu fazia parte do grupo dos Beatles, disse:
- Desculpe, meu bem, é tarde demais, o trem já está
partindo — e me empurrou para o lado.
Eu gritei pedindo ajuda. John colocou a cabeça do
lado de fora da janela, viu o que estava acontecendo e gritou:
- Diga a ele que você está conosco! Diga a ele que
a deixe entrar.
Era tarde demais. O trem já estava se afastando da
plataforma e eu fui deixada para trás com as nossas malas, as lágrimas correndo
pelo meu rosto. Foi uma situação terrivelmente desconcertante. Os repórteres
me cercaram tirando fotos, e eu me senti uma completa idiota. Peter Brown,
assistente de Brian, tinha vindo nos ver partir. Ele colocou o braço no meu
ombro e disse que me levaria para Bangor de carro.
- Nós provavelmente chegaremos lá antes do trem —
ele me assegurou, ansioso por me alegrar.
Mas o que nem ele nem ninguém sabia era que as
minhas lágrimas não se deviam unicamente ao fato de ter perdido o trem. Eu
estava chorando porque o incidente parecia simbolizar o que estava acontecendo
ao meu casamento: John estava no trem, correndo em direção ao futuro, e eu havia sido deixada para trás.
Enquanto estava ali, vendo o trem desaparecer a distância, cheguei à conclusão
de que a solidão que estava sentindo naquela plataforma se tornaria algo
permanente um dia.
Neil Aspinall me levou para Bangor. Foi uma viagem
tranquila de seis horas, bem diferente do circo que a mídia havia montado a bordo
do trem. Porém, enquanto observava pela janela a gloriosa zona rural, meu
coração estava cheio de medo. O que aconteceria em seguida a mim e a John?
Nós chegamos tranquilamente pouco depois que os
outros haviam sido recebidos por multidões aos gritos e mais equipes de imprensa
na estação. Bangor, uma pequena cidade costeira, não sabia o que a havia atingido.
Eu fui recebida com abraços e beijos dos outros e repreensões de John.
- Por que você fica sempre por último, Cyn? Como é
que você foi capaz de perder aquele trem?
- Talvez, se você não tivesse deixado as malas para
eu carregar, querido, eu tivesse conseguido — respondi a ele.
Como ele ousava me censurar, quando havia agido de
forma tão desatenciosa? No entanto, engoli meus sentimentos, como já fizera
tantas vezes. Como sempre, eu não queria uma briga, especialmente com todos os
outros à nossa volta. Esse foi outro momento em que eu deveria ter sido mais
assertiva com John. Mais uma vez, deixei passar.
5 comentários:
Cá entre nós... Essa mulher era muito pastel. Putz!
Mas que o troço foi esquisito foi!
Na minha opinião ela já tinha embarcado no trem errado, lá atrás, um pouco antes de ficar gravida e casar com o John. Tenho respeito por ela, mas lendo o livro dela, dá para ver que ela era bem recalcada e insegura. Dá até para entender o por que do John ter se separado dela.
Assino embaixo de cada ponto e vírgula, Valdir!
Pena da Cynthia. John se apoiava nela no começo e depois cuspiu no prato que comeu assim como cuspiu em outros pratos.
Postar um comentário