quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

“STRAWBERRY FIELDS FOREVER” E “PENNY LANE” FAZEM 50 ANOS!

O single (no Brasil, compacto simples) dos Beatles com Strawberry Fields Forever e Penny Lane está fazendo 50 anos. Nos Estados Unidos, foi lançado no dia 13 de fevereiro de 1967. No Reino Unido, no dia 17. As duas canções (uma de John Lennon, outra de Paul McCartney) eram o prenúncio de algo extraordinário que estava em gestação: o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em junho daquele ano. Strawberry Fields Forever e Penny Lane são reminiscências da infância em Liverpool. Os Beatles fazem a música nova do presente falando do passado. Strawberry Fields Forever, embora assinada por Lennon/McCartney, foi composta por John Lennon a partir das lembranças que ele tinha de um orfanato do Exército da Salvação. O registro inicial não indicava que a canção pudesse se transformar num dos pontos altos da discografia do grupo e num marco indiscutível do rock psicodélico. Os diversos registros (há até um bootleg com eles) confirmam que a canção cresceu no estúdio, enquanto era gravada. E, aí, temos que somar a melodia enigmática de John ao arranjo deslumbrante de George Martin.

Penny Lane, igualmente atribuída à dupla Lennon/McCartney, foi composta por Paul McCartney. A letra fala de uma rua de Liverpool. É uma balada com as marcas do inspirado melodista que Paul sempre foi, desde muito jovem. O solo de trompete de David Mason remete ao barroco e às influências da música erudita que os Beatles, via George Martin, incorporaram ao trabalho deles.
Strawberry Fields Forever e Penny Lane se completam em suas diferenças. São tão belas que formam um compacto sem lado B. Na época, a canção de Lennon provocou uma certa estranheza em alguns ouvintes, o que não ocorreu com a de McCartney. A passagem do tempo as fez igualmente poderosas.  Com todos os significados que encerram, Strawberry Fields Forever e Penny Lane continuam fascinantes!
Aqui, com a exclusividade de sempre, a gente confere o que disse Paolo Hewitt sobre o single em seu livro “Love Me Do – 50 momentos marcantes dos Beatles”.
A gangue debandou e cada um foi cuidar da sua vida. Pela primeira vez desde a contratação pela EMI, eles não se veriam por pelo menos um mês. Nas pausas anteriores, eles tiraram férias juntos — Paul com Ringo, John com George, George com Paul. De forma reveladora, dessa vez eles viajaram sozinhos. Enquanto o grupo se dispersava, um pensamento rondava a mente de todos: Aon­de vamos agora? Nunca uma banda deixara de fazer tumês, tomando-se uma unidade apenas de gravação. Será que a es­tratégia funcionaria?
Ringo foi em busca de sol, George foi para a Índia estudar citara com Ravi Shankar, Paul ficou em Londres para compor a trilha sono­ra do filme Lua de mel ao meio-dia (1966), par­tindo em seguida para a África, e John foi para a Espanha participar de Como ganhei a guerra (1967), de Dick Lester. Mais tarde, Lennon contou ter sido esse o primeiro momen­to em que pensou em sair da banda. Ele ape­nas não teve coragem para dar o primeiro passo. Se ser um Beatle tinha começado a per­der o encanto e o interesse, o mesmo podia ser dito de sua vida doméstica. “Em vez de ir para casa, fui de imediato para a Espanha com Dick Lester, porque não conseguia li­dar com o fato de não estar sempre no palco”, ele confessou. “E foi nessa hora que a semente foi plantada; eu tinha de dar um jeito de sair daquilo tudo sem ser expulso pelos outros.” Sempre otimista, Paul não tinha tais apreensões e rapidamente começou a bolar novas estratégias para a banda. “Estávamos de saco cheio de ser os Beatles. Nós odiávamos de verdade aquela merda dos quatro ra­pazes cabeludos. Não éramos rapazes, éra­mos homens [...]. Além disso, passamos a gostar de maconha e nos considerávamos ar­tistas [...]. Então, num avião, tive uma ideia...” E essa ideia levaria à produção da obra mais famosa da banda. Foi nesse cenário confuso que Lennon começou a trabalhar numa de suas melhores canções, “Strawberry Fields Forever”. Por causa do filme de Lester, o roqueiro também passou um tempo em Hamburgo com Neil Aspinall, visitando todos os antigos locais. Quando voltou à Espanha (Cynthia, Ringo e a esposa, Maureen, se juntaram ao guitarris­ta após duas semanas de filmagem), ele co­meçou a mexer com o passado e deu início à composição da música batizada com o no­me do orfanato situado próximo de sua ca­sa em Liverpool. De acordo com uma decla­ração posterior, a letra era uma psicanálise, inteligente e bonitinha, mas sem dizer mui­ta coisa. Um verso — no qual ele se vê sozinho no alto de uma árvore — aludia à confusão a respeito de sua personalidade. Ele era um gênio ou um louco? Segundo John, essa dú­vida o atormentava desde os 5 anos de idade. Era essa habilidade de sempre mudar e desafiar que mantinha alertas os outros Bea­tles. As pessoas ficavam cautelosas ao redor de Lennon; nunca se sabia ao certo o que ele pensava e sentia. Isso não apenas lhe rendia o controle em qualquer situação, como tam­bém qualquer incentivo positivo seu tinha muito mais significado. Catorze anos após a separação dos Beatles, Paul falou sobre ele: “Todos nós respeitávamos o John. Ele era mais velho e claramente o líder: tinha o pen­samento mais veloz, era o mais inteligente e todo esse tipo de coisa (...). Certamente, ele era o que eu mais admirava". É tentador acreditar que McCartney compôs “Penny Lane" em retaliação à nova canção de Lennon. Nada disso. Numa entre­vista concedida em novembro de 1965, ele mencionou que pensava em compor uma música chamada “Penny Lane” (provavel­mente em resposta à obra-prima anterior de John, “In My Life”, na qual o músico lidava com lembranças da vida). A exemplo da con­tribuição de Lennon, “Penny Lane" se referia à Liverpool da juventude do baixista.Repleta de melodia, entusiasmo e con­fiança, em “Penny Lane" McCartney leva o ouvinte num passeio vivido pelas ruas, pa­rando para destacar o barbeiro, o banquei­ro, a enfermeira e o bombeiro. São figuras tradicionais, mas McCartney as subverte; o banqueiro não veste casaco na chuva, o bom­beiro carrega uma ampulheta, a enfermeira acredita estar atuando numa peça e o bar­beiro tem fotos de todos os fregueses atendi­dos. Lennon, que o ajudou a completar a ter­ceira estrofe, costumava se encontrar com Paul em Penny Lane, então criar um final pa­ra os versos não era problema.A canção de John foi a primeira que os Beatles gravaram quando voltaram a tra­balhar, em 24 de novembro de 1966. Para comprovar como as coisas haviam mudado. “Strawberry Fields Forever” demorou vários dias para ser gravada antes de ser considera­da quase pronta. “Love Me Do” consumira apenas duas horas. Os Beatles agora desfru­tavam do estúdio Abbey Road, que lhes per­mitia explorar todos os tipos de possibilida­des sonoras. Com a fita demo original de John ao violão, a canção se transformou rapida­mente numa obra-prima psicodélica, usan­do fitas com a gravação rodando ao contrá­rio, outras sendo executadas em rotações diferentes e todos os tipos de instrumenta­ção, como o melancólico mellotron utiliza­do na introdução. Diversas versões da canção foram expe­rimentadas até Lennon pedir para Martin pegar duas versões diferentes e combiná-las. O fato de Martin ter sido capaz de unir duas seções em tons diferentes e obter uma grava­ção clássica é uma prova de sua habilidade.“Penny Lane” era a próxima da fila, con­sumindo nove dias de gravação. Essa canção tinha muito mais apelo comercial que “Straw­berry Fields Forever”. O cativante riff de pia­no, as imagens vívidas, os sons brilhantes e a audácia musical a tornavam uma candida­ta muito melhor ao sucesso de público.No dia 27 de janeiro de 1967, a banda assinou um contrato novo e melhor com a EMI. A primeira coisa que a gravadora pediu foi outro compacto. Sem pensar duas vezes, as duas canções foram entregues. E então, no dia 17 de fevereiro, essa obra-prima dos Beatles foi lançada. Ao mesmo tempo, foram filmados vídeos de divulgação, os quais, a exemplo das canções representadas, tam­bém traziam imagens no sentido contrário com o grupo subindo e pulando de árvores) e imagens surreais. Todos na banda usavam bigode e vestiam roupas coloridas. Pela primeira vez desde Please Please Me, um single dos Beatles não chegou ao primeiro lugar, o que levou a mais especulações sobre a carreira dos Bea­tles ter chegado ao fim. Na verdade, como eles não saíam em turnê pelo Reino Unido havia mais de um ano, as especulações da im­prensa quanto ao seu futuro não cessavam. O programa Reporting 66 flagrou os quatro integrantes entrando no estúdio Abbey Road e os questionou. Todos riram com a ideia de separação e seguiram para trabalhar no novo LP, provisoriamente chamado Sgt. Peppefs Lonely Hearts Club Band.

2 comentários:

João Carlos disse...

Não chegou de imediato ao 1º, mas depois... e era pra ser mesmo duplo A.

Valdir Junior disse...

Acho que não o mundo ainda não tinha se ligado no som, por isso não foi pro primeiro lugar.