John Lennon costumava dizer que se sentia tolhido nos discos dos Beatles; que há limites para a voz de um indivíduo quando ele faz parte de um grupo. As canções poderosamente pessoais de seu primeiro álbum autenticamente solo John Lennon/Plastic Ono Band de dezembro de 1970, estão entre os seus melhores trabalhos. Para o álbum, ele optou por um estilo despojado muito antes que o termo unplugged fosse criado para definir música acústica. Para Lennon, foi apenas uma questão artística: a emoção nua e crua funcionava melhor com menos instrumentos. Poucos artistas revelam mais abertamente a dor que carregam em seu íntimo do que Lennon interpretando "Mother", inspirada pela psicoterapia do “grito primal" a que se submetera; as letras que falam de seu pai ausente e da perda de Julia Lennon estão entre as mais dolorosas e sinceras de sua obra.
O primeiro álbum solo de John Lennon depois dos Beatles, lançado em 16 de dezembro de 1970, é um trabalho impetuoso, áspero, apaixonado, belo e honesto, produzido por John, Yoko e Phil Spector. Os acordes são simples, a instrumentação despojada - Lennon na guitarra e no violão, Klaus Voormann no baixo, Ringo Starr na bateria - e as letras endereçadas aos temas básicos da morte, isolamento, raiva, religião, classes sociais, medo e amor. A maioria das músicas foi composta durante o período em que John e Yoko faziam a terapia do grito primal com o doutor Arthur Janov na Califórnia, e essas sessões foram fundamentais para a crueza das letras do álbum. Como consequência, o trabalho é uma jornada sincera e, não poucas vezes, angustiante, pela vida de John Lennon.
A experiência de Lennon em terapia primal influenciou fortemente tanto o conteúdo lírico do álbum, empurrando-o para temas de relacionamentos entre pais e filhos, sofrimento psicológico e o estilo simples, mas intenso do discão.
Em "Mother", a primeira faixa do álbum, Lennon aborda muitas questões pessoais, principalmente seu sentimento de abandono pelos pais (Lennon foi criado por sua tia Mimi); “Mãe, você me teve, mas eu nunca tive você, eu queria você, mas você não me queria. Então eu só tenho que te dizer adeus, adeus. Pai, você me deixou, mas eu nunca te deixei, eu precisava você, mas você não precisava de mim. Então eu só tenho que te dizer adeus, adeus”. "Hold On", uma música curta de menos de dois minutos mostra um lado mais suave de Lennon, encorajando ele e Yoko a aguentarem firme. "I Found Out" é um rock seco, baseada em blues de forma mais amarga sobre religião falsa e ídolos. "Working Class Hero", apresenta apenas Lennon, seu violão e sua lingua afiada. É um hino para a classe trabalhadora. Apresentando a letra controversa da época: “Eles te machucam em casa e batem em você na escola, eles te odeiam se você for inteligente e desprezam se é um tolo, até você ficar tão louco que não pode seguir as regras". "Isolation", a faixa de encerramento do lado 1 aborda o sentimento de isolamento de Lennon devido à fama e o preconceito contra Yoko.
Com uma batida consistente e vocais metodicamente entregues com longas pausas entre cada verso, “Remember” é outra jóia do coração deste álbum. Liricamente, essa música lida com a lembrança de eventos do passado e como algumas memórias não são tão róseas, mas ainda ajudam você a moldar o seu hoje. Para o clímax da música, Lennon faz referência a “The Fifth of November”, um feriado britânico conhecido como Guy Fawkes Night e celebrado com fogos de artifício, daí a explosão final. “Love” é o momento mais doce de todo o álbum. Uma balada suave e chorosa, que funciona bem como um contrapeso entre tantas faixas emocionais e cruas. "Love" apresenta um piano tocado por Phil Spector e um suave violão de Lennon. Essa música acabou sendo lançada como single em 1982. “Well Well Well”, é um rock rasgado de seis minutos que não é tão interessante quanto as outras faixas focadas na terapia do Dr. Janov. Além de alguns riffs de guitarra bem legais e crocantes, a letra não diz nada de substancial. "Look at Me" data do período do Álbum Branco (1968), e é construída em um padrão de guitarra dedilhado muito semelhante ao que Lennon usou em "Dear Prudence", "Happiness Is a Warm Gun" e "Julia". Donovan ensinou a Lennon essa técnica enquanto os dois estavam em Rishikesh em 1968. O álbum volta a fluir muito bem com o fechamento filosófico, “God”, com Billy Preston no piano. “God” apresenta uma forma de composição totalmente única com uma longa e repetitiva seção intermediária. Aqui, Lennon declara sinceramente no que acredita e (mais proeminentemente) no que não acredita, com toda uma lista de ídolos terrestres culminando com os próprios Beatles. Isso é seguido pela triste seção de encerramento, onde Lennon declara repetidamente “o sonho acabou”. "My Mummy's Dead", que fecha Plastic Ono Band, é parcialmente ajustada ao som da canção de ninar "Three Blind Mice".
John Lennon/Plastic Ono Band alcançou o número oito na parada de álbuns do Reino Unido e o número seis na Billboard 200 dos EUA. Em 1987, a Rolling Stone o classificou em # 4 em sua lista "Os 100 Melhores Álbuns dos Últimos Vinte Anos" e em 2012, classificou-o em 3 23 em sua lista dos "500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos". Em 2000, foi votado número 244 na Colin Larkin All Time Top 1000 Albums. Em 2000, o álbum foi remixado com duas faixas bônus, "Power to the People" e "Do the Oz".
A reedição do álbum em 2021, John Lennon/Plastic Ono Band – The ultimate collection traz em uma caixa com seis CDs, 159 faixas e mais dois discos de áudio Blu-ray, incluindo 87 gravações inéditas. O material inclui demos, ensaios, outtakes, jams e conversas de estúdio, mostrando como tudo foi criado. Todas as faixas foram mixadas do zero usando transferências de alta resolução. Além do som, tem um livro de 132 páginas com fotos raras, letras, memorabilia e notas, além de tudo por trás de cada canção do disco, nas palavras de John, Yoko e de quem trabalhou no álbum.
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