domingo, 29 de novembro de 2015

HERE COMES THE SUN: A JORNADA ESPIRITUAL E MUSICAL DE GEORGE HARRISON


George Harrison tinha 22 anos quando encontrou Elvis Presley. Era agosto de 1965 e não havia ninguém no mundo que ele, John, Paul e Ringo quisessem conhecer mais. O encontro foi revelador para o guitarrista, mas não por causa de Elvis. Enquanto os outros três beatles se deslumbravam com o rei do rock em sua casa em Beverly Hills, George foi fumar um baseado no quintal. Longe de todos, bateu um papo com o cabeleireiro Larry Geller, amigo de Elvis. Foi ali que ouviu falar sobre o iogue e guru indiano Paramahansa Yogananda. Meses depois, conheceria a música de Ravi Shankar.
Publicado originalmente em 2007,Here comes the sun, de Joshua M. Greene, ganha edição brasileira pelo selo Relighare, do Coletivo Editorial. A tradução é de Romero Carvalho (também responsável pela edição) e Fernanda Marin Horrocks. O lançamento será neste sábado, 28, a partir das 11h, na Ouvidor Savassi, com apresentação do power trio Revolution, formado por garotos de 11 anos. Harrison morreu em 29 de novembro de 2001, de câncer, aos 58 anos; o mais jovem beatle teria hoje 72.
Os Beatles tem vários relatos biográficos em português; Paul e John também. De George, até então, só havia um registro menor e sem muita repercussão, A biografia espiritual de George Harrison – O místico entre os trabalhadores, de Gary Tillery.
O livro de Greene é considerado um dos relatos mais relevantes sobre o “beatle quieto”. Mas a chave para entendê-lo está no subtítulo: A jornada espiritual e musical de George Harrison. O nova-iorquino Greene, ele próprio um iogue e devoto de Krishna, viveu 13 anos em templos hindus na Índia e na Europa. De volta aos EUA, o historiador, além de escrever livros, dirigiu filmes e documentários.
Por isso, o foco desse volume está muito mais no espírito do que na música. No prefácio, o autor relata seu primeiro encontro com George – em 1970, nos estúdios da EMI, em Londres, Greene acompanhou devotos em uma gravação de um álbum com hinos em sânscrito que o beatle produzia.
Mesmo abordando a trajetória de George da infância até a morte, o ponto forte do relato está no envolvimento dele com o hinduísmo. Tal aspecto pode desinteressar os aficionados por música, mas é chave para entender a persona. A parte inicial, dedicada aos Fab Four, ainda que tenha um viés crítico (mostrando o quanto George era colocado de lado por Paul e John), está mais interessada em mostrar o desconforto do biografado com a beatlemania.
Assim que a banda coloca seu ponto final, George floresce. É rico o material sobre a produção do Concerto para Bangladesh (1971), o primeiro show beneficente já realizado. Com riqueza de detalhes, o autor descreve a aflição do guitarrista à frente do projeto, bem como a incerteza que o cercava quanto à participação de Bob Dylan.
Aspectos da vida pessoal, no entanto, têm peso diferente. A relação com os pais é bem explorada. Mas o casamento com Pattie Boyd, que gerou o triângulo amoroso mais ruidoso da década de 1970 (ela o trocou por Eric Clapton, um dos grandes amigos de George) é visto de maneira quase rasteira.
Já a parte dedicada ao hinduísmo não poupa detalhes. São descrições extensas sobre as viagens de George à Índia; seu encontro com os mestres; a maneira como ajudou os devotos. Shyamasundar, um americano que se tornou muito próximo de George, ganha protagonismo nessas passagens. É um ponto de vista interessante, mas peca pelo excesso. Em comparação, os ex-companheiros dos Beatles, já a partir de 1970, são citados de forma bem discreta.

HERE COMES THE SUN: A JORNADA ESPIRITUAL E MUSICAL DE GEORGE HARRISON - Biografia assinada por Joshua M. Greene. Editora Relighare, 414 páginas, R$ 54.

2 comentários:

Valdir Junior disse...

Já está como prioridade na minha lista. Li criticas muito boas com relação a esse livro.

R disse...

"Mas o casamento com Pattie Boyd (...) é visto de maneira quase rasteira. Já a parte dedicada ao hinduísmo não poupa detalhes. É um ponto de vista interessante, mas peca pelo excesso". Li a biografia e em verdade, por mim, haveria ainda mais desse lado místico do George. Embora ídolo, claro que ele era um humano. Mas pessoalmente, me exasperam essas biografias de astros do rock ou celebridades que parecem sentir um prazer quase mórbido em explorar o que as pessoas tem de pior ou os seus deslizes. Como quantos quilos de cocaína ela cheirava por dia, com quem a pessoa casou, o quanto ela foi fiel no casamento, sua sexualidade, me parece assuntos interessantes em revistas de fofoca ao melhor estilo de Minha Novela ou Tititi. Todos rockstars que nos anos 60 e 70 se interessaram por Aleister Crowley ou por ocultismo ou que se entupiram de drogas parecem mais interessantes ou legais para o público em geral. Aí aparecem caras como o George que em diversos momentos da sua vida disse que sua meta era ser consciente de Deus ou um cara com o Bono que não cansa de proclamar seu ativismo social e religioso e como resultado, não raro, acabam sendo escarnecidos ou alvo de deboche. Estranho mundo esse onde um cara como o Lemmy seja louvado no momento da morte (cujo som produzido com o Motorhead eu curtia e até me parecia ser um cara bem bacana, mas que tinha como uma das grandes marcas os hectolitros de uísque consumidos ao longo da vida e não me contradizendo, pois é uma informação que nem precisamos ir atrás, pois a própria imprensa adora se concentrar nas extravagâncias dos roqueiros - vende mais né?)ao passo que artistas cuja marca é a busca e a divulgação de um estilo de vida mais equilibrado, mais místico e porque não, religioso,e isso mesmo que ás vezes de forma trôpega e contraditória, verem a abordagem dessa faceta que raramente é posta em primeiro plano (como no caso da biografia comentada)ser considerada um excesso, quando não virar alvo de deboche, como eu disse antes. Enfim, porque a religiosidade de um Rockstar é um excesso, mas Gene Simmons ter comido mais de mil mulheres ou Steven Tyler ter vendido o jato particular do Aerosmith para cheirar pó não são excessos? Enfim...a contribuição desse "excesso de espiritualidade" (minhas palavras) do George fez muito mais por milhares de ocidentais do que o estilo de vida autodestrutivo, embora talentoso, de muito dos seus pares no showbiz.