Tony Palmer, de 75 anos, se pergunta: “Se alguém me falasse, em 1968, que estaria em São Paulo em 2016 para apresentar meus filmes, o que eu diria?”. E ele mesmo responde: “Diria que essa pessoa estaria louca!”. O inglês ri do outro lado da linha. Palmer estava, contudo, prestes a embarcar em um avião para voltar a São Paulo – ele passou pela cidade no fim dos anos 1980, para participar da Mostra de Cinema de São Paulo – e ser homenageado pelo simpático In-Edit 2016, na oitava edição do festival dedicado exclusivamente aos documentários musicais, realizada a partir desta quarta-feira, 7, até o dia 18 de setembro.
“Vou começar a citar alguns nomes famosos, mas não me leve a mal, está bem?” Na história de Tony Palmer é impossível escapar disso. “Mas tudo começou com John Lennon, em novembro de 1963.” Ele foi testemunha de toda a revolução que tomou conta da música pop durante a década de 1960 e seguiu pelos anos seguintes. O homenageado desta oitava edição do festival de documentários musicais In-Edit terá oito de seus filmes exibidos, da sua centena de produções criadas para a televisão e o cinema. O festival começa nesta quarta, 7, e segue pelos cinemas paulistanos até o dia 18 de setembro. As salas participantes são Cinesesc, Spcine Olido, Spcine Lima Barreto (no Centro Cultural São Paulo), Cinemateca Brasileira, Matilha Cultural e seis CEUs do Circuito Spcine. O homenageado da vez, além de ter seus filmes exibidos na programação que inclui um total de 57 longas, Palmer, participará de uma masterclass na sexta-feira, 16, às 18h30, na Matilha Cultural, com entrada gratuita (os ingressos devem ser retirados na bilheteria com uma hora de antecedência).
Palmer foi tragado pela música – e isso não é exagero. Aos 22 anos, então estudante de lógica na universidade de Cambridge, Palmer foi a uma entrevista coletiva com os Beatles. Escrevia no jornal interno da universidade. Em 1963, o grupo de John Lennon já tinha chegado ao topo das paradas, mas a mania em torno do quarteto ainda não era tamanha. Palmer não fez uma pergunta sequer. No fim da sessão de questionamentos, Lennon indagou ao jovem: “Por que você ficou em silêncio?”. “E eu respondi”, diz Palmer: “Por que tudo ali me parecia estúpido”. John, segundo o diretor, concordou. Ambos riram e o beatle pediu para que Palmer lhe apresentasse a universidade e rodou pelos prédios históricos com uma barba falsa. “Ele estava ridículo”, brinca Palmer. Ao fim do encontro, Lennon entregou ao então repórter um cartão com seu número de telefone. Somente em 1967, quando o diretor já morava em Londres e trabalhava na BBC, ligou para o número. Horas depois, recebeu um recado de Lennon. “Ele dizia: ‘Por que você demorou quatro anos para me ligar?’ E assim começamos uma grande amizade’.”
Conta Palmer que foi o beatle que o convenceu o a filmar All My Loving – “ele até sugeriu o nome” – no qual o diretor registrasse as mudanças que aconteciam na música pop – do surgimento dos Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Eric Clapton. “Depois desse filme, tudo seguiu como uma consequência”, avalia ainda Tony Palmer. “As pessoas têm, até hoje, um interesse muito grande por essa época. O máximo que o Reino Unido tinha como registro da música pop era o Top of Pops, que era horrível. Nesses filmes, os músicos são respeitados”, acrescenta.
2 comentários:
Vivendo e aprendendo e descobrindo.
Se o Alison ainda andasse por aqui, diria que ele também era a cara do Austin Powers!
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