quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

GEORGE HARRISON - GEORGE HARRISON 1979


No dia 14 de fevereiro de 1979, George lançou na Inglaterra o álbum “George Harrison” juntamente com o single “Blow Away” / “Soft Hearted Hana”. O single alcançou o número 51 nas paradas do Reino Unido, e 16 e 7, nos EUA e Canadá, respectivamente. Este artigo que a gente confere a seguir, foi publicado na revista SOM TRÊS de setembro de 1979. É uma resenha do disco, assinada por Ana Maria Bahiana, absolutamente imperdível!

Nove anos de música na vida do jardineiro George
Há jardins na casa de George Harrison (WEA) e de All Thing Must Pass (EMI). E nove anos separando um do outro. Na recente e curtíssima – e curtíssima – passagem pelo Brasil, George não falou em nenhum dos dois – embora, teoricamente, tenha vindo divulgar o segundo – mas do tempo dos jardins e dos Beatles. Havia uma sensação estranha em olhar aquele homem muito velho para seus 36 anos, muito sereno para quem viveu tudo que viveu: a sensação de que todos ali – jornalistas, fotógrafos, ele mesmo – estavam vivendo uma fantasia, uma trip, uma irrealidade, que estávamos todos representando uma entrevista com frieza e profissionalismo, porque não podia ser verdade. Não é mesmo, George Harrison realmente não existe, é uma imagem de celulóide, uma impressão numa folha de jornal, uma voz sem corpo numa caixa acústica.
Em algum ponto da entrevista você percebe que ele sabe disso. Que olha a si mesmo de fora, e sabe que não tem, na verdade, carreira nenhuma a manter, imagem nenhuma a cultivar, que já tinha provado tudo que precisava provar e deixado a si mesmo lá atrás, lá longe, como a casca de uma cigarra. E, no entanto, ele faz discos. Talvez porque tenha passado os últimos seis anos - espaço que separa seu derradeiro bom álbum. Living in the Material World, deste último George Harrison – caminhando para longe de si mesmo, do personagem que foi, ele tem feito em sua maioria discos ruins, monótonos, desleixados. E talvez porque tenha chegado ao ponto em que realmente, o que foi não importa, ele faz agora, um álbum magnífico em sua simplicidade, repleto de hits certeiros, como “Blow Away”, “Love Comes to Everyone”, “Here Comes The Moon”( a antítese de “Here Comes The Sun”) e canções belíssimas, continuadoras de uma linhagem inaugurada com “Something”, “Dark Sweet Lady”, “Your Love is Forever”, “Soft Touch”. Música comercial de primeira linha, como em síntese, os Beatles sempre fizeram. Executada com maestria de alguém que conhece todas as intimidades do estúdio, esse velho amigo. Há um ciclo se fechando entre Harrison e All Things Must Pass, o álbum triplo que está sendo relançado no Brasil. All Things é o primeiro passo fora, e por isso é raivoso, abundante, majestoso, jorrando como uma hemorragia – ou como uma dor de barriga, como, candidamente, o próprio George o comparou. É seu melhor disco, e um dos melhores discos feitos nos anos 70. Está repleto de clássicos – “If Not For You”, “Beware of Darkness”, “I’d Have You Anything”, “Isn’t It a Pity”, “My Sweet Lord” – e com uma dinâmica diabólica em cada faixa – “What Is Life”, para citar o exemplo máximo. A guitarra não é genial, mas tem estilo, bom gosto, leveza. A voz é bruxulenta, mas George sabe como gravá-la e fazer dela a sua assinatura. George é, acima de tudo, inventor de melodias – e assim sobreviverá a si mesmo e será encontrado em plena forma, nove anos depois. Aí já é o fim de uma estrada, o começo de outra. Sentado sobre uma pedra, olhando para trás, pacificamente, e não mais no meio daquele descampado, os quatro anõezinhos caídos no chão, aquele olhar de “viram o que aconteceu?”. Todas as coisas devem passar. E George veio, George foi, George falou e parecia que não era ele, e talvez não fosse, mas isso já não faz diferença. George não tem nenhum motivo para fazer música, nem boa nem má, nem para ganhar dinheiro. Mas faz. Nada mau para um jardineiro. Ana Maria Bahiana

6 comentários:

Edu disse...

Esse Hare com esse cabelo "permanente" ficou muito massa!!! Esse disco, apesar das críticas, para mim chegou como uma benção no momento certo. A que eu gosto mais é "Your Love Is Forever"!

Valdir Junior disse...

Um disco muito muito lindo e bom demais !!!
Verdadeiras obras primas estão ali !!
Destaque para : Love Comes To Everyone ; If You Believe ; Your Love Is Forever e Faster ( E olha que eu não gosto de F1 )!!!
Infelizmente o George lançou pouco discos , mas todos eles mostram quem ele era , o que vivia e acreditava !!
Nesse ano que ele faria 70 anos merecia uma super comemoração !!!

João Carlos disse...

George falava só quando tinha o que dizer.Bem ou mal. Este disco é simplesmente sensacional...elegante.Gosto de cabo a rabo. Dark Sweet Lady, Your Love...,Love Comes... Here Comes the moon,E Not Guilty são tão brilhantes quanto as que esqueci de citar.É verdadeiramente deliciante!

henrique disse...

Artisticamente falando eu fico entre Paul e John mas como pessoa eu sou um profundo admirador do George. Esse desprendimento que ele tinha...esse apelo caseiro, o seu lado espiritual...enfim, valeu por suas belas canções " caçula de Liverpool " !

Nathan de Lima disse...

Ótimo trabalho do sr. Harrison! Esse sabia fazer boa música, impressionante! rs

O Luzíada disse...

"A guitarra não é genial, mas..." Que papo é esse?? Abraço