Se Ravi Shankar ainda caminhasse sobre a terra, estaria completando hoje 93 anos. Ele nasceu em 7 de abril de 1920 e deixou esse mundo em 11 de dezembro de 2012. Ravi Shankar, teve influência direta na música dos Beatles, nos Beatles e consequentemente em toda uma geração. Em homenagem a ele, a gente confere novamente o belíssimo texto, escrito pelo nosso querido amigo Valdir Junior (publicado aqui, em 26 de fevereiro de 2012, bem antes do falecimento de Ravi Shankar) sobre a amizade de dois homens, mestre e discípulo. Ravi Shankar e George Harrison. Abração em todos. HARE KRISHNA!!!
Foi durante as filmagens do filme Help! em 1965, que George Harrison teve contato com a música e a filosofia da Índia. Naquele mesmo ano, durante a turnê pelos USA que os Beatles estavam fazendo, ele ouviu o nome de Ravi Shankar ser mencionado diversas vezes.
Com a carreira musical iniciada em 1944, Ravi Shankar, nascido em 07/04/1920, era muito conhecido por ser um excelente tocador de Sitar (foi aluno do mestre Allauddin Khan), compositor, arranjador e foi um dos primeiros músicos indianos a percorrer o mundo apresentando um repertório de música clássica do Norte da Índia. Mas seu reconhecimento fora da Índia só era dado dentro dos círculos das salas de concerto da Europa e América, sendo que a popularização desse tipo de música só foi ocorrer no início dos 60’s, quando músicos de Jazz começaram a estudar a música da Índia e a utilizar elementos dela em suas composições.
Um desses músicos foi o saxofonista John Coltrane (1926-1967), que incorporou a música e o estudo da religião Hindu em sua vida e, por conseqüência, em sua própria música (vale muito apena conhecer o disco de Coltrane de 1965 “A Love Supreme“). Coltrane trocou correspondência com Shankar e chegou a encontrá-lo numas das viagens aos Estados Unidos. Coltrane até deu o nome de “Ravi” a um de seus filhos (o hoje famoso saxofonista Ravi Coltrane) em homenagem a Shankar.
No mundo da música Pop, os músicos David Crosby e Roger McGuinn também estavam escutando e estudando os discos de Ravi Shankar e até usando alguns elementos em suas músicas, mais notadamente no disco 5th Dimension, principalmente na música Eight Miles High. E foram eles que falaram do indiano para o Beatle, que foi atrás de um disco e então entrou de vez nesse mundo que já o havia fisgado durante as filmagens de Help. E como aconteceu com John Coltrane, a vida e a música de George Harrison mudaram e com ela também o Rock e o Pop. A principio George Harrison comprou uma Sitar bem barata numa loja de artigos indianos chamada Indiacraft, em Londres. Começou a tentar tirar algum som dali e a pedido de John Lennon a utilizou pela primeira vez na gravação da música Nowergian Wood do disco Rubber Soul de 1965.
Obstinado como era, George mergulhou fundo na música e na filosofia Hindu e depois de muitas tentativas e grandes expectativas, finalmente foi apresentado a Ravi Shankar em 1966. E ali começou uma amizade que seria levada pela vida inteira dos dois e que também mudaria o cenário do Rock, influenciando muitos músicos mundo afora a descobrir a música indiana, dando início àquilo que mais tarde seria chamado de “World Music”. Em 1966, após o último show, os Beatles tiraram férias. George e sua esposa Pattie foram para Índia estudar Sitar com o mestre e conhecer melhor a cultura e o povo indiano, assim como os “Yogis” do Himalaia. Ravi Shankar era o guia do casal e aos poucos foi percebendo que sua relação com o Beatle foi se transformando de aluno para amigo e depois quase como um filho.
Após passar alguns anos estudando Sitar, lá pelos idos de 68, George Harrison chegou à conclusão de que nunca seria um verdadeiro tocador de Sitar, pois já havia encontrando milhares melhores que ele na Índia. Conscientizou-se de que na verdade era um músico Pop e que havia negligenciando a guitarra durante um bom tempo. A partir dali sua música passou a ser menos indiana na forma, mas a influência dela pode ser percebida por toda sua obra. E a amizade dos dois se consolidava a cada dia. Pode-se considerar que a parceria musical de George Harrison e Ravi Shankar teve seu início no álbum Wonderwall, de 1968, apesar do indiano não ter participado das gravações. Os músicos que acompanharam Harrison foram indicados por Ravi Shankar e a influência do estilo ficou marcada no álbum.
Com o famoso Concert for Bangladesh os dois puderam trabalhar mais de perto e apesar de muito criticada a primeira parte do Show com Ravi Shankar é uma das mais legais do show. Ali era perceptível todo o sentimento de humildade de George perante Ravi Shankar e os demais músicos indianos que estavam no palco. No mesmo mês do Show, foi lançado pela Apple um EP de Ravi Shankar com as músicas: Joy Bangla e Oh Bhaugowan / Raga Mishri Jhinjhoti, produzidas por George Harrison. No final do ano saiu pela Apple a trilha sonora do filme/documentário Raga, sobre a música do Norte da Índia. O disco também foi produzido por George Harrison e era um projeto dos dois que vinha desde 1967. É neste filme que há aquela famosa cena de George recebendo ao ar livre uma aula de Ravi Shankar (Recentemente esse filme saiu em DVD lá fora e vem junto com ele a trilha para download).
Em 1973 foi lançado aquele que seria o último disco de Ravi Shankar a sair pela Apple, Ravi Shankar & Ali Akbar Khan - In Concert 1972 , co-produzido por George, Phil Mcdonald e Zakir Hussain. Nesse período George e Ravi estavam em Los Angeles gravando o disco Shankar Family & Friends, apresentando dessa vez uma abordagem mais “Pop” usando tanto músicos ocidentais (participações de Ringo Starr, Klaus Voormann, Jim Keltener), como músicos indianos. Desse disco saiu a música “I Missing You” de Ravi Shankar, que se tornou um grande sucesso nas rádios na época. No disco ela recebe duas versões, uma mais “pop ocidental” e outra mais “indiana”. A curiosidade é que cada um preferiu uma versão e para não descontentar ninguém, o disco saiu com as duas versões pela novíssimo selo Dark Horse de George em 1974. Ravi Shankar também participou da malfadada Dark Horse Tour de 74 pela America, mas desta vez o público não gostou de sua participação e nem do esquema do show com várias intervenções de música indiana no meio de músicas que um George Harrison parecia não estar muito a vontade a tocar.
O próximo trabalho em conjunto foi Ravi Shankar's Music Festival from Índia. Dessa vez o projeto que George tinha desde 1967 que era baseado e inspirada numa composição para orquestra de Instrumento Indianos que Ravi havia criado por volta de 1964 para All Índia Radio , George trouxe todos os músicos para sua casa em Friar Park e gravou o disco em seu estúdio assim como os ensaios para os concertos que estavam agendados por vários países para o lançamento do disco em 1975. Nos anos seguintes a parceria fonográfica dos dois ficou em um hiato, mas não a amizade. Em 1987 Ravi Shankar lançou o disco Tana Mana e algumas faixas foram gravadas e produzidas nos estúdios do George Harrison que tocou autoharp. Após o lançamento do disco Coud Nine em 87 e em seguida de vários projetos como Traveling Wilburys, shows no Japão com Eric Clapton e o Beatles Anthology, George Harrison encontrou tempo para produzir, em 1996, uma caixa de 4 Cds em comemoração aos 75 anos de Ravi Shankar: Ravi - In Celebration.
Durante a produção da caixa os dois resolveram trabalhar num projeto de Ravi Shankar sobre cânticos em sânscrito das escrituras Hindus. O disco se chama Chants of Índia e foi gravado em duas sessões.
Após a morte de George Harrison, Ravi Shankar participou e ajudou junto com sua filha Anoushka Skankar, a preparar toda a 1° parte com a orquestra de músicos indianos para o Concert For George, para o qual ele compôs a música Arpan em homenagem ao seu aluno/amigo/filho. Em 2010 em comemoração aos 90 anos de Ravi Shankar e a amizade dele com George ,Olivia Harrison lançou uma caixa: Ravi Shankar & George Harrison – Collaborations , com os 3 discos gravados por Ravi para a Dark Horse Records (Shankar Family & Friends , Shankar's Music Festival from Índia e Chants of Índia) mais um DVD: Live at The Royal Albert Hall do disco Music Festival From India e um livro com depoimentos dos dois e também um belíssimo texto sobre a música da Índia.
Para aqueles que acham que a música indiana é chata, maçante, difícil e etc, posso dizer que sim, ela é difícil, mas se você tiver paciência e vontade de conhecer melhor outro universo musical muito diferente do que estamos acostumados no nosso dia a dia, você vai encontrar a música que, na pior das hipóteses, vai fazer você relaxar um pouco, e quem sabe entender um pouco mais dessa música que conseguiu mudar e influenciar um inglês, nascido em Liverpool e que adorava tocar Rock and Roll com sua guitarra e que mudou a música junto a mais três amigos, naqueles, hoje já um pouco distantes anos 60. E também levou a ter uma amizade de uma vida inteira com um indiano 23 anos mais velho que lhe mostrou um novo caminho a seguir e para viver em paz consigo mesmo e com o mundo. Um Abraço a Todos e Hare Krishna. Valdir Junior - São Paulo – Fev 2012
4 comentários:
Excelente texto.Valdir caprichou.Breve sai um no SS.Ravi merece!
Já esta fazendo muita falta !!!
Mestre Ravi Feliz Aniversario !!!
Hare Krishna !!!
Grande musico e amigo de George Harrison,havi Shankar era um virtuose do sitar,poucos tocaram esse istrumento como ele, a India deve muito a Shangar o tanto que o ocidente conhece a musica deles.
Texto muito bom! Linda história de mestre e discípulo. Hare Krishna...Hare krishna...Krishna..Krishna...Hare..Hare
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