quinta-feira, 24 de maio de 2018

THE BEATLES - TAXMAN - GEORGE HARRISON**********


"One, two, three, four - tosse - one, two..." - Esse é o início de "Taxman". A primeira e única música composta por George Harrison a abrir um disco dos Beatles - o álbum "Revolver" lançado em agosto de 1966. Foi também a primeira composição escrita por George Harrison a fazer uma crítica social. É um ataque verbal à figura do Taxman (auditor-fiscal). O vocal é de Harrison, com vocais de fundo e em harmonia de Paul McCartney e John Lennon. A música é tão incisiva quanto a letra, com um riff espetacular de guitarra carregado de energia, sempre no ataque. Foi composta depois que Harrison descobriu estar no grupo do "imposto complementar" britânico, o que significava pagar uma nota em impostos. Foi sugerido que o tema da série de televisão Batman pode ter sido uma influência - o "taxman" (homem do imposto) no final da canção guarda uma semelhança com o refrão da música-tema de "Batman".
Até 1966, a programação das turnês dos Beatles tinha sido tão exaustiva que não havia tempo para examinar as contas em detalhes. Quando eles começaram a fazê-lo, descobriram que não tinham tanto dinheiro quanto imaginavam. "Na verdade, estávamos perdendo a maior parte (do nosso dinheiro) em forma de impostos", disse George Harrison. "Era, e ainda é, típico. Por que deveria ser assim? Estamos sendo punidos por algo que esquecemos de fazer?" Ironicamente, à luz de sua posterior conversão, quando passou a enfatizar a futilidade das coisas materiais, George sempre foi o Beatle que mais mencionava o dinheiro quando perguntavam sobre suas ambições.
John afirmou depois que teve uma participação na composição de "Taxman" e ficou magoado por George não mencionar isso isso em sua autobiografia "I Me Mine". John declarou que recebeu um telefonema de George enquanto estava tentando escrever a música. "Soltei comentários jocosos para ajudar a música a avançar, porque foi isso o que ele pediu. Eu não queria, mas como eu o amava, mordi a língua e falei 'tudo bem". Ele disse. A versão gravada certamente é melhor em relação ao esboço de George, em que "get some bread" rimava com "before you're dead". Nos primeiros takes, os backings do refrão eram "Anybody gotta lotta money/anybody gotta lotta money/ anybody gotta lotta money?", cantado em uma velocidade muito alta, mas foi modificado para fazer menção ao primeiro-ministro Wilson e ao líder da oposição Edward Heath.
Os dois políticos compartilhavam a distinção de serem as primeiras pessoas vivas mencionadas em uma letra dos Beatles. Apesar de nunca terem conhecido Heath, eles encontraram Wilson (que também vinha do norte do país) em diversas ocasiões, como quando receberam a comenda de Membro do Império BritânicoOs Beatles — quatro jovens empreendedores que basicamente vinham de famílias operárias — eram o tipo de pessoas que Wilson queria encorajar como parte de sua visão de uma nova Grã-Bretanha sem classes sociais. Quando o poeta e líder espiritual Thomas Merton ouviu "Taxman", escreveu em seu diário (10 de junho de 1967): "Taxman, dos Beatles, está passando pela minha cabeça. Eles são bons. Boa batida. Independência, sagacidade, insight, voz, originalidade. Eles têm prazer em ser os Beatles, e eu não me ressinto do fato de que sejam multimilionários, porque isso faz parte. Eles têm de brigar mesmo com esse sorrateiro homem dos impostos".
A participação e a colaboração de Paul foram providenciais e imprescindíveis. Ele dá uma verdadeira aula de baixo, além de fazer os solos de guitarra. Participaram da gravação: George Harrison - vocal principal e guitarra; John Lennon - backing e guItarra; Paul McCartneybacking, baixo e guitarra solo; Ringo Starr – bateria e tamborins. George Martin foi o produtor e Geoff Emerick o engenheiro de som. E é exatamente um trecho do livro dele "Minha Vida Gravando os Beatles", que a gente confere agora, sempre com a absoluta exclusividade do nosso blog preferido.
Notei um amadurecimento bem definido em George Harrison durante o decorrer das sessões de Revolver. Até aquele momento ele havia desempenhado um papel totalmente subordinado na banda - afinal, eram as canções de Lennon e McCartney que sempre se tornavam hits. Mas ele acabou gravando três canções originais nesse álbum — não sei ao certo por que lhe foi dado tanto espaço, mas é possível que ele tenha pressionado Brian Epstein para que ele, por sua vez, pressionasse George Martin. Todas essas discussões aconteciam reservadamente, fora do estúdio, mas havia definitivamente aspectos econômicos envolvidos, porque o dinheiro dos direitos autorais estava diretamente ligado à quantidade de músicas que o autor tinha em cada álbum. Paul e John não debochavam das habilidades de George como compositor ou das suas explorações com a música oriental — pelo menos, não em minha presença —, mas George Martin sempre me pareceu um pouco preocupado com a qualidade das composições de Harrison e a quantidade de tempo que se gastava nelas, o que tendia a tomar Har­rison um pouco inseguro. Olhando em retrospecto, George Martin lamentou em algumas de suas entrevistas sobre a pouca atenção que, por vezes, Harrison recebia, embora isso de certa forma fosse compreensível, considerando as feno­menais habilidades de composição de Lennon e McCartney. Não é de sé admi­rar que George tenha sido ofuscado muitas vezes. Eu achei que a canção mais forte de George em Revolver era “Taxman”, e George Martin deve ter concordado, uma vez que ele decidiu colocá-la em primeiro lugar no álbum—a posição mais importante, geralmente reservada para a melhor música, já que a ideia é tentar conquistar o ouvinte imediatamente. Harrison não gostava de pagar impostos, e a Receita Federal tinha ido atrás dele uma ou duas vezes, então ele escreveu uma canção sobre isso, com uma letra muito inteligente (My advice to those who die / Declare the pennies on your eyes [Meu conselho para aqueles que morrem / Declarem as moedas em seus olhos]). Hou­ve um pouco de tensão naquela sessão, entretanto, porque George teve muita dificuldade em fazer o solo — na verdade, ele não conseguiu fazer um bom tra­balho nem quando diminuímos a fita até à metade da velocidade. Depois de algumas horas vendo-o se esforçar, tanto Paul quanto George Martin começaram a ficar bastante frustrados— aquela era, afinal, uma canção de Harrison, e portanto ninguém estava preparado para gastar muito tempo naquilo. Então George Martin entrou no estúdio e, o mais diplomaticamente possível, anunciou que queria que Paul tentasse fazer o solo. Eu pude ver pelo olhar de Harrison que ele não havia gostado da ideia nem um pouco, mas ele concordou com relutância e, em seguida, tratou de desaparecer por um par de horas. Às vezes ele fazia isso - curtia sozinho o seu mau humor, e então vol­tava. Quaisquer conversas particulares que ele tivesse com John ou Paul em seu retorno ocorriam no corredor, onde nenhum de nós podia ouvir. Às vezes Ringo fazia parte da conferência, mas geralmente ele ficava no estúdio com Neil e Mal até que a tempestade tivesse passado. O solo de Paul ficou impressionante em sua ferocidade, sua forma de tocar guitarra tinha um fogo e uma energia que seu colega de banda mais jovem raramente conseguia ter, e foi alcançado em apenas um ou dois takes. Na verdade ficou tão bom que George Martin me pediu para colocá-lo de novo no fade-out da canção.

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