sexta-feira, 24 de agosto de 2018

SÁBADO SOM ESPECIAL - JOHN LENNON - ROCK 'N' ROLL*****

Como não poderia faltar nesta data, aqui a gente tem o privilégio de conferir mais uma vez, uma das pérolas do nosso saudoso amigo João Carlos Mendonça em sua coluna Sábado Som de 18 de fevereiro de 2014. Supimpa! Saudade.
Este é um álbum atípico de John Lennon, especialmente pela época em que foi lançado. Do ponto de vista pessoal, ele estava separado de Yoko, residindo em L.A. junto com Harry Nilsson, Keith Moon, Ringo, May Pang e quem chegasse por lá, enquanto brigava com a imigração para permanecer nos EUA. Musicalmente, ele tinha perdido um pouco o prumo, envolvido em projetos vanguardistas com a “japa” e certamente, o fim-de-semana de 18 meses o fez livre para voar artisticamente sem pressões estéticas, o que rendeu 2 discos “irresistíveis”: WALLS AND BRIDGES e ROCK ‘n’ ROLL. Embora lançado depois, este último trabalho foi gravado parte antes e parte após o “Walls And Bridges”. Gravar canções dos primórdios do rock não era nenhuma novidade, mas produzir um álbum inteiro só com aqueles “covers” só poderia sair da então arejada cabeça de Lennon. Era um risco porque a grande maioria dos fãs dele, formada por universitários e ripongas-cabeças , desconhecia aquele repertório com músicas eletrizantes mas com letras ingênuas, em sua maioria. Porém ele estava obstinado. Convidou Phill Spector para produzir e uma penca de músicos de primeira grandeza (entre estes,Jesse Ed Davis, Leon Russell e Jim Gordon). Mas este projeto com “standards” do rock, que ele adorava desde a adolescência, seria bastante conturbado. A primeira fase das gravações se deu em outubro de 1973 e foi bruscamente interrompida pelo seu desentendimento com Spector. Este costumava chegar “chapado” no estúdio e não raro, armado com revolveres ameaçando os presentes, até que por fim, desapareceu com as fitas do disco, não sem antes largar John, amarrado a uma cadeira do Record Plant Studios. Por sua vez, o editor da música You Can’t Catch Me (Chuck Berry), sabendo do projeto, ameaçou-o de um processo por plágio (trecho da letra e melodia de Come Together dos Beatles, tinha sido retirada da música de Berry) caso ele não gravasse alguma canção da editora. Uma vez acordado, John deu ao dito editor uma cópia inacabada do LP cujas vendas por correspondência ficariam ao seu encargo, mas só quando estivesse pronto. Acontece que a tal editora, imediatamente anunciou na TV e iniciou as vendas do disco com uma capa tosca que exibia uma foto de Lennon do Álbum Branco e com o título de Roots (raízes). Além de processá-lo, aborrecido, a idéia foi engavetada e John trabalhou e lançou o disco WALLS AND BRIDGES, que, aliás, trata-se de um discaço, com músicos da melhor safra de então e um Lennon inspiradíssimo. E fez um baita sucesso. De um projeto descartado, Rock “n” Roll voltou à idéia de John que, retomou as gravações em dezembro de 1974. Durante 5 dias o disco foi finalizado e Lennon assumiu a produção. Um equívoco porque, apesar de o sucesso estrondoso do álbum (chegou ao topo no mundo inteiro), este tinha um som fraco, sem graves e soava embolado. A gente ouvia o disco atentamente e percebia arranjos maravilhosos, interpretações certeiras, mas tremendamente mal distribuídos e...aquele som de rádio-de-pilhas. Foram gravadas quase o dobro das canções lançadas para que se chegasse à uma coleção de músicas coerentes, na dose certa. Os arranjos são empolgantes. Longe de repetir os originais, Lennon registrou os clássicos com levadas de reggae, funk, belas guitarras (o “slide” de Ed Davis soando perfeito) e muito rock, claro. E isso talvez tenha sido o que alavancou o LP na época. Inclusive o single com “STAND BY ME”. Para os fãs mais exigentes, este disco virou uma espécie de frustração. Sabia-se tratar-se de um grande trabalho, mas por que o som era tão fraco ao ponto de evitarmos ouvi-lo? Eu mesmo, sempre ficava acabrunhado a cada audição. Como algo tão bem executado poderia ecoar de forma tão ruim? A resposta veio recentemente. Em 2010, faça-se justiça, graças a Yoko Ono, toda coleção de álbuns e “singles” de John Lennon foi REMASTERIZADA e, salvo grande engano, em Abbey Road. A velha competência estava de volta. Confesso que me comovi re-ouvindo o ROCK ‘n’ ROLL refeito. Um trabalho notável, digno de prêmios. Está tudo ali, mas da forma como o disco sempre mereceu. Tudo elegantemente bem distribuído. Graves, médios e agudos perfeitamente no ponto. Adeus guitarras emboladas e sopros mais ainda. Adeus rádio-de-pilha. Um somzão! Um dos melhores Lennon que já ouvi. A idéia estava preservada, mas com a dignidade recuperada. Alerto aos “puristas” que nada foi adulterado. Não se acrescentou nem foi retirado nenhum som ali registrado. Para um LP que já tinha uma péssima sonoridade em 75, o que se fez foi atualizar e corrigir esta falha, preservando-se o conteúdo. Em “Stand By Me” as guitarras não se atrapalham. “Do You Wanna Dance” com sua levada funk/reggae está perfeita. “Ain’t That A Shame” assim como “Sweet Little Sixteen” são hipnóticas. “Slippin And Slidin” é prá sair pulando.Além da vigorosa balada “Bring It On Home To Me”. Mas curiosamente, a música mais empolgante, com o melhor balanço possível, é exatamente ela, “You Can’t Catch Me” (pois sim, senhor editor!). Mas amigos, não confundam nem comprem “gato por lebre”. Exija o disco REMASTERIZADO 2010. Para mim, o melhor álbum de “covers” do rock/pop já produzido. Um trabalho feito com paixão e convicção. Antológico!

2 comentários:

Fernando de Almeida disse...

O João Carlos sempre foi muito perspicaz e me dobro ao seu julgamento. No entanto, confesso que gostei deste disco desde o começo. Aliás, ele contrapunha ao que me parecia excessivo em "Walls and Bridges" - que também contaminou aquele álbum do Nilsson - me refiro ao excesso de instrumentos, orquestras... aquela coisa do Spector.
"Rock'n'Roll" soa como um disco acústico, onde todos os músicos estão à vontade para tocar como querem, pois todos conheciam demais o repertório.
A minha faixa preferida é a última: "Just Because". Nela John conversa, canta e se despede dos músicos e do público. Tudo muito à vontade.

roque22 disse...

Meu disco preferido de Lennon. Feito para os amantes do Rock'nroll.Sem a presença de Yoko por perto. It's only Rock'n Rol But I Like it.