quarta-feira, 26 de agosto de 2009

BATMAN - A PIADA MORTAL - UM CLÁSSICO

Em A Piada Mortal, Alan Moore (Watchmen, V de Vingança) e Brian Bolland desconstruíram - e, no processo, redefiniram - a relação entre dois dos personagens mais emblemáticos das HQs: Batman, o Cavaleiro das Trevas de Gotham City, e Coringa, o Palhaço Psicótico. Vistos até então como antíteses um do outro, Moore e Bolland estabeleceram um paralelismo inédito entre os dois, visualizando-os não como seres opostos, mas, sim, como o mesmo lado de uma moeda observada de ângulos diferentes, partilhando de um mesmo elemento em comum.
Para Batman - ou melhor, Bruce Wayne - esse “dia ruim” se manifestou na forma do assassinato de seus pais por parte de um assaltante ordinário, quando ainda uma criança; para o Coringa, na forma da morte de sua esposa grávida num acidente industrial, temperado pelo seu próprio fracasso profissional e pessoal.
Como consequência, Bruce optou por seguir o caminho do vigilantismo, adotando o semblante do ser que outrora mais temeu - o morcego - visando perpretar o mesmo medo inefável da infância na pele dos criminosos; o Coringa escolheu abraçar a loucura nua e crua, a negar ruidosamente todas as convenções e normais sociais que costumavam castrá-lo, a afastar-se o tanto quanto possível daquele ser patético e fracassado que costumava ser, tratando o passado como um vespeiro a se evitar.
Tais traumas foram instrumentais para delinear as suas vindouras personalidades de herói e vilão, as quais são, no fundo, meros subterfúgios, portos seguros contra toda a dor, desespero e vazio que os acometem. A diferença primodial entre os dois - e o quê, de certa forma, os define como algozes - é que enquanto o Coringa reconhece o aspecto escapista de sua condição, inclusive se gabando dela, Batman se nega a enxergar o absurdo que representa a idéia de um homem correndo por ai vestido de morcego, escondendo-se por detrás de frágeis racionalizações, procurando imprimir um propósito ao que faz e como faz.
Para o Coringa, as bases que sustentam e guiam a nossa sociedade são frágeis como um castelo de cartas, e que basta um pequeno sopro para fazê-la desmorononar e transformar o mais ordinário dos homens em alguém como ele. Que nossas noções de ordem e sanidade são desprovidas de significado real, meros véus que encobrem a realidade crua da vida. E é a sua tentativa de provar o seu ponto que se trata A Piada Mortal.
A graphic novel tem início com Batman chegando ao Asilo Arkam, intencionando ter uma conversa com o seu arqui-inimigo, uma última tentativa de resolver suas desavenças antes que a guerra travada entre os dois culmine na morte de um deles - ou de ambos. Mas as coisas não se desenrolam muito bem quando o Homem-Morcego percebe que o Coringa na cela não passa de um impostor, o verdadeiro estando lá fora. Não demora muito para vislumbrarmos o Palhaço do Crime em ação, pondo em prática o seu plano - que também envolve o sequestro do maior aliado do Batman, assim como o aleijamento (e, quiçá, estupro) de um outro super-herói, cujas ramificações se vêem até hoje.
Intercalando-se à ação no presente, acompanhamos uma série de flashbacks do Coringa, que evidenciam o homem que existe por trás da máscara, explicando suas ações e esclarecendo a origem de suas deturpadas idéias.
À parte disso, vale ressaltar que essa edição especial foi totalmente recolorizada por Bolland, que nunca se mostrou satisfeito com a colorização original, feita às pressas por John Higgins (que voltaria a trabalhar com Moore pouco tempo depois em Watchmen), encarregado de última hora para a tarefa.
A palheta de cores se tornou mais orgânica e contida, encaixando-se como uma luva no clima da HQ, além de permitir ao ilustrador realizar uma gama de retoques na sua arte, corrigindo traços, enriquecendo expressões e lhe dando liberdade de alterar detalhes aqui e ali.
No Brasil, a HQ foi recentemente relançada pela Panini, numa edição de luxo, espelhando-se na edição americana que comemorou os 20 anos da graphic novel, com capa-dura e papel de alta qualidade, trazendo consigo, além da história homônima propriamente dita, duas extras: Sujeito Inocente, escrita e desenhada por Brian Bolland, que expõe as conspirações de um cidadão médio e seus planos de asssassinar o Batman; e Batman #1, publicada em 1940, que introduz pela primeira vez o personagem do Coringa no imaginário popular.
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4 comentários:

Marco disse...

Sim. sim. Muito boa. Lembro de você mostrando a riqueza de detalhes e expressões dos primeiros quadros, que sem nenhuma palavra contam o princípio da história. As gotas da chuva, o reflexo do farol do batmóvel se aproximando, o olhar de espanto do auxiliar do Gordon, os passos largos do Gordon tentando acompanhar o Wayne. E isso é só o começo. E ainda tem o sarcasmo do Coringa que passa a mão na bunda do morcegão. Ô cara sacana. Será que algum dia o cinema conseguirá reproduzir a história? Acho meio difícil, mas sempre tem um maluco surgindo a cada instante. Pode ser que um deles consiga.
Falou.

Unknown disse...

Não foi. o Coringa passou a mão no Batman em"Asilo Arkham"!

Anônimo disse...

Com licença, os links estão offline... Vc poderia colocar no 4Shared ou Megaupload? Dura mais.

Edu disse...

O LINK JÁ ESTÁ RENOVADO!