quinta-feira, 12 de julho de 2012

O SOM DA REVOLUÇÃO - RODRIGO MERHEB

O jornalista e pesquisador Rodrigo Merheb morou durante muitos anos nos Estados Unidos, onde foi vice-cônsul em Chicago e essa experiência, de certo modo, despertou nele a vontade de mergulhar profundamente na história de seus ídolos e descobrir o que poderia ter feito com que artistas tão libertários e criativos tivessem surgido praticamente ao mesmo tempo e atuado no mesmo curto período de quatro anos. O resultado é o livro “O Som da Revolução – Uma História Cultural do Rock 1965-1969”, recém-lançado pela editora Civilização Brasileira. Rodrigo Merheb fez uma pesquisa extremamente profunda e dedicada, o que se percebe logo no início extremamente envolvente da leitura. O leitor ávido por informação e boas histórias terá bastante o que aprender nas mais de 500 páginas, a respeito de ícones do rock como Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, entre tantos outros. “Meu primeiro estímulo para esta pesquisa foram as possibilidades da narrativa, mais até do que a enorme admiração por vários daqueles artistas. Por mais iconográficos que sejam os protagonistas (e estamos falando de Dylan, Beatles, Hendrix, Jim Morrison, para citar alguns), minha intenção foi tratá-los mais como personagens do que como mitos. O fato de não sentir nenhum tipo de nostalgia pelos anos 1960 foi fundamental inclusive para entender as engrenagens históricas e culturais que sedimentou essa mitologia”, explica o autor, na introdução. Um dos personagens principais da obra é o cantor e compositor norte-americano Bob Dylan, que se tornou um ícone da contestação e do protesto em seu país, mesmo lutando o tempo todo para escapar desse rótulo, muitas vezes decepcionando seus fãs ao não “vestir tal carapuça”, realizando apresentações pouco empolgantes ou simplesmente não aparecendo em festivais como o de Woodstock. No livro, porém, há muitos detalhes curiosos a respeito do artista, como ele ter apresentado os primeiros baseados aos Beatles, o que refletiu, inclusive, na realização do filme “Help!”, dirigido por Richard Lester, em 1965. Rodrigo Merheb garante também que outro subtítulo possível para essa obra é “de Newport a Altamont”. O festival de Newport, realizado em julho de 1965, foi considerado o maior festival de música folk dos Estados Unidos e marcou também o momento em que Bob Dylan trocou o violão pela guitarra elétrica, deixando o público entre incrédulo e deslumbrado, e marcando ali o início de uma revolução cultural, segundo o pesquisador. Já Altamont, realizado no final de 1969, ficou marcado principalmente pela violência praticada pelos motoqueiros Hells Angels. Entre eles, há o “Verão do Amor”, em São Francisco; o festival de Monterrey, onde Jimi Hendrix roubou a cena; as várias canções de protesto contra a Guerra do Vietnã; e o mitológico festival de Woodstock, com as antológicas apresentações de Santana, The Who e The Sly and the Family Stone. Também está ali a relação entre os Beatles e os Beach Boys, principalmente por meio do trabalho, com “Rubber Soul” influenciando “Pet Sounds”, que, por sua vez, inspirou “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”; o aparecimento do LSD, cujo termo remontaria aos escritos do psiquiatra inglês Humphry Osmond. Há também, claro, espaço para os grandes filmes da época, como “Easy Rider”, o documentário “Sympathy for the Devil”, dirigido por Jean-Luc Godard e estrelado pelos Rolling Stones; e até “Os Monkees estão à solta”, baseado na banda criada através de um seriado de televisão norte-americano para competir com os Beatles e que contou com o roteiro “do jovem ator aspirante” Jack Nicholson. A lista de artistas importantes que ocupam cada uma das páginas dessa obra é gigantesca. Dela, fazem parte, entre outros, desde The Who, Velvet Underground, Nico, Andy Warhol, Jeff Beck e Eric Clapton, passando por Grateful Dead, Jefferson Airplane, Traffic, Creedence Clearwater Revival, até chegar ao pré-punk MC5. Afinal, centenas de informações e detalhes curiosos saltam o tempo todo, matando a sede de informação e boa literatura por parte de leitores que gostam realmente de ler e não se rendem a obras rápidas e rasteiras que vêm ocupando as prateleiras de boa parte das livrarias brasileiras. Portanto, só há o que comemorar e agradecer a Rodrigo Merheb por ter realizado “O Som da Revolução” e, diante de algo tão intenso, o leitor certamente ficará com uma sede gigantesca pela vida.

4 comentários:

Unknown disse...

Esses quatro anos foram os anos mais psicodélicos de todas essas bandas e cantores solos e foi em meio de uma turbulência social, era com certeza uma revolução no mundo da musica e consequentemente no modo das pessoas pensarem(?).

João Carlos disse...

Boa pedida o livro.O post está ótimo.O caso desses 4 anos são emblemáticos porque a história estava acontecendo,todas as circunstâncias que favoreceram o aparecimento daqueles artista. Deve ser um livraço.

Edu disse...

Esse livro é uma maravilha. Não vejo a hora de botar as mãos no meu!

Valdir Junior disse...

Outro livro que esta na minha lista !
Esse é essencial !!!