segunda-feira, 2 de julho de 2012

TESOUROS DO FUNDO DO BAÚ - JORNAL DO BRASIL

Esse texto que a gente confere a seguir, foi publicado no Jornal do Brasil, no dia 22 de agosto de 1988. Foi escrito por um tal Thomas J. Meier e publicado originalmente no "The Washington Post".
Ringo Starr nunca lia um contrato antes de assiná-lo. George Harrison preferia conversar sobre música indiana do que sobre o vil metal. John Len-non, convencido de que os Rolling Stones estavam faturando mais, chamou o empresário dos rivais para administrar as finanças dos Beatles — só para vê-lo ser preso, alguns anos depois, por sonegação de impostos. E Paul McCartney, recusando as escolhas dos parceiros, empurrou seu próprio sogro como empresário do grupo.
Enquanto os Beatles estavam ocupados conquistando o mundo musical nos anos 60, eles pouco sabiam de suas finanças. E, durante dois anos, ninguém cuidou delas. A história destas complicações — e as tensões no interior do grupo — está contida no processo aberto pela Apple Records, a empresa do quarteto, contra suas antigas gravadoras, a Capitol e a EMI. Um tribunal de apelação abriu recentemente o caminho para um julgamento, marcado para o início do ano que vem, na Corte Suprema de Nova Iorque.
Os Beatles alegam que a Capitol vendeu secretamente ou desviou para o comércio varejista 19 milhões de discos, entre 1969 e 1979, o que lhes renderia mais de US$ 30 milhões em royalties. A demanda judicial tenta também forçar a Capitol a devolver as matrizes dos discos dos Beatles, uma preciosidade feita ainda mais valiosa pelo emer­ente mercado do compact-disc, que segundo estimativas da Apple, poderia render-lhes mais de US$ 100 milhões em futuras vendas.
A Capitol, filial americana da inglesa EMI, classificou as alegações da Apple de absurdas e disse que grande parte da batalha deve-se apenas a interpretações diversas do contrato dos Beatles. Toda esta polêmica remete à própria essência das relações de negócio entre uma companhia gravadora e seus artistas.
Se for vitorioso, dizem os especialistas, o processo poderia ter um impacto significativo na indústria do disco. E faria as gravadoras mais responsáveis por cada tostão faturado por cada grupo musical. Os artistas frequentemente evitam as disputas judiciais, temendo danos a suas carreiras.
As gravadoras também correm grandes riscos. Mais de 3/4 de todos os álbuns dão prejuízo. Mas quando um disco cai no gosto do público pode ser uma mina de ouro. No ano passado, as vendas de discos de vinil e compact-discs chegaram a US$ 5,6 bilhões nos Estados Unidos e a US$ 16 bilhões em todo o mundo.
Conseguir melhor participação nos royalties pode representar milhões para um conjunto de sucesso. Mas muitos dos grupos campeões de vendas, particularmente os que começaram nos anos 60, em pleno flower power, tiveram que aprender pelo caminho
mais duro. "Era um pântano", lembra Elliot Hoffman, veterano advogado que foi conselheiro da Virgin and Island Records. "Nos velhos tempos, as gravadoras costumavam fazer contratos verbais. Hoje existem artistas cujos contratos estipulam auditorias nas cifras de vendas e nos custos de produção."
A riqueza dos Beatles é notável, se considerarmos seu escasso interesse nas finanças nos anos iniciais. Seu primeiro empresário, Brian Epstein, dava-lhes apenas US$ 80 por semana. "Parece uma piada", comentou George Harrison. "Basicamente, o trato era que receberíamos uns trocados por semana e as despesas correriam por conta dele."
O acordo que Epstein faria com a EMI/Capitol dava grande margem de manobra à gravadora — um ponto melindroso no atual processo. Pelo primeiro contrato, os Beatles tiveram que receber menos de US$ 0,10 por cada álbum vendido com êxitos como Hards day's night e Rubber soul. O tópico mais quente da disputa judicial, no entanto, é a acusação da Apple de que a Capitol mentiu ao dizer que discos do Beatles eram triturados, refundidos e então reprensados como novos discos. Em vez disso, segundo a Apple, eles eram vendidos ou dados a donos de lojas como brindes, para ganhar espaços nas vitrines para outros artistas da Capitol.
Todo esse processo está sendo acompanhado atentamente pelos advogados de todos os artistas de sucesso. Assim como os Beatles ficaram multimilionários à medida em que ficaram mais astutos nas questões financeiras, muitos músicos de hoje cercam-se dos melhores assessores jurídicos e econômicos na hora de assinar cada contrato.
"Nós notamos que os intérpretes e compositores estão se tornando bem mais sofisticados em relação ao lado comercial de suas vidas", diz Robbin Ahrold, executivo da EMI, a maior associação de compositores do mundo. "As pessoas criativas de hoje estão muito mais conscientes em relação à confiabilidade e responsabilidades dos contratos."
Mas mesmo atualmente Ringo Starr diz achar a indústria musical um enorme mistério. "Eu nunca me interessei", garante ele. "Sou um músico. Meu negócio é ir para o estúdio, fazer minha parte. Do resto que os outros cuidem. Até hoje não sei, quando faço um disco, como ele acaba terminando nas prateleiras das lojas."

4 comentários:

Valdir Junior disse...

As coisas mudaram muito dos 60's para cá e acho bem natural o que os Beatles fizeram !!
Agora que as grandes gravadoras sempre embolsaram mais do que deviam isso esta mais do que obvio , visto o pavor delas atualmente com Downloads e internet !!!
Mais uma vez os Beatles inovaram !!!

João Carlos disse...

O que afanaram dos Beatles é uma lenda. Sem contar os impostos.Paul declarou que ganhou mais dinheiro com os Wings do que com os Beatles,considerando o mesmo período de tempo!E eu nem ousaria duvidar.

João Carlos disse...

Eu sou fanzoca dessas materias antigas! Manda mais!

Jeniffer disse...

nossa, imaginem, se eles não fossem roubados como foram, eles teriam o triplo da fortuna. Eles eram muito ingênuos.