quarta-feira, 17 de maio de 2017

JULIAN LENNON E SUA PAIXÃO PELA FOTOGRAFIA


O filho mais velho de John Lennon (1940–1980), Julian Lennon (54), claramente tem os traços do pai, até quando não sorri para fotos. “Eu sorrio com os olhos”, brinca o britânico. Em passagem por SP para uma exposição de suas fotos na Leica Gallery, ele se mostra inteiramente mergulhado em seus cliques, apesar de ter uma carreira musical reconhecida, sendo o mais recente álbum, Everything Changes, lançado no já longínquo 2011. “Admito que o meu real amor atualmente é editar minhas fotografias. Acordo de manhã, coloco música de fundo, pego um café e posso ficar ali por semanas. É meu real prazer”, explica Julian, que, por conta das exposições, nem tem moradia fixa, apesar de já ter vivido em Mônaco e ter um apartamento em Londres que mantém alugado.
Julian é filho de John e Cynthia Powell (1939–2015), primeiro casamento do beatle, que por muito tempo ficou incógnito, para não desiludir as fãs, em pleno início da beatlemania, nos anos 1960. Depois, John casou-se com Yoko Ono (84), mãe de seu irmão, Sean Lennon (41). A relação entre pai e filho experimentou fases de afastamento e depois aproximação, notoriamente explorada pela mídia. Foi inclusive um conselho do pai que o levou a uma segunda paixão, a filantropia. “Em uma ocasião, eu devia ter uns 11 anos, ele me disse que, depois que morresse, se houvesse uma maneira de ele se comunicar comigo para dizer que estava tudo bem, seria através de uma pena branca. Estranho alguém dizer isso, não? Cerca de 20 anos atrás, eu estava na Austrália fazendo um show e no lobby do hotel uma chefe indígena da tribo Maori se aproximou, me deu uma pena e disse: ‘Você tem uma voz. Pode nos ajudar?’. Fiquei arrepiado. Então passei 10 anos fazendo um documentário sobre a tribo, chamado Whaledreamers. E o único jeito, na época, de transferir a renda do filme para a tribo foi através de uma fundação”, diz ele sobre a The White Feather Foundation (Fundação Pena Branca). Ela ajuda projetos ligados à purificação da água, conservação da natureza e preservação de tribos indígenas.
Apesar de ter sido um colecionador de romances famosos na juventude, como com as atrizes Brooke Shields (51), Olivia d’Abo (48) e Valeria Golino (51), Julian agora está solteiro. “Eu estive em uma linda relação por 10 anos com uma mulher com quem eu achei que fosse casar. Isso foi há 10 anos. Mas as coisas simplesmente mudam, tudo muda. Então, em minhas viagens a trabalho, se acontecer, as coisas se encaixarem, ficarei feliz de um dia me casar. E eu continuo querendo ter filhos, para deixar claro”, explica. O relacionamento de uma década foi com a ex-modelo e depois empresária de seus negócios, Lucy Bayliss (42).
"Agradeço por ter encontrado a fotografia. Por trinta anos eu tenho sido crucificado pela indústria musical e por críticos por soar como o meu pai, parecer com meu pai ou com os Beatles. Quando eu achei a fotografia, foi um alívio de muitas formas. Não que eu tenha desistido da música. Estou dando só dando uma pequena parada. E felizmente eu achei isso (a fotografia) como uma maneira de seguir em frente, assim como a Fundação (White Feather). Claro que na primeira exposição teve ansiedade, ataques de pânico, estresse, nervosismo, porque por três dias eu estava tremendo, achando que iam me crucificar de novo. 'Aí está outro cantor que acha que é um fotógrafo, e blá blá blá."

Sobre conhecer outras culturas em tempos de xenofobia
"É muito triste ver isso acontecer. Um exemplo: no dia do meu aniversário (durante a viagem que rendeu as fotos da exposição), estava em um lugar chamado Kuching (na Malásia, que mistura população malaia, chinesa e de outras origens). É um lugar incomum e muito bonito, que parece um pouco com o Caribe e Cuba de 30, 50 anos atrás. É um lugar com muitas religiões e culturas de todo mundo. Fiquei maravilhado, pois foi a primeira vez na minha vida que eu andava na rua e literalmente qualquer pessoa que você olhava sorria na sua direção. É um lugar tão diverso, e eles conseguiam viver em harmonia e respeitar um ao outro. Isso só mostrou que é algo absolutamente possível, mas a ganância humana e a necessidade de poder matam isso. Mas só espero que pessoas como eu continuem tentando fazer a diferença, de um jeito ou de outro. Muita gente me diz para ficar fora disso, mas me desculpe, em um nível humano eu não consigo ficar fora. Se eu puder fazer algo para fazer a diferença, eu vou, e danem-se aqueles que dizem o contrário."


O que aprendeu com as fotos de 'Cycle'
"Com esse projeto, vi que, não importa o que aconteça com as pessoas, elas têm muita força dentro delas para continuar, seguirem em frente. É espantoso que, mesmo quando as pessoas ficam sem nada, conseguem sobreviver e serem felizes. Fico encantado com este sentimento de felicidade e amor, que se opõe ao materialismo. Onde quer que eu esteja, seja nos desertos da Etiópia ou em escolas no Quênia, há sempre um sorriso, algo que nos motiva. Isso faz parte da essência do meu trabalho: entregar algo que ajude, e dar às pessoas que não podem presenciar o que acontece nestes lugares uma ideia da vida de outros povos e outras culturas."
Música x fotografia
"Quando eu estava na estrada como músico, eu costuma fazer turnês mundiais, e a única coisa que eu via eram hoteis, ônibus, palcos... Você nunca via nada além disso. É por isso que isso (fotografia e ativismo) se tornou uma paixão tão grande para mim. Ter começado a fundação White Feather e poder viajar, ajudar pessoas e tentar capturar o momento, me deu a paixão e a vontade de fazer mais, colaborar mais e espalhar essa mensagem."
Apego pela 'pena branca' de John Lennon 
"Ainda tenho essa ligação. No livro infantil ("Touch the earth", lançado recentemente por Julian), o personagem principal é um avião cujas asas são penas brancas. Ter ganhado a pena branca de um indígena, de uma tribo que existe há milhares de anos, depois de o meu pai ter dito que, quando ele morresse, uma maneira de mostrar que todos vamos estar ok seria na forma de uma pena branca... Eu não sou religioso, mas sou certamente espiritual. E isso sem dúvidas foi uma das coisas mais claras que eu já vi mostrando essa conexão, que aparece em todo o meu trabalho."
A exposição de Julian fica em São Paulo até 26 de junho e reúne fotos de uma viagem do cantor por 10 dias pelo Mar da China e países como Vietnã, Malásia e Bali, além da série Rock’n’Roll Suite, com cliques do círculo de seus amigos músicos, como o U2. “Estive em São Paulo em 2011 com o U2, na turnê 360º, fotografando. Não conheci muito da cidade na época, quem sabe agora?”, se pergunta.

Um comentário:

Valdir Junior disse...

Legal que o Julian tenha esse outro lado artístico, mas preferia ver ele fazendo mais musicas e uma carreira musical mais ativa.