segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ARQUIVOS DO FUNDO DO BAÚ Nº 14

Recordar é viver! Essa, foi simplesmente sensacional! Foi publicada na "Ilustrada" da Folha de São Paulo no dia 6 de novembro de 1985, uma quarta-feira. Lembro como se tivesse sido ontém. Deu um bafafá danado! Os fofoqueiros de plantão, na época, disseram até que dias depois das "declarações" de McCartney, ele e Julian Lennon estavam numa mesma festa e que Julian tentou agredi-lo. Foi impedido pelos seguranças, claro. Espero que gostem! Abração!

Paul chama Jonh de “porco manipulador”
Das Agências Internacionais

O ex-beatle Paul McCartney, 43, declarou, em Londres, à revista feminina “Woman”, que seu ex-companheiro de conjunto e parceiro na grande maioria das canções dos Beatles, John Lennon, assassinado, aos 40 anos, no dia 8 de dezembro de 1980 por um fanático, era “um porco manipulador”. Segundo McCartney, Lennon “não foi nenhuma espécie de santo, ele era na verdade um depreciador”.
McCartney disse também que o ex-amigo se havia tornado ciumento e o aconselhara certa vez a não dar em cima de sua mulher, Yoko Ono, 52. Esta, ao inteirar-se, em Nova York, do teor da entrevista, declarou-se “atordoada” e acrescentou que reservaria seus comentários para quando tivesse lido o artigo.
Luther Lennon
”Era um porco manipulador, o quee ninguém jamais imaginou. Agora, depois de morto, tornou-se Martin Luther Lennon”, disse McCartney, aludindo ao líder negro norte-americano Martin Luther King, assassinado em 1968 por um racista. “John sempre foi apresentado como o bom moço dos Beatles, e eu como o bastardo que destruiu o conjunto. As coisas não se passaram assim. Ninguém nunca se deu conta do hipócrita que foi Lennon. Fiquei sabendo que ele declarou ter participado da composição da música “Eleanor Rigby” (um dos seus sucessos do grupo). Sim, em mais ou menos meio verso”, disse o ex-beatle na entrevista.
Paul McCartney sempre negou ter sido o responsável pela separação do conjunto em 1970. Quanto às declarações que deu ontem a revista "Woman", ele mesmo as justificou na entrevista, alegando que não podia esconder a raiva que sentia por tudo que Lennon disse sobre ele.
"Muzak"
"Ninguém se lembra de quanto John me magoou ao dizer que minha música era "muzak" (música ambiental de elevadores, escritórios e lugares públicos), disse McCartney, referindo-se à música que John Lennon lhe dedicou em seu LP solo "Imagine", "How do You Sleep at Night?". Ali ele afirma que o som de McCartney é "muzak" para os seus ouvidos, além de dizer que a única coisa que o ex-parceiro fez foi "yesterday" (brincadeira com o duplo sentido da palavra, que em inglês quer dizer ontem e que é também o título de outro sucesso do grupo).
John Winston Lennon e James Paul McCartney conheceram-se em Liverpool no dia 15 de janeiro de 1956 e o primeiro, então com 15 anos, convidou o outro, com 13, a tocar em seu conjunto, o Quarry Men. O guitarrista George Harrinson e um baterista, Pete Best, se juntarão a eles dois anos depois. O conjunto mudará o nome para Moondogs e, em seguida, Silver Beatles. Em 1962, sai o Pete Best e entra Ringo Starr (pseudônimo de Richard Starkey). Já com o nome de Beatles gravam neste mesmo ano seu primeiro compacto simples. Eles tornaram-se o grupo de rock mais famoso de todos os tempos, com composições como "Michelle", "Help", "Yesterday" e outras, e a dissolução do grupo até hoje não foi claramente explicada. Depois da separação, John continuou sua carreira com a mulher Yoko Ono; e Paul com a mulher Linda Eastman, formou a banda Wings, que o acompanha em seus discos.

A perfeição conflitiva
André Singer
Analista político da Folha

Paul McCartney resolveu falar. Depois de anos de silêncio, o beatle bem comportado decidiu expor as mágoas acumuladas ao longo de duas décadas de competição com o amigo e parceiro John Lennon. Provavelmente McCartney está certo quando menciona a paranóia, as tentativas de ofuscamento e irascibilidade de Lennon. Lennon se considerava o líder dos Beatles. Em geral, grupos têm líderes. Único problema: McCartney também se sentia predestinado à liderança e ao brilho normalmente reservado a apenas uma figura de cada grupo de rock.
Foi o encontro conflitivo de Lennon e McCartney que produziu uma obra artística forte e duradoura, apesar de pop e consumível, e em parte por isso mesmo. Todas as caractrerísticas de Lennon pertencem também a McCartney: egocentrismo, competitividade acentuada, autoritarismo, impaciência com os companheiros de trabalho etc. Mas nada disso teria maior significado se os dois não fossem possuidores de sensibilidades e talentos complementares.
Lennon agressivo, desmistificador, irônico e amargo. McCartney romântico, lírico, doce superficial. Sozinhos fizeram essas coisas boas. Juntos, excepcionais! A maioria das composições foi individual, mas o arranjo, a execução, a soma final dos estilos nas faixas intercaladas dos discos, os pequenos e grandes toques sugeridos em cada canção fizeram os Beatles.
Os Beatles trafegaram por todas as águas e sua força foi fazer a paródia de todos os estilos. Para isso, Lennon e McCartney precisavam ser o par de oposições que foram. Conflitos e mágoas foram o produto guardado até agora nos bastidores por McCartney, mas já tinham sido expostos por Lennon em diversas entrevistas e canções. São importantes para a história deles. Para nós, “gossip”.

O pólo masculino e feminino
Martinas Suzuki Jr.
Editor da Ilustrada

Assim como na tragédia grega Apolo e Dionísio eram princípios que se opunham mas que se completavam, e só nesta tensão realizava à integra da Arte, os garotos John e Paul formaram o arco teso de arquétipos longamente sedimentados na imagem da criação artística. John Lennon: o dono do verbo, o guerreiro, o herói, portanto princípio masculino: Paul McCartney: a música, o timbre agudo, a formalidade delicada, portanto o princípio feminino.
Ulisses e Sereia, ânimo e anima: o destino trágico de John foi o corolário da condição mítica do homem épico; o destino de burguês bem-sucedido de Paul é harmônico com a ociosidade do mundo que vive em função das musas. John reclamava de seu parceiro, na perspectiva máscula do discurso da transformação; Paul, agora solta o verbo feminino como uma comadre ressentida. O casal rompeu-se para sempre e nós, que já vivemos uma década mais inocente do rock “n” roll, ficamos sem entender direito a estranha separação destes amantes que, pensávamos, eram os aliciadores das paixões, os que nos ensinaram o fragmento amoroso de pegar na mão e a coragem de dizer sim, sim, sim.

3 comentários:

Roger_Cash disse...

Prezado amigo,
Parabéns pelo Blog! Eu estou sempre de passagem por aqui, mas essa matéria do Paul "descendo do muro" não podia ficar sem meus cumprimentos ao senhor. A matéria é fantástica, mas muito mais incrível é o seu acervo e apreço por esse grupo incomparável na história do Universo. Obrigado por compartilhá-los conosco!
Um abraço, e feliz ano novo!

João Carlos disse...

George também falou algo assim num vídeo que rola na Net.Mas como tantas outras a Folha foi canalha ao retirar o "contexto" real.Li essa entrevista e Paul apenas fala que John era um cara comum não um santo.Hora era doce hora amargo.Ou seja ea de humor variável e que tinha -o chamado "na cara" de porco manipulador ainda nos Beatles numa discussão.Julian até hoje adora Paul.
PS: Mais uma fantástica do EDU.

Unknown disse...

Amigos sempre tem problemas e a ruptura não foi fácil e deixou marcas pra sempre