sábado, 15 de outubro de 2016

PAOLO HEWITT - OS BEATLES VIRAM DESENHO ANIMADO

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O que a gente confere agora é o capítulo do livro "Os Beatles Viram Desenho Animado - Yellow Submarine" de Paolo Hewitt (50 Momentos Marcantes dos Beatles) que já andou outras vezes por aqui. Vamos lá? Embarcar rumo à Pepperland para salvá-la dos azuis-maus?
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As pessoas continuavam a amar os Beatles. A imprensa podia ter se voltado contra eles, a polícia podia ter começado a rondá-los, sentindo o cheiro de maconha que parecia acompanhá-los aonde quer que fossem, mas as pessoas ainda os amavam. Em cenas que lembravam a beatlemania, milhares se reuniram no cinema London Pavillion, em julho, para saudar o grupo na estreia da animação Yellow Submarine.
O motivo desse amor? Simples — por causa da música. A música dos Beatles avançava em meio a tudo. Quer a banda usasse cabe­los curtos ou longos, fumasse baseados ou cigarros, saísse com modelos ou artistas de vanguarda do outro lado do mundo, não im­portava. Os discos eram sempre especiais e tinham um espírito mágico e nobre por trás deles. Os Beatles ainda eram vistos por mui­tos como “um de nós”, e por causa desse sen­timento o amor do povo foi concedido a eles. Yellow Submarine contribuiu de forma inesperada para o encanto da banda. E eles tiveram sorte nisso. Verdade seja dita, os qua­tro tinham tanto interesse pelo filme quan­to pelo resultado de partidas de futebol. Em outras palavras, pouquíssimo. Até o fim do ano, essa postura mudaria.
Epstein, embora falecido havia um ano, estivera envolvido nas primeiras etapas do projeto. Em 1964, o húngaro-americano Al Brodax entrou em contato com Brian por­que tivera uma ideia. Brodax tocava o King Features, estúdio de desenhos animados. Será que o empresário estaria interessado em produzir um desenho dos Beatles? Epstein e os rapazes concordaram. Eles logo bateram o martelo, e em 1965 a rede de televisão norte-americana ABC começou a transmitir a sé­rie animada The Beatles Cartoon. 
Artisticamente, era um desastre. Com visual barato, destituído de qualquer boa trama e com um elenco de dubladores cuja ideia de sotaque dos Beatles era falar com a própria voz, a série teve enorme popularidade nos Estados Unidos. Mas isso não era sur­presa: o nome da banda estava nela. Como não venderia? 
No contrato da série, ficou acertado que, se ela fosse bem-sucedida, Brodax poderia começar a trabalhar num longa-metragem animado dos Beatles, o qual também deve­ria conter material novo da banda. Brodax então acionou essa parte do contrato, e em 1967 teve início a produção. O diretor esco­lhido foi o canadense George Dunning. Ele passou a trabalhar num roteiro inspirado na canção “Yellow Submarine”, lançada pelo grupo em 1966, composta por Paul e canta­da por Ringo. 
A música nasceu para McCartney, con­forme ele descreveu ao biógrafo Barry Miles, como a “hora do crepúsculo”, aquele espaço entre a vigília e o sono. Depois de termina­da a canção, Ringo se tornou o candidato ób­vio para cantá-la. A voz lúgubre se adequava perfeitamente à letra — além disso, havia a tradição de dar uma música para o bateris­ta cantar. Com isso em mente, McCartney trabalhou para que ela fosse apropriada ao alcance vocal de Ringo. Lennon ajudou com a letra, daí — nas palavras de McCartney — ela ter se tornado mais e mais obscura em seu transcorrer. 
O roteiro do filme teve muitos redatores envolvidos, incluindo Erich Segai, autor de Love Story: uma história de amor (1970), um dos livros e filmes mais bem-sucedidos da década de 70. As instruções eram simples. De acor­do com o colega roteirista Lee Minoff, "a me­ta era nada mais, nada menos que levar a animação a ultrapassar tudo já visto em es­tilo, classe e tom, mas evitando o preciosismo e a pretensão”. 
Duzentos animadores foram escalados no mundo inteiro para encarar o desafio, sob a direçaõ de arte de Heinz Edelmann, compondo a história dos Beatles contra os malignos Blue Meanies, que buscavam inva­dir a feliz região de Pepperland. Curiosamen­te, a banda foi retratada com trajes ao estilo eduardiano, de bigode, gravata e casaco lis­trado. 
No começo, os Beatles foram firmemen­te contra o filme. Todos eles detestaram a sé­rie norte-americana — exceto pelos cheques recebidos por conta dela —, e estavam con­vencidos de que um filme infantil arruinaria seriamente sua credibilidade como “contra- culturalistas” antenados. Dunning, no entan­to, provou estar por dentro das coisas. Ele in­centivou os vários animadores do filme a utilizarem técnicas modernas e criarem vi­suais impressionantes englobando estilos de Bridget Riley a Andy Warhol, de Peter Blake a Richard Hamilton. Embora McCartney preferisse a adoção de um estilo à Wal Disney, logo ficou claro que Dunning estava tentando corresponder as ambições musicais do grupo e criar arte de natureza duradoura. 
No entender da maioria das pessoas, ele fez justamente isso. As cores, o estilo a as mudanças criativas de cenas permitiram a Yellow Sulmarine trabalhar em outros níveis, estra­tégia artística sempre aprovada pela banda. Yellow Sulmarine pode ser visto como um filme infantil refinado, um conto da fadas clássico no qual o bam triunfa sobre o mal. Todavia, ele também funcionou como um conto sobre os libertadores (o exército underground representado pelos Beatles) vencendo as for­ças sisudas do sistema. O visual incrível a o humor simpático o tornavam perfeito para as crianças e também para os maconheiros interessados am “fazer a cabeça” e deslizar rumo a Pepperland. 
Como prometido, o grupo fez uma pon­ta no final, brincando bastante, parecendo a gangue de sempre, com camisas combinan­do a sorrisos compartilhados. Eles também doaram quatro canções para o projeto, duas das quais, “Hey Bulldog” e “it's All Too Much”, eram belas criações. 
O filme levou a banda a criar vários pro­dutos com a marca do Yellow Submarine, tais como despertadores, miniaturas e brinquedos. Então, am janeiro de 1969, o álbum Yellow Sulmarine foi lançado, trazendo as quatro novas canções, mais “All You Need is Love” e o tema “Yellow Submarine”, além de sete faixas instrumentais compostas e executa­das pela George Martin Orchestra. Apesar da escassez de material novo dos Beatles, o LP entrou direto entre os dez mais. 
No ano em que a banda tentou lançar o sonho impossível da Apple e descambou num bate-boca pesado durante The White Ál­bum (Álbum Branco), o projeto Yellow Submarine, tão desdenhado por eles, tornou-se o grande destaque.

3 comentários:

João Carlos disse...

Fantástico! Bom demais!

Marcelennon disse...

Inesquecível!

Valdir Junior disse...

Clássico dos clássicos.
O Post está demais.