segunda-feira, 20 de março de 2017

SÁBADO SOM - COVERS DOS BEATLES

Quem nunca leu a coluna SÁBADO SOM publicada semanalmente no Facebook pelo nosso amigo João Carlos Mendonça, não sabe o que está perdendo. A cada semana, um grande artista mostra sua cara, sempre com um texto primoroso e bem amarrado, como fazem os grandes mestres. O Baú do Edu já teve o privilégio de publicar algumas, das centenas de crônicas sonoras editadas pelo nosso amigo. Hoje, especialmente em homenagem ao seu aniversário, somos brindados mais uma vez com um texto espetacular sobre algumas covers das imortais criações dos Beatles. Parabéns JC, Continue rolando e nos presenteando com seus belos textos. Obrigado e aquele abração!
Confesso que sou (quase) radical: no caso em pauta prefiro sempre as versões originais. Como a maioria, também sou fã dos “medalhões”, contudo e sinceramente, não gostei do que alguns fizeram com os Beatles. SINATRA e ELVIS com “Something”, RAY CHARLES com “Yesterday” e “Eleanor Rigby”, STEVIE WONDER com “We Can Work It Out”... Se não cometeram nada desastroso, também não acrescentaram coisa nenhuma, ou pior, jogaram a beleza das canções para o fundo e colocaram suas vozes lá em cima, “figuras” sobressaindo nas telas. Jamais gostei disso.
Verdade que muita “gente grande” fez bonito, entretanto, estrelas menos reluzentes oriundas de variados estilos, capricharam para surpreendentemente acertarem no alvo. No conforto de seus feitios, reforçaram os conteúdos.
Embora a tenham registrado antes dos Fab Four, os ROLLING STONES deram garra, atitude e a dose de cinismo necessária à musiquinha “I Wanna Be Your Man”, onde a voz de Ringo soa apenas correta. No medley “Golden Slumbers/Carry That Way/The End”, PHIL COLLINS não arrisca muito, vai de feijão com arroz e, ficou bom pra danado! “Lucy In The Sky With Diamonds” tem harmonias crescentes guiadas por lindos arpejos (guitarra e/ou teclados? Mistério bíblico) que, ao saber que seria regravada pensei: desta vez ELTON JOHN, o Capitão Fantástico, vai ser rebaixado a Recruta Zero! Errei sim. Elton alagou. MICHAEL JACKSON fez um clipe tão histérico que obnubilou sua versão mais guitarrada, acelerada e empolgante da originalmente “cool” e cadenciada “Come Together”. Experimente ouvir apenas o áudio em um equipamento respeitável. Exatamente o contrário foi o que fez a BILL WYMAN’S RHYTHM KINGS, que imprimiu um andamento mais “bluesy” à eletrizante “Taxman”. Saldou o imposto.
Três “guitar heroes” da maior importância também passearam por Liverpool: o jazzman genial JOHN PIZZARELLI transmudou “Here Comes The Sun” em uma bossa-nova, mas juro que a emoção ocupa o lugar daquele academicismo pretensioso, típico de certos brasileiros. Por outro lado, com a voz bruxuleante de INDIA ARE, o garoto SANTANA vai de violões espanholados e guitarra correta, derramar-se sobre a beleza de “While My Guitar Gently Wips”, longe do convencional. JEFF BECK, exuberante como sempre, revira e reler em versão instrumental “She’s A Woman” tão inusitadamente que bem mereceria ganhar parceria. 
A execução da bateria de “GET BACK” por Ringo é tão sutil e eficaz que, a maioria de seus colegas de tambores não consegue reproduzir. Só por não parecer equivocadamente “marcial”, como de costume, a interpretação de STEVE WARINER para aquele rock, é a mais correta que já ouvi. Além da bateria, as guitarras e o piano são contagiantes. Para uma banda notadamente “funk”, o arranjo com ingrediente jazzísticos da EARTH, WIND & FIRE para “GOT TO GET YOU INTO MY LIFE” ficou surpreendentemente eficiente e bonito. Absurdo!
Esqueça aquela mesmice careta e aquelas dancinhas bregas de salão características da música country gringa. Pense em belos violões, em uma harmônica deliciosa e na linda voz de EMMYLOU HARRIS, sem trêmulos e engasgos, versejando sobriamente “Here, There And Everywhere". Tão comovente quanto, é o violão aço no estilo “fingerpicking (deslizante) e o banjo de TONY FURTADO solando até a metade da toada quando a voz suave de ALLISON KRAUS assume os versos de “I Will”, que cresceu mais ainda sob a perspectiva desses dois artistas. A regravação de “Two Of Us” para o filme I AM SAM (Sean Penn) pela dupla AIMEE MANN e MICHAEL PENN, justamente por não se afastar da levada original ficou tão deliciosa quanto a reinterpretação de “I’ll Follow The Sun” pelo “cowboy” DAVID BALL. Padronizado sim, mas funcionou!
O clássico violino da jovem singapuriana VANESSA MAE segue traçando uma melancólica melodia sobre as vozes rigorosas do coral e da orquestra lideradas pelo saudoso maestro/produtor George Martin, apenas para confirmar que “Because” foi mesmo escrita por extraterrestres. Ah... foi sim!

Um comentário:

João Carlos disse...

Obrigado, Edu. Pelo presente. Publicar meus garranchos neste espaço sempre me honra.