sexta-feira, 25 de agosto de 2017

THE BEATLES - O PREFÁCIL - By LEONARD BERNSTEIN


Se vivo estivesse, o maestro Leonard Bernstein estaria completando 99 anos hoje. Ele nasceu em Lawrence, Massachusetts no dia 25 de agosto de 1918 e morreu em Nova Iorque em 14 de outubro de 1990. Foi um dos grandes compositores, e pianistas americanos. Vencedor de vários Emmys, Bernstein foi o primeiro compositor nascido nos Estados Unidos no século XX a receber reconhecimento mundial, ficando famoso pela direção da Filarmônica de Nova York, pelos célebres concertos para jovens na televisão (Young People's Concerts), entre 1954 e 1989, e por suas composições, como West Side Story, Candide, e On the Town. Leonard Bernstein foi uma das figuras mais influentes na história da música clássica americana, patrocinou obras de novos compositores e e foi inspirador das carreiras de toda uma geração de novos músicos. Em 1979, um ano antes do assassinato de John Lennon, que era praticamente, seu vizinho, Leonard Bernstein foi convidado para escrever o prefácio do livro “THE BEATLES” de Geoffrey Stokes, lançado aqui no Brasil em 1982. Nessa época, eram raríssimas as publicações desse tipo em português e eu tratei logo de comprar o meu, que ainda tenho até hoje. Em homenagem a Bernstein, a gente confere aqui o prefácio do livrão.
Certa vez, há mais ou menos um ano (ou terá sido há quatro anos? será que não foi no mês passado? o pessoal da Rolling Stone me pediu para escrever um texto introdutório de umas 5.000 palavras para uma obra definitiva sobre “The Beatles”. Topei na hora; mas isso foi na hora, e agora eis-me aqui arranjando algumas palavras para fazerem o papel, aliás de forma inadequada, do tal texto introdutório. Me apaixonei pela música dos Beatles (e, ao mesmo tempo, por aquelas quatro caras cum persone) junto com meus filhos, duas meninas e um garoto, ao descobrir aquele falsete fabuloso gritado-sussurrado, aquela batida irresistível, a entonação perfeita, as letras completamente novas, a torrente schubertiana de invenção musical e a nonchalance tipo Danem-Se esses Quatro Cavalheiros do Nosso Apocalipse. Jamie tinha doze anos, Alexander, nove, e Nina, dois. Juntos, nós vimos A Visão, em nossas formas inevitavelmente distintas (eu tinha 46 anos!), mas vimos a mesma Visão, e ouvimos o mesmo Pássaro-da-Manhã, Trombeta-do-Elefante. Fanfarra-do-Futuro. Que Futuro? Cá estamos nós. Quinze anos se passaram, aquilo passou. Porém, durante uma década mais ou menos, ou ainda menos, aquilo permaneceu a mesma Visão-Clarim, cada vez mais concludente e irrefutável, mais clara, mais amarga — e melhor.Talvez o mais claro, mais amargo (e quem sabe melhor) foi um disco chamado Revolver. Nesse álbum, a melhor coisa, talvez, era uma musiquinha chamada She Said, She Said; pensar nela, lembrar-se dela traz imediatamente à memória toda a beleza daquelas Veias Varicosas Vietnamitas. As notas cicatrizavam, a letra incomodava; ou talvez fosse vice-versa. Mas alguma coisa incomodava, e alguma coisa cicatrizava, ano após ano, Rigby após Rigby, Paperbak após Norwegian, talvez expressa às últimas consequências na verdade vislumbrante e triste de She's leaving home. Enquanto isso, aparecia um volume fino, de pura genialidade verbal de um autor novo, chamado ]ohn Lennon: In His Own Write. Como se isso não bastasse para a lenda, ainda havia as notas (e a voz de sereia-sílfide) de um tal McCartney. Esses dois formavam uma dupla que incorporou uma criatividade quase nunca igualada naquela década feliz. Ringo — um ator-instrumentista adorável. George — um talento místico irrealizado. Porém, John e Paul, São John e São Paul, eram, e fizeram, e aureolaram, beatificaram e eternizaram o conceito que será sempre conhecido, lembrado e profundamente amado como “The Beatles”. E, se os depois foram simplesmente isso, os quatro foram O Todo. Essa interdependência deixava atônito, chapava, às vezes dava pavor; vamos mesmo precisar disso tudo quando tivermos 64 Anos? Bem, hoje estou beirando os 64, e três compassos de A Day In The Life bastam para me sustentar, rejuvenescer, excitar meus sentidos e sensibilidades.Nina, que tinha dois anos em 64, agora tem dezessete; e ainda na semana passada pegamos aquele livro grosso e infeliz de partituras maltiradas dos Beatles para ficar relembrando no piano. Nós choramos, e demos pulos de alegria com as redescobertas (She's a Woman) — só nós dois, durante horas (Ticket to Ride, A Hard Day's Night, I Saw Her Standing There). Isso foi a semana passada. Os Beatles não existem mais. Mas esta semana ainda estou pulando, chorando, recordando uma época boa, uma década de ouro, bons tempos, bons tempos. LEONARD BERNSTEIN - 9 de outubro de 1979.

Um comentário:

Valdir Junior disse...

Li tanto esse prefacio quando ganhei o livro, lá atrás em 1982, que parece que sei ele de cor.