segunda-feira, 18 de março de 2013

MAGICAL MYSTERY TOUR - UM TIRO NO PÉ?

Assistindo o DVD “Magical Mystey Tour” fiquei pensando e me lembrando do quanto a crítica foi terrível, implacável e injusta com os Beatles, e principalmente com Paul McCartney, o maior culpado. Lembrei desse trecho do livro de Peter Ames Carlin, “Paul McCartney – Uma vida”, e a gente confere esse pedaço, onde ele aborda bem a história do “1º grande fracasso dos Fab Four". Vamos conferir?

Ray Connotly começou a telefonar para a casa de Paul no final da manhã do dia 27 de dezembro. Magical Mystery Tour tinha ido ao ar na BBC, na noite anterior, as resenhas estavam nos jornais matinais e o repórter do Evening Post andava atrás de um comentário. Mas o único McCartney acordado na casa era Jim, que tinha vindo de Liverpool para uma visita. Paul estava dormindo, a noite anterior fora agitada. Será que Ray poderia ligar de novo dentro de meia hora? Sim, poderia. Ele ligou três vezes, até que o velho McCartney decidisse que o filho astro do rock precisava acordar para encarar o dia e atender o telefone. "Vou lhe dizer, Ray", Jim falou, como o cavalheiro nortista de sempre. "Deus abençoe os persistentes. Vou acordá-lo." Jim baixou o aparelho e subiu as escadas. Por fim, Paul veio "engatinhando" até o telefone e Connolly lhe disse o que pretendia: as resenhas de Magicai Mystery Tour, ele as tinha visto? O que achou? Paul não tinha notícias daquilo. O pai lhe estendeu o maço de jornais. Connolly podia ouvir o farfalhar das folhas. Daí, silêncio. Depois... "Puta que pariu!" Isso era um modo suave de dizê-lo, tendo em vista o que estava escrito. Eis o que disse o Daily Mail: "Estarrecedor! Besteira! Bobagem! Tolice!" O Daily Express: "Quanto maior a altura, maior o tombo." Embora o Times tenha optado por uma abordagem mais comedida, observando a "anarquia bem-humorada" e a forma "como as realidades são aniquiladas pelos mecanismos cinemáticos", o crítico, Henry Raynor, ainda observou que as tentativas do filme de parecer vanguardista não eram "exatamente novas". Na hora em que o crítico de TV do programa Evening News avaliou as reações daquela tarde, a conclusão pareceu inescapável: "A mágica era praticamente inexistente e o único mistério a desvendar era como a BBC havia comprado aquilo." De fato, o verdadeiro mistério era como o filme doméstico psicodélico dos Beatles, com enredo meramente esboçado, diálogos improvisados e sequências musicais surreais, chegou a ser exibido na TV nacional, no dia seguinte ao Natal (Boxing Day, na Grã-Bretanha, data tradicionalmente dedicada a reuniões familiares aconchegantes e festividades pós-feriado), numa transmissão em preto e branco que transformou seus momentos abstratos coloridos em algo próximo de uma nódoa turva. Sem dúvida, as sequências de sonho - em especial, a parte levemente sádica de John, na qual ele faz o papel de um garçom sinistro que serve uma montanha de espaguete a uma mulher obesa cada vez mais aborrecida - eram misteriosas, e a longa cena que justapunha os quatro magos celestiais (os Beatles, é claro) a uma corrida louca e inexplicável não fazia nenhum sentido. Ainda assim, às vésperas do século XXI, Magical Mystery Tour talvez pareça um pouco menos ridículo. Seu humor surreal antecipou o género de palhaçadas do Circo Voador de Monty Python (embora sem o senso de narrativa apurado do grupo), e suas vinhetas musicais bem encenadas viriam a ser incansavelmente imitadas na MTV, nos anos 1980. Todavia, após quase cinco anos de aclamação ininterrupta da mídia britânica, a bateria de críticas dirigidas a Magical Mystery Tour se assemelhou a uma antevisão. Agora que os Beatles tinham declarado sua independência, agora que não seriam mais os queridinhos de ninguém, não voltariam a ser tratados como um tesouro nacional. Embora para Paul tenha sido um despertar brusco (literalmente, graças ao telefonema de Connolly), ele passou o resto daquele dia tentando aguentar o castigo como homem. "Não temos direito a um fracasso?", ele perguntou numa entrevista. "A lição foi boa para nós, e não estamos amargurados com isso." Mesmo assim, ele botou uma nota defensiva no Times: "Não pensamos em subestimar as pessoas e tentamos fazer algo novo. E melhor ser polêrmico do que chato." Ao aparecer no programa de entrevistas de David Frost, naquela noite, Paul respondeu as perguntas do entrevistador e da audiência. "Não havia propósito nem intuito", ele disse, ao tentar explicar o filme. Quando Frost pediu ao público que informasse se havia gostado do filme, Paul apontou para as esparsas mãos levantadas e falou: "São poucas, sabe. Eu acho que está bem. O próximo vai ser bem melhor." Paul tinha certeza de que haveria outro. "Ele realmente esperava que Magical Mystery Tour lhe abrisse as portas, transformando-o no produtor cinematográfico dos Beatles", afirma Tony Barrow, o assessor de imprensa da NEMS que esteve presente ao encontro em finais de setembro, na casa de Paul, e acompanhou as estratégias dele para filmagem, nos meses seguintes. Presumindo que a banda não voltaria a fazer novos shows, eles precisavam se conectar de outras maneiras com o público. O cinema, como Paul pressentiu, era a resposta óbvia. "Ele queria que eles começassem uma fase inteiramente nova em suas carreiras", continua Barrow. "Mas em seus próprios termos. Ele seria o produtor executivo." O fracasso de Magical Mystery Tour reduziu o fôlego dessa estratégia. Os outros Beatles não se importaram com o malogro crítico do filme - John tirou uma satisfação especial do fato de ter confundido e enfurecido tantas pessoas - e também não fizeram o menor caso de ver a autoestima de Paul se reduzir um pouquinho.

10 comentários:

Anônimo disse...

Edu, blz ?
Tudo que foi dito a respeito de Beatles até hoje, com o objetivo de depreciar ou tornar ridículo, teve o efeito contrário. Quem se tornou ridículo foi quem escreveu ! Algumas músicas e filmes deles eu não gosto, mas admito que em todas suas obras, existe uma arte, e tudo que fizeram vai ser cultuado por muitos e muitos anos, e conquistando cada vez mais admiradores, de todas as idades !
Abraço,
Eduardo Sales

Valdir Junior disse...

Acho que o MMT é um tipico produto de seu tempo ( Psicodelia , Nonsense, Vandeville , Humor Satirico )pode não ter sido compreendido por todos , mas fez o seu papel tanto para os Beatles como para a Cultura Pop.
Hoje em dia cada filminho sem vergonha que sai por aí , com um monte de " críticos cabeças " tecendo elogios sem fim , fazem o MMT ser ( salva as devidas proporções ) um obra prima!!!!
Eu gosto dele é não ó por ser um filme dos Beatles !!!!

Edu disse...

Acho que "se" nossos rapazes ainda estivessem mais unidos e organizados, talvez ainda, sob a tutela de Brian, tudo teria sido diferente. Ou talvez até, nunca tivesse existido! Mas existiu sim! E 46 anos depois, é mais um clássico absluto dos nossos meninos. BEATLES4EVER! BADFINGER BOOGIE! Amo muito tudo isso!!! YEAH!

Edu disse...

Abração, xará anônimo!

Edu disse...

E ponto!!! Babau!

Pedro Renault de Barros Correia disse...

Basta o clip de "I am the walrus" e pronto. Já vale o filme!

João Carlos disse...

Confesso que me decepcionei com o filme.Houve um "que"de pretencioso na atitude "faça você mesmo deles".Como música, foi e é sensacional.Majestoso.E hoje em dia,dá até para apreciar o filme.

Unknown disse...

Edu, acho que quando os Beatles fizeram o mmt,é claro que nao tinham a experiencia necessária para isso,só que a critica acostumada a seus enormes sucessos,nao se importaram com isso,dando -lhes um parecer negativo,mais a verdade é que para nós seus fans isso não importa,gosto muito de todos os seus filmes,independente das críticas,abraços.

Edu disse...

Obrigado pelos comments, pessoal!

henrique disse...

Quando a pessoa está na sintonia do filme, ele é sim um filme legal.