quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

THE BEATLES - A CONQUISTA DA AMÉRICA


Embora os Beatles experimentassem uma popularidade enorme nas paradas britânicas no início de 1963, a gravadora norte-americana Capitol Records, subsidiária da EMI (que o grupo era contratado), se negou a produzir os compactos "Please Please Me" e "From Me to You", primeiro sucesso do grupo que alcançou primeiro lugar no Reino Unido. Se a produção acontecesse de primeiro momento, o grupo inglês arriscaria, na mesma época, sucesso nos EUA. A Vee-Jay Records, uma pequena gravadora de Chicago, lançou esses singles como parte de um negócio para os direitos de outro intérprete. Art Roberts, diretor musical da estação de rádio World's Largest Store (WLS) de Chicago, incluiu "Please Please Me" na rádio em fevereiro de 1963, provavelmente a primeira vez que foi ouvida uma canção dos Beatles no território americano, embora isso seja discutido; os direitos da Vee-Jay sobre os Beatles foram cancelados mais tarde por não pagamento de royaltes.
Em agosto de 1963, a Swan Records lançou "She Loves You", que também não foi executada nas rádios. Em 3 de janeiro de 1964, Jack Paar mostrou em seu programa uma apresentação de "She Loves You" gravada ao vivo na Inglaterra: foi a primeira aparição dos Beatles na televisão americana. Embora tivessem feito sucesso rapidamente na Inglaterra e sido igualmente bem sucedidos em alguns países europeus, os Beatles ainda não tinham conquistado o mercado norte-americano. Pensando em conquistar os Estados Unidos, Brian Epstein, no começo de novembro de 1963, procurou o presidente da gravadora Capitol Records para lançar um single com a canção "I Want To Hold Your Hand", e conseguiu firmar um contrato com um popular apresentador de televisão americano, Ed Sullivan, para que os Beatles fossem até lá se apresentar em seu programa. Antes da Capitol, como já foi citado, algumas gravadoras já haviam lançado discos dos Beatles naquele país, como a Vee-Jay e a Swan, mas nenhum sucesso tinha sido obtido. Embora não houvesse grandes expectativas pela Capitol em relação aos Beatles, a CBS (canal de televisão americano) apresentou um documentário de cinco minutos sobre o fenômeno da Beatlemania na Inglaterra, no programa CBS Evening News. A primeira demonstração desse pequeno documentário seria mostrada de manhã no CBS Morning News em 22 de novembro e uma reprise passaria na tarde do mesmo dia no CBS Evening News, mas a transmissão foi cancelada por conta do assassinato de John F. Kennedy naquele dia.
Diversas estações de rádio nova-iorquinas já começavam a tocar "I Want to Hold Your Hand" na sua programação. A resposta positiva para a gravação que havia começado em Washington duplicou em Nova York e rapidamente se espalhou a outros mercados. A gravação vendeu um milhão de cópias em apenas dez dias, e a revista Cashbox certificou-a como Número 1. Era chegada a hora! O momento dos Beatles irem aos Estados Unidos.
No começo de 1964, a Capitol decidiu fazer valer a pena os direitos que detinha do grupo nos Estados Unidos para coincidir com a primeira excursão da banda à América. Brian Epstein foi um dos grandes responsáveis pela data marcante. Indo a Nova York, elaborou com a Capitol uma mídia enorme: foram colocados seis milhões de cartazes pelas ruas dos EUA com mensagens como "Os Beatles Estão Chegando!"; todos os discotecários das rádios receberam discos dos Beatles; e foram distribuídos um milhão de jornais com quatro páginas contando a trajetória do grupo.

Em 7 de fevereiro de 1964, uma multidão de quatro mil fãs ingleses no Aeroporto Heathrow foi dar 'adeus' para os "garotos de Liverpool", que partiam pela primeira vez rumo aos Estados Unidos como um grupo. Estavam acompanhados por fotógrafos, jornalistas (incluindo Maureen Cleave, que realizou entrevistas com diversas personalidades famosas), e pelo produtor musical Phil Spector, que tinha se registrado no mesmo voo. Quando o voo 101 da PanAm tocou o solo do recém-nomeado Aeroporto JFK em Nova York, às 13h20 da tarde do dia 7 de fevereiro de 1964, uma grande multidão de pessoas se aglomeraram no local. Os Beatles foram saudados por cerca de quatro mil pessoas (estima-se que o aeroporto nunca tenha experimentado tal número). Após uma coletiva de imprensa, os Beatles partiram em limusines para a cidade. No caminho, McCartney ouviu o seguinte comentário corrente numa rádio local: "Eles [The Beatles] acabaram de deixar o aeroporto e estão próximos de Nova Iorque…". Quando chegaram ao Plaza Hotel, foram recepcionados por centenas de fãs – a maioria garotas – e repórteres. Assim que chegaram, Harrison já ficou gripado e teve uma febre de 39 ℃ no dia seguinte, permanecendo em repouso, de modo que Neil Aspinall o substituiu no primeiro ensaio da banda para a apresentação no The Ed Sullivan Show.
Os Beatles fariam sua primeira apresentação ao vivo na televisão americana no programa de Ed Sullivan, em 9 de fevereiro de 1964. Aproximadamente 74 milhões de telespectadores – cerca da metade da população americana – assistiu o grupo tocar no programa.
Essa primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos foi um dos momentos fundamentais da história da banda e, mais amplamente, do rock mundial. A importância dessa visita é analisada por diversos ângulos através de muitos fatores, como, por exemplo, o fato de que, desde a década de 1960, os Estados Unidos já eram o maior mercado consumidor de discos do mundo; para Epstein e para o grupo, seria um prestígio começar a ser conhecido e bem vendido por lá, como era e ainda é natural nos dias de hoje.

A FAMOSA ENTREVISTA NO AEROPORTO
Fotógrafos a postos. Fãs histéricos. Jornalistas à beira de um ataque de nervos. Seguranças perdidos diante de uma multidão ensandecida. Assim foi a primeira entrevista dos Beatles em solo americano. A coletiva de imprensa, realizada numa sala do Aeroporto John Fitzgerald Kennedy, em Nova York, é considerada um marco. Na chegada, John, Paul, George e Ringo foram ciceroneados pelo disc jockey Murray the K. O DJ estreitou laços com o grupo na Europa, alguns meses atrás, quando empresariou bandas que dividiam o palco com os próprios Beatles. Numa mistura de ingenuidade, bom humor e franqueza, os quatro garotos de Liverpool driblaram as mais diversas questões com a sempre afiada ironia inglesa.

O que vocês acham de Beethoven?
Ringo: Muito bom. Especialmente seus poemas (risos).
Murray the K: Tem uma pergunta aqui na frente.
Repórter: (gritando sobre a multidão) Vocês poderiam dizer a Murray the K para parar com essa frescura?
Beatles: (gritando e rindo ao mesmo tempo). Pare com essa frescura, Murray!
Paul: E aí, Murray? (risos)
Repórter: Isto é uma pergunta?
Murray the K: (tentando organizar a bagunça): Vocês ficariam quietos, por favor?!
Repórter: Em Detroit, existem pessoas carregando adesivos nos carros com os dizeres "Mandem os Beatles pra casa".
Paul: É verdade! Nós trouxemos um adesivo "Mande Detroit pra casa" (barulho da plateia na sala cresce).
Repórter: O que vocês têm a dizer sobre a campanha "Mandem os Beatles pra casa"?
John: O que temos a dizer?
Ringo: Qual o tamanho desses adesivos?
Repórter: E os comentários de que vocês não são nada além de uns Elvis do Reino Unido?
John: A pessoa que falou isso deve ser cega.
Ringo: (rebolando como Elvis) Isso não é verdade! Isso não é verdade!
John: (imita Elvis dançando) (riso geral)
Fã que invadiu a coletiva: Vocês cantariam alguma coisa, por favor?
Beatles: Não! (risos)
Ringo: Desculpe.
Murray the K: Próxima questão.
Repórter: Existem dúvidas se vocês são mesmo capazes de cantar.
John: Não, queremos o dinheiro primeiro (risos).
Repórter: Todo esse cabelo ajuda vocês na hora de cantar?
John: Claro que sim. Com certeza.
Repórter: Vocês se sentem como Sansões? Se perderem o cabelo, não conseguirão tocar?
John: Não sei.
Paul: Eu também não sei.
Murray the K: Tem uma questão aqui.
Repórter: Quantos de vocês são carecas? Vocês usam peruca?
Ringo: Todos nós somos.
Paul: Eu sou careca.
Repórter: De verdade?
John: Sim.
Paul: Só prometa que não vai contar a ninguém, por favor.
John: Carecas, surdos e burros também (risos).
Murray the K: Silêncio, por favor.
Repórter: Vocês são de verdade?
Paul: Somos sim.
John: Venha até aqui sentir (risos).
Repórter: Vocês irão cortar o cabelo no período em que passarem aqui?
Beatles: Não!
Ringo: De jeito nenhum!
Paul: Não, obrigado.
George: Eu cortei o meu ontem (risos).
Ringo: É verdade. Ele não está mentindo.
Paul: É a pura verdade.
Repórter: Pensei que o cabelo dele tinha caído.
George: Não perdi cabelo nenhum.
Ringo: Você deveria ter visto ele ontem.
Repórter: O que vocês acham que a música de vocês causa nestas pessoas (se referindo às fãs enlouquecidas no hall do aeroporto)?
Ringo: Eu não sei. Acho que ela as deixa alegres. Bom, deve ser isso mesmo, afinal elas estão comprando nossos discos.
Repórter: Por que elas ficam tão excitadas?
Paul: Não sabemos. De verdade.
John: Se soubéssemos, forjaríamos uma outra banda e seríamos seus empresários (risos).

Esse texto que a gente confere agora, é do livro "O Diário dos Beatles" de Barry Miles.

No dia 7 de fevereiro de 1964, os Beatles partiram no voo 101 da PanAm para Nova York, onde 5 mil fãs os esperavam no aeroporto JFK. A trupe era formada por Paul. Ringo, George, John e Cynthia, Neil Aspinall, Mal Evans, o relações-públicas Brian Sommerville, Brian Epstein, e o produtor musical Phil Spector que, aquela altura não tinha nada ainda com os Beatles. Os rapazes estavam, particularmente, calados. Ringo desabafou com George Harrison: "Eles já têm TUDO o que querem, será que vão NOS querer também?". Dois dias antes, a primeira cópia da versão alemã das canções foi prensada. Não havia motivo para preocupação. Ed Sullivan já recebera 50 mil pedidos de ingressos para seu show, que só tinha 728 lugares disponíveis e vários fãs já os esperavam no aeroporto JFK desde a tarde anterior. O Boeing 707, que trazia os Beatles, aterrissou às 13h20 em um cenário jamais visto: um céu limpo de inverno, 5 mil fãs, na sua maioria colegiais que faltaram à escola, dispostas em quatro fileiras que lotavam o topo do terminal de desembarque, acenavam com faixas e cartazes com os dizeres "WE LOVE YOU BEATLES" e “BEATLES 4 EVER!”. Além das adolescentes histéricas, 200 repórteres e fotógrafos da rádio, da televisão, das revistas e dos jornais os esperavam. Os Beatles, primeiramente, pensaram que o avião do presidente estava prestes a pousar e, de repente, perceberam que na verdade todos esperavam por eles. Durante dias, as estações de rádio vinham incitando as fãs ao frenesi, até que Murray the K, da rádio 1010 WINS, divulgou os supostos detalhes sigilosos da companhia aérea: a hora de chegada e o número do voo. Informações que foram rapidamente transmitidas pelas concorrentes WABC e WMCA. Mais de 100 jornalistas, todos berrando ao mesmo tempo, os esperavam na saída do setor de imigração e os flashes eram tantos que os cegavam, "Então isto é a América... Todos aqui parecem completamente loucos", disse Ringo. - O cenário no Plaza, o mais luxuoso hotel de Nova York, era caótico: um cordão de policiais, junto com 20 guardas da polícia montada, continham centenas de fãs que cantavam continuamente, como uma espécie de mantra: "Nós os amamos Beatles, amamooooos sim! NÓS os amamos Beatles, até fim!".

Durante o ensaio para o show de Ed Sullivan, em Nova York, Neil Aspinall substituiu George, que estava de cama por causa de uma dor de garganta. intercalado com gritos de "WE WANT THE BEATLES!”. Naquela noite, vários convidados visitaram os rapazes na suíte presidencial, incluindo as Ronettes, o DJ Murray the K e a irmã de George, Louise, que morava em Illinois, mas fora até Nova York para vê-lo. Os Beatles deram uma entrevista por telefone a Brian Matthew, da BBC de Londres, que iria ao ar no dia seguinte, no Saturday Club. Em seguida, leram algumas das mensagens de suas fãs: 100 mil cartas os esperavam quando chegaram a Nova York.DO AEROPORTO AO HOTEL PLAZATom Wolfe escreveu sobre a chegada dos Beatles no New York Herald Tribune, em seu estilo característico, atento aos detalhes do evento: "Os Beatles e sua comitiva, deixaram o aeroporto em quatro limusines cadillac, cada uma delas, rumo ao Plaza Hotel, em Manhattan. Logo, um grupo de cinco garotos em um Ford azul-claro pôs-se a segui-los na autoestrada e, conforme ultrapassavam cada um dos Beatles, um dos rapazes, debruçado na janela de trás, acenava com um cobertor vermelho. Em seguida, foi a vez de um conversível branco com a palavra BEETLES escrita na poeira, em ambos os lados do carro. Um carro de polícia, com a sirene tocando e as luzes de alerta ligadas, os seguia, mas os jovens, uma garota na direção e dois rapazes no banco traseiro, acenaram para cada um dos Beatles antes de saírem da estrada, enquanto os policiais gesticulavam. Mas o terceiro carro conseguiu acompanhar a banda por todo o caminho. Uma bela morena, que dizia chamar-se Caroline Reynolds, estudante do Wellesley College, em Connecticut, pagou uma fortuna a um motorista de táxi para seguir os Beatles até o centro da cidade. Ela passou por cada um dos Beatles, com um sorriso maroto, até que alcançou a 'limo' de George Harrison em um semáforo no cruzamento da Third Avenue com a 63rd Street. 'Como se faz para conhecer um Beatle?', perguntou a garota pela janela. 'Você diz 'oi", respondeu Harrison, também, pela janela. 'Oi!', disse ela, 'Oito estudantes de Wellesley estão vindo para cá'. Então, o semáforo abriu e os Beatles foram embora".

3 comentários:

Duda Barbosa disse...

Muito legal!

Joelma disse...

Os Beatles devem ter ficado admirados com tanta aclamação (por ser a primeira vez na América) e ao mesmo tempo temerosos com a segurança.
Aquelas perguntas dos repórteres foram horríveis. Mas, eles tiraram de letra.

Edu disse...

Yeah!