quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

THE BEATLES - TESOUROS DO FUNDO DO BAÚ**********

Entre dezembro de 2011 e julho de 2012 (enquanto eu tive saco!), começou aqui no Baú do Edu, uma incrível sessão adequadamente chamada "ARQUIVOS SECRETOS - TESOUROS DO FUNDO DO BAÚ", onde publiquei algumas das reportagens mais curiosas publicadas em jornais e revistas sobre os Beatles que colecionei ao longo dos anos. Duas delas, são da época em que os primeiros álbuns da maior banda de todos os tempos estavam sendo lançados em Compact Discs. A primeira, foi publicada na finada revista AFINAL de 10 de fevereiro de 1987.
Forever. E sem chiados.
Please Please Me, With the Beatles, A Hard Day's Night, Beatles for Sale: os quatro primeiros álbuns Beatles a laser. Dezessete anos depois da dissolução do conjunto, os Beatles chegam à era do laser. No próprio dia 26 começam a ser distribuídos às lojas americanas os primeiros discos compact discs – o disco digital de reprodução através de raio laser – do grupo, e já quem se tenha decidido a chamar a polícia, para evitar tumulto. Em um prazo de pouquíssimos dias, já haverá cds dos Beatles à venda nas grandes importadoras de São Paulo e Rio de Janeiro. A EMI Music WorldWide, a gravadora dos Beatles, promete lançar, até o final do ano, todo os antigos LPs do conjunto na forma de cd. Os brasileiros felizardos que têm toca-discos a laser, e podem pagar 700 cruzados por CD (como o compact disc é conhecido em todo o mundo), não terão grandes surpresas – a não ser, é claro a felicidade de ouvir para sempre sem qualquer chiado, o som do conjunto de múisca mais famoso da História. Os consumidores americanos, no entanto, vão encontrar nas lojas discos de que jamais ouviram falar. É que a gravadora decidiu lançar os discos a laser dos Beatles seguindo rigorosamente a discografia oficial do conjunto de acordo com os lançamentos originais ingleses. E nos Estados Unidos, os lançamentos, até 1966, foram inteiramente diferentes daqueles do país de origem de John, Paul, Ringo, George. Fazia-se uma imensa salada. Entre 1962 e 1966, os Beatles gravaram 102 músicas, que na Inglaterra apareceram em oito LPs, 12 compactos duplos e 13 simples; nos Estados Unidos, essas 102 músicas viraram 11 LPs, quatro compactos duplos e 20 simples. Só depois de Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band, de 1967, os LPs do conjunto passaram a ser exatamente iguais em todo o mundo. No Brasil, a EMI-Odeon passou, em meados da década de 70, a relançar os LPs seguindo a forma original inglesa. Os discos serão lançados em ordem cronológica. No dia 26 chegam às lojas os CDs dos quatro primeiros álbuns – Please Please Me e With The Beatles (1963), A Hard Day’s Night e Beatles fo Sale (1964). Até o final do ano, deverá ter saído da fábrica aberta há pouco pela EMI em Jacksonville, Illinois, a discografia completa, de 13 álbuns. “No mais tardar no dia 1º de março, já teremos os compacts discs dos Beatles em nossas lojas”, garante orgulhoso, Odair Borges, da rede paulistana Museu do Disco. “Já encomendamos 1.000 cópias de cada”. E revela que seu distribuidor em Miami, decidiu chamar à polícia no dia em que receber a primeira remessa. “Vai ser uma loucura”.•
E esta segunda matéria, foi publicada na revista VEJA em 16 de novembro de 1988 (quase 2 anos depois da matéria da "Afinal").

CAMPEÕES DE VOLTA
Os melhores LPs dos Beatles são lançados em compact disc e ganham as vantagens da tecnologia digitalAlguns dos lançamentos musicais mais quentes deste final de ano não levam a assinatura de astros do momento ou revelações da temporada. Eles trazem a música dos Beatles, os velhos e imbatíveis campeões da música pop que nos anos 60 auxiliaram a mudar o mundo influenciando milhões de pessoas com sua música e seu comportamento. Esta semana, a gravadora EMI/Odeon, que detém os direitos sobre praticamente toda a obra produzida pelo grupo até sua dissolução, em 1970, colocará nas lojas um pacote capaz de deixar em polvorosa os fãs do conjunto e que atende à discoteca de quem quer que goste de boa música. A grande estrela do pacote é o lançamento, em compact discs, ou “CDs”, dos treze melhores ou mais populares LPs gravados pelos Beatles. Dois deles, The Beatles (o "álbum branco") e Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, só chegarão às lojas na semana que vem. Para adaptar as gravações do conjunto, feitas em equipamentos há muito obsoletos, à tecnologia do CD e dos toca-discos com feixes de raio laser em lugar de agulhas, a gravadora foi obrigada a reprocessá-las para o sistema digital, em que se usa a memória de computadores em lugar das fitas convencionais. O processo permite que mesmo gravações feitas em equipamentos muito rudimentares ganhem novo brilho, sonoridade e precisão. Aproveitando a manobra, a gravadora lançará os mesmos treze discos também em fitas de cromo, que têm qualidade de reprodução superior às fitas usadas habitualmente, e substituirá os LPs comuns dos Beatles, que nunca chegaram a sair de catálogo, por LPs feitos a partir das gravações reprocessadas. Assim, mesmo os ouvintes que ainda não ingressaram na era do compact disc poderão a partir desta semana substituir sua coleção de LPs e fitas do conjunto por outra de sonoridade superior.
APOSTA — O destaque do pacote Beatles são os CDs, lançados com uma tiragem astronômica para os padrões brasileiros — 112.000 cópias. De cada CD serão colocadas nas lojas 8.000 unidades, quando as tiragens de CDs nacionais são de no máximo 3.000 cópias. A aposta numa vendagem recorde, apesar de cada CD custar cerca de 11.000 cruzados, baseia-se no estrondoso sucesso que a obra dos Beatles em compact discs teve no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. Nesses três mercados, onde o CD substituiu gradativamente os discos convencionais, foram vendidos 10 milhões de CDs dos Beatles. Na esteira desse êxito, os antigos sucessos do conjunto aportaram nas rádios, fazendo companhia às maiores estrelas do rock dos anos 80. A grande vantagem do encontro entre os Beatles e a tecnologia moderna é que ele permite um exame mais detalhado da obra do conjunto musical mais influente do mundo até hoje. Nessa análise, pode-se separar o que tem inegável qualidade do que envelheceu nos vinte anos que se passaram.

A audição dos treze CDs da coleção permite separar a obra dos Beatles em três momentos distintos. A fase inicial — em que a maior parte das músicas são regravações de sucessos dos primeiros tempos do rock'n'roll —, as trilhas sonoras de filmes e a fase das obras-primas. Embora se note uma progressiva melhora de qualidade no decorrer do trabalho do grupo, é possível se detectar ótimos momentos em cada uma das três fases. Em Please Please Me e With The Beatles ouvem-se versões para sucessos da época — como o clássico Roll Over Beethoven, de Chuck Berry, ou Please Mister Postman, música que se tornou uma espécie de emblema do romantismo adolescente no início dos anos 60 nas vozes das cinco garotas do grupo The Marvelettes.
Em outras regravações de sucessos, como Baby lt's You e Boys, os Beatles incorporam de maneira bem-humorada clichês do rock dos anos 50, como os indefectíveis corinhos com cha-la-las e hey-heys. Essa intenção de paródia está presente até nas primeiras composições de Lennon e McCartney, como P.S. I Love You, em que a batida da música descamba para um ritmo de bolero — algo pouco usual para uma banda de rock. Entre as trilhas sonoras de filmes, duas delas — A Hard Day's Night e Help! — antecipam os melhores momentos do conjunto. Elas representam uma transição entre a fase das regravações e a plenitude criativa da dupla Lennon e McCartney. A Hard Day's Night é o primeiro LP em que todas as músicas são assinadas pelos Beatles. Help!, embora não seja um disco exuberante, traz alguns dos maiores sucessos da
banda, como Yesterday e a faixa-título. Duas outras trilhas sonoras — Yellow Submarine e Let It Be — pertencem a filmes realizados depois da fase das obras-primas e não estão à altura dos discos que as precederam. É como se os Beatles atravessassem um período de transição que não chegou a se concretizar porque o grupo se separou pouco tempo depois.
LONGEVIDADE — É na fase de apogeu da banda — que vai de Rubber Soul ao Álbum Branco — que a tecnologia moderna traz mais luzes ao trabalho dos Beatles. É possível se ouvir, com a sonoridade límpida dos CDs, o maravilhoso arranjo de cordas que emoldura o clássico Eleanor Rigby, faixa do LP Revolver: Como instrumentos e vozes estão gravados em canais diferentes, o ouvinte pode girar o botão do amplificador e se deliciar só com a melodia ou com as sutilezas da instrumentação. O mesmo acontece com a música Yellow Submarine, do mesmo LP, em que os instrumentos de banda se mesclam aos mais inusitados efeitos sonoros para lhe imprimir uma atmosfera marcial.
Nos dois discos fundamentais dos Beatles — Sgt, Peppers Lonely Hearts Club Band e o Álbum Branco — não se aconselha a brincadeira de separar a voz dos instrumentos: o violino que pontua a belíssima She's Leaving Home, por exemplo, não tem sentido longe da voz de Paul McCartney. O acabamento impecável do Álbum Branco inclui vinhetas entre canções memoráveis como a deliciosa Ob-la-di Ob-la-da e a despojada Blackbird.
A conclusão a que o ouvinte chega ao cortejar essas obras-primas com os primeiros sucessos do conjunto é que os Beatles, mesmo experimentando reviravoltas que sempre anteciparam as tendências mais modernas do rock da década — e esta capacidade de antecipação é exatamente o segredo de sua longevidade —, trilharam um caminho admiravelmente coerente. A multiplicidade de ritmos empregada em álbuns como Sgt. Pepper’s só foi possível porque, em seus primeiros discos, os Beatles regravaram amostras de quase todos os gêneros da música pop da época. Mas não é a multiplicidade, e sim a qualidade de sua obra, a razão de “The Beatles” soarem atuais quase vinte anos após sua separação — e resistirem à prova de fogo da tecnologia digital.


Vale muito a pena dar uma olhada nos ARQUIVOS SECRETOS - TESOUROS DO FUNDO DO BAÚ - Só papa-fina!

12 comentários:

Nikolau Nasa disse...

Muito bom! Nota 10. Pena que tenha perdido o saco!

easepol disse...

Cara, como é bom voltar no tempo. Coisas estranhas acontecem o tempo todo. Depois desses anos todos de CD, que nunca me agradou, voltam os LPs, aí sim, coisa boa.Pra mim, os Beatles só funcionam no vinil.

Alexandler disse...

Edu,
Blz?
Tenho vários recortes de jornais, revistas e gostaria de contribuir para o seu blog. Como posso enviar uma amostra pra sua análise. Mas prometa que vai publica-los, rsrs. Abraços

Alexandler Lopes

roque22 disse...

As Músicas dos Beatles são maravilhosas, independente da Mídia. Divina!

Edu disse...

Concordo em gênero, número e grau!

Edu disse...

Caro Alexandler: envie para eduardobadfinger@gmail.com
Se forem legais, publico sim, claro! Valeu!

Jeniffer disse...

Naquela época, cada CD dos Beatles custava Cz$ 1.000,00

Carlos Marangon disse...

Estranho que na reportagem dos CDs não se menciona o álbum Abbey road.justo ele que também faz parte das obras primas

roque22 disse...

Excelente "Os Tesouros do Fundo Do Baú". Bom reler estas matérias. Adorei reler a entrevista do Paul na Pop. Tive a coleção completa desta revista. Inclusive, meus primeiros discos, foram brindes dwsta revista. Parabéns Edu! (estou atrasado para o trabalho, mas a causa é justa).

Edu disse...

Uau! Dois elogios e vários comments na mesma postagem... estava desacostumado. Obrigado, valeu! É como se fosse comida! Pois é, numa época em que nem se sonhava com internet, e os livros eram tão escassos, esses artigos eram tudo de bom! Roque22: que bom que gostou! Caro Marangon: os discos foram lançados por lotes. Alexandler: recebi seu e-mail mas ainda não olhei com calma, mas uma das que vi, pode já ter certeza que vai aparecer aqui no dia 6 de julho - "Encontro Marcado". Valeu novamente amigos. O Baú do Edu vai procurar ficar melhor a cada dia!

Alexandler disse...

Edu, somos oldies but goldies.. rasguei muitas revistas de amigos e familiares para ter estas reportagens e fotos. Tenho uma pasta com páginas de plástico para proteger o material. Vai levar um tempo mas faço questão de compartilhar com você, pois leio religiosamente todo dia seu blog. Hoje com a web, fica fácil de encontrar tudo sobre nossos ídolos. A galera mais nova não sabe o que passavamos para ter uma simples foto. Abraços

Carlos Marangon disse...

Poxa cara também fazia isso tinha uma pasta com muitos recortes também rasguei muitas revistas de amigos kkkk mas inexplicavelmente me mudei de cidade e uma caixa com esses recortes revistas e livros simplesmente sumiu procurei o dono do caminhão de mudança e ele não licalizou.perdi muita coisa