quarta-feira, 18 de maio de 2011

A ERA DOS BEATLES E SEUS SÍMBOLOS

Por: Toninho Buda - 4 março 1997Fonte: http://www.toninhobuda.com/contracult/contracult_13.htm
Um dia, o Aurélio me disse que ainda vai deixar de ser psicólogo para montar uma banca de jornais. Isso me deixou chocado, porque ele é um profissional competente e gosta do que faz. “O problema é que as coisas estão acontecendo e nós estamos ficando para trás”, justificou-se. “Observe que o mundo hoje está nas bancas de jornais. Tudo o que acontece e aconteceu no planeta, está reduzido a CD’s, fitas K7 e vídeos, sendo vendidos a preço de banana nas bancas”. Depois eu estive pensando e verifiquei que até as editoras de livros e gravadoras estão trocando as livrarias e lojas de discos por elas. E hoje está claro em qualquer esquina, que a BEATLEMANIA foi um dos maiores frutos da Contracultura. É claro que os Beatles se apoiaram sobre gigantes do Rock’n’Roll mas, em certos aspectos, chegaram a superá-los. Eles sobretudo representaram uma nova linguagem simbólica, para sempre tatuada nos corações dos que a viveram.
O Psiquiatra suiço Carl Gustav Jung - uma das personalidades que estão na capa do LP “Sgt. Pepper’s”, dos Beatles - fala de uma “matriz emocional” na raiz de cada símbolo dos seres humanos. O que a “Era Beatle” representou para o mundo daquela época (1963/1970) se parece com o primeiro amor de nossas vidas: uma emoção intensa, uma coisa indescritível, pessoal e intransferível. Eu tinha 13 anos em 1963 e me lembro muito bem do aparecimento dos “Reis do Ié, Ié, Ié”. A gente morria de rir, era uma brincadeira, uma coisa contagiante. Calça “boca de sino” era o barato da época, mas era uma coisa engraçada. Por volta de 1965, nós ficávamos disputando para ver quem usava a calça mais apertada e com a boca mais larga. As pessoas mais velhas diziam “Meu Deus, como é que pode !...” e a gente morria de rir. Reis de quê ? Reis do Ié, Ié, Ié: SHE LOVES YOU, YEAH, YEAH, YEAH!
Foi pensando nisso que eu tive outro dia uma idéia estapafúrdia (e quase não a escrevi, com medo de ser mal compreendido pelos beatlemaníacos). Me parece que o quarteto de Liverpool tem uma formação simbólica semelhante à dos Trapalhões (Dedé, Mussum, Didi e Zacarias). Um deles é o espertalhão (Didi/Paul); o outro um mocinho bonitinho (Dedé/George); o terceiro, o mau-humorado (Mussum/Lennon). E finalmente um babaca (Zacarias/Ringo). O tipo mocinho cai bem em George, pois ele foi o único do quarteto que nasceu “bem”, num ambiente familiar normal e sem dramas. Quando criança, adorava ser “um garoto exemplar”. Já John Lennon tem tudo para ser o “mau humorado” da turma. John foi criado como órfão e era o único do grupo eternamente metido em protestos, movimentos alternativos e agressões diretas à sociedade convencional (“Somos maiores do que Jesus”). Ivan Vaughan e Pete Shotton - seus maiores amigos nos tempos de infância -, dizem que ele estava sempre brigando. Quando começou a viver com Yoko, certa vez ele lhe fez uma declaração de amor, dizendo o seguinte: “sabe porque eu gosto de você ? Porque você parece um travesti”.
Paul McCartney sempre me pareceu o “esperto” da banda. Sua mãe disse certa vez que ele evitava ao máximo os problemas e era uma pessoa “furtiva”. Quando ela morreu de câncer, ele disse para o irmão Michael “o que é que nós vamos fazer sem o dinheiro dela ?!” (Uma piada idiota, da qual se arrependeria para o resto da vida). Quanto ao Ringo, eu sempre o achei com cara de menino bobalhão e sua trágica história infantil confirma isso. Aos seis anos de idade, vítima de uma peritonite e complicações durante a operação, ficou quase tres meses em coma. Aos treze teve pleurisia e ficou dois anos internado. Ao chegar à adolescência, ele era franzino, subnutrido e com pouquíssima instrução escolar. Inapto para trabalhos pesados e intelectuais, ainda perdeu um de seus primeiros sub-empregos por ter chegado bêbado ao trabalho. Mesmo depois de famoso, ele continuou a fazer o papel de idiota nos filmes “Candy” (1968) e “Um Beatle no Paraíso”, com Peter Sellers.
De uma forma ou de outra, a personalidade de cada um serviu para compor a “personagem” que cada um representaria - como ator - na maior banda de todos os tempos. Eu digo “representar” porque eles até trocaram o blusão de couro original por terninhos, quando conheceram o novo empresário Brian Epstein (Brian ficara horrorizado com as roupas e os cabelos deles e sugeriu uma aparência rebelde mais “clean”). De qualquer forma, acredito que tanto os Trapalhões quanto os Beatles, representam os diferentes tipos básicos dos seres humanos. Talvez este lado simbólico que os identifica com tipos comuns, seja uma das razões da sua empatia, simpatia e sucesso... Pô, cá estamos nós mergulhados na antropologia do Rock! Vamos aos discos:
Este assunto é vasto e fascinante, mas nossa intenção aqui é apenas especular um pouco sobre ele. Tomemos então alguns exemplos nos LP’s mais simbólicos dos Beatles. Eles coincidem com a fase lisérgica e mística do quarteto: “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, “Magical Mistery Tour” e “Yellow Submarine” (os dois últimos também em filmes de 1967 e 1968 respectivamente. “Magical ...” não consta da discografia oficial inglesa, tendo sido lançado lá somente em compacto). A festa do Sgt. Pepper’s é uma alegria sem fim. A galera retratada na capa do disco resume - entre outras coisas - a contracultura dos anos sessenta. Encontramos ali vários gurus indianos, Aleister Crowley (por sugestão de John Lennon), Bob Dylan, Aldous Huxley (acidocultor da equipe de Timothy Leary), Carl G. Jung e figuraços de outras áreas como o Tarzan, Einstein, artistas de cinema, Allan Poe, o Gordo e o Magro e vários outros comediantes. Símbolos da ousadia, inteligência, arte, alegria e principalmente da criação do novo, do revolucionário. O próprio disco uniu definitivamente o rock à orquestra sinfônica, coisa até então considerada absurda. Um ecletismo fantástico, que fazia do inesperado e impossível as novas realidades da emergente Era de Aquário. E neste aquário os Beatles ofereciam o Yellow Submarine como veículo para mergulhar fundo, numa Magical Mistery Tour para ver a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band passar ! Sob a influência dos estudos da simbologia esotérica nos anos 70, nós víamos no poster do “Yellow Submarine” a chave principal do entendimento da potência dos Beatles, sob a regência Yin/Yang de Lennon/McCartney. Neste poster ficava muito claro que Paul, fazendo o sinal de ‘OK’ com a mão direita, representava a “Era de Peixes” ou “Era do Deus Crucificado”, que terminava. John Lennon, fazendo o sinal dos chifres com a mão esquerda, representava a nova era, a “Era de Aquário” ou “Aeon do Leão Solar, a Besta 666”. Quer saber mais? Vá marcar consulta com o jornaleiro da esquina mais próxima.

6 comentários:

Edu disse...

Na parte do texto onde o autor diz que John Lennon, depois de perguntar para Yoko por quê gostava tanto dela, na verdade ele disse o seguinte: Gosto de você porque você se parece comigo travestido".

Ana Cristina disse...

Achei "boba" a comparação dos Beatles com os trapalhões.

RafaCruz disse...

Bem sinistro ele falando dos símbolos no pôster de Yellow Submarine, sempre achei estranho eles fazerem sinais com a mão, mas não imaginava que o significado fosse tão forte assim...

Bjs
Rafa
rafadeoliveira-tudosobrequalquercoisa.blogspot.com
rafalennon.blogspot.com

Edu disse...

Tolice, Rafa. Desencane.

Edu disse...

Como diz um grande amigo: "Tell Me Why é no gogó, gugu!". Valeu, Abração!

LSelem disse...

Viva a liberdade de expressão, mas sinceramente, não curti a comparaçao com os Trapalhões...