quinta-feira, 26 de maio de 2011

UM CRAQUE INOXIDÁVEL

Por Paulo Pestana - Especial para o Correio Braziliense - publicado em 26/05/2011

Paul McCartney vem desafiando o tempo há décadas. Na última segunda-feira, quando se despediu do Brasil com um show impecável no estádio Engenhão, no Rio, ele uniu gerações e pareceu fazer o tempo parar. Houve quem contasse: foram 32 canções — 20 delas retiradas do catálogo dos Beatles — e uma garra incomum para um homem que pode ter tudo, tão rico e no limiar dos 70 anos.

Com mais de cinco décadas de palco, McCartney sabe a força dos clássicos, canções inoxidáveis ao desgaste do tempo, e fez uma bem temperada mistura com músicas que, se têm qualidade semelhante, não experimentam o mesmo impacto. Na despedida, ele alterou levemente a receita e deixou de lado o que fez mais recentemente para investir num passado que, como comprovaram as centenas de crianças presentes, não tem nada de nostálgico.
Ficaram de fora canções como Calico skies, Flaming Pie e Only Mama Knows. Do projeto Fireman, só tocou Sing the Changes. Do repertório clássico que vem tocando pelo mundo, ficaram de fora My Love (afinal, ele vai se casar de novo e não fica bem ele tocar a música para sua “gatinha” Linda, como disse em São Paulo), I’m Down, Hello Goodbye, Venus and Mars, entre outras.
Mas ninguém pode reclamar do fato de o show não ser interminável, embora ele vá permanecer fresco na cabeça de muitos presentes. Na plateia, havia um pouco de tudo, desde fãs jovens demais para estarem tão histéricas, até senhores de alguma idade, que procuravam cantar com a banda. Houve até quem se beliscasse, para acreditar que não era um sonho e que estava presenciando um desses cada vez mais raros momentos que o tempo não leva.
No final, é de se perguntar: que água McCartney bebe para se manter daquela maneira. Aliás, ele não bebe um gole sequer enquanto está no palco e mantém a fleuma até mesmo quando tira o paletó para deixar os suspensórios à mostra. Na despedida, movimentos estudados foram repetidos, como o cumprimento com dois dedinhos ao ótimo baterista-bufão Abe Laboriel Jr. a entrada das bandeiras britânica e brasileira, mas o público obrigou o velho roqueiro a fazer alguns improvisos que claramente o divertiram, como a catártica repetição do refrão onomatopaico de Mrs Vanderbilt — “Ho, hey, ho” — , quando ele foi obrigado a acompanhar, até agradecer com mais um “demais!”, uma das palavras em português que ele tinha num pequeno léxico colocado no chão do palco para que ele pudesse falar alguma coisa em português. Quase um “carioca”, como ele mesmo disse.
Como qualquer superprodução, o show Up and coming é meticulosamente planejado, com a lista das canções preparada com antecedência para sincronia de luzes e projeções no palco. Mas os cinco músicos não deixam de mostrar um minuto sequer que formam uma banda de rock de verdade. Essa formação acompanha McCartney há mais de 10 anos, o que explica o impressionante entrosamento entre eles, que se divertem tanto quanto o patrão, com pequenas estrepolias.
Enfim, o Engenhão, estádio tão castigado pelo futebol, viu um clássico. Um não, uma fileira deles, comandada por um craque que se recusa a pendurar o contrabaixo Hoffner que o acompanha desde os shows de várzea. E o tempo que espere sua vez.

7 comentários:

Cacá disse...

Eu fui, eu fui, eu fuuuuiiiii
Pensei tanto em você Edu.
Beijos,
Cacá

João Carlos disse...

Texto muito bem escrito.Sem exagerar prá nenhum lado.

Valdir Junior disse...

É muita emoção mesmo !!!
Um show para numca se esquecer !!

Anônimo disse...

Edú, você é craque, quanto a isso, não há dúvida alguma. Craque na escrita, no conhecimento na gererosidade, por compartilhar seu conhecimento e etc e tal. Por isso sou sempre grato por isso, embora você nem saiba disso. Bom, agora, com relação ao show do Paul. Cara, tenho 57 anos (nasci em 25.9.53). Tenho 4 filhos e 3 netos, sendo 3 filhas, um filho, duas netas e um neto. Mas, é daí ? Daqui a pouco vou colocar minha árvore genealógica aqui...eu hein ! O que eu quero dizer é o seguinte, digo, quero fazer uma espécie de testemunho. Sempre gostei de música, desde antes dos Beatles. Porém, quando pela primeira vez ouvi uma música deles ("It Won't Be Long"), alucinei. E olha que na minha casa ouvia-se música clássica, Henry Mancini, Elvis e outros bichos. Mas...me perdi. Continuo na próxima.

Anônimo disse...

(continuando...) Mas, para resumir a ópera. O caso é que, todos os meus filhos (esquisito isso, falar "filhos", no masculino, tendo apenas um filho e 3 filhas..mas, tudo bem). Com ia dizendo, todos os meus filhos sempre gostaram dos Beatles, porém nunca tinham visto uma apresentação de um beatle, ao vivo, claro (embora Paul tenha se apresentado aqui no Rio em 1990). Mas, isso não interessa. O que eu quero dizer é que, no domingo, dia 22.5.11, meus filhos, um de 10 anos, uma de 19 e outra de 29 (a mais velha ficou em casa tomando conta do seu filho mais novo), foram tocados pela chamada catarse coletiva, que foi o que ocorreu com o show do Paul no Engenhão.

Anônimo disse...

continuação...Bom, fomos no domingo, no show do dia 22. Mas,o que aconteceu ali ? Foi um treco estranho, "tipo", uma catarse mesmo - o meu filho, de 10 anos, que já até tinha assistido a um show...como dizer...com certo público, no caso ao show dos insuportáveis Avenged Sevenfold, no Citibank Hall, onde talvez caibam cerca de nove mil pessoas...ou seja, um show com um público de respeito,..mas..sabe de uma coisa ? Não vou falar mais nada aqui, porque tudo o que eu falo, ninguém lê mesmo. adeus

Mauricio Noel disse...

Edu, sensacional a colocação: "o Engenhão, castigado pelo futebol, finalmente acabou vendo um clássico"! foi exatamente isso o que aconteceu no domingo, 22 maio!!! EU FUI!!! até agora, estou levitando! Obrigado, Paul!!! obrigado, meu Deus, por poder viver este momento!!! até Recife!!!