quinta-feira, 14 de junho de 2012

MAS AFINAL, O QUE É CULTURA POP?

"O Baú do Edu". Uma resposta interessante para a pergunta está no ponto de vista daqueles que colocam a cultura pop como uma alternativa para a cultura oficial. Em um virulento editorial da revista General Visão, número zero, Rogério de Campos ataca o imobilismo cultural daqueles que criticam a Indústria Cultural por comodidade:
"Essa revista surge para, entre outras coisas, chatear essa gente. Nosso objetivo é mergulhar nas imagens criadas pela tal cultura pop e provocar mais imagens. Desenhos de shapes de skate, games, ilustrações, brinquedos estranhos, capas de discos, roupas, flyers, cartazes, filmes, tatuagens, fanzines, desenhos de sites, desenhos animados, fotografias, histórias em quadrinhos e até pinturas e esculturas. Criadores que vivem além das fronteiras das imaculadas galerias ou apenas inconvenientes, fora do lugar "correto", fora do tempo, contraditórias, infinitas imagens elétricas para ofuscar as imagens oficiais. Não siginifica ficar deslumbrado pela Indústria Cultural, mas, ao contrário, enfrentá-la com ações e visões críticas".
Daí percebe-se o conceito de cultura pop como algo que nasce da Indústria Cultural, mas não se limita às regras suas acríticas e homogenizantes. Ao contrário, a cultura pop está muito mais próxima da subversão que da ideologia. Ela, constantemente, quer incomodar o receptor, ao invés de acomodá-lo.
O trabalho do autor britânico de histórias em quadrinhos) Alan Moore se encaixa perfeitamente nesse padrão. Sua produção de quadrinhos tem sido subversiva e inquietante: do "herói" anarquista em "V de Vingança" à denúncia da moral vitoriana, na história incrivelmente detalhada de Jack, o Estripador, "Do Inferno", recentemente transformada em filme. Quando achou que os leitores estavam acomodados à sua produção mais intelectual, Moore, para provocá-los, dedicou-se a fazer histórias de super-heróis para a editora Image. Essa produção crítica e provocadora não se encaixa em absoluto no conceito de Indústria Cultural.
Muito antes de Alan Moore, a editora americana E.C. Comics já fazia quadrinhos que estavam mais próximos do conceito de obra aberta do que de Indústria Cultural. São inúmeros os outros exemplos de produções que estão mais próximas da entropia que da redundância que, teoricamente, deveria caracterizar a Indústria Cultural.
No cinema, há diretores como os americanos QuentinTarantino (de "Cães de Aluguel" e "Tempo de Violência"), Terry Gillian e, mais recentemente, o indiano M. Night Shyamalan (de "O Sexto Sentido" e "Corpo Fechado"), que não se encaixam no jeito americano de fazer filmes.

Na música há bandas que rompem com os ditames do stablishment: os Beatles e suas experimentações, o incorfomismo de Raul Seixas, Pato Fu e a crítica à TV (na música "Televisão de Cachorro")... Por outro lado, há toda uma leitura crítica por parte dos receptores que foi totalmente ignorada pelos frankfurtianos, assustados com a idéia de uma mídia toda-poderosa, derivada do conceito de agulha hipodérmica.
A leitura de uma história em quadrinhos, de um seriado de TV, de um filme, pode evoluir desde a fruição pura e simples até uma análise semiótica aprofundada, como demonstrou Umberto Eco no livro Apocalípticos e Integrados.
Embora os meios de comunicação de massa tenham como objetivo a leitura e a fruição rápidas, isso não significa que todos os leitores estejam "amaldiçoados" a fazerem sempre leituras superficiais.
Alguns leitores discutem os quadrinhos da mesma forma que um crítico de arte o faria com um quadro, ou um crítico literário com um romance.Por conta dessa leitura, alguns produtos da indústria cultural acabam se tornando cultura pop. É o que acontece, por exemplo, com o seriado Jornada nas Estrelas ou com as histórias clássicas de Jack Kirby e Stan Lee para a Marvel.Importante notar que, embora não tenham uma postura tão crítica ou provocadora quanto outros exemplos de cultura pop, tanto Jornada quanto as histórias clássicas da editora americana de quadrinhos Marvel (dona do Homem-Aranha, Capitão América e X-Men) têm duas características em comum:
Apresentam inovações significativas com relação ao modo de fazer as coisas dentro daquele gênero ou mídia (ou seja, são mais informativos que redundantes). A Marvel inovava, e muito, ao mostrar o lado humano dos heróis (o melhor exemplo talvez seja o Homem-aranha, sempre envolvido com gripes, perseguições da polícia e brigas com a namorada), sem falar na estética expressionista de Jack Kiby. Jornada nas Estrelas inovava ao introduzir nos seriados de ficção um vivo manifesto pacifista e ao dar um grande valor aos roteiros bem elaborados.
Se destacam por seu caráter mítico. Não são poucos os autores que admitem o caráter mítico de Jornada nas Estrelas e de personagens como o Surfista Prateado. A mídia estariam, nesse caso, resgatando algo que havia se perdido com a quase total extinção dos chamados contadores de histórias que, nas sociedades de desenvolvimento tecnológico menos desenvolvido, são os principais divulgadores dos mitos.

O conceito de cultura pop surge não para substituir o de indústria cultural, mas complementá-lo. Ele é aplicado onde justamente as teorias da escola de Frankfurt falham: nos produtos da indústria cultural que não conformam, mas provocam, não acomodam, mas incentivam uma leitura crítica da realidade. A cultura pop surgiria ou de uma vontade de se contrapor à indústria cultural num movimento "de dentro", ou daquelas peças que ganham uma nova dimensão em decorrência de sua carga arquetípica. Assim, a cultura pop teria as seguintes características:
A. ser inovadora com relação aos seus congêneres, tanto em termos de forma quanto dconteúdo; B. apresentar uma leitura crítica de mundo; C. ter um conteúdo arquetípico; D. ser provocadora.
Tais características fazem com que, embora passe pelos mesmos mecanismos de reprodutibilidade técnica, a cultura pop se diferencie da média do que chamamos de indústria cultural. Fonte do texto: Gian Danton - http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=724&titulo=Cultura_pop
Conclusão: quer saber o que é Cultura Pop? Volte aqui todos os dias e saberá.
 BEATLES 4 EVER! BADFINGER BOOGIE!

9 comentários:

Anônimo disse...

Bela matéria, Edu. Essa coisa do pop ou da pop arte é bastante interessante porque nos remete aos anos 60 e logicamente aos Beatles. Falando em Beatles lembro também de outra paixão nossa, o Badfinger, tinha um tempinho que não escutava e estou escutando direto, quando ouço Day after day, dano a chorar. Quantas músicas mágicas, penso que os Beatles passaram o bastão pra eles continuarem a mágica beatle mas por algum motivo ou vários, conforme umas matérias nesse blog, não teve uma sequência, mas foi uma grande banda, dignos de ter uma relação com os The Beatles muito forte. Valeu.

Edu disse...

Porque não assinou, anônimo?

Leonardo Polaro disse...

Edu, nosso Macca vai fazer 70 anos ! Alguma matéria especial no baú...?

Menina de Ouro disse...

Amei a matéria , Edu! Eu devo ter algum problema com os anos 50/60... Tudo q começou naquela época me interessa, me agrada, me emociona, me faz rir, chorar, arrepiar... amo esse blog!

Jeniffer disse...

parabéns Edu! Excelente e elucidativa!Perfeito!

LSelem disse...

Edu e amigos do Baú, estava com saudades de tudo por aqui... um fab fim de semana pra todos e 'tamo junto'!! Beijão

João Carlos disse...

Pois é... o Baú é cultura pop... da gema!

Valdir Junior disse...

Essencial esse post !!!

Luiz disse...

É NOOOOOOOOOOOOOOOOSSSSSSSSSSSSSSSSSSS