domingo, 10 de novembro de 2019

ROBERT FREEMAN - BEATLES PHOTOGRAPHER - 1933 – 2019


Morreu o fotógrafo e cineasta Robert Freeman, que ficou conhecido por suas fotos icônicas dos Beatles. A informação foi divulgada por Paul McCartney em seu blog oficial nesta sexta (8/11), sem revelar a causa da morte. Mas o artista tinha sofrido um AVC em 2014 e vinha doente desde então. Robert Freeman, assim como dezenas de outros fotógrafos fantásticos que fotografaram os Beatles, apareceu aqui pela última vez em 11 de março de 2013 e foi o autor das fotos de dezenas de capas do Baú. Ele foi citado aqui na última postagem Norwegian Wood.
Freeman começou sua carreira como jornalista fotográfico no jornal britânico The Sunday Times. Ele causou uma forte impressão inicial com fotos em preto e branco de vários músicos de jazz, incluindo o saxofonista John Coltrane, e isso chamou a atenção do empresário dos Beatles, Brian Epstein, que encomendou um retrato da banda em 1963.
Este contato inicial levou a uma longa associação com os quatro músicos de Liverpool, incluindo o design e a fotografia das capas dos álbuns “With The Beatles” (“Meet The Beatles!” nos EUA), “Beatles For Sale”, “Help!” e “Rubber Soul”. Ele também desenhou as sequências dos créditos finais dos dois primeiros filmes dos Beatles, “Os Reis do Ié-Ié-Ié” (A Hard Day’s Night, 1964) e “Help!” (1965), ambos dirigidos por Richard Lester, além de ter sido responsável pelas fotografias oficiais da produção e pelo visual dos posteres e materiais promocionais dos filmes.
Ficou tão íntimo da banda que sua esposa, Sonnie Freeman, teria sido a inspiração de John Lennon para compor a música “Norwegian Wood” – numa relação que também envolveria sexo. A alegação foi feita pela ex-esposa de Lennon, Cynthia Lennon, em suas biografias. Por coincidência, Freeman acabou se afastando dos Beatles nesta época. Mas aproveitou os contatos da banda, como Richard Lester. O diretor, que tinha gostado do trabalho do fotógrafo, o contratou para desenhar os créditos de seu filme mais premiado - marco do cinema mod, “Bossa da Conquista” (The Knack) que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1965.
A experiência com esses filmes permitiu a Freeman estrear como diretor, assinando outro cultuadíssimo filme mod, “As Tocáveis” (The Touchables, 1968). Definitivamente uma obra de fotógrafo, o longa é considerado um deleite visual, mas péssimo em termos de narrativa – o fiapo de história girava em torno do rapto do cantor de uma banda de rock por fãs histéricas. Uma curiosidade de sua trilha sonora é o destaque dado à obscura banda Nirvana original (dos anos 1960), além de incluir a primeira música do Pink Floyd ouvida no cinema (“Interstellar Overdrive”).
Robert Freeman também dirigiu o documentário “O Mundo da Moda (Ontem-Hoje e Amanhã)” (Mini-Mid), sobre a Swinging London, e o drama “A Doce Promessa” (1969) na França, além de ter sido o fotógrafo oficial do primeiro calendário Pirelli.
“Grande profissional, ele era imaginativo e um verdadeiro pensador original”, escreveu Paul McCartney em seu blog. “As pessoas costumam pensar que a foto da capa do ‘Meet The Beatles’ em meia-sombra foi uma foto de estúdio cuidadosamente arranjada. Na verdade, foi registrada rapidamente por Robert no corredor de um hotel em que estávamos hospedados, onde a luz natural vinha das janelas no final do corredor. Eu acho que não demorou mais que meia hora para chegar naquele resultado. Bob também inovou na foto da capa de ‘Rubber Soul’. Ele tinha o costume de usar um projetor de slides para mostrar pra gente como ficariam as fotos nos discos, projetando-as em um pedaço de papelão branco do tamanho exato da capa de um álbum. Durante a sessão de observação dessa imagem, o papelão que estava apoiado em uma pequena mesa caiu para trás, dando à fotografia uma aparência esticada. Então, ficamos empolgados com a ideia dessa nova versão de sua fotografia. Ele nos garantiu que era possível imprimi-lo dessa maneira, e como álbum era intitulado ‘Rubber Soul’ (alma de borracha), sentimos que a imagem se encaixava perfeitamente. Sentirei saudades deste homem maravilhoso e sempre apreciarei as boas lembranças que guardo dele. Obrigado Bob”. Paul McCartney - Fonte: pipocamoderna.com.br
A CAPA DE “WITH THE BEATLES” - "Eles tinham que se encaixar perfeitamente no formato quadrado da capa. Então, ao invés de tê-los todos em uma linha, eu coloquei Ringo no canto inferior direito, até porque ele foi o último a se juntar ao grupo. Ele também era o mais baixo". Paul McCartney relembra: "Estávamos no corredor de um hotel, todos de blusa rolê preta. O corredor estava muito escuro e parecia um estúdio, e havia uma janela no final, por onde entrava uma luz natural que vinha da direita, iluminando apenas metade dos nossos rostos. Ele conseguiu essa imagem, que muitos acham, até hoje, que estamos mal-humorados. Foi apenas um momento que ele capturou. Ele sentou, pegou um par de filmes, foi só isso". A ideia original era a de colocar a imagem de ponta a ponta, tomando toda a capa, sem sangramento ou título, mas a gravadora vetou, alegando que os Beatles ainda não eram famosos o suficiente para ter uma capa sem o nome da banda ou título. O primeiro disco com uma capa assim, foi o de estréia dos Rolling Stones, lançado alguns meses depois. A gravadora também tentou vetar a foto, porque os Beatles não estavam sorrindo, e só aceitou, depois da intervenção do próprio George Martin na questão. Por esse trabalho, Freeman recebeu três vezes a mais o valor de um trabalho “normal”.

A CAPA DO “BEATLES FOR SALE” - A capa do álbum Beatles for Sale mostra os Beatles em um cenário de outono fotografados no Hyde Park, em Londres. McCartney relembra: "Essa sessão de fotos foi bastante agradável. As fotos de Robert Freeman ficaram ótimas e foi fácil para todos. Fizemos uma uma sessão com duração de duas horas e teve bastante material para utilizar. Bastava o fotógrafo dizer “prontos?” Todos nós todos usávamos o mesmo tipo de roupas o tempo todo. Pretas, com camisas brancas e grandes lenços pretos". O álbum também apresenta uma capa dupla, desdobrável, a foto de dentro mostra os Beatles em pé, na frente de uma montagem de fotos. Essa ideia seria imitada depois por Peter Blake na capa do Sgt. Pepper’s.
A CAPA DE “HELP!” - A ideia original de Robert Freeman para a capa de “Help!” era os quatro Beatles movimentando os braços num arremedo a linguagem de sinalização de aeroportos formando a palavra HELP. No entanto, a verdade é que a foto não especifica nenhuma mensagem. Robert Freeman, confirma isso: "Eu tinha a idéia da linguagem dos semáforos soletrando as letras H-E-L-P. Mas quando chegou a hora do “click”, a disposição dos braços com as letras não aparecia bem. Então decidimos improvisar e acabou com o melhor posicionamento gráfico dos braços”.
A CAPA DE “RUBBER SOUL” - A foto dos Beatles na capa do Rubber Soul parece distorcida. McCartney relata a história por trás disso no capítulo 5 do documentário Anthology. Bob Freeman havia feito algumas fotos dos Beatles na casa de Lennon. Freeman mostrou as fotos a eles, projetando-as em uma folha de cartolina para simular como eles apareceriam na capa do álbum. A folha escorregou e eles apareceram distorcidos. Animados pelo efeito, todos eles gritaram: "Queremos assim! Podemos ter isso? Você pode fazer isso assim?" Freeman respondeu que podia. O logotipo foi desenhado por Charles Front.

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