Foram 35 anos de espera. Um sonho que eu imaginava que não aconteceria mas se realizou.
Era dia 21 de maio. Um domingo de sol e calor na cidade do Rio de Janeiro. Fui a pé até a Central Brasil para pegar o trem para o Engenho de Dentro. Comprei meus bilhetes e ao fundo uma música vinda dos alto-falantes da estação.
Passo a roleta e sou recebido por uma multidão entoando "I Feel Fine". Entro no vagão e foi a longa espera mais rápida de todos os tempos. Partimos todos, totalmente desconhecidos e tão próximos. Cantamos tantas canções quantas foram possíveis em um trajeto de não mais que trinta minutos. Éramos velhos amigos. Parecia que cantávamos juntos há anos. Centenas deles.
Chegamos ao Estádio. Nada poderia ser mais tocante. Os Beatles eram entoados em vários grupos. Canções se mesclavam, todos se entendiam. Um sentimento de cumplicidade digno dos mais antigos parceiros. E eram milhares de parceiros. Cúmplices na camiseta, nos posteres, nos discos, nas faixas, nas fotos, nas intermináveis filas que se confundiam umas com as outras. Não se percebe uma briga, uma discussão. Parece que todos queriam perpetuar aquele momento sem máculas, sem desvios.
Após a longa espera, estamos dentro do estádio. O mundo é nosso e o que importa é viver. Viver o momento. Os flashes são intermináveis. Os abraços e sorrisos também. A euforia toma conta do local. Um estádio se tornou pequeno para tanta emoção.
Surge o homem, a lenda e seu Hofner. Não é mais o garoto de Liverpool. É um senhor em sua jaqueta azul. Eis que começa a música e assim surge novamente o espírito jovem, seu jeito marcante de cantar e me saúda com um "Hello, hello! I don'tknow why you say goodbye i say hello". É realmente ele que está ali. E eu realmente estou ali. Explodindo, chorando, gritando, vivendo, cantando - sonhando. Cada música é um presente para mim. Cada música dos Beatles me fazia transcender os sentimentos. Era o fim de uma espera interminável. Era a concretização de um sonho outrora intangível.
Foram aproximadamente três horas de pura emoção. E como em um sonho bom, mais rápido do que se pode esperar, surge o Sargento Pimenta nos chamando para ir embora. Estava acabando. Depois de tanta música, tanto respeito, tanto carinho, tanta reciprocidade, era o fim. E no fim, bem... And in the End, the Love YouTake is Equal to the Love You Make.
Sem voz, sem sentir os pés, sem forças, volto pra casa. De coração cheio, alma lavada, realizado. Me pergunto se um dia ainda irei ver algo tão extraordinário. Todos ali, sem exceção, jovens, adultos, velhos eextremamente jovens, envolvidos em um só sentimento: McCartney.