terça-feira, 30 de junho de 2015

DONOVAN LEITCH – ATLANTIS – MARAVILHOSA!

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Exatamente no dia 28 de junho, 10 dias depois do aniversário de Paul McCartney, meu grande amigo, irmão, mestre e guru ‘Ivanzinho’ estaria completando 63 anos se não tivesse morrido assassinado com vários tiros à queima-roupa – na porta de casa – exatamente como John Lennon, em janeiro de 2014, em Fortaleza. Um golpe duro, que ainda me balança até hoje! Tudo que aprendi sobre os Beatles e da importância de conhecer todos os grandes mestres, foi com ele. Quando tinha 19 anos e tive que me casar porque a menina estava grávida, assim que consegui um barraquinho para morar, ele foi nos visitar e profeticamente disse absoluto: “Edu, nesses tamboretes, decidiremos os destinos do mundo!”. Saudades imensas... quando fez 60...tomamos um fogo memorável... estávamos juntos quando o pau quebrou no Mané Garrincha no show da Legião Urbana de volta à Brasília. Estávamos juntos no inesquecível show do Peter Frampton e depois no Ringo! Todos os aniversários, trocávamos presentes sempre bacanas, caros e raros, dos Beatles e afins. Infelizmente, seu maior sonho não pôde se realizar, o de ver Sir Paul McCartey em Brasilia, show que aconteceu em 23 de novembro passado. Esse cara, o meu amigo Ivan – de quem encho a boca de orgulho para falar – foi quem me apresentou à beleza das canções de Donovan. Os meus LPs “Living Material World” e “33&1/3” foram presentes dele. Quem primeiro me falou do álbum triplo dos Wings, foi ele. E quando roubei, escutamos juntos pelo menos umas 300 vezes (e isso não é exagero!”). De todos, nosso preferido era o lado 1 do ‘Live Peace In Toronto’. E seu artista preferido era Donovan. Um artsta sem iguais. Obrigado Little Ivan! Onde quer que esteja, a paz do senhor esteja convosco. Amém. Em homenagem especialíssima a você, a gente confere agora a sensacional “Atlantis”. Talvez, o maior sucesso de Donovan. Mas deixando bem claro, que a obra de Donovan vai bem além de “Atlantis” e vale à pena ser conhecida por qualquer um que se diga fã dos Beatles e de todo aquele período louco e psicodélico.

Houve tempos, não tão distantes de Atlantis, talvez quase meio século, que um crítico idiota qualquer, escrevia para uma revista idiota qualquer, sobre algo que não conhecia. Ele escrevia uma resenha sobre o obscuro sucesso de Donovan comparando-o a Bob Dylan, apenas porque tocava música folk da sua terra, tocava gaita e sustentava um violão. Esse mesmo babaca, chegou a rotular o jovem Donovan como “a resposta inglesa para Bob Dylan”. Quanta bobagem. Pior que essa merda pegou como todos os malditos clichês do rock, como “Ringo não sabe tocar”, “Paul McCartney morreu em 1966”, ou que “ele se casou com a herdeira da Kodak”. Nunca entendi porque essa gente tinha tanto essa besteira: “Cliff Richard - resposta inglesa a Elvis Presley”, “Os Monkees – resposta americana aos Beatles”, e por aí vai. Seja como for, para qualquer um que quisesse ver, não havia a menor semelhança entre o doce e cósmico bardo Donovan, com o ácido e cáustisco bardo Dylan. Ora, a única ligação entre os dois era a musica folk, no caso de Donovan, a escocesa, enquanto Dylan ia por um caminho parecido nos Estados Unidos. Mas as semelhanças paravam por aí, enquanto Dylan fazia letras mais políticas, introspectivas e realistas, Donovan seguia trilhas mais alegres, mais etéreas, ligadas ao movimento flower-power, com letras falando de coisas místicas e psicodélicas. Podes crer. Hippie, Hippie. Urra!

Donovan Philips Leitch nasceu em 10 de maio de 1946, em Glasgow, mas mudou-se para Londres rapidamente. Com 18 anos gravou sua primeira demo e em 1965 passou a se apresentar regularmente no programa de TV ‘Ready, Steady and Go’. Logo que lançou seu primeiro single, “Catch the Wind”, as comparações com Dylan começaram. A canção, entretanto, entrou no Top 5 da parada inglesa e rendeu, até uma conversa entre os dois músicos, capturada no documentário Don´t Look Back. O single seguinte, Colours, também se transformou um grande hit e Donovan resolveu fazer sua estreia nos Estados Unidos, durante o Newport Folk Festival, em 1965. No ano seguinte lançou Fairytale, seu segundo e último trabalho pela Hickory. No mesmo ano assinou com a Epic, pela qual lançou o álbum “Sunshine Superman”, recheado de arranjos exóticos e psicodélicos. Seu primeiro single, a faixa título, chegou ao topo das paradas nos Estados Unidos e na Inglaterra, com “Mellow Yellow” em número dois poucos meses depois.

Em 1967, Donovan volta às paradas, com uma série de hits, como “Epistle to Dippy”, ”There Is a Mountain” e “Wear Your Love Like Heaven”. Foi quando na ‘swingging London’ conheceu Paul McCartney, os Beatles e companhia ilimitada – e em 1968 partiu com eles para mítica viagem à Índia para estudar meditação transcendental com o Maharishi Mahesh Yogi. Muitos estudiosos dos Beatles, como Mark Lewisohnn afirmam que foi durante a estada na Índia, que Lennon e McCartney aprenderam, com Donovan, a dedilhar os violões. A viagem à índia inspirou Donovan a deixar as drogas e a exercitar ainda mais a prática da meditação. De volta à Inglaterra, gravou um disco duplo, “A Gift from a Flower to a Garden”. No ano seguinte mais um sucesso, “The Hurdy Gurdy Man”, que chegou ao Top 5, e fez que “Jennifer Juniper” (Jennifer era (é?) irmã de Pattie Boyd e teve um romance com Donovan na Índia.) tornar-se um hit e foi quando “Atlantis” começou a tocar sem parar.

"Atlantis" é uma canção folk/pop escrita e gravada pelo cantor e compositor britânico Donovan. Foi lançada como single em 1968 e se tornou um sucesso mundial, chegando ao nº 1 na Suíça em 1969, nº 2 na Alemanha e África do Sul, nº 12 no Canadá , e nº 4 na Áustria. Nos Estados Unidos, apareceu como lado B de "To Susan on the West Coast Waiting", que chegou ao nº 7, enquanto no país natal do cantor, o single conseguiu apenas um modesto nº 23. A introdução é um monólogo tranquilo em relação à ideia de que Atlantis foi uma civilização altamente avançada no período antediluviano , e que os colonos atlantes foram a base dos deuses mitológicos dos tempos antigos. Cientes de seu destino, os atlantes enviaram navios para transportar seus mestres para a segurança, e estas pessoas seriam responsáveis por trazer civilização e cultura para os seres humanos primitivos. A música transmite a mensagem de que o amor verdadeiro do cantor pode estar em Atlântida. O tema geral é comum para aquele 1968 flower power: mitologias fantasiosas como o símbolo do movimento de contracultura, com a esperança de que o verdadeiro amor será encontrado se alguma vez Atlantis puder ser alcançada.

Muitos acreditam que Paul McCartney participa de "Atlantis" fazendo vocais de fundo. Quem faz essa alegação é Harry Castleman e o livro de Walter Podrazik "All Together Now: The First complet Beatles Discography", que afirma que McCartney não só forneceu os vocais de fundo, mas também tocou pandeiro na canção. Conversa. O próprio Donovan disse em uma entrevista de 2008 na Goldmine Magazine, que, definitivamente McCartney nunca participou da gravação.

“Way down below the ocean where I wanna be she may be” – esse refrão se repetia depois do meio da música como um mantra. Assim como Paul McCartney também usou esse “efeito mântrico” em “Hey Jude” com os intermináveis ‘na, na, na, na, na, na, na’. "Era a época. Ninguém na verdade, inventou nada. Seguiam apenas uma tendência”. Diria o mais pessimista dos críticos. O fato é que "Atlantis" não foi considerada suscetível de se tornar um hit nos Estados Unidos devido ao seu comprimento e o fato de que o primeiro terço é narrado em prosa e, o terceiro é uma repetição abusiva do refrão, portanto, fora dos padrões radiofônicos. Foi por esta razão que, apesar de seu sucesso na Europa, "Atlantis" foi rebaixada para lado B na América. No entanto, os executivos da gravadora A & R (como sempre!) estavam errados e só perceberam quando a popularidade de "Atlantis" ultrapassou em muito a de seu lado A - alcançando nº 7 na Billboard, e a música em si, tornou-se um hino do movimento hippie que florescia. “And let us sing and dance and ring in the new… Hail Atlantis!

Em 2001, Donovan e a banda pop alemã No Angels regravaram a faixa para os créditos finais do filme da Disney “Atlantis: The Lost Empire”. Mais uma vez lançada como single, entrou no top cinco na Áustria e Alemanha. Donovan está agora com 69 anos, mas aparenta muito mais. Os shows e aparições são raros, mas mesmo assim, tem um número de fãs fiéis que o seguem por onde ele for. Mesmo nos lugares mais distantes e improváveis, como lá no cu do Ceará do Brasil! Bem mais longe do que Atlantis. Existe um disco pirata com 8 faixas gravadas numa demo por Donovan e Paul McCartney em 1969. Nunca tive a graça de ter ou ouvir todas essas gravações, mas sei que elas existem, assim como Atlântida... sempre que consigo um link, está quebrado. Quem souber, a casa agradece. Para terminar, a gente confere uma dessas demos com a raríssima “Heather” – a canção que McCartney fez para a filha de Linda com a participação superespecial de Donovan. Obrigadão Ivanzinho! Forever até o fim! Abração em todos!


"Donovan, foi um dos mais importantes e influentes artistas daquela época. E isso não é exagero. Todos nós devemos muito a ele!". Sir Paul McCartney

HEATHER SEE McCARTNEY - HEATHER LOUISE SEE

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Heather Louise McCartney (Heather Louise See) nasceu no dia 31 de dezembro de 1962. Tem 53 anos. É ceramista, artista plástica e filha adotiva de Paul McCartney. Nasceu em Tucson, Arizona, (Get Back?) - filha de Linda Eastman e José Melville See Jr, geólogo americano. Seus pais se separaram após 18 meses de casamento. Linda era fotógrafa, groupie e não é segredo de ninguém que transou com a maioria dos astros que fotografou. Casou-se com Paul McCartney em 1969, quando Heather tinha seis anos de idade.

Durante esse tempo, Heather foi formalmente e legalmente adotada por McCartney. Heather é aquela garotinha loira que aparece em Let It Be. Sua meia-irmã, Mary, nasceu em 1969, seguida por Stella, em 1971, e James, em 1977 - todos filhos de Paul e Linda.

Heather começou a mostrar interesse pela arte, trabalhando na Oficina dos Fotógrafos em Covent Garden e vencer o prêmio “The Young Black and White Printer of the Year Award” em Ilford com uma obra que ela chamou de "Cachoeira". Mais tarde, passou pela escola de arte, onde se concentrou em cerâmica e design. Heather foi hospitalizada com seus vinte anos para o tratamento de um transtorno emocional e viajou para o México onde viveu entre os nativos das tribos Huichol e Tarahumara. Mais tarde mudou-se para o Arizona para viver com seu pai biológico e, eventualmente, se mudou para a Inglaterra para trabalhar como ceramista. Em 17 de abril de 1998, sua mãe, Linda, morreu após uma batalha de três anos contra o câncer de mama. Infelizmente, Heather sofreu outra perda quando seu pai biológico suicidou-se em fevereiro de 2000. Em 1999, ela lançou uma linha de utilidades domésticas chamada de “Houseware Heather McCartney Collection”. Heather faz o estilo low-profile e não é chegada à festas e badalações. Tanto que assina Heather Louise See.

LES BEATLES EN LA FRANCE 1964 - MERCI, BEAUCOUP!

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Quando os Beatles partiram de Londres, numa terça-feira - 14 de janeiro de 1964 - para a sua temporada no Olympia foram recebidos no aeroporto Le Bourget, em Paris por 60 fãs franceses e quase 100 jornalistas e fotógrafos. Ringo só se juntaria a eles no dia seguinte com Neil Aspinall a tempo de participar do ensaio no Cinema na Rua Cyrano Rameau, Versailles. O show da noite, que foi um aquecimento para a temporada de Paris, não tinha um público maior que 2.000 pessoas. Logo, logo estariam tocando para os maiores públicos da história do showbizz. O Fotógrafo Dezo Hoffman viajou no mesmo avião com John, Paul e George, e fez várias sessões com todos os Beatles durante sua estada em Paris. Lembra-se: "Na primeira noite alguém chutou um fio no palco e toda a casa entrou em curto. As luzes se apagaram e não havia nenhuma amplificação. Quando as vaias começaram, Ringo salvou a noite. No alto do seu kit, surrava a bateria como um louco. Todos foram à loucura, cantando "Rin-Go! Rin-Go! Ringo foi realmente o Beatle mais popular na França".

Os Beatles foram contratados para tocar no famoso Olympia de Paris no Teatro des Capucines Boulevard por três semanas a partir de quinta-feira 16 de janeiro de 1964 até terça-feira 04 de fevereiro. Cada apresentação seguiria a seguinte ordem: The Beatles, Trini Lopez e Sylvie Vartan.

A qualidade dos concertos que os Beatles fizeram em Paris é das melhores que fizeram ao vivo em toda sua carreira, porque não havia Beatlemania em Paris. Ouviam-se todas as suas harmonias e os vocais, guitarras, baixo e bateria eram perfeitos. A multidão reagia quase sempre em silêncio com poucos batendo palmas ao final de cada número. Quando Paul pediu para o público se juntar a eles em seu próximo número "Long Tall Sally", seguiu-se o silêncio. "Si vous ne voulez pas vous joindre à nous, peu importe, nous allons de toute façon" - Paul disse: "Se vocês não quiserem se juntar a nós não importa, vamos de qualquer maneira”. A partir daí. a françezada começou a acordar.
Os Beatles nunca negaram sua admiração por Brigitte Bardot (principalmente George) e pediram para conhecê-la durante a viagem. No entanto, o diretor da Odeon francesa enviou-lhes uma grande caixa de chocolates dizendo: "Infelizmente, Brigitte Bardot está de férias no Brasil. Esperamos que estes doces os confortem”.
Vincent Mulchrone que escrevia para o jornal Daily Mail disse: "Se Paris e os Beatles vão ter um namoro, o início está muito lento. Você não pode culpar Paris. Ela está quente e convidativa. Os Beatles também são quentes, mas parece que preferem dormir”.
John e Paul repartiram uma suite onde foram solicitados que começassem a escrever seis novas músicas para seu filme de estreia, além de uma canção para Billy J. Kramer e Peter and Gordon. Na primeira noite, um piano foi levado para a suíte e eles começaram a trabalhar nas músicas enquanto George saiu e visitou o Eva Club.

Os Beatles tocaram no Olympia por vinte dias, com duas, e até três apresentações por dia, 40 shows no total. No repertório estavam seus grandes hits até então: From Me To You, Roll Over Beethoven, She Loves You, This Boy, I Wanna Hold Your Hand, Boys, Twist and Shout e Long Tall Sally. A França era um mercado completamente diferente da Grã-Bretanha, especialmente na medida em que os gostos musicais faziam essa diferença. Eles não lançavam singles, apenas álbuns e compactos duplos - até 1967. Portanto, os franceses só conheciam dos Beatles, as canções lançadas nos dois álbuns.
Durante a tarde de quinta-feira 16 de janeiro, os Beatles fizeram um show razoável diante de uma plateia de estudantes. Mas o show da noite foi um desastre. Toda a alta sociedade francesa estava na plateia trajados com smoking e vestidos de gala. Foi um dos shows mais difíceis para nossos heróis. Os franceses eram frios e não estavam nem aí para eles. Durante a apresentação, a amplificação quebrou três vezes e George expressou sua opinião dizendo que os fotógrafos haviam sabotado o equipamento.
Após a recepção fria o grupo voltou para o Hotel George V. Anos mais tarde, George Harrison diria: "O público no Olympia não era parecido em nada com qualquer público para que nós tenhamos tocado antes. Eles eram pessoas velhas vestindo smoking, como se fossem ver a avant-premiere de algum filme famoso ou a estreia de um balé. Ficamos desapontados porque não havia garotas francesas. Todas as garotas que tinham ouvido falar sobre nós, estavam trancadas em casa por causa do catolicismo tão rigoroso na França naqueles dias”.

Os críticos franceses também foram severos em suas opiniões. Mulchrome Victor, escrevendo para o Daily Mail, comentou, "A Beatlemania, assim como a entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum, é um problema que os franceses preferem adiar por um tempo". O jornal francês France Soir referiu-se aos Beatles como delinquentes e transgressores.

Um entrevistador da BBC perguntou para John: "Os franceses dizem que não têm uma opinião formada sobre os Beatles. O que você acha deles?", John respondeu: "Ah, nós gostamos dos Beatles. São artistas de verdade”.
Na terça-feira 28 de janeiro, em seu dia de folga, John e George voltaram para Londres. John foi a para casa e George foi jantar com Phil Spector e suas Ronettes. Os dois voltaram a Paris na manhã seguinte. Em seguida, os Beatles gravariam as versões de SHE LOVES YOU e I WANT TO HOLD YOUR HAND em alemão.
Neil Aspinall, road manager dos Beatles, comentou: "Enquanto estávamos no Hotel George V, um monte de coisas interessantes estavam acontecendo. Como a chegada de George Martin para as gravações em alemão, Derek Taylor entrevistando George para a coluna Daily Express que ele estava fazendo, John escrevendo novos números e também estava trabalhando em seu segundo livro, 'A Spaniard in The Works'. Os Beatles ouviram pela primeira vez um álbum de Dylan e David Wynne, o escultor também estava lá, ele fez as esculturas das cabeças dos Beatles".

Mas nem só de dissabores, foi a estadia dos Beatles na França no início de 1964. Afinal, foi no George V que, após chegarem de mais uma apresentação no Olympia, receberam um telegrama de um eufórico Brian Epstein parabenizando-os por terem chegado ao primeiro lugar nas paradas americanas. E para lá foram os rapazes conquistar os States e depois o resto do mundo! A próxima vez que os Beatles voltaram em Paris, foi em sua próxima turnê europeia, em junho de 1965. Mas, dessa vez, a França já tinha sido completamente devorada pela Beatlemania.

RINGO STARR - BEAUCOUPS OF BLUES - 2015

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Ringo sempre se demonstrou um grande fã de canções de country e western. Muitas das músicas que ele canta nos álbuns dos Beatles são variações roqueiras desses estilos. Basta lembrar de What Goes On em Rubber Soul ou a própria composição dele no Álbum Branco, Don’t Pass Me By. Em Help há um verdadeiro clássico country cantado por ele: Act Naturally.

Em maio de 1970, enquanto participava das sessões de All Things Must Pass — o legendário álbum solo triplo de Harrison —, Ringo conheceu Pete Drake. O renomado músico de Nashville estava em Abbey Road registrando pedal steel guitar para o disco de George. A afinidade musical acabou aproximando os dois.

Drake já havia trabalhado com Elvis e Bob Dylan. Starr questinou sobre o fato de Nashville Skyline — disco de 1969 de Dylan — ter sido gravado e concluído tão rapidamente quanto comentavam. Pete disse que sim, que em pouco tempo ele era capaz de produzir um álbum. Logo os dois passaram a discutir sobre a possibilidade de registrarem um disco só de country. A intenção de Ringo era gravar material na Inglaterra e enviar as fitas master para serem finalizadas por Pete em Nashville. Mas Drake soube convencer Starr de que o ideal seria ele ir até os Estados Unidos para realizar todas as sessões.

Quando voltou para Nashville, Pete solicitou que vários dos melhores compositores de country escrevessem canções inéditas para o álbum de Ringo. Starr voou para os EUA no dia 22 de junho de 1970. Imediatamente ouviu as demos e escolheu as músicas que lhe interessaram. Drake havia reservado o Music City Recorders Studio e contratado vários dos músicos de estúdio mais requisitados do Tennessee para as gravações: Jim Buchanan, Charlie Daniels, D.J. Fontana, Buddy Harman, Chuck Howard, Roy Huskey Jnr, The Jordanaires, Ben Keith, Jeannie Kendal, Jerry Kennedy, Dave Kirby, Grover Lavernder, Charlie McCoy, Sorrells Pickard, Jerry Reed, George Richey e Jerry Shook (foto de todos abaixo). Além de cantar, Ringo tocou bateria e violão em algumas faixas.

No dia 1º de julho — em menos de 10 dias — os trabalhos estavam encerrados e Ringo já retornava para a Inglaterra. Em setembro, o segundo álbum solo de Starr naquele ano era lançado. “Beaucoups of Blues” é composto por 12 canções e, sem dúvida, um disco incrível de country. Promovendo o lançamento, um single foi lançado com um lado-B inédito: Coochy Coochy. Quando Beaucoups of Blues foi relançado em CD, em 1995, essa música foi incluída como faixa bônus, junto com Nashville Jam, que reunia todos os músicos presentes nas sessões.

Apesar de ser muito bem cotado pela mídia especializada, e sem dúvida ser muito superior ao trabalho anterior do artista, não vendeu tão bem. Nem mesmo chegou a entrar nas paradas inglesas. Talvez o fato desses primeiros títulos solo de Ringo não receberem o devido reconhecimento se deva ao incrível avanço discográfico dos seus ex-colegas Beatles na época. Anos mais tarde, em retrospecto, muitos críticos apontaram essa como sendo a obra prima de Ringo. Talvez não seja para tanto, tendo em vista vários outros clássicos incríveis lançados por ele nos anos posteriores. Mas ainda assim, é um clássico indiscutível do country rock. “Beaucoups of Blues” foi lançado em 25 de setembro de 1970 no Reino Unido e 28 de setembro de 1970 nos Estados Unidos.
Fonte do texto: 
http://whiplash.net/materias/cds/116229-ringostarr.html#ixzz2XorWpQPZ

GEORGE HARRISON - GIVE LOVE (Give Me Peace On Earth)

Um comentário:

THE BEATLES LIVE IN JAPAN 1966

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No dia 30 de junho de 1966, os Beatles e sua comitiva chegam ao Haneda Airport, em Tóquio, às 3h40 (tendo perdido um dia em razão da diferença de fuso horário). Do aeroporto, seguiram para o Tokyo Hilton, onde todo um andar fora reservado para eles. À noite, é a apresentação Nippon Buiiokan Hall, em Tóquio. Os Beatles apresentam-se com Yuya Uchida e Isao Bitoh, em um show que reuniu 10 mil fãs enlouquecidos. Houve vários protestos da direita japonesa, incluindo ameaças de morte, contra a apresentação dos Beatles no Nippon Budokan Hall (Martial Arts Hall), templo sagrado destinado às artes marciais, visto como santuário nacional dos mortos da Segunda Guerra. Portanto, era considerado um sacrilégio uma banda de rock tocar em seu palco. Por causa dessas ameaças, os japoneses montaram um esquema de segurança entre o aeroporto e o hotel, com 30 mil homens uniformizados. Depois dos Beatles, o Nippon Budokan Hall, em Tóquio, veio a se tornar um dos principais locais para shows de rock em Tóquio.

No dia seguinte, 1º de julho, novamente no mesmo palco do Nippon Budokan Hall, os Fab Four fizeram dois shows, sendo que o primeiro foi filmado pela TV japonesa. No dia 2 de julho foi a última apresentação no Japão, também na mesma casa: Nippon Budokan Hall. A histeria dos fas é tamanha e o esquema de segurança do Exército tão rígido que os Beatles não puderam sair do hotel e, para comprarem algumas lembranças, comerciantes locais foram até sua suíte, onde lhes venderam quimonos, tigelas e outros objetos a preços exorbitantes.

Depois de partirem do Japão, fizeram uma escala em Hong Kong e seguiram para Manila nas Filipinas, onde passaram os piores momentos de suas vidas. Agora, a gente assiste o 1º show inteiro dos Beatles no Japão. Arigatôzão, everybody! Aquele abraço!

sábado, 27 de junho de 2015

THE BEATLES - HELP! NÃO É MOLE NÃO!

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THE BEATLES ► GEOFF EMMERICK ► ALL YOU NEED IS LOVE

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E para não perder o costume, com a absoluta exclusividade de sempre, somente aqui no Baú dos Beatles e da Cultura pop, a gente confere um trecho inteiro do livraço "Minha Vida Gravando Os Beatles", de Geoff Emmerick. O engenheiro de som que viu tudo acontecer na frente dos seus olhos. Absolutamente imperdível!Apesar de toda a diversão que estávamos tendo no estúdio, não há dúvi­da de que os Beatles estavam de fato bastante dispersos naquele momento. Richard e eu estávamos adorando aquelas sessões, mas George Martin come­çou a reclamar um pouco sobre a falta de produtividade da banda. Pessoal­mente, eu via como um pequeno alívio inofensivo depois de toda a intensi­dade que tinha sido colocada em Sgt. Pepper. A pergunta era: quanto tempo aquilo duraria antes que eles ficassem entediados? Mas naquela altura não havia tempo para o tédio. Dois meses antes, en­quanto ainda estávamos envolvidos com o trabalho de completar Sgt. Pepper, Brian Epstein fez uma de suas raras visitas ao estúdio. Com um movimento grandiloquente de suas mãos, ele pediu silêncio. “Rapazes”, ele anunciou,“eu tenho uma notícia fantástica para dar”. Os ouvidos de todos ficaram em alerta. Brian fez uma pausa dramática para dar ênfase. “Vocês foram seleciona­dos para representar a Inglaterra em um programa de televisão que, pela primeira vez, será transmitido ao vivo em todo o mundo via satélite. A BBC de fato irá filmá-los na gravação de seu próximo álbum.” O show, ele continuou explicando, se chamaria Our world, e era uma celebração de culturas ao redor do mundo. Ele olhou ao redor da sala com expectativa. Eu quase pensei que ele estava se preparando para fazer uma reverência. Para sua total decepção, a resposta do grupo foi... bocejar. Ringo se remexeu nos fundos da sala, ansioso para voltar ao jogo de xadrez com Neil, e George voltou a afinar sua guitarra. John e Paul trocaram olhares inexpressivos por um momento. Paul não parecia muito interessado; eu acho que ele provavelmente estava muito determinado a terminar Sgt. Pepper. Com uma visível falta de entusiasmo, John finalmente disse: “Ok. Vou fazer alguma coisa”. Brian ficou irritado com a reação indiferente do grupo."Vocês não estão animados? Não percebem o que isso significa para nós? Não têm ideia de quanto trabalho e esforço eu fiz para conseguir isso?”
Lennon interrompeu-o com um comentário ácido: “Bem, Brian, isso é o que você ganha por nos comprometer a fazer algo sem nos consultar antes”. Epstein parecia próximo das lágrimas. Sem palavras, ele saiu batendo os pés do estúdio, em um chilique. Pelas conversas no estúdio que aconteceram depois que ele foi embora, eu deduzi que, ao invés de verem isso como uma grande conquista, os quatro Beatles viram aquilo como uma violação da sua autodeclarada intenção de nunca mais tocar ao vivo. Além do mais, eles se ressentiram com o fato de que o empresário havia apresentado aquilo a eles como um fato consumado. Eles estavam em um ponto em que eles queriam ter o controle das próprias carreiras. Com isso, o assunto foi esquecido... até que, algumas semanas depois, durante uma das sessões de “You know my name”, Paul perguntou casual­mente a John: “Como você está indo com aquela música para o programa de televisão? Já está quase pronta?”. John olhou interrogativamente para Neil, que tomava conta da agenda da banda. “Duas semanas, parece”, Neil respondeu depois de consultar seu livro esfarrapado. “Tão perto assim? Bem, então, acho que é melhor eu es­crever alguma coisa”. Essa “alguma coisa” que John Lennon escreveu — por encomenda e lite­ralmente em questão de dias — foi a canção “All you need is love”, que não só foi direto para o topo das paradas, mas serviu como hino para uma geração, a síntese perfeita da era ingênua e de olhos deslumbrados conhecida como o Verão do Amor. Em nossa perspectiva, aquele parecia mais o verão da loucura. Em um minuto, estávamos trabalhando em um ritmo tranquilo em dois projetos dis­tintos, simultaneamente, nenhum dos quais tinha uma data de término defi­nitiva, e no minuto seguinte, todo o complexo da Abbey Road foi lançado em um pânico total, porque a própria transmissão seria originada no Studio One. O projeto se desenrolou tão rapidamente, na realidade, que George Martin não conseguiu agendar a banda para qualquer um dos estúdios da EMI, então eles tiveram de gravar a base no Olympic; mais uma vez, para minha frustração, eu não pude fazer a engenharia de som da faixa e nem mesmo estar presente, porque eu era um funcionário da EMI. Quando eles voltaram, nós rapidamente organizamos três sessões na Abbey Road, durante as quais nós gravamos os backing. Não é preciso dizer que fazer playback para uma faixa pré-gravada era a maneira de agir mais segura, mas, em um acesso de bravata, Lennon anunciou que ele gravaria sua voz ao vivo, durante a transmissão, o que levou o sempre competitivo Paul a replicar que, se John ia fazer aquilo, ele também tocaria baixo ao vivo. Aquela me parecia ser uma decisão imprudente - embora corajosa. E se um deles cantasse ou tocasse uma nota errada na frente de milhões de telespectadores? Mas eles estavam extremamente confiantes e não puderam ser dissuadidos por George Martin, que era totalmente contra, mas, como estava acontecendo naquela altura, ele não tinha mais autoridade.
Em um ato de desafio ainda maior, John e Paul tentaram convencer George Harrison a fazer seu solo de guitarra ao vivo, o que todos nós sabiámos que era uma proposta traiçoeira; para minha surpresa, Harrison cedeu, sem muita discussão; minha sensação é de que ele estava com medo de ficar constrangido na frente de seus companheiros de banda. Somente Ringo estava completamente seguro, por razoes técnicas: se a bateria tosse tocada ao vivo, haveria muito vazamento nos microfones que captariam o som da orquestra. Ringo balançou a cabeça solenemente, concordando, quando eu expliquei isso para ele. Eu não sei dizer se ele ficou aliviado por ter se livrado da responsabilidade de tocar ao vivo, ou se ele se sentiu deixado de fora. A transmissão estava prevista para ser realizada em menos de uma semana, num domingo à noite. Nos dias que a antecederam, eu comecei a fumar um cigarro atrás do outro e tive insônia e dores de cabeça. Os outros funcionários da Abbey Road me alfinetavam sem parar, dizendo que não trocariam de lugar comigo por todo o chá na China. Eu entendia o que eles queriam dizer. Eu sabia que estava na berlinda: se alguma coisa, qualquer coisa desse errado com a parte do áudio ua transmissão, o dedo seria apontando diretamente para mim. Na noite de sexta-feira, no meio de uma prova de figurino, Brian Epstein chegou e fez uma reunião com George Martin e a banda na sala de controle do estúdio One, para discutirem se seria prudente fazer um lança­mento relâmpago da performance vindoura como um single. John, é claro, esta­va interessado — era a canção dele, afinal de contas — e não foi preciso muito estorço para conseguir que Paul fosse convencido também, uma vez que ele sabia o valor da publicidade maciça que eles receberiam graças à transmissão, garantindo assim uma grande venda de discos. Apenas George Harrison esta­va relutante; presumivelmente, ele estava preocupado de que ele pudesse fa­lhar em seu solo, apesar de ter apenas quatro compassos. Ele foi finalmente persuadido quando George Martin assegurou a ele que poderíamos ficar até mais tarde e depois fazer qualquer conserto que fosse necessário. A decisão, é claro, colocou ainda mais pressão sobre mim. Eu já não tinha de apenas fazer o som para a transmissão ao vivo — o caminhão da BBC, estacionado do lado de tora, receberia no monitor o sinal de áudio da mixagem que eu estaria fazendo enquanto os Beatles e os músicos da orquestra tocariam ao vivo —, mas eu tinha de ter tudo corretamente gravado em fita também.Somando-se ao caos, havia a insistência de John em fazer uma mudança de última hora para o arranjo, o que deixou George Martin em frenesi - ele estava fazendo a partitura para a orquestra e teve de rapidamente fazer novas partituras para os músicos, que perambulavam impacientemente, esperando por ele. A seu favor, George veio com um arranjo espetacular, especialmente considerando o tempo muito limitado que ele teve para fazê-lo e a métrica estranha que caracterizava a música. "All you need is love" era de fato muito simples quando nos foi mostra­da pela primeira vez, mas ela foi ficando mais complicada conforme ia ga­nhando estrutura. Embora fosse uma composição de Lennon, notei que Paul estava tomando a frente em muitos aspectos, certamente em termos de fazer sugestões e interagir com os músicos clássicos, muitos dos quais (como o trompetista David Mason) tinham trabalhado conosco antes. Como George Martin quis permanecer na sala de controle, Mike Vickers, da banda Manfred Mann, foi recrutado para reger. De tarde, antes da transmissão, a equipe da BBC chegou e começaram os ensaios de câmera. A imprensa também foi autorizada a fazer uma breve sessão de fotos, mas quase não os notei - eu estava muito ocupado, concentrado nos desafios técnicos da transmissão ao vivo; havia muitas coisas que poderiam dar errado. Para desgosto do grupo, os fotógrafos ficavam gritando perguntas que não tinham nada a ver com a transmissão que aconteceria, isso porque Paul tinha dado uma controversa entrevista à BBC alguns dias antes, na qual ele confessara que havia tomado LSD. Os outros Beatles esta­vam com ele, mas eu podia dizer pelas suas expressões naquele dia que eles não estavam satisfeitos com a invasão indesejada naquilo que eles viam como suas vidas pessoais.
Logo recebemos a notícia de que o diretor de televisão queria colocar uma câmera na sala de controle para pegar imagens de nós três. Um George Martin claramente satisfeito se voltou para mim e disse: “E melhor vocês se arrumarem — vocês estão prestes a se tornar estrelas de televisão internacio­nais”, o que fez com que eu ficasse ainda mais nervoso! Em certo momento durante os ensaios de câmera, notei George Harrison conversando com o diretor de televisão por muito tempo. Eu não tinha ideia do que eles estavam falando, mas notei durante a transmissão que a câ­mera não estava voltada para George durante o seu solo de guitarra.Talvez ele tenha pedido isso especificamente, seja porque ele não tinha confiança em sua performance, seja porque ele sentia que era provável que ele substituísse o trecho mais tarde. Houve também certo problema com os microfones de voz que eu estava usando, que eram volumosos e aparentemente ofensivos para o diretor quan­to à estética. Mesmo que Paul e George fossem fazer playback de seus backing vocais (que tinham sido pré-gravados, junto com a voz guia de John), Paul tinha pedido um microfone que funcionasse, para que ele pudesse gritar alguns improvisos. O problema é que o microfone que eu tinha colocado bloqueava o rosto de Paul no ângulo de câmera que eles queriam usar. No finall, eu concordei com o pedido do diretor de que um microfone menor fosse usado, mesmo que aquele não fosse o microfone que eu normalmente escolheria. Eu sentia que era improvável que qualquer coisa que Paul acabas­se improvisando fosse de grande importância para a gravação, e mesmo se fosse seria algo que poderíamos gravar por cima depois.
Os ensaios do fim de semana duraram horas, mas, de repente, já era do­mingo a tarde. Depois de completar uma breve passagem de som, George Martin convidou Richard e eu para sua casa próxima a Marble Arch, onde ele morava com sua esposa, Judy, para que pudéssemos descansar por uma ou duas horas antes da transmissão da noite. Judy nos fez sanduíches de cordeiro, que sempre foram os favoritos de George. Foi um belo gesto do sobrecarre­gado produtor, que estava, como nós, sob muita pressão. Infelizmente, eu não acho que lenha ajudado muito a nos acalmar. Eu simplesmente estava louco para que aquilo acabasse! Quando voltamos à Abbey Road, por volta das seis horas, os Beatles já se encontravam lá, vestindo suas melhores roupas da Carnaby Street, e os músi­cos em smokings, enquanto as celebridades convidadas — inclusive Brian Epsteín e várias estrelas do rock, esposas e namoradas — estavam começando a chegar. Havia uma verdadeira atmosfera de festa, semelhante àquela que nós havíamos presenciado durante os prévios happenings dos Beatles, mas Richard e eu ficamos impressionados pela forma como John estava visivelmente ner­voso, o que era bastante incomum para ele: nunca o tínhamos visto tão preo­cupado. Ele fumava como uma chaminé e bebia diretamente de uma garrafa, apesar das advertências de George Martin de que aquilo era ruim para a sua voz - um conselho que Lennon ignorou solenemente. Uma vez, quando eu passava, eu ouví John murmurando para si: “Oh, Deus, espero cantar certo a letra”. Naquela noite, ele foi forçado a confiar em sua memória, porque a folha com a letra que ele sempre usava teve de ser deixada de lado, devido ao angulo da câmera; se ele virasse a cabeça para consultá-la, cantaria fora do microfone. Paul dava a impressão de estar confiante, mas ele tinha um sorriso estranho e congelado plantado em seu rosto, que traía seus nervos em frangalhos. George e Ringo pareciam ser os mais calmos dos quatro, embora eu pudesse perceber alguma tensão na linguagem corporal deles também. À medida que a hora da transmissão se aproximava cada vez mais, era quase possível sentir a adrenalina enquanto o nervosismo crescia em todos nós.
Paul entrou na sala de controle em certo momento e passou algum tem­po trabalhando no som do baixo comigo. Isso me pareceu uma coisa inteli­gente a se fazer. Não somente ele estava se certificando de que seu instru­mento ficaria da forma como ele queria, mas sair do estúdio e ficar longe dos outros e da linha de fogo teve um efeito calmante sobre nós dois. Isso deu a ambos um pequeno santuário onde podíamos nos concentrar em apenas uma coisa específica, e não pensar sobre o monumental feito técnico que logo estaríamos tentando realizar. Graças à Lei de Murphy o caminhão da BBC perdeu a comunicação minutos antes de entrarmos no ar, então George Martin teve de retransmitir a instrução do diretor de “ficar a postos” para todos que estavam no estúdio, o que colocou uma pressão extra sobre ele. Um pouco antes do momento previsto para a transmissão começar, George e eu decidimos beber um gole de uísque para dar sorte. Richard quis se juntar a nós, mas George disse: “Não, é melhor você não”. Ele sabia que o trabalho de Richard era absolutamente crítico, porque ele tinha a tarefa de reproduzir a fita com a base a partir de uma máquina multitrack enquanto gravava simultaneamente a performance ao vivo em outra máquina. Se ele se enganasse e colocasse a máquina errada para gravar, teríamos um desastre em nossas mãos! Assim que os copos alcançaram nossos lábios, Murphy atacou mais uma vez.“Indo ao ar ... AGORA!”, nós ouvimos pelo interfone, inesperadamen­te. De acordo com o nosso relógio, eles estavam quarenta segundos adianta­dos. Mas não havia tempo para discutir ou debater o assunto. Instintivamente George e eu tentamos loucamente esconder a garrafa e os copos debaixo da mesa de mixagem antes que a câmera da sala de controle nos pegasse beben­do. Felizmente, conseguimos completar a operação segundos antes de a luz vermelha se acender. Considerando o pânico de última hora, eu acho que George fez um bom trabalho ao recuperar sua compostura, parecendo ele­gante em seu terno branco à la Casablanca. Após um momento de pausa, enquanto ele recebia instruções do caminhão da BBC, ele colocou o microfone de comunicação em frente à sua boca e disse: “Pronto, Geoff?”

Eu estava... mas, ao mesmo tempo em que a pergunta foi feita para mim, eu também ouvi o som desconcertante de uma fita sendo enrolada de novo; obviamente, Richard não estava tão pronto como o resto de nós. Tentei ganhar tempo. “Hummm... pronto, Richard?”, eu murmurei tão lentamente quanto pude, enquanto meu assistente aterrorizado olhava im­potente para o gravador, ainda rebobinando. O problema era que, enquan­to o caminhão de televisão da BBC estava passando o vídeo de introdução do programa, nós devíamos estar reproduzindo uma pré-mixagem iniciai da canção, completa com a guia de voz de John, como pano de fundo para o que estava acontecendo na tela. Então, enquanto Steve Race, o locutor, começou a apresentar o nosso segmento, Richard teve de rebobinar e ra­pidamente mudar as bobinas; aquele era o trabalho que não estava total­mente completo quando George se voltou para nós. Foi apenas uma ques­tão de segundos antes de Richard conseguir resolver aquilo e tudo ficar pronto para ir ao ar, mas naquela sala de controle apertada e quente aquilo pareceu durar uma eternidade. Finalmente chegamos ao momento da verdade. George Martin falou aos quatro Beatles, suas esposas, amigos e orquestra: “Ok, todos a postos... lá vamos nós!”, e a transmissão começou. Do início ao fim, tudo durou apenas quatro minutos, mas pareceram horas. Foi angustiante, com certeza, mas por algum milagre não houve problemas técnicos de nossa parte. Durante poucos segundos a transmissão ao vivo da BBC de fato perdeu o sinal de vídeo, mas, felizmente, esse foi recu­perado rapidamente, e, de qualquer maneira, não foi culpa nossa, Os próprios Beatles fizeram uma performance inspiradora, mas dava para ver a expressão de alívio em seus rostos à medida que a música foi acabando e eles perceberam que realmente haviam conseguido fazer aquilo. John passou por tudo como um artista experiente, fazendo um vocal surpreendente, apesar de seu nervo­sismo e do chiclete em sua boca, que ele havia esquecido de jogar fora antes de irmos ao ar, O desempenho de Paul, como sempre, foi sólido, sem gafes, e ate mesmo o solo de George Harrison foi razoavelmente bom, embora ele tenha dado uma nota errada no final. Sem surpresa, apesar da partitura com­plicada e das complexas mudanças de tempo, os músicos da orquestra passaram por tudo aquilo como os profissionais que eles eram, sem nenhuma falha de qualquer tipo, mesmo nos riffs de metais mais exigentes.
Nosso plano ambicioso, ou ate mesmo um pouco louco - era tentar conseguir que a mixagem final de“All you need is love” fosse enviada para a fábrica naquela mesma noite para que o disco pudesse estar nas lojas antes do fim de semana, mas nós sabíamos que demoraria um pouco para que todos os músicos, convidados e técnicos arrumassem as coisas e fossem em­bora, de modo que o resto da sessão foi agendado para o StudioTwo. Enquanto a mudança estava sendo feita, Richard e eu tivemos permissão de George Martin para ir até lá fora para um rápido drinque de comemoração no Abbey Tavern, ali perto. Eu estava encharcado de suor, tanto pela tensão nervosa quanto pelo calor da noite, e, enquanto caminhávamos os poucos quarteirões ate o pub eu ficava repetindo para mim: “Meu Deus, como estou feliz que isso acabou! Quero uma bebida!”. Richard e eu estávamos tremendo, rindo e emocionados, enquanto brindávamos um ao outro no pub barulhento, mas tínhamos prometido a George que não demoraríamos, e que nós nos limita­ríamos a uma única dose de bebida... com meio litro de chaser. Ainda assim, aproveitamos esse momento extra e, quando voltamos, qua­se às 23h, a sessão de mixagem estava prestes a começar. George tinha cha­mado Martin Benge, o engenheiro de manutenção de plantão, para deixar prontos os gravadores. Desde a primeira reprodução, os quatro Beatles fica­ram impressionados com o que estavam ouvindo. Harrison se encolheu um pouco durante seu solo tle guitarra, mas Richard tomou a iniciativa e lhe deu segurança,dizendo:44Vai ficar bom, nós colocaremos um pouco de wobble nele e ficará ótimo”. No final, tudo o que tínhamos a fazer era adicionar o efeito e abaixar a última nota ruim. O baixo de Paul estava ótimo -  não havia necessidade de corrigir nada e o vocal de John precisava que apenas duas frases tossem regravadas no segundo verso, onde, como se esperava, ele havia errado a letra. A única coisa que faltava era refazer o repinicar da caixa que Ringo havia tocado na introdução da canção. Havia sido uma decisão de ultima hora que ele fizesse daquela forma, ao vivo, durante.a transmissão, e George Martin sentiu que poderia ser melhorado um pouco! Hoje em dia, quando as gravações de shows ao vivo são frequentemente alteradas no estúdio posteriormente, a um ponto em que dificilmente algo da verdadeira apresentação permanece, pode parecer inacreditável, mas é verdade: as únicas coisas que foram substituídas em “All you need is love” para o lançamento do disco foram o repinique da caixa no início e duas frases do vocal principal.
Os overdubs não demoraram tanto tempo para serem feitos, mas todos nós estávamos exaustos com os acontecimentos do dia, então George Martin tomou a decisão de adiar a mixagem por 24 horas para que pudéssemos vol­tar novos em folha. Rejuvenescidos e revigorados por uma boa noite de sono, conseguimos completar a mixagem rapidamente, e a fita foi então transferida para o vinil por Ken Scott, que estava sendo treinado como engenheiro de masterização. O single ainda conseguiu sair até o final da semana, só que che­gou às prateleiras em uma sexta-feira, em vez de quinta-feira, o que pareceu não prejudicar as vendas. “All you need is love” foi direto para o número um e permaneceu no topo das paradas por várias semanas. Depois de toda a pressão — e do triunfo definitivo - da transmissão, os Beatles decidiram reservar a maior parte de julho e agosto para tirar ferias, fazendo apenas um punhado de gravações em estúdios externos. Certa vez, Paul me ligou e me pediu para acompanhá-lo em uma sessão que ele estava produzindo para o seu irmão, Mike, no pequeno estúdio no porão de Dick James, no West End de Londres. Paul apareceu vestido com o uniforme que ele usou na capa do álbum Sgt. Pepper, com seu trompete pendurado no ombro. Se ele estava querendo atenção, no entanto, ele não a conseguiu: era um domingo e a rua estava completamente deserta. Na verdade, nós tivemos alguma dificuldade para conseguir entrar. Isso marcou a primeira vez que Paul e eu trabalhamos fora da Abbey Road.., e era algo que eu não poderia fazer. Mas tudo foi muito informal — a garrafa de uísque apareceu em certo ponto e nós nos divertimos; eu até mesmo toquei piano em uma das faixas. Mais tarde, naquela noite, Paul nos deu carona para casa em seu Aston Mar­tin. Foi uma emoção muito grande percorrer as ruas desertas de Londres com tanto luxo.

Não deixem de conferir também a postagem superlegal “GEOFF EMERICK - MINHA VIDA GRAVANDO OS BEATLES” publicada em 27 de setembro de 2014.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

THE BEATLES LIVE IN MELBOURNE - AUSTRALIA - 1964

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No dia 11 de junho de 1964 às 18h, os Beatles chegaram à Austrália pela primeira e única vez. Eles desembarcaram em Darwin para reabastecer e depois voaram para Sydney, onde 2.000 fãs enlouquecidas aguardavam sua chegada no Aeroporto Mascot. Eles desfilaram na chuva para a multidão na parte de trás de um carro aberto.
Chegaram ao hotel em Potts Point, em Sydney, encharcados e participaram de uma série de entrevistas com a imprensa e sessões de fotografia. Ringo, que estava doente, foi substituído pelo baterista Jimmy Nicol mas se juntou à banda ainda em tempo para fazer os últimos shows. 
Os últimos shows dos Beatles foram em Melbourne. Ringo já assumira novamente seu posto e os Beatles tocaram bem demais. Foram três noites consecutivas na cidade do Festival Hall. Cada noite, eles fizeram dois concertos, que foram vistos por um total de 45.000 pessoas. As câmeras do Canal 9 australiano registraram o sexto e último show em Melbourne. Foi exibido em 1 de julho 1964, como um especial de uma hora de duração – “The Beatles Sing For Shell”, em homenagem à companhia de petróleo que patrocinou a transmissão. Nove canções apareceram no show: I Saw Her Standing There, You Can’t Do That, All My Loving, She Loves You, Till There Was You, Roll Over Beethoven, Can’t Buy Me Love, Twist And Shout e Long Tall Sally. No finalzinho de Long Tall Sally, um um fã invadiu o palco para apertar a mão de John Lennon, que foi simpático com ele. Tudo isso a gente confere agora: THE BEATLES!