"Náufrago" (Cast Away) é muito mais do que um filme. É uma das maiores heranças da sétima arte para seus apreciadores, exibindo uma jornada de esperança coragem e sobrevivência. Tom Hanks nos presenteia com uma das melhores atuações já vistas na tela. Ele é Chuck Noland, um engenheiro de sistemas da Fedex que sofre um acidente e se vê abandonado em uma ilha remota. A obra-prima de Robert Zemeckis faz-se de grande relevância para estudantes de Psicologia e Comunicação dado que elementos primordiais do filme condizem com processos estudados nestas áreas. Com o foco no campo da Comunicação Social, percebemos a importância de comunicar-se baseando no exemplo de Chuck, um homem social, acostumado a relacionar-se constantemente que de repente se vê isolado de tudo e todos.
No início do longa, percebe-se a dependência de Chuck da comunicação interpessoal na sua profissão. A todo tempo ele usa a linguagem para dar ordens, orientar e cobrar o máximo de agilidade de seus funcionários. O personagem é alguém de extrema atividade, sua vida é demarcada em todos seus horários pelo relógio. Ocupado demais e obrigado a restringir ao máximo seus compromissos pessoais, ele deixa a namorada com a promessa de que voltaria logo e num acidente catastrófico, sua vida corrida é interrompida num lugar sem pagers, agendas ou celulares.
Desde então batalha para manter-se respirando. É interessante notar nesta luta do protagonista uma inversão na transformação humana. Se na história do ser humano registra-se uma evolução gradual do seu estado de natureza para a vida em sociedade e conseqüente criação de mecanismos de comunicação verbal e escrita, agora temos um homem no último estágio da evolução de uma sociedade sofisticada que precisa rapidamente tornar-se um selvagem para continuar vivo. Buscar água, criar instrumentos de caça, pescar, abrigar-se em cavernas e fazer fogo por meios naturais, são algumas conquistas deste indivíduo civilizado na sua lida com a natureza.
Apesar da sua adaptação a vida “pré-histórica” Chuck jamais conseguiria manter-se consciente na completa solidão. Neste ponto o filme torna-se um exemplo verídico da necessidade da comunicação na vida do ser. A loucura seria o provável fim do indivíduo que capacitado para um processo comunicativo complexo, não encontra ninguém às voltas para colocá-lo em prática. Neste momento brilhantemente entra em cena um novo coadjuvante de Holywood, a bola de voleibol que o náufrago batiza de Wilson. O companheiro inanimado tem suas expressões humanas pintadas por Chuck com seu próprio sangue, após um ferimento e é a peça fundamental de sua jornada.
No rosto simbólico de Wilson, Chuck cria um mecanismo para comunicar-se e evitar desta forma a loucura. No fundo sabia que estava falando com uma bola de vôlei no entanto, sem ela seria arremessado no desespero da solidão e perderia a razão. Wilson é mais uma das formas que encontrou para lutar com um mundo inóspito para um civilizado, reacendendo desta maneira a esperança de reencontrar a amada um dia. A bola em termos psicológicos é parte de seu próprio eu, sua consciência que o reprime nos pensamentos negativos e desejos obscuros. Wilson possibilitava ao mesmo tempo a comunicação intrapessoal e interpessoal do personagem, tão necessária para sua sobrevivência.
Lançado fora de seu tempo e obrigado a dar um novo sentido a sua existência o náufrago traz lições profundas ao telespectador. O sentido metafórico da obra, indica o ser humano perdido em meio a dúvidas e acontecimentos, que precisa continuar a respirar, afinal a própria vida (na simbologia da maré) poderia trazer algo para que possamos combatê-la. Enfim, por toda essa riqueza de detalhes “Náugrafo” é uma produção cinematográfica que merece ser vista e aclamada. Suas idéias ultrapassam o campo captado pelo senso comum e são constatadas por conhecimentos científicos, como a Comunicação Social. Mais do que promover o entretenimento, o filme permite profundas reflexões sobre o sentido da vida e da incontestável necessidade de expressão do homem social.
4 comentários:
Brilhante Edu.Muito bem definido esse filmaço.Acredite,mas teve quem malhasse essa obra (gente especializada).Outro com ele,muito bom é aquele do "aeroporto" (ele faz um estrangeiro que fica morando lá).Muito bom e pouco compreendido.
Adoro esse filme. O Tom Hanks é meu ator favorito. Além desse, eu amo de paixão Forrest Gump e À Espera de um milagre.
Perdi a conta de quantas vezes já assisti.
Wilson (Wilsooonnnnn !!!) virou um mito....!
Edu, adorei este post. As suas colocações sobre a comunicação ficou show. Bjim
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