segunda-feira, 16 de julho de 2012

AS RAÍZES DO ROCK - FLORENT MAZZOLENI

Ao passar por um novo prédio na rua, um transeunte talvez recorde as imagens do canteiro de obras, das máquinas e operários que trabalharam até ficar tudo pronto. Quem sabe ainda lhe sobre tempo para apreciar os detalhes arquitetônicos da fachada, entre outros elementos. Já a construção das fundações possivelmente passará longe da memória - embora sejam elas as responsáveis por manter o edifício em pé. Não totalmente por uma amnésia do transeunte, mas por esta se constituir como uma etapa normalmente menos vistosa e mais distanciada no tempo.
Toda essa história de engenharia pode até não ter sido a inspiração inicial do jornalista, pesquisador musical e fotógrafo francês Florent Mazzoleni quando decidiu escrever o livro "As Raízes do rock", mas a analogia funciona bem para descrever a obra, lançada no Brasil pela Companhia Editora Nacional. Assim como o prédio, o rock´n´roll não surgiu de uma hora para a outra, com o rebolado de Elvis Presley - embora o cantor seja, de fato, um ícone da formatação do gênero. Antes dele, houve o blues, o gospel (aqui entendido como a música cristã afro-americana), o country, o jazz e as "swing bands", entre outros estilos consagrados e, posteriormente, misturados por artistas em diferentes contextos, especialmente negros. As combinações entre esses diferentes elementos, permeadas pelas intensas transformações sociais e políticas ocorridas nos Estados Unidos durante o período resultaram na explosão do rock em meados da década de 1950. Tal epopeia é dissecada por Mazzoleni ao longo de 224 páginas, a partir do resgate da trajetória de artistas fundamentais em cada gênero, com um texto agradável e rico em informações. Cada década equivale a um capítulo. No primeiro, o autor explora os anos 1930, com a popularização do boogie-woogie na comunidade negra e sua transformação em swing por meio das grandes orquestras de jazz, que atendiam ao público branco; além do desenvolvimento do blues - o "lamento negro", cujas raízes estão na região do Delta do Mississipi - e do gospel, modernização dos chamados "cantos espirituais" das igrejas negras. É no gospel, aliás, onde há uma presença maior de artistas mulheres, a exemplo de Lucy Campbell, (primeira negra a publicar canções religiosas) e, mais tarde, de Rosetta Tharpe e Mahalia Jackson, responsáveis por composições clássicas do gênero. Já no caso das swing bands, o destaque vai para John Hammond, que organizou o concerto "From Spirituals to swing", com o objetivo de apresentar a história da música negra aos EUA. A apresentação lendária aconteceu no Carnegie Hall, em Nova York, e reuniu grandes artistas do gospel, do jazz e do blues, entre eles o Golden Gate Quartet, Sonny Terry, Billie Holiday, a Count Basie & The Barons of Rhythm, Benny Goodman e Rosetta Tharpe. Mazzoleni também dedica um tópico especial ao surgimento da guitarra elétrica, cuja importância para o rock dispensa maiores comentários. O autor descortina ainda parte das trajetórias de artistas considerados percussores do rock, a exemplo de Louis Jordan e Hank Williams. No capítulo dedicado aos anos 1940, são apresentadas as raízes do country e sua expansão para além do universo dos brancos do Sul, e a transformação do blues interiorano em rhythm'n'blues, de ritmo mais acelerado, graças à aproximação das populações negras rurais dos centros urbanos, após a II Guerra Mundial. Tal caminho é exposto por meio de lendas do R&B, como Big Joe Turner, Roy Brown, Amos Milburn, Joe Liggins, Paul "Hucklebuc" Williams e protagonistas da cena de Nova Orleans, como Professor Longhair, Dave Bartholomew, Lloyd Price e Eddie "Guitar Slim" Jones. Nesse contexto, Mazzoleni investiga ainda o papel dos selos independentes (Capitol, King, Imperial, Sun, entre outros) e das inovações tecnológicas no mercado, como os novos formatos de vinis. Por fim, o autor chega aos anos 1950, quando resgata aspectos da contextualização sociopolítica que contribuíram para o surgimento do rock'n roll, entre eles a popularização da TV nos lares norte-americanos, o nascimento da cultura adolescente e, posteriormente, a importância do cinema para difundir o jeito "rock'n'roll de ser". O capítulo segue com as histórias de nomes cruciais para o estabelecimento definitivo do rock, desde B.B. King, Ike Turner e o saxofonista Jackie Brenston (responsáveis pelo disco "Rocket 88", considerado por muitos o primeiro disco do gênero), Bill Haley, Fats Domino até Little Richard, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, Johnny Cash e, finalmente Elvis, cuja morte encerra o livro. Para além do conteúdo escrito, boa parte do apelo de "As Raízes do rock" vem das mais de 300 imagens que não apenas ilustram o texto de Mazzoleni, mas lhe dão vida extra e complementam a experiência do leitor. São cartazes de shows, capas e selos de discos, recortes de jornais e outros itens, que constituem uma breve mas reveladora iconografia da história do rock. Por exemplo, mais chocante do que ler é ver o cartaz combativo à música negra, com o texto "Ajude a salvar a juventude da América, não compre discos de crioulos. A gritaria, as letras idiotas e a música selvagem desses discos estão minando a moral da nossa juventude branca na América". Uma pequena amostra das abissais mudanças sociais que aconteceram desde então. O livro custa em média R$ 40,00.

3 comentários:

João Carlos disse...

Boa pedida! Boa sugestão!

Unknown disse...

Edu,eu realmente não sei que tipo de droga o seu blog é,mas que é viciante,é!

Valdir Junior disse...

Valeu a dica Edu !!!
Vou dar uma conferida , é quase certo que vai para " A Lista " !!!