Em julho de 1973 Lennon voltou aos estúdios Record Plant para novas gravações. Desnecessário dizer que sua vida pessoal estava um verdadeiro caos na época. A briga judicial com o governo Nixon seguia em frente, com John tentando de todas as formas permanecer nos Estados Unidos. Seu relacionamento com Yoko estava desgastado. As pressões que havia sofrido por ter se casado com ela tinham atingido um grau simplesmente insustentável. Na realidade o casal estava prestes a entrar em um rompimento duradouro. Talvez por isso seu novo disco trazia uma capa no mínimo inusitada. Nela Lennon aparece minúsculo ao lado de um perfil enorme de sua esposa. Claramente se percebe que ele se distancia dela. Segundo alguns a capa mostrava exatamente o que sentia Lennon durante a produção do disco. Um homem comum ao lado de uma "montanha". Para os cínicos porém tudo o que esse retrato representava era a eterna submissão do ex-beatle à mulher que o dominava completamente, em todas as ocasiões. Ali estava aquele homenzinho ao lado de sua dama dominante, maior que a paisagem ao redor.
Em “Mind Games” Lennon resolveu assumir todas as responsabilidades, assinando a produção, composição e arranjo do álbum. Convocou novos músicos aos estúdios e batizou a banda de The Plastico UFOno Band. A brincadeira tinha sua razão de ser. Poucas semanas antes da gravação ele afirmara que havia visto um disco voador da sacada de seu apartamento. Daí o uso da sigla UFO. O evento jamais foi esclarecido. Não se sabe ao certo se o cantor realmente viu algo ou se estava simplesmente viajando em uma de suas alucinações com LSD. De qualquer maneira ele resolveu que não queria deixar o fato passar em branco e por isso renomeou a banda com essa pequena referência ufológica. Musicalmente "Mind Games" não trazia grandes surpresas em relação ao outros discos da carreira solo de Lennon. Novamente o tema único de suas composições era seu relacionamento com Yoko, seus pensamentos mais pessoais em forma musical. Praticamente todas as faixas são ligadas a isso, de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, com pequenas e esporádicas exceções. Yoko está em todas as músicas. Lennon se declara apaixonado, pede desculpas, a venera, a compara com as maravilhas da natureza e por aí vai. O fato é que realmente parecia que Lennon só tinha pensamentos para sua esposa e por isso o disco é recheado de citações à japonesa.
As letras continuavam feitas em primeira pessoa, bastante autorais. Esse fato aliado a uma produção que foi acusada na época de ser desleixada (o velho problema de arranjos da discografia solo de Lennon) fez com que apenas uma única faixa se destacasse nas paradas, justamente a canção titulo, "Mind Games" que foi excessivamente divulgada nas rádios por insistência da EMI. As demais músicas passaram em branco nas principais paradas musicais e com o tempo se tornaram as mais obscuras canções da discografia de John Lennon. Uma injustiça pois possuem melodias bonitas. Não são excepcionalmente bem arranjadas, mas possuem uma riqueza de melodia que era bem característico do cantor. Rocks são poucos, Lennon parecia muito empenhado em cantar seu romance com Yoko e por isso não sobrou muito para o estilo que o lançou ao estrelado. Apenas "Tight As" e "Meat City" possuem algum vigor roqueiro mas é só isso. "Mind Games" é acima de tudo uma obra de um autor profundamente apaixonado pela mulher de sua vida. Se não é uma obra prima de Lennon, passa longe de ser banal, pois pelo menos traz um instantâneo de sua vida em um momento particularmente confuso. Só mesmo Lennon para ter inspiração para tantas músicas românticas enquanto queriam lhe expulsar dos Estados Unidos. Não deixa de ser um feito e tanto. Pablo Aluísio.
9 comentários:
Pois para mim, é um discão em tanto e com certeza, um dos meus preferidos. Não engulo essa que as canções são mal produzidas e mal arranjadas. Gosto de todas até por razões sentimentais. “Mind Games”, a faixa-título é uma obra-prima. "Tight As" é um rockão sem igual. "Aisumasen (I'm Sorry)" é um blues poderoso e com um dos solos de guitarra mais espetaculares que já ouvi. "One Day (at a Time)" é belíssima e cativante, "Bring on the Lucie (Freda Peeple)" achei chata no início, mas me acostumei e ela faz parte de um contexto, um conceito. "Intuition", "Only People" e "Meat City" não me animam muito, mas mesmo assim eu gosto delas. "Out the Blue", "I Know" e "You Are Here", sozinhas, já pagam o disco.
Depois desse post e do seu comentário Edu , não preciso falar mais nada !!
Só confirmo que também é um dos meus favoritos !!!
Na época do LP eu achava o disco ótimo mas o som (não os arranjos) fraco.Sem graves. A alta qualidade do disco veio à tona com as mixagens recentes. Simplesmente soberbo!
Gozado, sempre gostei desse disco. Tanto que tenho o LP e o CD. Abração!
Mind games é muito bom,realmente nao importa se John estava louco de amores por Yoko ou não,o fato é que eu gosto de muitos discos dele dessa época,porque traspassava com a dor da alma seu grande talento.
Neste disco, assim como em quase toda a sua obra solo, nós temos John sendo ele mesmo, com ótimas canções onde ele se expõe sem medo!
Many Rivers to Cross do Harry Nilsson tem o arranjo bem parecido com 9 Dream. Vejo com isso a influência que tem um produtor em um disco,no caso o Lennon produziu ambos os discos ( Mind Games e Pussy Cats, ambos de 1974). Abraço a todos e Vida Longa ao Báu! Edu, desculpe minha ausência nas últimas semanas.
"Mind Games", a canção, é uma das mais lindas de todos os tempos... Uma das cinco maiores canções de um ex-Beatle. John Eterno! Sempre........
Sem dúvidas, não tinha noção do tanto que foi esse álbum quando ouvi aos 12 anos. Hoje aos 42 vejo que ele continua bem vívido, se assim posso dizer, aos meus sentidos.
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