terça-feira, 6 de março de 2018

MORRE RUSS SOLOMON, FUNDADOR DA TOWER RECORDS

Fonte: https://www.jornalcruzeiro.com.br - Por Thales de Menezes - Folhapress
Nas décadas de 1980 e 1990, poucas coisas faziam tão bem a um fã de música quanto voltar para casa carregando alguns discos em uma sacola plástica amarela que trazia impresso, em grandes letras vermelhas, o logo da Tower Records. O homem responsável por esse encantamento morreu na noite de domingo (4). Segundo sua família, Russ Solomon teria sofrido um infarto enquanto assistia pela TV à cerimônia do Oscar.

Aos 92 anos, Solomon morreu na mesma cidade californiana em que nasceu, Sacramento. Em 1941, aos 16 anos, ele abriu ali sua primeira loja, que vendia jukeboxes usadas. O endereço era o prédio do Tower Theater. Na última década do século passado, sua rede chegou a ter 200 lojas enormes espalhadas pelo planeta.
O documentário "All Things Must Pass: The Rise and Fall of Tower Records" (2015), dirigido pelo também ator Colin Hanks (filho do astro Tom Hanks), é um registro emocionado da força de Solomon e sua empresa, de seu impacto na cultura pop. O título, que usa o nome de uma canção (e de um álbum) do Beatle George Harrison, "todas as coisas devem passar", já é um resumo preciso de sua trajetória. Solomon criou todo um segmento no comércio. Depois de vários problemas financeiros durante 25 anos, foi na explosão da contracultura, na metade dos anos 1960, que ele tirou a venda de discos das pequenas lojas e de espaços acanhados e pouco nobres nas lojas de departamento. Ele captou, na efervescência da cultura hippie, o lugar que a música passava a ocupar no dia a dia das pessoas. Ele seguiu uma diretriz muito simples: comprar grandes prédios e encher seus andares com a maior quantidade possível de discos. Foi o pai do conceito da megastore.Resultado de imagem para tower records
Em entrevistas, não aceitava o rótulo de empresário inventivo. Dizia que apenas percebeu a oferta crescente de um produto e tratou de estocá-lo. Depois, dizia, foi só esperar as pessoas aparecerem para comprar. E elas vieram de todos os lados. A expansão para Los Angeles e Nova York tornou a loja famosa nos Estados Unidos de ponta a ponta, literalmente. A abertura de lojas em outros países foi acelerada. E Solomon sabia mesmo onde seu público estava: em 1980, abriu uma gigantesca loja em Tóquio, no Japão, que logo se transformou na recordista de desempenho na franquia. A Tower Records entrou na década de 1990 com um faturamento anual de um bilhão de dólares. A rede incentivava as gravadoras para reedições de todos os catálogos em LPs de vinil para a mídia emergente, o CD. O cliente que entrava numa Tower não perguntava se ali encontraria este ou aquele álbum. Todos estavam ali, era só uma questão de buscar na prateleira certa. Em 1993 e 1994, às vezes era possível encontrar numa loja da Tower em Londres ou Nova York discos de artistas brasileiros impossíveis de serem achados em São Paulo ou no Rio.Imagem relacionada
Mas a virada do século trouxe um tsunami que levaria o grupo à falência. Entre as inúmeras mudanças no mercado da música, os golpes mortais foram a venda de arquivos digitais, com os iPods substituindo as estantes lotadas de LPs e CDs na casa dos consumidores, e as lojas virtuais, que ganhavam dinheiro administrando com esmero a logística para vender um estoque enxuto. Exatamente o contrário da premissa de Solomon, que não tinha mais a quem vender tanto disco estocado. As lojas físicas foram fechando, e os prejuízos vieram na mesma escala de valores que a Tower exibiu quando ergueu seu império. Entre 2004 e 2006, o grupo agonizou diante da mídia, conseguindo enormes empréstimos que se mostraram infrutíferos e só aumentaram o buraco. Depois da falência, há 12 anos, um octogenário Solomon ainda abriu lojas pequenas que não deram certo. Um dinossauro recusando sua extinção. Segundo seu filho, Michael Solomon, ele morreu de modo fulminante, enquanto sua mulher, Patti, deixou a sala de TV por um instante para trazer mais uísque para ele. Uma cena de dramático romantismo, grand finale para um visionário que mudou as coisas a seu redor.

3 comentários:

Dani disse...

Que ele descanse em paz. Acho que seu entrasse em uma de suas lojas eu ia pirar. Mas, como diz a música, "todas as coisas devem passar" e hoje, praticamente todo mundo ouve música por meio digital exclusivamente. Até minha mãe com 74 anos agora descobriu o Spotify e está adorando! Cds e LPs em vinil acabaram ficando restritos mesmo a colecionadores, pesquisadores e aficionados, pessoas que podem gastar e dispõem de espaço para guardar material. Eu mesma bem que gostaria de ser colecionadora, mas infelizmente eu não teria grana para adquirir tudo o que gosto(o que é muita coisa) nem espaço em casa (moro num kinder ovo). Por isso, muita música que tenho ouvido nos anos 2000 para cá, a maioria é por download para ouvir no MP3 ou celular ou computador, YouTube e agora Spotify. É uma pobreza, parece que a qualidade do som não é a mesma do vinil. Mas eu mantenho um hábito que hoje talvez não seja muito comum: faço questão de ouvir os álbuns inteiros, as músicas na sequência original em que foram lançadas em suas épocas, vou na internet buscar informações, saber sobre músicos que estiveram presentes na gravação, curiosidades, quem compôs as faixas, esse tipo de coisa. Nossa, ficou um textão hahaha...

Marcelennon disse...

Dani, possuo muita coisa em MP3, mesmo porque, se fosse comprar todos os discos, teria de trabalhar para quintuplicar meu salário... Hehehe
Mas, em se tratando de alguns artistas, como os Beatles e cada um deles em carreira solo, Bob Dylan, Bee Gees, Badfinger, Rolling Stones, Paul Simon, Simon & Garfunkel, Creedence, Beach Boys, Elvis, Elton John, Led Zeppelin, Chuck Berry, Raul Seixas, 14 Bis, Roberto Carlos, Chico Buarque, Legião Urbana e mais alguns, faço questão de ter os álbuns físicos...
Confesso que é uma mania e uma necessidade... O som é infinitamente melhor que o do MP3.
Ouça "Sgt. Pepper's" em MP3 e depois em um CD dessa nova leva remasterizada...
A diferença é IMPRESSIONANTE!
Outra coisa é você pegar o CD, colocar para tocar e ir folheando o encarte, com as informações ali constantes... É algo que nem dá pra descrever...
Mas...
Kkkkk...
Isso é mania de colecionador!
O MP3 possibilitou que eu conhecesse uma montanha de artistas que, de outra forma, jamais teria sequer ouvido, então...
VIVA O MP3!
KKKK!
Um textão para responder outro textão!
Kkkkkkk

Dani disse...

Hahahahah!! Ah, sim, alguns artistas como os citados por vc, vale muito ter o registro físico. Eu tento adquirir na medida do possível. Outro ponto que vc tocou, Marcelennon, o bom é que o MP3 e agora o Spotify, facilitam especialmente para as pessoas das gerações mais novas, interessadas em música, acesso a artistas e canções que de outra forma hoje sao inacessíveis. A lista de grandes artistas que conheci assim é imensa.