Sim, ele é o cara do iPod, do iPhone e do iPad. O mentor de uma revolução tecnológica que mudou o jeito de o mundo ouvir música, lidar com o celular, navegar na internet. O mago que fez o capital da Apple pular de US$ 5,4 bilhões em 2001 para US$ 65,2 bilhões em 2010. E que na semana passada chegou a valer tanto quanto os 32 maiores bancos europeus juntos. Ontem à noite, o dono dessa carreira invejável renunciou à presidência da companhia. Abalado por um raro câncer no pâncreas, Steve Jobs estava de licença médica havia nove meses. Ele indicou Tim Cook para substituí-lo. E disse que continua na empresa. Agora, como presidente do conselho da Apple.
Com suas criações, ele não transformou apenas a forma como as pessoas se relacionam com computadores, com a música ou com os celulares. Steve Jobs, que anunciou na noite de quarta-feira a saída do cargo de executivo-chefe (CEO) da Apple, empresa que fundou há 35 anos, revolucionou a história moderna — para o bem ou para o mal, cabe a cada um avaliar. Um deus para os aficionados por tecnologia, ele é considerado pouco menos que perverso por muita gente. Na indústria fonográfica, por exemplo, que viu as vendas de discos desabarem depois da criação do iPod, mencionar o nome do norte-americano de 56 anos é pedir para ser esconjurado.
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O controverso Steven Paul Jobs nunca foi um gênio da tecnologia. Para isso, havia seu amigo de faculdade, Steve Wozniak, que desenvolveu o primeiro produto da marca, o Apple I. Jobs é especialista em criatividade, em gente e em prever os desejos do consumidor. “É muito difícil fabricar produtos por grupos focais. Muitas vezes, as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas”, disse à revista BusinessWeek, em 1998. A frase foi proferida três anos antes do lançamento do iPod, tocador de músicas digitalizadas, e cinco antes da criação da iTunes Store, loja on-line que permitia a usuários comprar e baixar músicas. Para Heinar Maracy, 46 anos, Jobs sempre foi um visionário. O editor dos sites Macmania, Mac2b e tradutor da biografia não autorizada O fascinante império de Steve Jobs (Universo dos Livros), é indiscutível a importância de “alguém que conseguiu pegar uma tecnologia muito complicada, como era a dos computadores na década de 1970, e transformá-la em um produto de massa”. Ele explica que hardwares nunca foram o diferencial da empresa. “A vantagem dela é conseguir implementar um software fácil de usar e integrá-lo com o hardware”, descreve. Maracy ressalta que os produtos da Apple não separam a estética da funcionalidade, o que, certamente, parece ser um dos grandes atrativos da empresa. Uma das frases mais famosas de Jobs explica o porquê de a companhia aliar forma e função: “Design não é apenas como as coisas se parecem ou que sensação causam. Design é como elas funcionam”. O editor-chefe no Brasil do site de tecnologia Gizmodo, Pedro Burgos, 30 anos, acredita que o maior legado do fundador da Apple é a “tecnologia de autor”, ou seja, a influência forte do criador no conteúdo, a ponto de orná-lo com características que o distinguem dos demais. “Ele sempre teve essa visão de fazer o que achava melhor. Não queria saber do mercado, apenas produzia as coisas que achava sensacional”, descreve. “É isso que falta um pouco na indústria”, acrescenta.
Burgos estima que outra herança deixada por Jobs para o mundo da tecnologia é o conceito de usar a tecnologia como um fim, não como um meio. “Nos comerciais do iPad, por exemplo, não se fala sobre quantos gigas tem o produto. O que se mostra são as pessoas usando o tablet e o que elas podem fazer com ele”, avalia. Ele acredita que, como o ciclo de desenvolvimento de produtos tem cerca de dois anos e meio cada, as grandes inovações recentes da Apple — iPhone e iPad — continuarão evoluindo e com grande inserção no mercado. “E, como presidente do Conselho Administrativo, acho que Jobs vai continuar produzindo, tendo novas ideias. Literalmente, acho que ele vai trabalhar na Apple até morrer.”O fundador de uma das maiores marcas de tecnologia do mundo era odiado por muitos. O temperamento arrogante e às vezes agressivo, que lhe deu a fama de tirano entre os subordinados, também fazia Jobs ser malvisto por parte dos veículos de imprensa, que ele tentava censurar e, vez ou outra, processar. Ele fez tantas inimizades que chegou a deixar, em 1985, a companhia que criou — devido a brigas internas. Só voltou 12 anos depois, como presidente executivo interino. No entanto, a maior oposição ao então CEO da Apple não ocorria devido a sua personalidade controladora e perfeccionista, que o fez ser descrito em sua biografia autorizada como alguém “passional”. Ele integra a lista, feita pelo jornal britânico The Guardian em 2009, das “Pessoas que arruinaram a década”. A presença do nome do norte-americano no ranking se deve à criação do iTunes e do iPod, que, segundo a publicação, fez com que as pessoas abandonassem a experiência de ouvir um álbum musical completo. Embora os tocadores de MP3 existissem antes de 2001, foi o iPod que transformou esses produtos em desejo de consumo, a ponto de o nome da criação da Apple se tornar sinônimo de MP3 players. O mesmo aconteceu na relação entre tablets e o iPad — além de o iPhone ser considerado a reinvenção do mundo dos smartphones. Desse modo, todas as glórias e pedras dos novos produtos foram direcionadas para a companhia. Um exemplo disso é a revolta de Jon Bon Jovi, vocalista da banda Bon Jovi, que acusou Steve Jobs e sua marca de “matarem a indústria musical”. “Os jovens de hoje perderam toda a experiência de colocar os fones de ouvido, aumentar o volume, pegar a capa do disco, fechar os olhos e se perder em um álbum”, reclamou, em entrevista concedida em março ao The Sunday Times. “(Eles também perderam) a beleza de pegar sua mesada e escolher um disco apenas pela capa sem saber como ele é”, criticou. Outra visão negativa sobre a Apple, principalmente no Brasil, é o conceito de que essa é uma empresa elitista, já que os produtos são mais caros que a média do mercado. “Com isso, as pessoas acham que ela é uma marca arrogante e associam essa característica ao fundador da companhia”.
Em 2003, Steve Jobs começou a travar uma batalha contra um câncer no pâncreas. A doença fez com que ele se submetesse a uma cirurgia para retirar o tumor, em 2004, época em que Tim Cook, diretor de operações da Apple, assumiu o cargo de CEO interinamente. Entre janeiro e junho de 2009, Jobs tirou outra licença por motivos de saúde, retornando à companhia após ter feito um transplante de fígado. Em 17 de janeiro deste ano, tirou mais uma licença médica. O próprio sucessor de Jobs, Tim Cook, 50 anos, já havia ressaltado, em 2008, o papel crucial do criador da empresa. “Substituir Steve? Não, ele é insubstituível”, determinou. “Eu o vejo trabalhando com cabelo grisalho, aos 70 anos, bem depois de eu me aposentar”, garantiu.
Steve Jobs acumula em seu currículo, uma série de invenções inovadoras. Confira algumas das suas principais invenções:
Lançado em 1983, o Lisa foi o primeiro computador com interface gráfica e mouse a chegar ao mercado. Em 1998, Steve Jobs lançou o primeiro iMac, com monitor CRT translúcido e colorido. Foi o primeiro computador a receber o "i" antes do nome para indicar a conexão com a internet. O iMac G4, conhecido como abajur, trouxe um novo design ao computador com uma tela de LCD conectada à uma base redonda. Muito fino e leve, o primeiro MacBook Air chegou às lojas em 2008. Fechado, o aparelho tinha espessura de menos de 2 cm e pesava 1,36 kg. O Mac mini, lançado em 2005, foi o primeiro Macintosh a ser vendido sem monitor, mouse e teclado. Também em 2005, o tocador de música iPod ganhou uma versão com recurso de exibição de vídeo. Em 2007, Jobs apresentou o primeiro iPhone, aparelho que transformou o mercado de smartphones por permitir que o usuário o personalize com milhares de aplicativos. O iPad, primeiro tablet lançado no início do ano passado, influenciou a indústria e agora enfrenta uma série de concorrentes. Em 2010, Jobs também lançou o iPhone 4, que ganhou recursos como tela com tecnologia Retina Display e ganhou recurso para videoconferências e para ler livros digitais. No final de 2010, a Apple lançou uma versão remodelada da AppleTV, que permite acessar vídeos da internet e de computadores e vê-los em uma TV.
4 comentários:
Que Steve Jobs é um gênio, isso é indiscutível. O que é bastante discutível, pelo menos para mim, é a "chupada" do nome, da marca e do conceito criados pelos Beatles.
Eu não vejo problema em a empresa software ser Apple e ser dita como plágio da gravadora, Steve Jobs adora os Beatles, isso é o que importa :D
Ele é meu ídolo!
Met também.
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