Al Pacino está brilhando mais uma vez, nas telas de todo o mundo, na pele do elogiado Danny Collins - Não Olhe Para Trás. Pegando carona, a gente rever aqui uma postagem sobre o filme 'Phil Spector', onde Pacino interpreta o controvertido produtor. Apesar de mais uma atuação brilhante de Al Pacino e Helen Mirrer, esse filme foi, na verdade, uma grande decepção. Afinal, em 2011/12, quando começou-se a falar que haveria um filme sobre Phil Spector e que o próprio seria interpretado por Al Pacino, criou-se enorme expectativa, pois todos acharam que seria sobre a vida de Spector e não um filme apenas em torno do seu julgamento pelo assassinato da atriz Lana Clarkson. Para o bem ou para o mal, aqui está ela outra vez.
Al Pacino e Phil Spector cresceram no Bronx, em Nova York, têm
quatro meses de diferença de idade e foram garotos baixinhos que se tornaram
dois dos grandes artistas norte-americanos do século 20. Em Phil Spector, um
novo filme da HBO escrito e dirigido por David Mamet, Pacino, de 72 anos, está
impressionante no papel principal. O filme, que já está sendo exibido no Brasil
desde 13 de abril, não é uma biografia, mas sim um drama de tribunal. Ele
segue o primeiro julgamento de Spector pelo assassinato a tiros da aspirante a
atriz Lana Clarkson na mansão dele, em Los Angeles. Embora o lendário produtor
tenha sido condenado por assassinato em segundo grau, Mamet diz acreditar que
Spector é inocente. Mas o que importa é a performance elétrica de Pacino, que
humaniza o homem sob a peruca assustadora. Nessa pequena entrevista à Rolling Stone, o ator fala sobre Phil Spector,
Mozart, Scarface e a alegria de usar uma peruca.
Você conheceu Phil Spector?
Alguém me mandou uma foto em que eu e Phil estamos perto um do outro em algum evento há uns 20 anos. Só que eu não sabia quem ele era. Tinha ouvido o nome dele, mas não visto como era. Um escritor como David Mamet cria um personagem a partir de sua própria imaginação, então quando as pessoas me perguntam o que sei sobre Phil Spector, tenho de responder que conheço tanto quanto elas. Sei sobre o Phil Spector de David Mamet.
É surpreendente o quanto Mamet pareceu simpatizar com Spector.
David acredita que ele é inocente, mas o filme adota uma abordagem crítica. Fiquei ambivalente, não há dúvida. Você se pergunta se foi um acidente. Gosto do fato de que ficou um pouco no ar.
Você tem de tomar uma decisão quando está fazendo o papel de alguém como Spector, pensando "Ok, acho que ele é culpado ou inocente"?
Tenho sim. Ele realmente falou "Acho que matei alguém" para o chofer de sua limusine. O que pode significar muitas coisas: "Foi um acidente, mas acho que matei essa garota". No filme, ele afirma que o motorista mal falava inglês e o entendeu mal.
O momento mais simpático é a cena do julgamento, em que você aparece com a peruca louca.
David tem uma fala em que Spector diz: "Muita gente diz que são perucas. Isso se chama preconceito!" Você já usou peruca?
Eu? Não.
Perucas são ótimas! Você não tem de cortar o cabelo, simplesmente coloca aquela coisa, ninguém te incomoda, seu cabelo fica bonito [risos]. Precisei usar uma época porque tive um problema, e gostei.
Qual foi o problema? Você estava se disfarçando?
Não, eu sofri de alopecia areata, quando o cabelo começa a cair. Normalmente, surge por causa de estresse ou algum trauma, e tive de fazer dois filmes, então usei várias perucas diferentes.
Os anos 7O agora são vistos como a época de ouro do cinema norte-americano. A sensação era essa naquele tempo?
Bom, eu estava no meio daquilo sem saber [risos]. Só descobri sobre os anos 70 recentemente. "Você fez parte dos anos 70!" "Mesmo? Foi uma época boa?" Não lembro qual era a sensação.
Qual é o filme que as pessoas citam mais ou perguntam mais quando encontram com você?
Scarface. Não sei se é o maior, mas é o filme pelo qual sou mais conhecido.
Filmar Scarface foi mesmo uma loucura?
Foi. Quando você tem um filme escrito por Oliver Stone e dirigido por Brian De Palma, é uma combinação muito interessante. Não se fazem mais filmagens tão longas. Eu fui aquele cara por oito meses.
Você conseguia atuar drogado?
Nunca atuei drogado, jamais. Não conseguia atuar nem depois de alguns drinques. Não combina comigo. Gosto de estar ciente das coisas.
Você já teve um período de músico frustrado? Muitos atores secretamente querem ser astros do rock.
Sim, tive uma obsessão com o piano e sentia que, talvez, fosse Beethoven reencarnado.
Você teve aulas?
Nenhuma. Tocava de ouvido e gravava o que tocava porque não conseguia escrever música. Ficava pensando que talvez estivesse incorporando Mozart, só que soava como [Erik] Satie. Acredite no que digo, era derivativo!
“Phil Spector”, é, na essência, um elogio da dúvida. O filme, centrado no primeiro julgamento do excêntrico compositor e produtor musical, não defende a inocência nem corrobora a acusação de que Spector teria matado, com um tiro na boca, em sua casa, há uma década, a atriz e modelo Lana Clarkson. O profissional com rico histórico de violência contra mulheres (uma das vítimas mais notórias seria sua parceira por sete anos, Ronnie Spector, do grupo Ronettes) e repetidos incidentes de uso de armas de fogo em estúdios foi condenado, em segunda instância, a 19 anos de prisão. Spector nunca admitiu o crime e se diz vitimizado pela Justiça californiana, refém da reação da opinião pública, então enojada com as absolvições seguidas de outras celebridades, como O.J. Simpson e Michael Jackson, envolvidos em casos talvez mais escandalosos do que o da morte da loura de 41 anos. Clarkson era uma atriz do segundo time que trabalhava duro como garçonete em uma das franquias da casa de espetáculos House of Blues para pagar as contas. Em declaração dada antes da estreia do filme na TV americana, o protagonista Al Pacino afirmara que o diretor David Mamet estava certo da inocência de Spector. O principal argumento da defesa aparece de forma recorrente na trama: seria impossível Spector apertar o gatilho e, ao mesmo tempo, sair da cena do crime com seu terno branco imaculado, sem uma gota do sangue da vítima.
A declaração de Pacino gerou críticas de grupos de defesa de vítimas, que prometeram campanhas contra a produção da HBO e alertaram para a tática de se enfatizar na tela a possibilidade de suicídio de Lana. Já a atual mulher de Spector, Rachelle, protestou contra o que denunciou ter sido uma quebra de acordo confidencial entre seu marido e seus advogados, fontes fundamentais no filme de Mamet.
“Phil Spector”, o filme, não oferece pistas para a solução do caso. A atuação de tirar o fôlego de Pacino é acompanhada por uma inspirada Helen Mirren, encarnando a advogada Linda Kenney Baden, uma figura, na tela, quase tão atormentada e misteriosa quanto a de seu cliente. O ponto alto do filme não é a tentativa de se contar o que de fato aconteceu na mansão do homem que se apresenta, não sem razão, como “inventor da indústria da música pop”, e sim, bem no estilo de Mamet, o duelo verbal entre Pacino e Mirren. Quiçá para fugir da acusação de revisionismo — rótulo associado recentemente a “A hora mais escura”, em torno da caçada ao terrorista Osama bin Laden — “Phil Spector” começa com um aviso: “Esta é uma obra de ficção. Trata-se de uma dramatização inspirada em um julgamento real, mas não é uma tentativa de se fazer um comentário sobre o resultado do processo judicial”. É impossível, no entanto, não chegar ao fim sem uma pulga atrás da orelha. Teria Phil Spector, o recluso e excêntrico inventor do Wall of Sound (recurso de estúdio em que comprime os sons de toda uma orquestra em um único canal, como em “Be my baby”, das Ronettes) e produtor dos celebrados primeiros discos solo de John Lennon e George Harrison, sido condenado mais por sua aparência e estilo de vida desconectados da maioria dos americanos do que por reais evidências? Mamet, Pacino e Mirren não respondem à pergunta. Mas oferecem cenas memoráveis como a da explosão de Pacino durante o último ensaio antes de seu depoimento no tribunal, quando é obrigado a assistir a um vídeo em que Ronnie Spector destrói minuciosamente o caráter do ex-marido. Ou a de Mirren tentando decifrar o que repórteres já anunciavam, do lado de fora da corte, como “entrada espetacular” de seu cliente. Impossibilitada de encontrar a imagem de Pacino nas câmaras de segurança, ela se prostra à frente do elevador, para quase cair para trás com a peruca afro — “uma homenagem a outro perseguido, Jimi Hendrix” — usada por Spector em seu depoimento. Pedaços de uma história que revelam, aí sim sem margem para grandes questionamentos, por que a televisão americana vem sendo cada vez mais relevante do que Hollywood. Fonte: http://oglobo.globo.com/
Confira também “UM ENIGMA CHAMADO PHIL SPECTOR”, publicada em 26 de dezembro de 2012.
A declaração de Pacino gerou críticas de grupos de defesa de vítimas, que prometeram campanhas contra a produção da HBO e alertaram para a tática de se enfatizar na tela a possibilidade de suicídio de Lana. Já a atual mulher de Spector, Rachelle, protestou contra o que denunciou ter sido uma quebra de acordo confidencial entre seu marido e seus advogados, fontes fundamentais no filme de Mamet.
“Phil Spector”, o filme, não oferece pistas para a solução do caso. A atuação de tirar o fôlego de Pacino é acompanhada por uma inspirada Helen Mirren, encarnando a advogada Linda Kenney Baden, uma figura, na tela, quase tão atormentada e misteriosa quanto a de seu cliente. O ponto alto do filme não é a tentativa de se contar o que de fato aconteceu na mansão do homem que se apresenta, não sem razão, como “inventor da indústria da música pop”, e sim, bem no estilo de Mamet, o duelo verbal entre Pacino e Mirren. Quiçá para fugir da acusação de revisionismo — rótulo associado recentemente a “A hora mais escura”, em torno da caçada ao terrorista Osama bin Laden — “Phil Spector” começa com um aviso: “Esta é uma obra de ficção. Trata-se de uma dramatização inspirada em um julgamento real, mas não é uma tentativa de se fazer um comentário sobre o resultado do processo judicial”. É impossível, no entanto, não chegar ao fim sem uma pulga atrás da orelha. Teria Phil Spector, o recluso e excêntrico inventor do Wall of Sound (recurso de estúdio em que comprime os sons de toda uma orquestra em um único canal, como em “Be my baby”, das Ronettes) e produtor dos celebrados primeiros discos solo de John Lennon e George Harrison, sido condenado mais por sua aparência e estilo de vida desconectados da maioria dos americanos do que por reais evidências? Mamet, Pacino e Mirren não respondem à pergunta. Mas oferecem cenas memoráveis como a da explosão de Pacino durante o último ensaio antes de seu depoimento no tribunal, quando é obrigado a assistir a um vídeo em que Ronnie Spector destrói minuciosamente o caráter do ex-marido. Ou a de Mirren tentando decifrar o que repórteres já anunciavam, do lado de fora da corte, como “entrada espetacular” de seu cliente. Impossibilitada de encontrar a imagem de Pacino nas câmaras de segurança, ela se prostra à frente do elevador, para quase cair para trás com a peruca afro — “uma homenagem a outro perseguido, Jimi Hendrix” — usada por Spector em seu depoimento. Pedaços de uma história que revelam, aí sim sem margem para grandes questionamentos, por que a televisão americana vem sendo cada vez mais relevante do que Hollywood. Fonte: http://oglobo.globo.com/
Confira também “UM ENIGMA CHAMADO PHIL SPECTOR”, publicada em 26 de dezembro de 2012.
2 comentários:
Eu assisti este filme e gostei.
Phil é doidão.kkkk
Postar um comentário