quarta-feira, 8 de março de 2017

GEORGE HARRISON - LIVE IN JAPAN - 1991


Em julho de 1991, George Harrison anunciou os planos de sua primeira turnê desde 1974. Para a série de shows no Japão, Harrison seria acompanhado por Eric Clapton e sua banda. Essa turnê pelo Japão, foi o primeiro trabalho de Clapton após a morte de seu filho de 4 anos que caiu da janela de um apartamento em Nova York em março daquele ano e a última vez que Harrison excursionou.

Em 20 de maio de 1991, depois da morte do amigo Stevie Ray Vaughn, Eric Clapton recebeu um telefonema com o pior pesadelo de todo pai - a notícia da morte de seu filho Conor, de 4 anos - fruto de um caso com a modelo italiana Loren Del Santo. O garoto estava na companhia da faxineira no apartamento do 53º andar que pertencia à mãe. Depois de limpar uma janela, a faxineira deixou a persiana entreaberta para secar. O garotinho curioso subiu pela fresta até o parapeito, perdeu o equilíbrio e caiu diretamente no teto de um prédio adjacente - uma queda de 49 andares. Clapton passou diversos meses tentando se conformar com a tragédia. Ele foi a sessões de terapia e à reuniões dos Alcoólatras Anônimos, além de se enterrar no trabalho da trilha sonora do filme Rush. Além disso, escreveu várias músicas sobre seu filho em uma catarse emocional, a mais notável sendo "Tears In Heaven". Como válvula de escape, ansiava por sair em turnê, mas temia ser o homem de frente enquanto sabia que a audiência poderia estar pensando em seu recente coração partido. Então lhe ocorreu que sempre que havia viajado na última década, frequentemente tinha de responder a alguma pergunta sobre George, se algum dia ele voltaria a tocar ao vivo. Para tirar seus pensamentos da própria miséria, e talvez por algum arrependimento por ter roubado Pattie, ele implorou a George para acompanhá-lo em uma turnê pelo Japão. Ele iria organizar e comandar a banda de apoio, deixando George como astro. Tudo que George tinha de fazer era escolher e tocar as músicas que quisesse. George, que não saia em turnê desde a traumática "Dark Horse", em 1974, não seria facilmente persuadido. Quando por vezes concordava, ele hesitava. Finalmente, Harrison aceitou totalmente e a banda se reuniu para um mês de ensaios, indo ao Japão em dezembro de 1991 para uma turnê de 12 shows.

O esquema funcionou. Clapton conseguiu se perder na criação de arranjos e Harrison conseguiu curtir fazer parte de uma banda sem os deveres de um líder. Ele não era apto a este papel em qualquer circunstância. De acordo com o tecladista Chuck Leavell, que o acompanhou na excursão pelo Japão, "George nunca ficava confortável em estar no comando e dizer aos companheiros músicos como e o que tocar. Ele considerava demais os sentimentos de todos. Ele dizia coisas, como 'você acha que deveríamos tentar essa música?' ou 'essa não vale muito a pena tocar, não é?'. Ele nunca diria 'Eu quero que você toque essa parte' ou 'faça desse jeito', o que de certa forma era muito agradável porque fazia você se sentir envolvido". Clapton se identificou facilmente com esses sentimentos. Ele já falara publicamente de seu desejo de trabalhar ao vivo com Harrison em 1974, e havia conversado com o ex-Beatle ao longo dos anos sobre a possibilidade de um show em conjunto, mas inutilmente. O medo do palco de Harrison era coisa antiga e sua última excursão 15 anos antes foi um desastre. Agora, vivia a possibilidade de encarar o público novamente e superar seus medos.

Uma série de treze shows foi marcada para o Japão, um dos locais favoritos de Clapton para excursionar e um lugar distante o suficiente do caminho habitual para dar a Harrison a chance de atuar sem a pressão esmagadora da imprensa que ele sentiria em outro lugar. “A coisa principal é fazer George se divertir”, respondeu Roger Forester a jornalistas que perguntavam sobre a turnê e a equipe de Clapton fez rodo o possível para que isso acontecesse. Os shows, documentados no álbum duplo de Harrison, Live In Japan, foram maravilhosos. Soando confiante e animado, Harrison liderou Clapton e a banda por clássicos dos Beatles como Taxman, Something e Here Comes The Sun, junto com seleções de seu trabalho solo. As plateias japonesas ficaram entusiasmadas quando Harrison reviveu algumas favoritas como If I Needded Someone e Old Brown Shoe – canções que nunca haviam sido tocadas ao vivo. Clapton se divertiu em seu papel de coadjuvante, impulsionando a música de Harrison com solos econômicos, mas bastante eficazes. A cada noite ele assumia o destaque sob os refletores para um punhado de suas próprias canções, mas nunca houve dúvida de que se tratava de um show de George Harrison. Como se podia prever, a casa vinha abaixo com While My Guitar Gently Weeps, para qual Clapton recompôs, quase nota por nota, o solo gravado por ele na canção dos Beatles. O público japonês devorou tudo. “É um prazer ouvir uma dupla de mestres extraindo tudo o que o outro tem de melhor”, escreveu um jornalista na crítica sobre Live In Japan – um sentimento bastante comum durante toda a excursão. A turnê pelo Japão de dezembro de 1991, compensou tanto em termos lucrativos quanto criativos, e poderia facilmente ter continuado por outros países. Houve conversas sobre levar o show para a Europa e Estados Unidos, mas isso não aconteceria. Clapton estava com a sua turnê marcada e Harrison estava satisfeito para deixar acabar aquele momento. Ele havia superado sua ansiedade em relação a performances, e teve até oportunidade de levar Dhani ao palco para acompanhá-lo no último show em Tóquio. A experiência o deixou menos relutante em participar de concertos. Bom para ele, melhor para todos nós.

2 comentários:

João Carlos disse...

Quando vi esse CD na loja fiquei estabanado. Fiz contas, usei dinheiro e crédito mas comprei. Valeu mesmo!

Valdir Junior disse...

Post dá hora. Fui até pegar o meu CD para reouvir e salvar no celular.
E a pergunta que não cala nunca: Cade o DVD?