quarta-feira, 20 de julho de 2016

PAUL McCARTNEY FALA SOBRE "PURE McCARTNEY"

Maior compositor pop da história, Paul McCartney, 74 anos, já seria uma lenda por sua participação nos Beatles. Mas, não contente, construiu uma carreira solo sensacional, como reafirma a coletânea PURE MCCARTNEY (Universal), com 39 hits (nos EUA e Europa existem ainda os formatos 4 CDs, com 67 canções, e 4 LPs). A seguir, leia entrevista de Paul à assessoria inglesa de sua gravadora.
Como surgiu Pure McCartney? 
Eu estava em Nova York, e a menina responsável pelo meu escritório de lá disse que tinha ouvido um monte de canções minhas em uma viagem de carro. Ela disse: “Pensei que seria uma ótima ideia reunir todas elas, para que as pessoas pudessem apreciá-las dessa forma também”. Gostei da ideia, e respondi: “Ok, então por que você não me faz algumas sugestões e conversa comigo sobre isso, baby!” Ela o fez... e, juntos, em seguida, com a equipe, montamos uma seleção das minhas músicas que não se ouve normalmente, mas que seriam boas para uma longa viagem de carro, ou para se ouvir em casa, ou durante o banho, ou o que quer que seja. Só música tipo lado B, que esperamos que também funcione como um hit.
Dada a vastidão do seu catálogo, foi difícil fazer a lista? Você ficou preocupado em deixar alguma coisa de fora?
Sim, é sempre difícil, porque há tanta coisa, mas eu a deixei  fazer sugestões e me explicar o que tinha ouvido no carro, porque achei  que seria bom termos uma visão objetiva. Então olhei a lista e, em seguida, adicionamos algumas canções. Contarmos com uma visão objetiva para a seleção foi um problema a menos.
Você é um fã de playlists no seu carro? 
Sim, eu gosto de playlists para não ter que ficar sintonizando as estações de rádio.
É bacana revisitar o seu catálogo? Isso pode informar o que você estava fazendo ao vivo naquela época?
Sim, isso é uma das  coisas que acontecem. Quando você ouve alguma coisa que não ouvia há um tempo e pensa “Ah, isso não é ruim”, então o próximo passo é pensar “talvez devêssemos fazer isso ao vivo?”. Algumas coisas aconteceram dessa forma. Fazemos Love Me Do no show atual, e ela surgiu porque que eu estava pensando sobre sua primeira gravação, mas foi só ouvi-la para realmente despertar o interesse, então acabamos incluindo na lista. Mas é bom ouvir suas antigas canções porque, uma vez gravadas, eu normalmente não as ouço novamente, talvez por anos, ou talvez nunca. Porque eu já estou numa coisa nova!
Há alguma canção que você volte a ouvir e pense: “Eu não consigo me lembrar disso de maneira nenhuma!”. Isso acontece?
(Risos) Temo que sim! Bem, vou lhe dizer o que realmente acontece, eu olho para um título e me pergunto: “Como foi isso?!”(risos). Às vezes, em alguns dos álbuns com os quais eu não contava tanto, poderá haver um par de faixas que agora considero como coadjuvantes e não são tão boas. Há um aspecto louco nisso, porque às vezes vou dizer a alguém, “Oh meu Deus, essa música era terrível nunca deveríamos ter gravado!”. Uma vez, eu disse ao Trevor Horn, “essa faixa chamada Bip Bop, eu acho que não tem nada a ver”. E ele respondeu: “Das suas, é a minha favorita!”. Então é realmente bom não descartar nada, porque algo que eu possa não gostar no mo mento pode ser a faixa favorita de alguém, e isso pode me ajudar a gostar mais dela e pensar: “É por isso que eu a gravei!”. É bom quando você ouve as canções de novo, sobretudo quando alguém diz: “Oh, eu gosto desta”... Te ajuda a gostar  dela novamente.
É um leque eclético de canções, mas você as reuniu com uma assinatura sonora que atravessa tudo isso. Você tem consciência de que quando está escrevendo tem uma assinatura única? 
Você não pode evitar. Quando começamos, eu imitava o Elvis, mas é o Paul McCartney imitando o Elvis, então o fato é que não é o Elvis, sou eu. Eu sempre digo às crianças que vêm até mim que, na verdade, não é uma má ideia imitar alguém, porque a menos que você seja um impressionista, você nunca vai conseguir fazer igual. Será realmente apenas você sendo inspirado por alguém... Como minha voz aguda com características do rock que foi inspirada em Little Richard, mas não soa como Little Richard - não é tão bom quanto ele! Ele é fora de série!
Ao compor, você tem a intenção de escrever um mega hit ou apenas compõe uma música?
Eu acho que você se senta esperando que vá ser realmente algo especial. Então, de certa forma, sim, você está tentando escrever a melhor música que já escreveu, o que eu acho que é uma boa ideia para começar. Se você se aproxima disso tem, provavelmente, meio caminho andado, se tiver sorte. Então, sim, eu sempre tenho o topo como objetivo e as canções que não o alcançam podem, ainda, ser muito boas canções
Você pode dizer quando algo vai ser um sucesso ou você é, por vezes, pego de surpresa?
Funciona de ambas as formas. Às vezes, quando você escreve uma canção, você pensa, “ah, isso é bom”, você tem uma sensação, tipo “eu realmente trabalhei bem, isso funciona”. Eu tenho esse sentimento com My Valentine - é muito fácil de tocar e eu adoro tocá-la, e também porque foi escrita para Nancy e eu penso: “Sim, eu consegui, isso funciona”. Às vezes, porém, você não sabe, eu me lembro de Get Back. Eu achava que era meio jam, e sempre pensava “está tudo bem, mas é um pouco jam”, e aí as pessoas começaram a dizer que a canção era boa, e até o momento em que ela se tornou um single, ainda era uma gravação na qual eu não acreditava, até começar a tocá-la para as pessoas, para os amigos. Lembro-me da Twiggy enlouquecendo com a música: “Oh, essa é ótima, eu adoro!” E penso, tudo bem, eles estavam certos, ela realmente funciona. Mas, sim, às vezes você não se dá conta.
Que tal Mull of Kintyre, porque ninguém poderia esperar que se tornasse o enorme hit que se tornou naquela época? 
Não, aquilo não era eu tentando escrever um sucesso, realmente. Eu apenas pensava que não haviam novas canções escocesas, tudo o que se ouvia era velho. As bandas de gaitas de fole tocavam Amazing Grace, que era uma canção antiga. Aí, achei que seria bacana se alguém escrevesse uma nova. E por estar vivendo na Escócia e passando muito tempo por lá, eu pensei “bem, tem que ser eu!”. Então eu fiz... Eu realmente não esperava que fosse um sucesso, exceto na gravação que foi uma ocasião muito especial e os caras, particularmente os jovens da banda de gaitas, estavam todos dizendo “isso vai ser um sucesso, a canção é ótima!” E, novamente, fui influenciado por eles, e comecei a acreditar mais na música, mas ainda nem tanto, porque estávamos em plena era do punk e achei que não houvesse nenhuma maneira de uma valsa escocesa ser lançada, nem mesmo ser ouvida naquela época. Mas, aí, minha filha, Heather, que estava muito envolvida com o punk, estava lá no momento certo, e me disse: “Eu queria que você estivesse no pub com alguns dos meus amigos punk, e eles estivessem tocando Mull of Kintyre”. Eu gostei disso! Para mim, ainda há um pouco de mistério e uma das coisas que posso dizer quando vou ao LIPA (Liverpool Auditorium of Performing Arts) falar aos meus alunos sobre música, uma das primeiras coisas que digo é: “Deixa ver se entendi, eu não sei como fazer isso. Eu não posso simplesmente dizer como  fazê-lo. Se você estivesse indo para uma aula de física, talvez o professor pudesse dizer como se faz. Mas, eu sempre tenho que fazer este aviso: “Eu realmente não sei como fazer isso, mas se eu estivesse escrevendo com você eu lhe diria o que eu faria”, e eu gosto disso, porque é a verdade. Eu nunca aprendi a fórmula de como escrever uma canção, e é especial, um tipo de mágica quando você escreve uma – é como tirar um coelho da cartola.
Você tem algum ritual ou coisinhas tolas quando está compondo?
Na verdade, não. Eu, normalmente, corro ao redor do quarteirão dez vezes, tomo um banho quente, em seguida mergulho numa banheira cheia de gelo e tomo três cafés um atrás do outro - mas não há nenhum ritual!  Não, não tenho, mas você estava gostando dessa história, então eu acho que vamos com ela! Não, eu só sento com um violão ou um piano e começo (depois de um banho quente, é claro!)
A tecnologia ou o formato que a música foi apresentada mudou sua forma de abordar as coisas?  
Não, não mudou de forma alguma. Eu pensava que pudesse ter um efeito, e acho que as pessoas pensam que vai ter um efeito sobre a música, mas é realmente apenas o veículo, é apenas a maneira como a música é lançada. Você ainda tem que escrever uma canção. Então, se sai em vinil, cassete, CD, download, a canção ainda é a mesma e você não altera o seu processo de acordo com os formatos.
Há algum arquivo de canções inéditas suas? Já fez uso dele?
O que tende a acontecer é quando estamos fazendo a remasterização, às vezes, minha equipe de produção diz “olha o que encontramos!”, e digo, “sim, eu enterrei essa música de propósito, porque não gosto dela!”, e eles dizem que gostam. Às vezes, sou persuadido. Portanto, há umas poucas coisinhas, mas elas normalmente escapam quando estamos fazendo a remasterização, e elas encontram seu caminho nas faixas bônus. Eu não me importo. Mas o que há  é um monte de coisas de quando escrevo ideias para músicas, há também coisas que eu ainda pretendo terminar. Muitas são apenas uma melodia e eu gosto dessa melodia, mas não trabalhei nela como uma canção. Então, estou trabalhando nelas agora para o próximo álbum e algumas delas só estou finalizando como canção. Em algumas, estou usando esse fragmento de melodia em outra música, o que é interessante de se fazer. Então, sim, estou brincando com algumas dessas coisas no momento.

3 comentários:

Valdir Junior disse...

Legal a entrevista, Edu. Obrigado por publica-la. O Paul não me convenceu com essa coletânea, e acho que ele anda econômico demais com seus arquivos, na certa está guardando para capitalizar aos poucos nos seus relançamentos.

João Carlos disse...

É isso. Excelente entrevista,mas ainda parece "muito do mesmo".

Edu disse...

Possa ser. Mas quase morri de inveja desse japa aí do vídeo do meio descabaçando o bicho. O meu foi 50 reais na Saraiva. Básico.