terça-feira, 27 de dezembro de 2011

TESOUROS DO FUNDO DO BAÚ - CAMPEÕES DE VOLTA

Esta matéria que a gente confere a seguir, foi publicada na revista VEJA em 16 de novembro de 1988. Vinte e três anos atrás. O curioso é que o “blá blá blá” da gravadora é o mesmíssimo de 2009 (mais de 20 anos depois!) quando todos os CDs foram hehe-masterizados. Again and again and again... Tome, beatlemaníaco! É pouco?
CAMPEÕES DE VOLTA
Os melhores LPs dos Beatles são lançados em compact disc e ganham as vantagens da tecnologia digital
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Alguns dos lançamentos musicais mais quentes deste final de ano não levam a assinatura de astros do momento ou revelações da temporada. Eles trazem a música dos Beatles, os velhos e imbatíveis campeões da música pop que nos anos 60 auxiliaram a mudar o mundo influenciando milhões de pessoas com sua música e seu comportamento. Esta semana, a gravadora EMI/Odeon, que detém os direitos sobre praticamente toda a obra produzida pelo grupo até sua dissolução, em 1970, colocará nas lojas um pacote capaz de deixar em polvorosa os fãs do conjunto e que atende à discoteca de quem quer que goste de boa música. A grande estrela do pacote é o lançamento, em compact discs, ou “CDs”, dos treze melhores ou mais populares LPs gravados pelos Beatles. Dois deles, The Beatles (o "álbum branco") e Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, só chegarão às lojas na semana que vem. Para adaptar as gravações do conjunto, feitas em equipamentos há muito obsoletos, à tecnologia do CD e dos toca-discos com feixes de raio laser em lugar de agulhas, a gravadora foi obrigada a reprocessá-las para o sistema digital, em que se usa a memória de computadores em lugar das fitas convencionais. O processo permite que mesmo gravações feitas em equipamentos muito rudimentares ganhem novo brilho, sonoridade e precisão. Aproveitando a manobra, a gravadora lançará os mesmos treze discos também em fitas de cromo, que têm qualidade de reprodução superior às fitas usadas habitualmente, e substituirá os LPs comuns dos Beatles, que nunca chegaram a sair de catálogo, por LPs feitos a partir das gravações reprocessadas. Assim, mesmo os ouvintes que ainda não ingressaram na era do compact disc poderão a partir desta semana substituir sua coleção de LPs e fitas do conjunto por outra de sonoridade superior.
APOSTA — O destaque do pacote Beatles são os CDs, lançados com uma tiragem astronômica para os padrões brasileiros — 112.000 cópias. De cada CD serão colocadas nas lojas 8.000 unidades, quando as tiragens de CDs nacionais são de no máximo 3.000 cópias. A aposta numa vendagem recorde, apesar de cada CD custar cerca de 11.000 cruzados, baseia-se no estrondoso sucesso que a obra dos Beatles em compact discs teve no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. Nesses três mercados, onde o CD substituiu gradativamente os discos convencionais, foram vendidos 10 milhões de CDs dos Beatles. Na esteira desse êxito, os antigos sucessos do conjunto aportaram nas rádios, fazendo companhia às maiores estrelas do rock dos anos 80. A grande vantagem do encontro entre os Beatles e a tecnologia moderna é que ele permite um exame mais detalhado da obra do conjunto musical mais influente do mundo até hoje. Nessa análise, pode-se separar o que tem inegável qualidade do que envelheceu nos vinte anos que se passaram.
A audição dos treze CDs da coleção permite separar a obra dos Beatles em três momentos distintos. A fase inicial — em que a maior parte das músicas são regravações de sucessos dos primeiros tempos do rock'n'roll —, as trilhas sonoras de filmes e a fase das obras-primas. Embora se note uma progressiva melhora de qualidade no decorrer do trabalho do grupo, é possível se detectar ótimos momentos em cada uma das três fases. Em Please Please Me e With The Beatles ouvem-se versões para sucessos da época — como o clássico Roll Over Beethoven, de Chuck Berry, ou Please Mister Postman, música que se tornou uma espécie de emblema do romantismo adolescente no início dos anos 60 nas vozes das cinco garotas do grupo The Marvelettes.
Em outras regravações de sucessos, como Baby lt's You e Boys, os Beatles incorporam de maneira bem-humorada clichês do rock dos anos 50, como os indefectíveis corinhos com cha-la-las e hey-heys. Essa intenção de paródia está presente até nas primeiras composições de Lennon e McCartney, como P.S. I Love You, em que a batida da música descamba para um ritmo de bolero — algo pouco usual para uma banda de rock. Entre as trilhas sonoras de filmes, duas delas — A Hard Day's Night e Help! — antecipam os melhores momentos do conjunto. Elas representam uma transição entre a fase das regravações e a plenitude criativa da dupla Lennon e McCartney. A Hard Day's Night é o primeiro LP em que todas as músicas são assinadas pelos Beatles. Help!, embora não seja um disco exuberante, traz alguns dos maiores sucessos da
banda, como Yesterday e a faixa-título. Duas outras trilhas sonoras — Yellow Submarine e Let It Be — pertencem a filmes realizados depois da fase das obras-primas e não estão à altura dos discos que as precederam. É como se os Beatles atravessassem um período de transição que não chegou a se concretizar porque o grupo se separou pouco tempo depois.
LONGEVIDADE — É na fase de apogeu da banda — que vai de Rubber Soul ao Álbum Branco — que a tecnologia moderna traz mais luzes ao trabalho dos Beatles. É possível se ouvir, com a sonoridade límpida dos CDs, o maravilhoso arranjo de cordas que emoldura o clássico Eleanor Rigby, faixa do LP Revolver: Como instrumentos e vozes estão gravados em canais diferentes, o ouvinte pode girar o botão do amplificador e se deliciar só com a melodia ou com as sutilezas da instrumentação. O mesmo acontece com a música Yellow Submarine, do mesmo LP, em que os instrumentos de banda se mesclam aos mais inusitados efeitos sonoros para lhe imprimir uma atmosfera marcial.
Nos dois discos fundamentais dos Beatles — Sgt, Peppers Lonely Hearts Club Band e o Álbum Branco — não se aconselha a brincadeira de separar a voz dos instrumentos: o violino que pontua a belíssima She's Leaving Home, por exemplo, não tem sentido longe da voz de Paul McCartney. O acabamento impecável do Álbum Branco inclui vinhetas entre canções memoráveis como a deliciosa Ob-la-di Ob-la-da e a despojada Blackbird.
A conclusão a que o ouvinte chega ao cortejar essas obras-primas com os primeiros sucessos do conjunto é que os Beatles, mesmo experimentando reviravoltas que sempre anteciparam as tendências mais modernas do rock da década — e esta capacidade de antecipação é exatamente o segredo de sua longevidade —, trilharam um caminho admiravelmente coerente. A multiplicidade de ritmos empregada em álbuns como Sgt. Pepper’s só foi possível porque, em seus primeiros discos, os Beatles regravaram amostras de quase todos os gêneros da música pop da época. Mas não é a multiplicidade, e sim a qualidade de sua obra, a razão de “The Beatles” soarem atuais quase vinte anos após sua separação — e resistirem à prova de fogo da tecnologia digital.
E é isso. Para finalizar a gente fica com The Beatles e outro de seus grandes sucessos: Hello Goodbye. Valeu! Abração!

6 comentários:

Senhor Wilson disse...

É como você disse no início... o mesmo blá blá blá! Entendo, que as mídias têm de seguir às tecnologias. Mas esse povo devia só atualizar o que já era ótimo! Os velhos LPs. Essa é minha opinião! Sempre tive o pé atrás com essa coisa digital... Ok. É bom andar e ouvir os Beatles em Mp3 de forma digital? É. Mas antes disso tudo, eu gravava minhas fitinhas e ia com meu walkman feliz da vida onde tinha que ir. E ainda hoje, prefiro muito mais trocar duas pilhas do que ter que procurar pequenas tomadas invisíveis de computadores. Mesmo com todos os chiados e arranhados, nunca vou me desfazer dos meus bolachões dos Beatles, que são tantos, e me lembro bem o dia e como consegui cada um deles. Não dou, não troco, não vendo! Se alguém quiser roubar, bala!!! Agora, ainda mais curioso (?), é que depois de todos esses anos, o formato “LP” (Long Play) está de volta, custa uma grana, e é mídia obrigatória para todos os novos lançamentos. colecionadores doentios (meu caso) que pode adoecer se faltar um disco desses. Wilson Pedrosa - RJ

Edu disse...

Welcome Senhor Wilson.Será que num futuro próximo alguém vai inventar as “Pastilhas Beatles?” – todos os álbuns em chips que se coloca sob a língua e ouve-se as músicas?

Fábio Portugal disse...

Tenho todos os LPs desde os anos 60. Em 1989 comprei todos os primeiros CDs dos Beatles que saíram. Agora, tantos anos depois, devo atualizar minha coleção pelos novos remasters???

Edu disse...

Deve!

Marco disse...

Olhando para o futuro, será muito bom colocar uma "Pastilha Beatles" embaixo da língua e sair ouvindo Lucy in the Sky with Diamonds sob as árvores.
Agora, independentemente da tecnologia, a música será sempre superior a qualquer invenção e todo fã vai correr atrás do que aparecer, como no princípio.

João Carlos disse...

Acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra.Se for o caso,que se guarde a "história" afetiva (e a história mesmo) mas sem abdicar de ouvir os Beatles da melhor forma possível.Eu mesmo,acho que só remasterizar é pouco.Tem de REMIXAR tudo!Prova são os albuns de Lennon que "desembolaram",ganharam nitidez,frescor e "peso!.