A memória pode falhar, ainda mais porque vem de passagens entre a infância e a adolescência. Mas não há como esquecer o impacto que os Beatles causaram. Lô Borges não se lembra de quantas vezes ficou nos cinemas no Centro de Belo Horizonte assistindo a Os reis do iê-iê-iê, título que o filme A Hard Day’s Night ganhou no Brasil. Beto Guedes foi seu companheiro em uma sessão, e logo os dois se uniram para formar os Beavers, que durou não muito mais do que a trajetória do filme de 1964. Já Marco Antônio Guimarães acompanhou, de perto, a evolução da banda – foi estudar música na Bahia em agosto de 1966, na mesma época em que os Fab Four pararam de fazer shows ao vivo. Quando Sgt. Peppers foi lançado (1967), o criador do Uakti criou arranjos instrumentais para canções da obra-prima dos Beatles. Samuel Rosa tinha apenas 1 ano nessa época, e só foi conhecer Paul, John, George e Ringo quando os Beatles haviam se separado. Porém, nunca mais parou de ouvi-los. Nem todos os quatro poderão ver Paul McCartney no Mineirão no próximo sábado (Samuel Rosa tem show programado para o dia 4). Mas isso não muda, em nada, a relação que eles têm com a banda. Os afetos são os mesmos, a despeito da passagem do tempo.
Resposta em Abbey Road - Samuel Rosa
"Foi tudo tão junto, desde o berço, que não lembro quando ouvi Beatles pela primeira vez. Mas tinha 8 para 9 anos quando comprei meu primeiro disco, Os reis do iê-iê-iê, num Jumbo que ficava na região dos hospitais. Já aos 14 comecei a ter aula de guitarra com o Spencer, meu tio e professor, que era beatlemaníaco. A primeira música que aprendi foi I saw her standing there, que abre Please please me (1963). Depois fui aluno do Affonsinho, outro beatlemaníaco, e já no Pouso Alto a gente tocava muito Beatles e Stones. Sempre transitei entre gostar mais do Paul e do John, nunca fui muito convicto que um é melhor que o outro. Atualmente estou na fase Paul McCartney, que vi pela primeira vez no Maracanã (abril de 1990), um show épico, apesar de o som não ter sido legal. Com o Skank, o marco zero foi Resposta, coincidentemente do álbum Siderado, que foi produzido por dois ingleses (Paul Ralphes e John Shaw) e mixado em Abbey Road. A fascinação que eu tinha com Beatles pesou total na escolha do estúdio, ainda mais porque na época, 1998, a gravadora estava esbanjando dinheiro. O disco nem tem tanta referência, mas Resposta traz no final um solinho com um efeito Leslie (alto-falante utilizado em órgãos que Jimi Hendrix passou a utilizar para guitarra), que os Beatles fizeram muito. Agora, de disco, foi o Cosmotron (2003) que teve uma influência forte."
Quatro garotos de BH - Lô Borges
"Se os Beatles duraram pouco, os Beavers foram bem menos. Eu tinha 12 anos quando o Marcinho (Borges) e o Bituca levaram a mim e ao Yé para ver Os reis do iê-iê-iê. Depois, deram o disco para a gente. Vi o filme não sei quantas vezes, a trilha era apaixonante. Ficava o tempo inteiro olhando o John Lennon, que era mais sarcástico. À primeira vista, foi meu beatle preferido. Depois, Lennon e McCartney ganharam o mesmo peso, até que Paul ficou com a minha predileção. Montei a banda com o Beto, que tocava violão com cordas de aço, o Yé e o Márcio Aquino. E naquela época, se os Beatles eram novidade, quatro garotos de Belo Horizonte cantando como eles era mais ainda. A vocalização era igualzinha. Eu era daqueles caras que ficavam indo a loja perguntando para vendedor quando o próximo disco ia sair para ser o primeiro a comprar. Foi A hard day’s night (1964) que despertou o meu amor pelos Beatles, mas a predileção vai para Rubber soul (1965) e Revolver (1966), que considero como um álbum só. Quando o Milton me convidou para fazer o álbum Clube da esquina (1972), eu tinha 17 para 18 anos (quando o disco saiu ele já tinha 20). Era totalmente beatlemaníaco, mas não consigo perceber uma clara influência deles na minha música. Até costumo dizer que, nas músicas do Clube da Esquina, as que têm mais DNA deles são as do Beto Guedes."
Um Hofner para Beto - Beto Guedes
Resposta em Abbey Road - Samuel Rosa
"Foi tudo tão junto, desde o berço, que não lembro quando ouvi Beatles pela primeira vez. Mas tinha 8 para 9 anos quando comprei meu primeiro disco, Os reis do iê-iê-iê, num Jumbo que ficava na região dos hospitais. Já aos 14 comecei a ter aula de guitarra com o Spencer, meu tio e professor, que era beatlemaníaco. A primeira música que aprendi foi I saw her standing there, que abre Please please me (1963). Depois fui aluno do Affonsinho, outro beatlemaníaco, e já no Pouso Alto a gente tocava muito Beatles e Stones. Sempre transitei entre gostar mais do Paul e do John, nunca fui muito convicto que um é melhor que o outro. Atualmente estou na fase Paul McCartney, que vi pela primeira vez no Maracanã (abril de 1990), um show épico, apesar de o som não ter sido legal. Com o Skank, o marco zero foi Resposta, coincidentemente do álbum Siderado, que foi produzido por dois ingleses (Paul Ralphes e John Shaw) e mixado em Abbey Road. A fascinação que eu tinha com Beatles pesou total na escolha do estúdio, ainda mais porque na época, 1998, a gravadora estava esbanjando dinheiro. O disco nem tem tanta referência, mas Resposta traz no final um solinho com um efeito Leslie (alto-falante utilizado em órgãos que Jimi Hendrix passou a utilizar para guitarra), que os Beatles fizeram muito. Agora, de disco, foi o Cosmotron (2003) que teve uma influência forte."
Quatro garotos de BH - Lô Borges
"Se os Beatles duraram pouco, os Beavers foram bem menos. Eu tinha 12 anos quando o Marcinho (Borges) e o Bituca levaram a mim e ao Yé para ver Os reis do iê-iê-iê. Depois, deram o disco para a gente. Vi o filme não sei quantas vezes, a trilha era apaixonante. Ficava o tempo inteiro olhando o John Lennon, que era mais sarcástico. À primeira vista, foi meu beatle preferido. Depois, Lennon e McCartney ganharam o mesmo peso, até que Paul ficou com a minha predileção. Montei a banda com o Beto, que tocava violão com cordas de aço, o Yé e o Márcio Aquino. E naquela época, se os Beatles eram novidade, quatro garotos de Belo Horizonte cantando como eles era mais ainda. A vocalização era igualzinha. Eu era daqueles caras que ficavam indo a loja perguntando para vendedor quando o próximo disco ia sair para ser o primeiro a comprar. Foi A hard day’s night (1964) que despertou o meu amor pelos Beatles, mas a predileção vai para Rubber soul (1965) e Revolver (1966), que considero como um álbum só. Quando o Milton me convidou para fazer o álbum Clube da esquina (1972), eu tinha 17 para 18 anos (quando o disco saiu ele já tinha 20). Era totalmente beatlemaníaco, mas não consigo perceber uma clara influência deles na minha música. Até costumo dizer que, nas músicas do Clube da Esquina, as que têm mais DNA deles são as do Beto Guedes."
Um Hofner para Beto - Beto Guedes
"Até então ouvia chorinho e quando ouvi Beatles a primeira impressão foi de susto. Com os Beavers, tive que tirar todas as harmonias, os baixos, os solos, e só tinha um violão. A gente tocava em programa infantil, e, como éramos novos, acho que a mãe do Lô pegava no pé dizendo que quem não fizesse o para casa não iria tocar. Passava férias em Montes Claros numa época que tinha banda cover de Beatles para tudo que é lugar neste mundo. Tinha um grupo lá e me chamaram para tocar. Teve até um colunista social que fez um baile no Automóvel Clube de Montes Claros para recolher dinheiro para que pudéssemos comprar baixo, guitarra, bateria. Batizaram de Brucutus. Fazíamos bailes todas as férias e depois, quando a galera foi fazer faculdade e morar aqui, continuamos. O repertório tinha umas 70 músicas. A dissolução me marcou de uma maneira muito forte, tinha uma intensa ligação com os Beatles. Até tentei fazer um baixo Hofner, que é o que o Paul usa. Mais tarde comprei a guitarra que o George usava... Mas é o contrabaixo o instrumento que toco melhor. Mesmo que não toque ao vivo, pois é difícil tocar contrabaixo e cantar, nos meus discos sempre toquei o instrumento."
Três violoncelos e flauta - Marco Antônio Guimarães
"Tinha 13 anos quando escutei no rádio, pela primeira vez, Love me do, uma música que falava diretamente com o adolescente da época. Naqueles anos, conhecia todas as músicas, que tocava no violão. Comprei primeiro os compactos, depois os LPs, junto com os amigos. A gente fazia vaquinha. Na época não existia fita cassete, então não dava para copiar. Eles vendiam milhões. Com isso, os Beatles puderam passar muito tempo compondo e gravando, e tiveram uma evolução musical impressionante. Em agosto de 1966, quando eles pararam de tocar ao vivo, cheguei a Salvador, onde fiquei quatro anos estudando música (no Seminário Livre de Música, onde teve como colega Tom Zé e como professor Walter Smetak). A história de ter feito um disco do Uakti com Beatles (lançado em 2012) surgiu, de certa forma, na Bahia. Quando estava lá eles lançaram Sgt. Peppers, o Álbum branco, Abbey Road... Morava em república, então ouvia com os colegas esses discos por semanas. Com um deles, fiz arranjos de Sgt. Peppers para o coral do Instituto Cultural Alemão. A apresentação, em Salvador, foi de coral para banda. Mais tarde, nos anos 1970, já de volta a BH, fiz um show só de Beatles com o Marco Antônio Araújo. Fizemos temporada de Beatlesongs durante dois anos. Era um instrumental diferente, com três violoncelos, mais um pessoal que tocava na noite: uma cantora, o Eduardo Delgado na flauta e o Yuri Popoff no baixo."
2 comentários:
Incrível! Os primeiros artistas a falarem dos Beatles foram os mineiros.Depois veio o Cartano e Gil e até o Chico Buarque.O Sgt.Pepper mudou completamente a MPB.Tenho a mais absoluta convicção.
Os mineiros do Skanc sao ótimos em som beatles,o clube da esquina com seus grandes interpretes tambem, com certeza eles foram influenciados demais pois â época pedia isso.
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