No dia 10 de agosto de 1972, Paul e Linda McCartney foram presos em Gotemburgo, na Suécia por posse de maconha juntamente com o baterista Denny Seiwell. Logo depois, em 20 de setembro de 1972, a polícia escocesa dá uma batida na fazenda de Paul em Campbelltown e encontra uma quantidade razoável de maconha. Em 9 de março de 1973, Paul é multado por deixar crescer cinco pés de cannabis em sua casa de campo de Argyllshire. Em 16 de janeiro de 1980 – Paul foi detido no Aeroporto de Tóquio, quando desembarcava para uma temporada com os Wings. A acusação: posse de maconha. Ficou em cana nove dias e depois foi expulso do Japão. Sobre esse episódio da primeira prisão de Paul na Suécia, a gente confere agora somente aqui no nosso blog preferido, um trecho do capítulo “A Vida na Pista Lenta” – do excelente (e delicioso) livro de Tom Doyle “Man On The Run – Paul McCartney nos anos 1970”. Ótima leitura.
Quando a turnê chegou à Suécia, na primeira semana de agosto, a atmosfera descontraída começou a ficar sombria. Antes de tudo a imprensa começou a criticar os McCartney, alegando que haviam sido horríveis com os funcionários de vários hotéis quando reclamaram de serem obrigados a aceitar, como um repórter disse, “as tradicionais camas de solteiro da Escandinávia... a atitude deles parece ser ‘eu quero, então tem que acontecer’”. Certa noite, bebendo numa casa noturna, as coisas ficaram perturbadoramente desagradáveis. Um jovem usando uma jaqueta verde se aproximou de forma silenciosa de Paul e com calma o informou que tinha um revólver no bolso e planejava matá-lo. Depois de revelar a ameaça a McCartney, o jovem se dirigiu de forma arrogante ao bar e lá permaneceu, encarando e sorrindo para o cantor. McCullough e Laine chegaram logo depois. McCartney, claramente abalado, sussurrou para os companheiros de banda, contando-lhes o que havia acabado de acontecer e apontando para o estranho. Os guitarristas, principalmente o esperto McCullough, que começara a carreira musical como membro de banda nos tempestuosos bailes da Irlanda do Norte do início dos anos 1960, rapidamente assumiram o controle da situação. Tirando uma faca da bota, e acompanhado de Laine, McCullough vagou pelo bar. A dupla cercou o então afobado aspirante a matador, e ele começou a declarar inocência, dizendo que tudo não passara de um mal-entendido. Laine e McCullough rapidamente o derrubaram e o revistaram, sem encontrar qualquer arma. Assim que o deixaram ir, o jovem se pôs de pé e saiu para a noite. Na opinião de McCullough, foi “um daqueles incidentes que acontecem milhares de vezes num sábado à noite em qualquer cidade. Senti que estava protegendo Paul por causa de sua vulnerabilidade... ele precisava de uma mão forte de quem quer que estivesse por perto”.Já estavam no quarto show da parte sueca da turnê, na cidade costeira de Gotemburgo, quando os problemas realmente começaram. Na quinta-feira, 10 de agosto, no Scandinavium Hall, enquanto o Wings finalizava a última música do show, a inflamada “Long Tall Sally”, a energia do sistema de som foi cortada. Uma fila de policiais armados então apareceu nos assentos superiores da arena.
— Eles chegaram vasculhando tudo com rifles — diz Henry McCullough.
— Estávamos pensando “O que está acontecendo”?
Quando o grupo tentou voltar para o camarim, o caminho foi agressivamente bloqueado. Paul, Linda e Denny Seiwell foram separados à força dos outros e lhes disseram que estavam sendo presos por posse de maconha. Os McCartney, como se soube, receberam uma encomenda contendo maconha, endereçada a Denny Seiwell, enviada para o hotel deles mais cedo naquele dia – sem saber que estavam sendo observados. O cenário no salão de show rapidamente se transformou num caos. Enquanto a polícia segurava os suspeitos com mais força do que era, a rigor, necessário, Linda gritou para que o fotógrafo da turnê, Joe Stevens, continuasse fazendo fotos.
— Apenas faça as fotos — gritou ela. Uma imagem dramática capturou os McCartney em meio ao tumulto – Paul enterrando a cabeça no peito de uma irritada Linda, que gritava furiosamente para os policiais. Na ocasião, os três suspeitos, junto com a secretária da turnê, Rebecca Hines, foram levados para averiguação. Durante um interrogatório intenso, todos os tipos de ameaças foram feitas a eles, inclusive que a polícia se recusaria a deixar os McCartney e Seiwell partirem até que confessassem. Qualquer negativa era inútil: a polícia sueca ficou de olho em McCartney, conhecido usuário de maconha desde a época dos Beatles, a partir do momento em que chegou ao país. Gravaram até mesmo uma ligação que Linda havia feito, três dias antes, de Estocolmo para a MPL, em Londres, providenciando que duas caixinhas de fita cassete com maconha fossem enviadas para a banda.
— Para onde eles têm de mandar? — Podia-se ouvir Linda perguntando a Paul na gravação. — Você tem uma cópia do itinerário?
— Mande para Gotemburgo — disse Paul —, para o hotel.
Foi um sistema que havia funcionado até então. Henry McCullough lembra que, no começo da turnê, “saíram com um pouquinho de maconha para cada um, e depois a maconha era enviada do escritório”. Em cada país havia um destino já combinado para o envio do pacote para o grupo. Como resultado, quando iam de um país para outro, Paul obrigava todo mundo a se livrar da maconha que havia sobrado antes que o grupo alcançasse a fronteira. Juntos, realizavam um ritual no qual lançavam “mãos cheias” de maconha pela lateral do ônibus, como se espalhassem as cinzas de um ente querido.
Na delegacia, durante a madrugada e após três horas de interrogatório, Seiwell e os McCartney finalmente admitiram que a maconha era deles. Era uma quantidade – quase 200 gramas – que revelava como eram consumidores pesados, levando em conta que seria apenas para os últimos dois dias que ainda ficariam na Suécia. Mais tarde a polícia declarou que os três confessaram que fumavam maconha todos os dias e que eram mesmo viciados. Depois foram obrigados a convencer as autoridades de que a maconha era para uso pessoal e não para venda – a acusação de tráfico era muito pior do que a acusação de posse individual. Claro que, no fim, não foi difícil persuadir a polícia de que o ex-Beatle não havia se tornado um traficante para conseguir se sustentar. Ainda assim, o gerente da turnê, John Morris, provavelmente antecipando os indesejáveis efeitos indiretos que o caso teria no sentido de aquisição de vistos internacionais no futuro, tentou minimizar a situação.
— Várias pessoas enviam drogas para a banda — disse ele aos repórteres.
— Elas acham que estão fazendo uma espécie de favor. Mas, em vez disso, provocam todo tipo de problema. Foi simplesmente uma questão de se assumir culpado, pagar a multa e sair da cidade. Pelo que entendemos, a coisa toda acabou. Os três receberam uma multa total de 1.800 dólares e foram mandados embora.
A investida ganhou a primeira página do Daily Express na Grã-Bretanha no dia seguinte, com a manchete ambígua, ainda que precisa, “McCartney multado após batida policial em show”. Em vez de estarem com vergonha, os quatro envolvidos se mostravam desafiadores e entretidos pela ideia de que este tipo de notoriedade daria ao Wings um ar cool de banda fora da lei. No dia seguinte, os incorrigíveis Paul e Linda deram uma entrevista ao Daily Mail, publicada sob uma manchete provocativa: “Por que fumo maconha – por Paul”.
— Pode dizer a todos que não vamos mudar nossa vida por causa de ninguém — enfatizou ele. — Fumamos maconha e gostamos, e foi por isso que alguém nos enviou aquela encomenda. Ao fim do dia, a maioria das pessoas vai para casa e bebe uísque. Bem, fazemos uma apresentação e ficamos exaustos, e Linda e eu preferimos colocar nossas crianças na cama, sentarmos juntos e fumarmos um baseado. Isso não significa que usamos muita droga ou algo assim. Você não pode esperar que a gente finja que não fuma para o bem dos nossos fãs. Mas agora que fomos pegos, eu direi: “É, é verdade”.
“Não somos o tipo de pessoa que não consegue viver sem isso — acrescentou Paul, talvez dissimuladamente. — Não estaríamos em turnê se fôssemos assim.
Após a prisão, Linda agora os via claramente como militantes da maconha, defendendo em público seu uso.
— Sempre que aparecermos em público e as pessoas virem que estamos fumando haxixe ou maconha, isso tornará as coisas um pouco mais fáceis para a pessoa comum — disse ela. — Adoraria ser um dos motivos por que as pessoas estão mudando suas mentes a respeito das drogas leves. Mas as pessoas devem viver as próprias vidas. Devem ter as próprias opiniões. E sei que Paul e eu gostamos de maconha. Para nós, não é nada, e quando outras pessoas compartilharem este ponto de vista, ficarei feliz. Paul, contudo, encerrou a entrevista com um tom de voz ligeiramente resignado e infeliz:
— Somos pessoas simples que gostam de fumar, quando podemos — disse.
— Mas agora isso está fora de questão, e sinto muito.
Na realidade, longe de faltar, como Denny Seiwell lembra, o fornecimento de fumo da banda foi rapidamente providenciado por uma fonte local em Lund. Isso, mais do que qualquer coisa, reforça a visão de Paul e Linda sobre a maconha e as leis que impediam seu consumo. Ao conseguir mais maconha no dia seguinte de ter sido publicamente detido, o casal, de modo claro, mostrava que não havia se arrependido.
Se houvesse um traço de arrogância a ser detectado em tudo isso, baseava-se certamente no fato de que os Beatles gozavam de uma imunidade quase diplomática quando cruzavam fronteiras internacionais. Agora que os intocáveis Fabs acabaram, contudo, com eles se foram os privilégios. E assim essa forma tranquila (e descuidada) de lidar com seu gosto por maconha, no decorrer da década, causaria vários problemas aos McCartney.
Cinco semanas depois, em Argyll, Norman McPhee, um oficial de polícia de Campbeltown, recém-saído de um curso de identificação de drogas em meio às cintilantes luzes de Glasgow, decidiu investigar a erma High Park Farm. Dando prosseguimento à publicidade que cercou a detenção sueca, ele procurava por qualquer coisa suspeita, com a premissa de que estava cuidando da segurança da propriedade. Espiando pela vidraça da estufa dos McCartney, viu entre os tomateiros o cultivo de uma planta mais exótica, exibindo as famosas folhas serrilhadas que recentemente havia aprendido a reconhecer. Ele foi embora levando consigo algumas plantas para que fossem verificadas na delegacia de polícia na cidade. Ao serem positivamente identificadas como maconha, McPhee voltou à fazenda com sete colegas, e encontrou mais plantas na propriedade Low Ranachan. Quando a busca foi concluída, a polícia havia coletado cinco plantinhas, que renderiam muito pouca erva. Começava a parecer que estava aberta a temporada de caça aos aparentemente fora da lei McCartney, que estavam de volta a Londres, na Cavendish Avenue, quando receberam as notícias. Pior, o advogado de Paul na Escócia, Len Murray, ouviu dizer que a batida policial havia sido provocada por uma denúncia local. Três dias depois da segunda batida, no dia 20 de setembro, McCartney foi acusado à revelia de três crimes – dois por posse de maconha e um por cultivar a planta. Paul agora era visto como um maconheiro declarado. A partir de 1965, os Beatles usavam drogas para ativar a imaginação, mas McCartney admite que, em termos criativos, no início dos anos 1970 a maconha começou a ter às vezes o efeito oposto, deixando-o perdido em nuvens de indecisão.
Não deixe de conferir também: O VELHO MACCA E A DANADA DA MACONHA
2 comentários:
Tinha apenas nove anos, morava em Assu Rio Grande do Norte, onde nasci... ne lembro o quanto repercutiu a prisão de Paul, Linda e algum membro da banda
O Paul sempre deu bobeira nessas de ser pego com maconha. Acredito que a policia foi até boazinha com ele em todos esses episódio, mesmo no Japão. Mas parece que isso dava aquela "aurea" de bad boy para o Paul, só que não.
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