domingo, 19 de agosto de 2018

RINGO STARR - A NOITE DE ESTREIA DA ESTRELA


Apenas dois dias depois que Pete Best foi demitido, os Beatles fizeram seu primeiro show oficial com seu mais novo baterista, o melhor de Liverpool - Ringo Starr. O concerto ocorreu no Hulme Hall em Birkenhead – do outro lado do rio Mersey - em 18 de agosto de 1962. Existe muita controvérsia entre vários autores sobre a verdadeira data da estreia de Ringo Starr nos Beatles. A maioria afirma que foi no dia 18 de agosto de 1962. Outros dizem que a apresentação foi no dia 19 e outros ainda, que teria sido no dia 28. Nem o próprio Ringo sabe com certeza. Seja como for, aqui vai nossa homenagem ao melhor baterista de todos os tempos, conferindo o texto do livro "The Beatles - A Biografia", no qual o autor, Bob Spitz, narra como foi a noite de estreia da estrela. Valeu!
“Os Beatles tinham mais do que um pressentimento de que estavam a apenas um homem de se tornarem grandes. Eles haviam crescido incrivelmente como músicos desde que se reuniram, e era impossível não reconhecer aonde tinham chegado. Eles haviam se tornado progressivamente não apenas melhores, mas também mais técnicos e versáteis. Havia certa singularidade na forma como tocavam, uma inventividade para transformar mesmo os temas mais simples em algo original e criativo. Muito disso aconteceu sem grande premeditação. Alguém tocava um acorde, fosse experimentação ou acidente, e era como se um alarme soasse. Parte disso era talento nato. Paul aprendia a tocar instrumentos como algumas pessoas aprendem novas línguas: tinha ouvido para a coisa, e colocava os acentos certos nos lugares certos. E George, em especial, se embrenhava nas complexidades dos fundamentos e da técnica musical. Ambos tocavam suas guitarras com uma confiança impressionante e tinham o poder de fazê-las soar como Maseratis. John tinha todo o resto: a sensibilidade e o gosto certos. E tudo se encaixava com estilo e atitude. Menos o baterista. John, Paul e George já sabiam o que queriam: RINGO - O melhor baterista de Liverpool! Porém, nenhum deles teve coragem de contar para Pete Best que estava fora. Brian faria o serviço sujo.” É improvável que a elegância de Brian tenha exercido qualquer efeito consolador sobre Pete. Aquilo o tomou tão de supetão, de modo tão inesperado, lembra Pete, que “minha cabeça entrou em parafuso”. Todo aquele tempo dedicado aos Beatles, a suposta amizade, os sonhos. E agora aquilo acontecia, às vésperas da assinatura de um contrato de gravaçãp. Ele considerou aquilo “uma facada pelas costas”. Em parte para neutralizar a raiva de Pete e em parte para continuar nas boas graças do rapaz, Brian se propôs a formar um novo grupo, que seria liderado por Pete. Enquanto Pete saía silenciosamente do escritório, Brian teve sangue-frio suficiente para pedir que ele tocasse nas três últimas apresentações antes de Ringo se juntar aos Beatles. E, talvez num momento de irreflexão, Pete concordou. Se Brian acreditou, foi porque não havia dúvida, para ele ou para qualquer outra pessoa, de que Pete honraria sua palavra. No entanto, seu sofrimento era tão pesado quanto seu desempenho na bateria. A promessa era vazia, nada mais do que um meio para sair dali.
A estreia de Ringo com os Beatles em Liverpool, em 18 de agosto de 1962, não repercutiu na cena pop e não foi o motor que os propulsou para o estrelato. Somente mais tarde, vista a situação em retrospecto, ele iria adquirir seu status mítico. Ninguém foi mais afetado pelo que acontecera do que Ringo. Ele ouviu o clamor dos fãs nos dias que precederam a apresentação no Cavern. A revolta tomava os salões de baile e os bares - e também as escolas, onde havia uma onda de veneração por Pete. Até nas lojas de discos ocorriam discussões e murmúrias constantes. Uma hora antes de se apresentar, Ringo se refugiou no White Star para uma cerveja terapêutica e desmoronou na mesa onde estavam os Blue Jeans. Eles sabiam que o baterista estava “aterrorizado”. Até mesmo a aparência dele, com um pequeno cavanhaque e o cabelo liso penteado para trás, demonstrava inquietação, como se Ringo estivesse infringindo alguma lei. “Ficamos com pena dele por estar tão nervoso”, lembra Ray Ennis.
A maioria das pessoas que foram ao show compartilhou a reação de Colin Manley: “senti pena deles; a platéia estava revoltada com a saída de Pete que não os deixava tocar”. “Desde o momento que as portas se abriram”, lembra Woller, “a multidão gritava: “Pete forever, Ringo never!”; todos estavam doidos por uma confusão.” Desde o instante que os Beatles subiram ao palco, gritos irados explodiram: “Onde está Pete?”, “Traidores! Queremos Pete!” Algumas pessoas apoiaram a mudança. A certa altura, as duas facções começaram a investir uma contra a outra, com olhos ferozes e punhos cerrados. “Fora Ringo!”, “Pete is Best!” Ringo, meio escondido por trás da bateria, ficava mais tenso a cada explosão de raiva. De qualquer maneira, todos os Beatles agiram como se nada estivesse acontecendo. E, levando em conta as circunstâncias, Ringo segurou bem a situação. Ele se adaptou perfeitamente ao estilo cru e direto dos Beatles, imprimindo força ao ritmo sem deixar de lado a energia do conjunto. Provavelmente ninguém apreciou mais isso do que Paul, cujas belas linhas de baixo haviam sido estranguladas pela mão pesada de Pete, enquanto Ringo as complementava, dando a Paul um ritmo muito mais consistente. Durante um momento especialmente tenso, George, do palco, ordenou a alguns indivíduos importunos para “fechar a matraca”. No fim, quando saiu do camarim pelo corredor cheio de gente, alguém lhe deu uma cabeçada no rosto, deixando-o com um enorme hematoma abaixo do olho esquerdo. George encarou a situação com tranquilidade, mas Brian Epstein, já em tom quase histérico, mandou o porteiro peso-pesado do Cavern, Paddy Delaney, escoltar a banda para o andar de cima, alegando falta de segurança.” Bob Spitz.

Mesmo que os Beatles já fossem a primeira banda de Liverpool a ter um contrato de gravação, eles ficaram impressionados com Starr. "Realmente começamos a pensar que precisávamos do maior baterista em Liverpool", disse Paul McCartney, também no Anthology. "E o maior baterista era um cara, Ringo Starr, que mudou seu nome antes de qualquer um de nós, que tinha barba e era conhecido por ter um Zephyr Zodiac". Qualquer controvérsia em torno da entrada de Ringo logo se apagou. Durante o show da hora do almoço no Cavern em 22 de agosto, o grupo foi filmado pela TV Granada tocando "Some Other Guy" para o programa Know the North. Quando os Beatles, terminam a música, é possível ouvir alguém gritando: "We want Pete" - (Queremos Pete).

Um comentário:

Joelma disse...

Acertaram em cheio.