George Harrison tinha 22 anos quando encontrou Elvis Presley. Era agosto de 1965 e não havia ninguém no mundo que ele, John, Paul e Ringo quisessem conhecer mais. O encontro foi revelador para o guitarrista, mas não por causa de Elvis. Enquanto os outros três Beatles se deslumbravam com o rei do rock em sua casa em Bel Air, L.A. George foi fumar um baseado no quintal. Longe de todos, bateu um papo com o cabeleireiro Larry Geller, amigo de Elvis. Foi ali que ouviu falar sobre o iogue e guru indiano Paramahansa Yogananda. Meses depois, conheceria a música de Ravi Shankar.
Publicado em 2007, "Here comes the sun", de Joshua M. Greene, ganhou edição brasileira pelo selo Relighare, do Coletivo Editorial. A tradução foi de Romero Carvalho (também responsável pela edição) e Fernanda Marin Horrocks. Existem centenas de livros sobre os Beatles em português. Sobre Paul e John também. Até 2007, sobre George Harrison só havia um: "A biografia espiritual de George Harrison – O místico entre os trabalhadores", de Gary Tillery, um registro menor e sem muita repercussão. O livro de Greene é considerado um dos relatos mais relevantes sobre o “Beatle quieto”. Mas a chave para entendê-lo está no subtítulo: "A jornada espiritual e musical de George Harrison".
O nova-iorquino Greene, ele próprio um iogue e devoto de Krishna, viveu 13 anos em templos hindus na Índia e na Europa. De volta aos EUA, o historiador, além de escrever livros, dirigiu filmes e documentários. Por isso, o foco desse volume está muito mais no espírito do que na música. No prefácio, o autor relata seu primeiro encontro com George – em 1970, nos estúdios da EMI, em Londres, Greene acompanhou devotos em uma gravação de um álbum com hinos em sânscrito que o então Beatle produzia. Mesmo abordando a trajetória de George da infância até a morte, o ponto forte está no envolvimento dele com o hinduísmo. Tal aspecto pode desinteressar os aficionados por música, mas é chave para entender a persona. A parte inicial, dedicada aos Fab Four, ainda que tenha um viés crítico (mostrando o quanto George era colocado de lado por Paul e John), está mais interessada em mostrar o desconforto do biografado com a Beatlemania. Assim que a banda coloca seu ponto final, George floresce. É rico o material sobre a produção do Concerto para Bangladesh (1971), o primeiro show beneficente já realizado. Com riqueza de detalhes, o autor descreve a aflição do guitarrista à frente do projeto, bem como a incerteza que o cercava quanto à participação de Bob Dylan. Aspectos da vida pessoal, no entanto, têm peso diferente. A relação com os pais é bem explorada. Mas o casamento com Pattie Boyd, que gerou o triângulo amoroso mais ruidoso da década de 1970 (ela o trocou por Eric Clapton, um dos grandes amigos de George) é visto de maneira quase rasteira. Já a parte dedicada ao hinduísmo não poupa detalhes. São descrições extensas sobre as viagens de George à Índia; seu encontro com os mestres; a maneira como ajudou os devotos. Shyamasundar, um americano que se tornou muito próximo de George, ganha protagonismo nessas passagens. É um ponto de vista interessante, mas peca pelo excesso. Em comparação, os ex-companheiros dos Beatles, já a partir de 1970, são citados de forma bem discreta. O livro tem 414 páginas, na época que eu comprei, custou uns 50 pilas. Pena que não tenha um vídeo bacana sobre ele.
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